Ciclista deve ou não usar capacete?

 

Uso do capacete nos ciclistas não é unanimidade. Credito: Nando Chiappetta/DP/ D. A Press.
Uso do capacete nos ciclistas não é unanimidade. Credito: Nando Chiappetta/DP/ D. A Press.

Recentemente, participei de um encontro promovido pela Ameciclo, onde se se discutiu a forma como a imprensa enxerga a bicicleta no contexto do trânsito. Para minha surpresa, saí de lá convencida de dois aspectos: um que o capacete do ciclista não é tão importante como acreditava (redução da velocidade nas vias irá oferecer mais segurança) e segundo, nem sempre usar a contramão é o mais grave quando a cidade não oferece alternativa segura de circulação. Aqui compartilho um texto do Blog Vá de Bike, que traz uma abordagem de especialistas de Londres, também contrários ao uso obrigatório do capacete em ciclistas.

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Uma lei para tornar obrigatório o uso do capacete para ciclistas está em análise no Parlamento Britânico, e dois médicos estão argumentando contra a idéia. Sua opinião é que simplesmente não há evidências suficientes para sustentar a hipótese de que o uso de capacete salva vidas, e que a evidência que existe é, na melhor das hipóteses, contraditória.

Mas eles também apresentam alguns convincentes argumentos morais contra a obrigatoriedade do capacete para os ciclistas – e, também, para esquiadores, remadores, e até mesmo pedestres.

Os autores, Carwyn Hooper e John Spicer, da Universidade de Londres, reconhecem que suas idéias não são convencionais (a British Medical Association apoia a aprovação da lei, por exemplo), mas eles explicam o que eles acham que é uma falha na lógica da BMA: dizer que os capacetes de bicicleta protegem bem as pessoas quando caem da bicicleta para o pavimento (todos os testes padrão de capacetes de bicicleta são quedas, onde um capacete cai de cerca da altura do ombro de uma pessoa em uma bigorna plana). Mas os capacetes não são resistentes o suficiente para proteger contra lesões ao cérebro e ao crânio causadas pelo impacto com um carro ou voando para fora da bicicleta para a frente ou para trás como os capacetes de moto fazem. (Eles são a favor do uso obrigatório do capacete para motocicletas porque eles dizem que existem evidências claras de que isso reduz mortes e ferimentos).

Como prova de que usar um capacete de ciclista pode não ajudar em nada, Hooper e Spicer se referem a um pesquisa australiana de 1990 que mostra que 80 por cento de ciclistas mortos ou feridos graves estavam usando capacetes no momento do acidente.

Enquanto os documentos também indicam que os motoristas tiram mais finos de quem usa o capacete, talvez, usar um capacete de segurança entorpeça os ciclistas para os perigos ao seu redor, eles também deixam claro que há argumentos econômicos, bem como sociais, contra o “Estado babá” que são dignos de debate.

Por exemplo, há a idéia de que a obrigatoriedade do uso de capacete reduz o número de pessoas que usa a bicicleta e que você nunca vai conseguir que o nível de ciclismo da Inglaterra chegue no mesmo nível, ou até mesmo próximo, da Holanda ou Dinamarca (nenhum dos quais obriga o uso de capacete) se for adicionado ainda outro impedimento para pedalar. Claro que se isso fosse a única razão impedir o aumento do número de ciclistas nos EUA, onde as nossas leis de capacete variam de estado para estado e geralmente incluem apenas as crianças, teríamos muito mais ciclistas do que temos agora.

Então, talvez o seu mais forte argumento contra as leis do capacete obrigatório é aquele que deve entrar em ressonância com a maioria das pessoas aventureiras: que deveríamos ter o direito ao risco. Sim, isso parece um paradoxo. E ambos os médicos reconhecem que quando se trata de crianças, que não podem exercer julgamento, devemos impor determinados comportamentos.

Mas eles dizem que o risco está intimamente conectado à autonomia e que a obrigatoriedade do uso de capacetes em uma esfera da vida considerada de risco pode levar a mandatos para proteção em todos os tipos de atividades, desde escalada ao esqui. Pode, argumentam eles, até mesmo levar à proibição de comportamentos que, estatisticamente falando, nunca são realmente tão perigosos quanto não-participantes podem acreditar, uma vez que, por exemplo, aplinismo pode parecer suicídio para quem vive sentado no sofá, mas morrer por um ataque cardíaco é muito mais  comum do que os riscos que correm praticamente todos atletas outdoor.

Então, eles estão, em essência, argumentando que o risco é essencial ao ser humano, e você não pode proibir isso.

Talvez por isso tanto o primeiro-ministro da Inglaterra, David Cameron, e o prefeito de Londres, Boris Johnson, andam de bicicleta sem capacete: Eles querem um pouco de aventura, assim como o resto de nós.

Fonte: http://www.adventure-journal.com/2012/03/doctors-argue-against-mandatory-bike-helmet-laws/

Recife é a mais lenta do Brasil na volta para casa

ônibus engarrafamento Recife - Foto - Júlio Jacobina DP/D.A.Presss

Por

Paulo Trigueiro

O Recife é a cidade brasileira com o trânsito mais lento no horário de pico noturno, das 17h às 19h. Em um ano, o motorista chega a gastar 94 horas a mais do que deveria atrás do volante, na volta para casa após o trabalho.

Com taxa de congestionamento de 82% no rush noturno, a capital ficou em sexto lugar no ranking mundial, à frente de metrópoles como Los Angeles e Rio – na capital fluminense se perdem 93 horas e a taxa de congestionamento é de 81%.

Os dados foram revelados ontem pelo fabricante de GPS TomTom, que realizou pesquisa em 218 cidades de 36 países através de informações colhidas por seus equipamentos.

O estudo foi feito com base na comparação de dois deslocamentos iguais, em horários de trânsito livre e de pico. No Recife, para cada meia hora percorrida no primeiro cenário, 24 minutos extras precisam ser gastos no rush.

Em Instambul, a pior do ranking mundial, um trajeto de 30 minutos em horários mais livres leva mais de uma hora no rush noturno. Lá os motoristas perdem 125 horas em média, por ano. Pela primeira vez a pesquisa da TomTom incluiu cidades da China.

No ranking geral de congestionamento em 2014, de acordo com a TomTom, a capital aparece com 45%, atrás do Rio (51%) e Salvador (46%).   Segundo a CTTU, o sentido Boa Viagem da Agamenon Magalhães tem o trânsito mais crítico da cidade (veja  ranking).

Ganhando tempo
Para quem faz longos trajetos e perde ainda mais tempo, a alternativa pode ser realizar alguma atividade enquanto o trânsito desafoga. O estudante de ciência da computação Igor Matos, 21, larga da UFPE às 18h30. Chegava a passar duas horas e meia para chegar a Olinda, onde mora. A saída foi estudar nos laboratórios da universidade até as 20h, quando pode fazer o percurso em pouco mais de uma hora.

“Acho que é preciso investir no tranporte coletivo e na bicicleta”, analisa o estudante e cicloativista. Em fevereiro deste ano, uma pesquisa da Proteste colocou o Recife aparece em primeiro lugar no ranking das cidades com mais tempo de espera de ônibus.

Saiba mais

200 cidades foram avaliadas pela pesquisa da TomTom

Horas extras gastas no trajeto de volta para casa anualmente
125    Instambul, Turquia
118    Moscou, Rússia
110    São Petersburgo, Rússia
102    Cidade do México, México
97    Chongqing, China
94    Recife, Pernambuco
94    Bucareste, Romênia
93    Rio de Janeiro, Brasil
93    Shenzhen, China
92    Los Angeles, Estados Unidos

60% das ruas do Recife estavam saturadas em julho do ano passado

Número de veículos no horário de Pico

Agamenon Magalhães
9,6 mil veículos/hora
28,8 mil no pico (17h às 19h)

Avenida Norte
3,9 mil veículos/hora
11,7 mil no pico

Rosa e Silva
3 mil veículos/hora
9 mil no pico

Cruz Cabugá
2 mil veículos/hora
6 mil no pico

Rui Barbosa
1,9 mil veículos/hora
5,7 mil no pico

Sem plano, Recife tem verbas de mobilidade ameaçadas

 

pedestre na faixa2Por

Rosália Vasconcelos

Termina em 30 de abril o prazo para que os municípios brasileiros entreguem ao governo federal o Plano Diretor de Mobilidade Urbana (PDMU). O Recife, apesar dos problemas neste setor, é uma das cidades que não produzirão o documento no prazo estabelecido pela Lei 12.587/2012.

Como consequência, ficará sem receber recursos federais para novos projetos de mobilidade urbana até que cumpra as exigências. E, por enquanto, ainda não há previsão para a elaboração do plano. O atraso na entrega não interfere na execução e repasse de recursos de projetos em andamento, como a Via Mangue, mas pode comprometer obras futuras.

Segundo a Secretaria Municipal de Planejamento, a construção do documento depende da entrega de uma pesquisa de origem/destino, que está sob a responsabilidade do Grande Recife Consórcio. “Em todo o país, tem sido apontada a necessidade deste estudo, com base em pesquisa domiciliar, em particular nas regiões metropolitanas”, justificou o órgão.

A pesquisa demanda abertura de licitação. “A previsão é de que a pesquisa só comece a ser realizada no segundo semestre deste ano, quando devem acontecer o lançamento do edital e a abertura da licitação para a escolha da empresa”, informou o Grande Recife. O último trabalho feito nesse sentido foi realizado há 18 anos, pela extinta Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU).

A Secretaria de Planejamento também informou que houve um pedido ao Ministério das Cidades para prorrogação da entrega do plano. “Outros municípios que não conseguiram entregar o documento fizeram esse pedido. Aguardamos a sinalização do Ministério das Cidades quanto ao adiamento do prazo”, informou a pasta.

O Ministério das Cidades adiantou ao Diario que não há estimativa para prorrogação. “O prazo estabelecido em lei, que é abril de 2015, marca na verdade o início da obrigatoriedade como requisito para contratação de novas operações que utilizem recursos orçamentários federais”, explicou o ministério.

A resolução, contudo, não interfere no repasse de recursos para contratos antigos. “A política não prevê a avaliação dos planos de mobilidade municipais, mas é esperado que durante a construção dos planos também sejam realizadas audiências públicas para a participação popular”, orienta a pasta federal. O Ministério das Cidades disse não dispor de um levantamento sobre quantas cidades já conseguiram elaborar o documento conforme a Política Nacional de Mobilidade Urbana.

Em 2011, ainda na gestão do ex-prefeito João da Costa (PT), foi apresentado um plano de mobilidade à Câmara de Vereadores, quando foi criada uma Comissão Especial de Mobilidade para promover audiências públicas e discutir os encaminhamentos. No primeiro semestre de 2013, o projeto foi retirado da casa para análise do prefeito Geraldo Julio (PSB), alegando que faltavam estudos técnicos que embasassem o plano. Um novo projeto seria elaborado pela atual gestão. Até agora, no entanto, o Recife segue sem definições das políticas públicas de mobilidade urbana.