Por Tânia Passos
Há quase três décadas o Recife desenhava a sua malha viária metropolitana com sete vias radiais e quatro corredores perimetrais. Os nomes podem até parecer estranhos, mas basta entender que a malha viária foi pensada como um leque com as vias perimetrais (horizontais) fazendo ligação com radiais (verticais) formando uma rede. Foi assim que teve início a lógica do transporte metropolitano da cidade numa rede estruturada para 23 terminais e absorvendo o transporte dos 14 municípios da Região Metropolitana do Recife. O conceito foi plantado em 1985 e é hoje um dos maiores trunfos para a melhoria do transporte público na cidade. Isso será mostrado nessa que é a última reportagem da série Metrópole em movimento.
Não por acaso, o Recife é uma das raras metrópoles do país que dispõe de um sistema metropolitano integrado, onde o usuário se desloca dentro do sistema com apenas uma passagem. “O SEI é invejado por muitas cidades”, assegura o presidente do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano, Nelson Menezes. A empresa é responsável por gerir o transporte metropolitano e dos municípios consorciados. Apesar disso, a capital pernambucana ainda não é referência em transporte público e é fácil entender a razão. A maior parte das intervenções planejadas para o SEI não saiu do papel. O maior avanço foi em relação a construção de terminais de integração. Dos 23 previstos, sete foram construídos na década de 1990 e outros sete foram entregues entre 2002 e 2012. E até 2014, o sistema irá dispor de 25 terminais de integração, dois a mais do que estava previsto.
Enquanto estava sendo construído, o sistema viário que possibilitaria um deslocamento mais rápido e eficiente dos coletivos nas radiais e perimetrais foi deixado para trás. Das quatro perimetrais planejadas, dispomos apenas da primeira: a Avenida Agamenon Magalhães, que foi inaugurada no final da década de 1960. As outras três perimetrais estão incluídas no PAC Mobilidade, que tem prazo de execução até 2016.
Nas radiais, a situação é menos crítica. Das sete, duas foram contempladas com as linhas Centro e Sul do metrô, as avenidas Mascarenhas de Morais e José Rufino. Duas já funcionavam com corredores exclusivos: a PE-15 e a Avenida Caxangá, que estão incluídas respectivamente nos corredores Norte/Sul e Leste/Oeste. As duas vias estão recebendo um novo formato para se adequar aos moldes do BRT (sigla inglesa para Transporte Rápido por Ônibus). A radial da Avenida Presidente Kennedy, em Olinda, está em obras para dispor de um corredor de ônibus.
Estão de fora, por enquanto, as avenidas Norte e Abdias de Carvalho, que também são radiais. “A gente está com a faca e o queijo na mão. Agora é a vez de apostar nos corredores e não parar”, ressaltou a engenheira Regilma Souza, que participou da criação do SEI. O intervalo longo entre o que foi planejado e o que ainda falta ser executado afeta diretamente o usuário do sistema.
Apesar de muitos dizer que a Mascarenhas é radial, alguns slides de trânsito a PCR tratou a Mascarenhas como uma perimetral.
Oi Tânia,
Boa tarde,
Mais uma vez parabéns pela série de reportagens sobre a mobilidade das metrópoles. Já havia te parabenizado em outro post.
Entretanto, não obstante a qualidade das suas reportagens, gostaria de sugerir que as mesmas fossem escritas de forma mais “didática”, tendo em vista os leigos, meu caso por exemplo. Explico. Na reportagem acima você menciona sobre o projeto das perimetrais, seriam 4 no total, correto? Porém, apenas a Agamenon Magalhães “saiu do papel”. Ok, mas quais seriam as outras? Qual o trajeto planejado originalmente para elas?
O papel da imprensa é fundamental para que a população possa se manter informada e cobrar dos gestores públicos a realização das obras planejadas. O Recife tem sofrido bastante com a falta de investimento no trânsito, mas, ao que parece, planejamento tinha, só não foi tirado do papel, correto?
Então, qual era o planejamento original? Por onde passariam as perimetrais, por que não foram feitas, o local planejado encontra-se hoje ocupado…??? Para responder essas perguntas daria até pra fazer um post não é?
Por favor, continue com este trabalho de informação para a população acerca deste tema tão importante, mobilidade urbana, entretanto seja mais didática nos posts, ok?
Um grande abraço!
Só complementado o comentário anterior… se você puder fazer um post sobre qual era o planejamento original para o transito do Recife, ou melhor, como deveria ser a cidade hoje, caso todo o planejado tivesse sido executado, acrescente também o projeto dos terminais de integração, 23 ao todo, certo? Onde seriam?
PS: Uma curiosidade, por que os terminais não são climatizados?
Olá Alexandre,
Raimundo já lhe ajudou a esclarecer alguns pontos. Fiz uma arte, que não entrou por falta de espaço e coloquei no blog. Dê uma olhada. Só complementando a sua observação a respeito de qual o cenário teríamos hoje se as obras tivessem sido feitas. Eu diria, que teríamos um sistema de transporte que seria referência e hoje estaríamos com outras preocupações para adequar a demanda atual e exigindo equipamentos cada vez melhores e não partindo quase do zero.
Alexandre,
se me permite, respondo sobre as perimetrais.
A Agamenon é a primeira e faz parte do corredor Norte-Sul que receberá o BRT em dois ramais (Agamenon até o TI Tancredo Neves enquanto a Via Mangue não fique pronta para alongar até Jaboatão, e Cruz Cabugá).
A segunda perimetral compreendem, tomando como base a Rua Benfica, na Madelena, a Av. Visconde de Albuquerque e a Rua Real da Torre com as continuações sentido Afogados e Casa Forte.
A terceira perimetral é a Av. San Martin, também com a continuação para a zona norte (depende de ponte Torre/Santana), até a BR 101/Av. Recife.
A quarta perimetral é a BR 101.
A quarta perimetral tem projeto em análise para implantar corredor exclusivo para transporte coletivo. A primeira já se sabe. A segunda e terceira perimetrais estão querendo instalar faixas exclusivas de ônibus, mas não há nada certo, pois muitos trechos o trânsito é complicado e não tem espaço para alargar as vias sem que haja desapropriação.
A radial Av. Caxangá, que faz parte do Leste-Oeste, ganhará duas integrações que se comunicarão com as perimetrais três(Av. San Martin) e quatro(BR 101).
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Com relação a matéria, a Av. Norte é uma via muita complicada para implantar um sistema de transporte público que não afete consideravelmente o tráfego misto que é uma preocupação do governo local.
Já a Abdias de Carvalho, se o governo quisesse, poderia implantar um sistema BRT já adequando o projeto da criação da terceira faixa de rolamento na BR 232. Se projeções do corredor para a BR 101 colocam trechos onde a via sofreria alargamento tendo as estações comunicação com as passarelas existentes através de rampas, e essa ótica também é adotada na manutenção dos elevados na Agamenon, bastaria adequar a divisória de sentidos na BR para ganhar as estações e criar a comunicação com passarela já presente e outras novas.
O BRT poderia ir até o centro pegando pequeno trecho de tráfego misto entre a túnel Chico Science e a Rua Benfica para entrar no Leste-Oeste ou ir até o TI Joana Bezerra fazendo ponte com o futuro TI TIP. O pequeno trecho na BR 408 seria feito de forma expressa.
Agora, se não pensaram nisso ou tá engavetado, sendo menos sonhador, apostaria para a Abdias a criação de faixa preferencial no lado direito. Preferencial, pois há comércio e ruas transversais que demais veículos precisam
acessar. Situação similiar a Av. Herculano Bandeira, no Pina, que tem uma faixa que deixou de ser exclusiva por perder essa característica, já que há constantes invasões para acessar vias e estabelecimentos transversais.
A continuação da Abdias, BR 232, com a terceira faixa de rolamento, novas paradas em pistas locais.
Alexandre,
ao você questionar porque os terminais não são climatizados, a pergunta mais básica seria: por que os ônibus deixaram de ser climatizados até banirem a concorrência com as vans limitando-se a poucas linhas? A nova licitação prever inicialmente os veículos ligados ao SEI terem ar condicionado. Os demais ganharão gradativamente obedecendo um longo prazo. As estações BRT serão climatizadas. Agora, climatizar os terminais é exigir muito, até porque iria requerer um isolamento e muitos terminais aqui usam mais de uma plataforma e os locais de comunicação são ponto de passagem dos ônibus. Isso acarretaria em portas acessar os locais refrigerados, além de outras para entrar e sair de ônibus. Em outros locais não fazem isso e quando fazem, é mais para uma área substerrânea que tem problemas de circulação.
Já seria muito instalarem ventiladores para circular melhor o ar, principalmente em dias quentes.
Amigos,
Obrigado pelas respostas e pelos esclarecimentos. Me sinto muito atraído por este tema – mobilidade urbana. O planejamento de crescimento de uma cidade é algo fascinante, pena que aqui no Brasil as coisas não são levadas a sério e a cada mudança de governo não vemos uma continuidade de planejamento-ação conjugados.
Bom, permitam-me mais uma dúvida. Quando se falava em “perimetrais” eu pensava logo em grandes avenidas como a Agamenon Magalhães, com inúmeras faixas de cada lado. Vocês estão falando em 4 perimetrais planejadas para o Recife e eu imaginei que se iria “rasgar” a cidade para construção de outras “Agamenons Magalhães”, mas pelo que disseram são na verdade adaptações em avenidas pequenas, estreitas e contando com inúmeros moradores no entorno. É isso mesmo? O planejamento inicial foi assim mesmo, ou tinham pensado em construir outras “Agamenons Magalhães” e depois com o crescimento não fizeram??
Será eficiente essa forma de adaptação? Não seria melhor se investir em desapropriação (em áreas mais baratas) para “redesenhar” o trânsito??
Um abraço e mais uma vez obrigado pelas respostas!
Alexandre,
as perimetrais e radiais são o posicionamento de certas vias com relação ao centro da cidade, independente da quantidade de faixas disponível, mas da continuidade que elas tem para alcançar determinados locais.
Fazendo uma analogia com uma circulo que tem raio, centro e perimetro, as radias são o raio que se comunica com o centro, enquanto as perimetrais são o perímetro que envolve o centro.
Logo, as perimetrais não são algo atual sendo um posicionamento de vias com relação ao centro da cidade. Quandos se fala em obras para as perimetrais, não é construir novas Agamenons, mas melhorar a circulação dessas. Essas melhorias podem acarretar desapropriações para alargar e da continuidade (pontes como do Santana/Torre em processo de recursos) a perimetral, alteração do fluxo evitando retenções, entre outros.
Sobre as desapropriações em áreas mais baratas, não há nada barato. A Via Mangue está sendo feito em área onde foram feitas poucas desapropriações, contudo a obra é caríssima e os poucos desapropriados, maioria de baixa renda, ganharam auxílio-moradia e depois apartamentos novos em residencial da Via Mangue.
A proposta de elevados na Agamenon onde há mais pessoas com poder aquisitivo vem gerando questionamentos na mídia, pois alguns preveem seu imóvel desvalorizado pela proximidade do elevado, afora comércios, sem falar que as pessoas não satisfeitas com o valor da indenização pode ingressar na justiça e esta paralizar a obra até que se pague o justo e olha que é um pequeno trecho.
Se fosse tornar as outras perimetrias semelhantes a Agamenon, seria obra para décadas e de um valor absurdo, talvez, inviável. Basta dizer que a radial Av. Norte ainda não teve um projeto para transporte público de massa por ser uma via cheia de problemas.
Para mim, a situação de algumas vias hoje está ruim e piorando se algo for feito até a entrega, porque no passado não pensaram grande. Se as outras perimetrais seguissem a Agamenon numa época que havia pouca ocupação, hoje os transtornos seriam menores. Se a Av. Norte fosse feita como a Caxangá, também seria diferente, mas aqui é o Brasil. Poucos são visionários na esfera pública.