Plano de Mobilidade do Recife vai finalmente priorizar o pedestre

Pedestres aubda não são prioridade no trânsito do Recife Foto: Peu Ricardo Especial D.A/Press
Pedestres aubda não são prioridade no trânsito do Recife Foto: Peu Ricardo Especial D.A/Press

Integrante do Sistema Nacional de Trânsito, o pedestre sempre foi um corpo estranho nas vias dominadas pelos veículos motorizados. A travessia nas ruas é quase sempre um pedido de licença para passar nos trechos onde não há semáforo que obrigue o veículo a dar a vez. No ano passado, 249 pessoas foram atropeladas no Recife e este ano até maio já são 77 atropelamentos. O futuro Plano de Mobilidade da cidade terá um olhar especial para o pedestre desde a redução da velocidade das vias para até 50km/h, onde hoje o limite é de 60km/h, até a logística da circulação onde a preferência até então tem sido do carro.

A padronização dos passeios e opções de modelos de negócios com a iniciativa privada para a viabilização da requalificação das calçadas, não só é possível como é o ponto de partida para uma cidade sustentável e inclusiva. Para ter ideia do tamanho do desafio, o Recife tem 2.733 quilômetros de ruas. Se levarmos em conta que há calçada nos dois sentidos, com uma largura (ideal) de dois metros, teríamos quase 11 km² de calçadas para serem padronizadas. O estudo vai aprofundar o que já temos e o que ainda precisamos fazer a curto e longo prazos.

Um manual de padronização da calçada também será entregue junto com o plano. “Desconto no IPTU é uma das alternativas estudadas, mas nada impede que surjam outras possibilidades, que possam ser previstas dentro do plano”, explicou o presidente do Instituto da Cidade Pelópidas da Silveira (ICPS), o arquiteto e urbanista João Domingos.

Melhorar a qualidade dos passeios é um passo que fundamental, que não pode ser encarado apenas para determinados corredores. O Plano de Mobilidade tem a missão de cobrir toda a cidade e não é preciso ir muito longe para se deparar com as dificuldades. Na Rua da Hora, no bairro do Espinheiro, além das árvores frondosas que ocupam parte das calçadas, há passeios com menos de meio metro de largura. A dona de casa Dagmar Vilela, 54 anos, tenta se equilibrar. “Se vier duas pessoas, uma tem que ir para a pista”, explicou.

Na mesma calçada, dois postes ocupam toda a área do passeio e para o pedestre sobra apenas a faixa de rolamento. Mesmo quando há espaço, o desnível do piso impede a acessibilidade. “Com essas calçadas é impossível passear com o bebê de carinho”, revelou a nutricionista Cíntia Vila, 29 anos.

A falta de qualidade no pavimento é um dos aspectos físicos que não oferecem o mínimo conforto, mas há ainda a questão da circulação onde a sinalização privilegia o carro. “A gente está correndo atrás do mínimo, que é oferecer a melhor travessia para o pedestre, incluindo o tempo do semáforo e a redução na velocidade das vias para 50 km/h”, explicou o secretário executivo do ICPS, Sideney Schreiner.

A ciência já comprova que a redução da velocidade aumenta as chances de sobrevivência da vítima. “Nós vamos seguir uma tendência mundial. Em alguns lugares, como na França, essa redução é de 30 km/h”, ressaltou João Domingos, presidente do ICPS.

A experiência da Zona 30 já vem sendo adotada pela Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU). “Também já é comprovado que a velocidade menor ajuda na fluidez. É um erro achar que aumentando a velocidade chegará mais rápido por uma razão simples: todos querem ao mesmo tempo passar por um funil e acaba travando”, comparou Sideney Schreiner.

No plano, uma das expectativas é que ajude a mudar a descontinuidade da linha natural de percurso no sistema de circulação da cidade. Hoje, o pedestre precisa fazer um verdadeiro malabarismo se quiser atravessar na faixa. “O esforço tem que ser do carro e não do pedestre”, ressaltou João Domingos.

O pedestre no Plano de Mobilidade:
– Ruas das pessoas
– Zonas sem carros
– Padronização das calçadas
– Instrumentos de incentivos à manutenção dos passeios
– Punição à falta de manutenção
– Avanço de calçada sobre a área de estacionamento
– Avanço da calçada sobre a via nas esquinas
– Redução na largura da faixa ao mínimo (3,50 a 3,00) para readequação de calçadas
– Estudo e requalificação das escadarias nos morros, conexão com o transporte público

Instrumentos de incentivo à consevação dos passeios:
– Desconto do IPTU
– Alternativas a serem estudadas
– Multas para quem descumprir
– PCR assumi custos e cobra do responsável

Problemas dos passeios:
– Calçadas inexistentes
– Calçadas estreitas
– Falta de acessibilidade
– Rebaixamento inadequado do meio fio
– Falta de arborização
– Falta de iluminação
– Falta de sinalização

Travessia de pedestre:
– Facilitar a travessia para as pessoas
– O esforço é do carro
– Padronização dos elementos em nível
– Plano de implantação de passarelas

Prioridade dos investimentos:
– Calçadas que atendem equipamentos públicos
– Polos geradores de viagens
– Grande investimentos
– Centralidades
– Corredores de Transporte Público[]
– Acesso das estações de metrô/VLT/BRT e paradas de ônibus
– Amarrar investimentos à via e não ao asfalto

Fonte: Plano de Mobilidade do Recife (em contrução)

Plano de Mobilidade do Recife vai criar regras para estacionamentos

Estacionamento na Rua do Progresso, Boa Vista - Foto: Peu Ricardo/Esp.DP
Estacionamento na Rua do Progresso, Boa Vista – Foto: Peu Ricardo/Esp.DP

Por Alice Sousa

Diario de Pernambuco

A transformação de imóveis antigos em áreas livres para estacionamento cresce no Recife. Com uma frota incrementada em 233% nos últimos 26 anos, a necessidade por vagas aumentou na cidade e impulsionou o surgimento de serviços desse tipo, a despeito de muitos casarões do passado. Em esquinas e ruas movimentadas, a existência desses espaços sofrerá revisão até o fim deste ano, dentro do Plano Diretor de Mobilidade Urbana. Regras serão criadas para instalação de pontos de estacionamento e a ideia é reordenar a disposição dos espaços, privados e também públicos, priorizando a circulação via transporte coletivo.

Áreas de estacionamento estão intimamente ligadas à mobilidade de uma cidade. A medida em que existem espaços para deixar os veículos, a tendência é que a população prefira usar os automóveis particulares para realizar o deslocamento até o destino. Por outro lado, esse é um tipo de negócio é atraente, já que basta ter um terreno em uma área comercial ou de circulação grande e abri-lo ao público. Foi o que aconteceu com os imóveis número 594 e 595 da Rua Manoel Borba, na Boa Vista. “As casas ficavam fechadas e ninguém alugava. Marginais costumavam entrar e gerava um estresse que hoje não há”, afirmou o administrador dos espaços, George Nascimento, 33.

Não muito longe dali, no cruzamento entre as ruas da Soledade e Progresso, funciona um grande parque rotativo há cerca de cinco meses. Outro ponto conhecido e que gerou polêmica estava no cruzamento entre a Rua Amélia e a Avenida Rosa e Silva, nas Graças. O casarão onde funcionava uma padaria foi demolido e passou meses como estacionamento, na última sexta-feira recebeu tapumes para abrigar um ponto comercial.

Em toda a Região Metropolitana, trafegam 1,2 milhão de veículos. Parte deles entra no Recife diariamente, somando-se à frota da capital de 679 mil veículos. A Lei de Uso e Ocupação do Solo, uma das que dispõe sobre as condições de estacionamento, é de 1998. Ela prevê vagas mínimas, de acordo com a localidade e função de cada imóvel, mas não cita em nenhum momento a instituição de estacionamentos como unidades. O Plano de Mobilidade prevê essa atualização, invertendo a lógica, com a criação de uma política de estacionamento, a partir de uma série de estudos em curso.

“Experiências internacionais mostram que a gestão de estacionamentos é importante na gestão das viagens de automóvel de uma cidade. Uma das nossas frentes de trabalho mais discutidas segue uma tendência mundial de estabelecer número máximo de vagas, e não mínimo, como ocorre hoje, por área construída. Fazer com que a implantação de empreendimentos priorize o transporte público”, afirmou o secretário executivo do Instituto da Cidade Pelópidas Silveira (ICPS), Sidney Schreiner.

Até 2012, foram concedidos no Recife 314 alvarás para estacionamentos particulares. Em nota, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano (Semoc) informou que, para que seja realizada a demolição de um imóvel, o interessado precisa solicitar o alvará de demolição na Gerência Regional correspondente ao bairro em que o imóvel é localizado. Diante disso, técnicos da pasta analisam e verificam se ele está inserido em algum critério de preservação histórica, seja do próprio imóvel ou da área em que está inserido.

Caso não exista nenhum impedimento legal, a demolição é autorizada. Em seguida, afirmou o órgão, é necessário solicitar o alvará de localização e funcionamento, que também está sujeito à análise dos técnicos da pasta, para a regularização do estabelecimento. No caso de o espaço ser utilizado para estacionamento, será observado, principalmente, o acesso de entrada e saída dos veículos, com o objetivo de minimizar transtornos na mobilidade.

A função dos estacionamentos integrados

Outra ideia do Plano de Mobilidade é restringir o uso do espaço público com a finalidade de estacionamento e garantir o conceito de estacionamento integrado. Dessa forma, parte da população em deslocamento da periferia para o centro poderia deixar o automóvel em algum bolsão de vagas próximo, por exemplo, a um terminal integrado. Estão em definição onde seriam esses espaços e a quantidade de vagas de cada um deles.

“As propostas serão inseridas dentro de condicionantes. Isso ocorrerá dentro da prerrogativa de ter uma rede de transporte público melhor, com maior capacidade, e requalificação de calçadas. Estamos trabalhando junto ao Grande Recife e à CTTU no planejamento de novas linhas de transporte de média e alta capacidade”, afirmou Sidney Schreiner.

Também será revisto o preço da zona azul. Pelas estimativas do Instituto Pelópidas, há hoje carros que passam até 13 horas nas vagas, com isso elas perdem a função de rotatividade. “Queremos ampliar a zona azul em área de abrangência. Levar a experiência do bairro do Recife para outras áreas comerciais da cidade”, acrescentou o secretário executivo do Instituto.

Novo prazo para o Plano de Mobilidade do Recife. Agora só no fim do ano

Engarrafamento Recife Foto - Blenda Souto Maior DP/D.A.Press
Engarrafamento Recife Foto – Blenda Souto Maior DP/D.A.Press

Estava previsto para maio deste ano, a entrega do Plano de Mobilidade do Recife na Câmara de Vereadores.  Em 2011, foi enviado o primeiro plano que chegou a receber 59 emendas. Em 2014, sem ter sido votado, ele foi retirado pelo executivo para modificações. O novo prazo de entrega é até o fim deste ano. O atraso se deu, segundo o Instituto da Cidade Pelópidas Silveira, para construir uma nova base de dados e  fazer um realinhamento das diversas leis que tratam do uso e ocupação do solo na cidade. A ideia é consolidar a legislação no mesmo direcionamento. Essa, aliás, era uma das grandes queixas do mercado da Construção Civil em relação aos diferentes textos das leis. Na construção da nova base de dados, uma das promessas do futuro plano é apresentar dados da contagem volumétrica de pedestres, bicicletas e veículos e, a partir daí, apresentar alternativas de mobilidade para a cidade.

Sem informação nos pontos de ônibus

Campanha teve início em Porto Alegre - Foto - Campanha/Divulgação
Campanha teve início em Porto Alegre – Foto – Campanha/Divulgação

Quando os aplicativos ainda não eram moda surgiu em Porto Alegre, em 2010,  teve início um movimento para tentar reduzir o impacto nos usuários da falta de informações sobre as linhas de ônibus nas paradas. Adesivos colados nos pontos de ônibus convidam os usuários a escrever as linhas  daquele determinado ponto de ônibus.

Mesmo hoje com tantos aplicativosm a ideia não está desatualizada. Há ainda um universo de passageiros que não utiliza smartphones. Para ele, a sinalização é fundamental. O movimento de Porto Alegre ganhou repercussão e chegou a pelo menos 30 cidades, inclusive no Recife. Foi a partir dessa campanha, que nasceu a ideia da ferramenta esperômetro, dentro do aplicativo Coletivo, que já funciona em São Paulo e espera alcançar outras cidades brasileiras.

“A gente colhe informações dos usuários tanto das linhas como do tempo de espera dos ônibus, ou problemas na cidade para alertar os usuários, revelou Roberto Cardoso da empresa Scipopulis, especializada em aplicativos de mobilidade.  A empresa trabalha também com o painel do ônibus, que ajuda no monitoramento do transporte público para os gestores com informações em tempo real e históricas que auxiliam a gestão, o planejamento e a operação do sistema de transporte coletivo.

Uma pergunta: Que ônibus passa aqui?

aplicativo onibus10As barreiras para acessar o transporte público vão além do conforto do ar-condicionado. Muitas vezes, a informação correta é a ferramenta que falta para um usuário não convencional decidir apostar no sistema. E as perguntas básicas são: qual o ônibus, onde subir e descer e o horário que ele passa? O tempo do boca a boca ou até mesmo das sinalizações quase sempre ausentes nas paradas de ônibus estão sendo superados pelos aplicativos. Não que a sinalização não seja importante, mas o passageiro não quer perder tempo e os aplicativos estão ajudando a cobrir a lacuna da informação.

O professor Caio Maciel, 50 anos, mora em Casa Forte e ensina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ele usa o transporte público diariamente, mas antes se programa pelo CittaMob. “Eu sei que o meu ônibus vai passar aqui daqui a quatro minutos”, contou. Tempo suficiente para produzirmos as fotos e ele embarcar. Na mesma parada, na Avenida Marquês de Olinda, no Bairro do Recife, encontramos a professora Maria dos Anjos, 54, que não usa aplicativo, tentando encontrar a linha no que restava da sinalização na parada. “Está bem ruim. Quando não dá para ler, a gente pergunta”, contou.

Ainda não será dessa vez, que a sinalização nas paradas será resolvida. O Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano, responsável pelo gerenciamento de todo o Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do Recife (STPP), vai apostar também nas informações via aplicativo que deve ser lançado neste segundo semestre com as informações das linhas em tempo real para os usuários. “Os passageiros terão acesso gratuito a todas as informações das viagens dos ônibus e o tempo de espera”, revelou Fernando Guedes, diretor de Tecnologia do Grande Recife.

A espera do aplicativo desde 2014, acabou dando espaço para outros como é o caso do CittaMob, que já superou a marca de um milhão de usuários, metade da demanda diária de passageiros da RMR. “Pelo menos 95% dos que baixaram o aplicativo usam diariamente as informações das paradas e horários dos ônibus”, explicou Carlos Sampaio, gerente comercial da Cittati. O CittaMob tem informações georeferenciadas de 5,8 mil paradas e de 2,8 mil ônibus com base de dados fornecida pelas empresas. “Somente as empresas Globo e Vera Cruz não quiseram compartilhar informação e ficaram de fora”, explicou Sampaio.

A aposta do aplicativo do Grande Recife é que o órgão detém toda a base de dados de todas as empresas e fará o monitoramente pela sua Central de Operações. Segundo o diretor de tecnologia do Grande Recife, Fernando Guedes, as  6.2 mil paradas e os três mil ônibus serão monitorados do início ao fim das viagens.
O que vai fazer a diferença entre os aplicativos são as ferramentas que serão disponibilizadas. A interação com o usuário, por exemplo, é um ponto importante. “Nós temos a ferramenta megafone onde as pessoas podem compartilhar informações. Se for alguma reclamação dos motoristas repassamos para as empresas e se for do terminal, repassamos para o órgão gestor”, revelou Carlos Sampaio.
No caso do aplicativo a ser lançado pelo Grande Recife, ainda sem nome, ter um canal com o usuário pode significar mais agilidade na resolução de problemas, mas se não for dada a devida atenção, o interesse cessará. “Nós vamos ter um canal para o usuário dar sugestões ou fazer críticas”, revelou Fernando Guedes.
Outra ferramente importante dentro do aplicativo é da integração com outros modais. “Aqui no Recife não conseguimos fazer parceria com o metrô, que é gerido por um órgão federal. Fizemos em Salvador, mas assinamos contrato com o Itaú para integrar no aplicativo as estações da Bike-PE”, revelou Carlos Sampaio.  Para quem ficou tanto tempo sem informação nenhuma, escolher o melhor serviço é uma prerrogativa dos dois milhões de passageiros da RMR.

Conheça alguns aplicativos

CittaMob
O Cittamobi, aplicativo para smartphones desenvolvido no Recife, é um grande aliado para quem anda de ônibus. Um milhão e oitenta e dois mil usuários baixaram o aplicativo na Região Metropolitana do Recife. O aplicativo é usado em 23 cidades brasileiras.

Moovit
O Moovit, aplicativo que traça rotas considerando apenas opções de transporte público e envia informações aos usuários informações em tempo real até sobre quando devem descer dos ônibus ou do metrô. Também informa a hora prevista de chegada. Também envia informações sobre o destino, como a quantidade de paradas até o destino final.

Coletivo
O Coletivo é um aplicativo para smartphones, que usa a colaboração como estratégia para fornecer informações em tempo real sobre os ônibus e a rede de transportes da cidade de São Paulo. Destinado aos passageiros que querem uma melhor experiência no deslocamento cotidiano, o Coletivo integra outras fontes de dados oferecendo informações sobre a cidade, acontecimentos culturais e alertas além das informações de transporte.