Uma pergunta: Que ônibus passa aqui?

aplicativo onibus10As barreiras para acessar o transporte público vão além do conforto do ar-condicionado. Muitas vezes, a informação correta é a ferramenta que falta para um usuário não convencional decidir apostar no sistema. E as perguntas básicas são: qual o ônibus, onde subir e descer e o horário que ele passa? O tempo do boca a boca ou até mesmo das sinalizações quase sempre ausentes nas paradas de ônibus estão sendo superados pelos aplicativos. Não que a sinalização não seja importante, mas o passageiro não quer perder tempo e os aplicativos estão ajudando a cobrir a lacuna da informação.

O professor Caio Maciel, 50 anos, mora em Casa Forte e ensina na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ele usa o transporte público diariamente, mas antes se programa pelo CittaMob. “Eu sei que o meu ônibus vai passar aqui daqui a quatro minutos”, contou. Tempo suficiente para produzirmos as fotos e ele embarcar. Na mesma parada, na Avenida Marquês de Olinda, no Bairro do Recife, encontramos a professora Maria dos Anjos, 54, que não usa aplicativo, tentando encontrar a linha no que restava da sinalização na parada. “Está bem ruim. Quando não dá para ler, a gente pergunta”, contou.

Ainda não será dessa vez, que a sinalização nas paradas será resolvida. O Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano, responsável pelo gerenciamento de todo o Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do Recife (STPP), vai apostar também nas informações via aplicativo que deve ser lançado neste segundo semestre com as informações das linhas em tempo real para os usuários. “Os passageiros terão acesso gratuito a todas as informações das viagens dos ônibus e o tempo de espera”, revelou Fernando Guedes, diretor de Tecnologia do Grande Recife.

A espera do aplicativo desde 2014, acabou dando espaço para outros como é o caso do CittaMob, que já superou a marca de um milhão de usuários, metade da demanda diária de passageiros da RMR. “Pelo menos 95% dos que baixaram o aplicativo usam diariamente as informações das paradas e horários dos ônibus”, explicou Carlos Sampaio, gerente comercial da Cittati. O CittaMob tem informações georeferenciadas de 5,8 mil paradas e de 2,8 mil ônibus com base de dados fornecida pelas empresas. “Somente as empresas Globo e Vera Cruz não quiseram compartilhar informação e ficaram de fora”, explicou Sampaio.

A aposta do aplicativo do Grande Recife é que o órgão detém toda a base de dados de todas as empresas e fará o monitoramente pela sua Central de Operações. Segundo o diretor de tecnologia do Grande Recife, Fernando Guedes, as  6.2 mil paradas e os três mil ônibus serão monitorados do início ao fim das viagens.
O que vai fazer a diferença entre os aplicativos são as ferramentas que serão disponibilizadas. A interação com o usuário, por exemplo, é um ponto importante. “Nós temos a ferramenta megafone onde as pessoas podem compartilhar informações. Se for alguma reclamação dos motoristas repassamos para as empresas e se for do terminal, repassamos para o órgão gestor”, revelou Carlos Sampaio.
No caso do aplicativo a ser lançado pelo Grande Recife, ainda sem nome, ter um canal com o usuário pode significar mais agilidade na resolução de problemas, mas se não for dada a devida atenção, o interesse cessará. “Nós vamos ter um canal para o usuário dar sugestões ou fazer críticas”, revelou Fernando Guedes.
Outra ferramente importante dentro do aplicativo é da integração com outros modais. “Aqui no Recife não conseguimos fazer parceria com o metrô, que é gerido por um órgão federal. Fizemos em Salvador, mas assinamos contrato com o Itaú para integrar no aplicativo as estações da Bike-PE”, revelou Carlos Sampaio.  Para quem ficou tanto tempo sem informação nenhuma, escolher o melhor serviço é uma prerrogativa dos dois milhões de passageiros da RMR.

Conheça alguns aplicativos

CittaMob
O Cittamobi, aplicativo para smartphones desenvolvido no Recife, é um grande aliado para quem anda de ônibus. Um milhão e oitenta e dois mil usuários baixaram o aplicativo na Região Metropolitana do Recife. O aplicativo é usado em 23 cidades brasileiras.

Moovit
O Moovit, aplicativo que traça rotas considerando apenas opções de transporte público e envia informações aos usuários informações em tempo real até sobre quando devem descer dos ônibus ou do metrô. Também informa a hora prevista de chegada. Também envia informações sobre o destino, como a quantidade de paradas até o destino final.

Coletivo
O Coletivo é um aplicativo para smartphones, que usa a colaboração como estratégia para fornecer informações em tempo real sobre os ônibus e a rede de transportes da cidade de São Paulo. Destinado aos passageiros que querem uma melhor experiência no deslocamento cotidiano, o Coletivo integra outras fontes de dados oferecendo informações sobre a cidade, acontecimentos culturais e alertas além das informações de transporte.

Transporte público piora na avaliação dos usuários, segundo pesquisa da CNI

 

Trânsito engarrafado na Avenida  Agamenon Magalhães
Trânsito engarrafado na Avenida Agamenon Magalhães

Um número cada vez maior de brasileiros está passando muito tempo no trânsito. Pesquisa feita pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) com 2.002 pessoas em 142 municípios mostra que, em 2011, ano da primeira pesquisa, 26% da população passavam mais de uma hora no trânsito em seus deslocamentos para as atividades rotineiras, como trabalho e estudo. O volume saltou para 31% na pesquisa atual. Nas cidades com mais de 100 mil habitantes, o número de pessoas que perdem pelo menos uma hora de seus dias no trânsito é ainda maior – 39% passam mais de uma hora. Desses, 12% ficam entre duas e três horas, e 4% ficam mais de três horas.

O trânsito afeta a produtividade do trabalhador, e, consequentemente, a competitividade da indústria e do país, como explica o diretor de Políticas e Estratégia da CNI, José Augusto Fernandes. “O principal efeito é o atraso, tanto dos trabalhadores, quanto do fluxo de bens. Além disso, os trabalhadores chegam cansados, o que eleva o estresse e reduz a qualidade de vida. Tudo isso tem impacto na produtividade do trabalhador, afetando a produção da indústria”, afirma.

Rotina de passageiros e a dificuldade em conseguir espaço no ônibus do Recife. Foto Annaclarice Almeida DP/D.A.Press
Rotina de passageiros e a dificuldade em conseguir espaço no ônibus do Recife. Foto Annaclarice Almeida DP/D.A.Press

As pessoas que andam de ônibus são as que passam mais tempo em seus deslocamentos diários. Metade dos que utiliza prioritariamente o transporte público passa mais de uma hora no trânsito. O percentual cai para 42% no caso dos que andam de ônibus ou vans fretados, 24% para os que andam de carro próprio, 19% para quem anda de bicicleta, 18% para os que utilizam mais a moto e 14% para quem vai a pé.

A locomoção a pé ou em transporte público é a mais frequente – 46% das pessoas. Um total de 24% pessoas utilizam o ônibus público e 22% vão a pé. Em seguida, aparecem os veículos próprios (19%), as motocicletas (10%), as vans/ônibus fretados (9%) e as bicicletas (7%). A escolha do meio de transporte varia de acordo com a renda. Quase metade das pessoas da faixa mais elevada – mais de cinco salários mínimos – utiliza os veículos próprios para se locomover. No outro extremo, estão os que recebem menos de um salário mínimo – apenas 3% vão de carro para o trabalho.  A parcela da renda mais baixa se locomove mais a pé (39%). Deles, 20% utilizam os ônibus.

CAI AVALIAÇÃO DO TRANSPORTE PÚBLICO – Aumentou a quantidade de brasileiros que consideram o transporte público ruim ou péssimo. Em 2011, eram 28% do total. Na pesquisa atual, passou para 36%. Mais da metade dos moradores das regiões Norte e Centro-Oeste (51%) classificaram como ruim ou péssimo. Em seguida, aparecem as regiões Sudeste (36%), Nordeste (34%) e Sul (28%). A piora na avaliação ocorreu principalmente no Sudeste. O número dos que consideram o transporte público como bom ou ótimo caiu de 41% para 21%.

De acordo com os entrevistados, os problemas de capilaridade e frequência são os que mais os desanimam para utilizar mais vezes o transporte público – 26% apontaram como principal motivo. Em seguida apontam a lentidão (24%), o preço (10%) e o fato de serem desconfortáveis (8%).

Fonte: CNI

Maior e menor linha de ônibus da Região Metropolitana do Recife tem em comum a mesma tarifa

 

Linha Araçoiaba/Camaragibe é a mais longa da Região Metropolitana do Recife com 93km de extensão. Foto: João Velozo Especial DPO/D.A.Press
Linha Araçoiaba/Camaragibe é a mais longa da Região Metropolitana do Recife com 93km de extensão. Foto: João Velozo Especial DPO/D.A.Press

Quando o estudante Anderson Fernando da Silva, 20 anos, embarca na Linha 2463 – Araçoiaba/Camaragibe, sabe que terá pela frente um longo percurso. A mais extensa linha do Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do Recife (STPP) tem 93 quilômetros em uma viagem de ida e volta.

Anderson Silva, 20 anos, perde 4 horas por dia nos deslocamentos de casa para o trabalho. Foto: João Velozo Especial DP/D.A.Press
Anderson Silva, 20 anos, gasta 3 horas por dia nos deslocamentos de casa para o trabalho. Foto: João Velozo Especial DP/D.A.Press

Por dia, ele gasta uma média de 1h30  para ir e o mesmo tempo para voltar.  Cada deslocamento custa R$ 3,35 do anel B. Também na Região Metropolitana do Recife, dessa vez em Olinda, a estudante Linda Maria Vicente, 33 anos, costuma usar a linha mais curta do STPP. A Linha 1966 – Rio Doce/Circular – percorre apenas três quilômetros em uma viagem de ida e volta e a tarifa também custa R$ 3,35.

A semelhança entre a maior e a menor linha do sistema é apenas no valor da tarifa. A sua maior diferença, no entanto, não é apenas a distância. Mas o tipo de serviço que é oferecido. Para os usuários da  Linha de Araçoiaba/Camaragibe, os problemas vão desde o intervalo das viagens de até 2 horas, deixando o usuário refém do tempo, a  má qualidade do transporte com um ônibus convencional, insuficiente para a demanda dos horários de pico e a falta de organização das filas, onde os homens costumam passar na frente.

Linha Rio Doce/Circular é a mais curta da Região Metropolitana com 3km de extensão. Foto: João Velozo. Especial DP/D.A.Press
Linha Rio Doce/Circular é a mais curta da Região Metropolitana com 3km de extensão. Foto: João Velozo. Especial DP/D.A.Press

“Velho, mulher e criança aqui não tem vez. Os homens passam na frente e tomam os lugares na cadeira e ninguém faz nada”, criticou a diarista Maria Glória de Almeida, 53 anos. Ela pega o transporte às 4h para chegar no trabalho às 6h. Na volta para casa, já cansada, sabe que terá que passar quase duas em pé.

A redução no intervalo das viagens da linha de Araçoiba não está nos planos do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano, responsável pela gerência do sistema. De acordo o diretor de operações, André Melibeu a linha tem caráter social e não há demanda suficiente para aumentar o número de veículos.

Linda Maria Vicente usa a Linha Rio Doce e gasta menos de 10 minutos para chegar ao seu destino. Foto: João Velozo. Especial DP/D.A.Press
Linda Maria Vicente usa a Linha Rio Doce e gasta menos de 10 minutos para chegar ao seu destino. Foto: João Velozo. Especial DP/D.A.Press

“Nós vamos fazer uma fiscalização nos horários de pico para verificar se há necessidade de aumentar o número de veículos, principalmente na sexta quando a demanda aumenta ou de mudar o modelo do veículo que tenha uma capacidade maior”, afirmou Melibeu. O Grande Recife também se comprometeu em melhorar a fiscalização nas filas para evitar que as pessoas passem a vez. “É uma questão de consciência. Só podemos orientar”, revelou.

Sobre a menor linha do sistema com apenas três quilômetros, ele explicou que foi uma estratégia para reduzir linhas. “Havia cinco linhas que iam todas para o centro de Rio Doce, nós transferimos todas para o terminal e criamos a linha circular para fazer essa operação”, afirmou.

A linha de Araçoiaba/Camaragibe, operada pela Mobibrasil, faz apenas 11 viagens ao dia, transporta quase 700 passageiros e percorre mais de mil quilômetros. Já a menor linha RioDoce/Circular, operada pela Conorte, faz 86 viagens, transporta 1,1 mil usuários e faz 260 km por dia. Mesmo com um trajeto quatro vezes menor, arrecada 70% a mais do que a linha mais longa.

Entenda a dinâmica da maior e menor linha de ônibus da RMR

Sobre a linha mais longa
92,59 km (ida e volta)
662 passageiros
1.020 quilômetros percorridos por dia
R$ 3,35 é a tarifa
R$ 0,07 é o valor pago por usuário por quilômetro rodado
R$ 2.220,00 é a arrecadação diária da linha
R$ 2,20 é o que a empresa arrecada por quilômetro rodado

Linha 2463 – Araçoiaba/TI Camaragibe

Percurso (Camaragibe/Araçoiaba) – Terminal Integrado de Camaragibe, Rua Luiza Alves, Rua Antônio Felipe, Avenida Belmínio Correia, Rua Manoel Ribeiro, Rua Belchior de Athaíde dos Santos, Rua Padre Luíz Muremberg, Avenida dos Girassóis, Rua Padre Ozeas Cavalcante, Estrada da Linha, Avenida General Milton Cavalcante (PE-27), Estrada de Aldeia (PE-27), Acesso Chã de Conselho, Rodovia PE-027, Avenida Marechal Nilton Cavalcanti, Avenida Major Pessoa Guerra, Rodovia PE-041, Praça São José, Vila de Itapipiré de Cima,

Percurso Araçoiaba/Camaragibe ): Rodovia PE-041, Rua João José de Freitas, Rua João Felipe de Barros Dias, Avenida Major Pessoa Guerra, Avenida Marechal Nilton Cavalcanti, Rodovia PE-027, Acesso Chã de Conselho, Estrada de Aldeia (PE-27), Avenida General Milton Cavalcante (PE-27), Estrada da Linha, Rua Padre Ozeas Cavalcante, Avenida dos Girassóis, Rua dos Narcisos, Avenida Belmínio Correia, Rua Nova, Rua Luiza Alves, Terminal Integrado de Camaragibe

Sobre a linha mais curta
3 km por dia
86 viagens/dia
1.170 passageiros/dia
R$ 3,35 é a tarifa
R$ 2,20 é o valor pago pelo usuário por quilômetro rodado
R$ 3.920,00 é a arrecadação diária da linha
R$ 15,20 é o valor arrecadado pela empresa por quilômetro rodado

Linha  1966 – Rio Doce/Circular

Percurso: TI Rio Doce/ Rua 37 – Terminal Integrado de Rio Doce, Avenida das Garças, Avenida Nápoles, Rua 37, Avenida Tiradentes e Terminal Rio Doce

Fonte: Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano

Jaboatão quer reestruturar sistema municipal de transporte público

75% do transporte público de Jaboatão é feito por micro-ônibus. Crédito: Marcelo Soares/Esp DP/D. A Press
75% do transporte público de Jaboatão é feito por micro-ônibus. Crédito: Marcelo Soares/Esp DP/D. A Press

Por Rosália Vasconcelos

Um dia após o acidente envolvendo um micro-ônibus do sistema complementar de transporte de Jaboatão dos Guararapes, deixando uma pessoa morta, a prefeitura anunciou mudanças no modelo rodoviário municipal. Segundo o secretário executivo de Mobilidade, Werner Brito, a previsão é de que em março seja realizada a licitação para definir quais empresas vão atuar no novo sistema, que deve entrar em operação a partir do dia 10 de agosto de 2015, quando vencem as concessões do atual sistema.

De acordo com levantamento da prefeitura, hoje 75% da população da cidade usa o transporte municipal complementar e apenas 25% utiliza os ônibus tradicionais. Na prática, esse número significa que rodam nas vias de Jaboatão 310 micro-ônibus e 54 kombis (ambos complementares) e 43 ônibus regulares, além de cerca de 150 veículos que circulam clandestinamente. “O novo modelo quer reverter essa situação. Queremos um sistema de transporte eficiente, que otimize também nossa fiscalização”, disse o secretário executivo de mobilidade.

Os micro-ônibus deveriam ser um complemento ao transporte regular, mas não é o que acontece em Jaboatão. “Esse sistema que se perdura dificulta a nossa fiscalização, que tem um efetivo pequeno para a demanda e não é interligado com outros modais, como o metrô”, reconheceu o secretário. Ele justificou que ao longo dos anos não foi feito nenhum mapeamento da situação do sistema de transporte de Jaboatão, o que permitiu a situação atual que, segundo suas próprias palavras, é um modelo bastante ultrapassado.

Para reestruturar o sistema vigente, um estudo técnico está em andamento e deve ser concluído no próximo dia 15 de dezembro. Em seguida, uma empresa será contratada para desenvolver um novo modelo de operação do transporte municipal, adequado à demanda de Jaboatão, que tem uma população de 700 mil habitantes. Só depois desse processo, será realizada a licitação. “Durante a elaboração do novo modelo, vamos definir as linhas, os percursos e as novas tarifas e novas rotas. Chegamos a essas informações através de uma pesquisa de opinião realizada este ano com a população”, explicou Werner Brito.

As permissões do transporte complementar em Jaboatão, que têm validade de dez anos, venceriam no último dia 10, mas foram prorrogadas por oito meses (até 10 de agosto), período necessário para estruturar o novo modelo. “Como 75% da população usa os micro-ônibus, foi necessário prorrogar o prazo, para que as pessoas não ficassem sem transporte.

Como funciona o sistema de transporte de Jaboatão
São:
313 permissionários (concessões)
20 linhas do sistema de transporte é complementar
03 linhas respondem pelo sistema regular
10 anos é o prazo da concessão
08 anos é o tempo máximo de uso do veículo

Outros números
43 é quantidade de ônibus que rodam no município
310 micro-ônibus circulam na cidade
54 kombis atuam no sistema de transporte
150 é a estimativa do número de veículos que rodam clandestinamente na cidade
R$ 1,90 é o preço médio da tarifa dos micro-ônibus complementares

Fiscalização
396 fiscalizações foram feitas
60% dos veiculos fiscalizados não tinham seguro de responsabilidade civil
40% dos veículos inspecionados tinham mais de oito anos de uso
49 micro-ônibus estão em processo de cassação
56 agentes fiscalizam o sistema de transporte de Jaboatão
150 agentes seria o necessário para fiscalizar o sistema de transporte

Melhoria do transporte do Recife é mais do que discutir tarifa e salários

A espera pela melhoria do transporte a cada degrau - Foto - Ricardo Fernandes DP/D.A.Press
A espera pela melhoria do transporte a cada degrau – Foto – Ricardo Fernandes DP/D.A.Press

Depender do transporte público no Recife nunca foi tão incerto. Sem nenhum aviso, o usuário pode ser surpreendido por uma paralisação. A eterna disputa entre patrões e empregados sobre o percentual de reajuste salarial da categoria não deveria comprometer o funcionamento do sistema, mas compromete. Dispor de um transporte diário é mais que um direito, mas talvez já tenha passado da hora de avançar nessa discussão e subir alguns degraus para um serviço de melhor qualidade.

Enquanto Amanda Stephanie, 25 anos, aguarda a chegada do ônibus, em uma parada da Marquês de Olinda, no Centro do Recife, sem ter ideia de quanto tempo terá que esperar, em outra esquina encontramos a estudante Helena Gomes, 20, que faz uma busca no celular para localizar a posição exata do seu ônibus. A tecnologia já existente ainda não chegou para todos.

Além da necessidade de se ter um aparelho capaz de baixar o aplicativo do CittaMob, disponibilizado pelas empresas de ônibus, é preciso sorte para o alcance do sinal. “Onde moro, na Guabiraba, não pega, mas aqui no Centro eu acesso. É bem prático”, contou Helena. Além do CittaMob, existem outros aplicativos em operação, mas isso não tira a responsabilidade do órgão gestor de disponibilizar informações nos pontos de parada e terminais.

Os painéis eletrônicos dos terminais da RMR, que deveriam informar as linhas e os horários, permanecem inoperantes. O sistema da central de controle operacional do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano, só deve iniciar os testes do projeto piloto no fim do ano. Enquanto isso, nas paradas de ônibus não há informação das linhas e muito menos conforto nos abrigos ou calçadas que dão acesso às paradas.

“Há medidas que poderiam ser implantadas de imediato para a melhoria do sistema, como a boa pavimentação da faixa do ônibus, acessibilidade das calçadas e a disponibilização da tecnologia GPS, para que o ponto de ônibus seja ponto de chegada e não de espera infinita”, apontou o urbanista Nazareno Affonso, do Movimento pelo Direito ao Transporte (MDT).

No Grande Recife, o Sistema de Transporte Público de Passageiros deixa de fazer cerca de mil viagens por dia por conta do trânsito ruim. “Precisamos ampliar as faixas exclusivas. Não adianta aumentar o número de ônibus com trânsito travado”, destacou o presidente do Grande Recife Consórcio, Nélson Menezes.

Estação de BRT no corredor Leste/Oeste - Foto - Alcione Ferreira - DP.D.A/Press
Estação de BRT no corredor Leste/Oeste – Foto – Alcione Ferreira – DP.D.A/Press

As promessas da linha do BRT

Depois de 40 anos de jejum em investimentos na mobilidade na RMR, a construção de dois corredores com o sistema Bus Rapid Transit (BRT) encheu de expectativas os usuários do sistema de transporte público. A operação, no entanto, ainda é limitada em decorrência de atraso nas obras. E dos 300 mil passageiros diários previstos para os dois corredores, somente 10% tiveram o privilégio de usufruir do modal.

O sistema, que começou com três estações no corredor Leste/Oeste, opera com 10 das 27 paradas previstas. Já o Norte/Sul, começou com uma e atualmente está com quatro das 28 estações que permaneceram no projeto.

Os corredores de BRT do Recife, previstos para serem entregues entre dezembro do ano passado e março deste ano, podem ser finalizados até o fim do ano. O ritmo das obras é lento, as faixas, que deveriam ser segregadas, permanecem coletivas e não há sinal da obra de urbanização da rodovia PE-15. “Houve atraso, mas no quadro geral a mobilidade avançou muito em relação há 40 anos. Antes tínhamos nove terminais integrados. Hoje temos 15 e vamos chegar a 27”, avaliou o secretário das Cidades, Evandro Avelar.

Não basta entregar a obra. Para ter o padrão de BRT, o corredor deve atender a requisitos essenciais para tornar o sistema eficiente. “Além da estação nivelada com o piso do ônibus e o pagamento antecipado, quanto menos intervenções no corredor melhor”, afirmou Clarisse Linke, do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP).

Transparência no lugar da caixa-preta

 

Sistema de Transporte Público de Passageiros precisa abrir as contas ao público - Foto Blenda Souto Maior DP/D.A.Press
Sistema de Transporte Público de Passageiros precisa abrir as contas ao público – Foto Blenda Souto Maior DP/D.A.Press

Que a qualidade do transporte público no Brasil deixa muito a desejar, não é nenhuma novidade. A mudança na forma de olhar o sistema não passa apenas pelos investimentos que precisam ser feitos no setor, mas também na transparência de como as operações são realizadas. No imaginário coletivo, a famosa “caixa-preta” esconde ou simula a verdade da receita e o custo da operação do sistema. Entre verdades e mitos, o fato é que essas contas nunca ficaram mesmo às claras e para resgatar a confiança no sistema é preciso fazer mea-culpa e começar a agir com transparência.

A má fama que o atual modelo carrega é resultado, segundo o presidente da Associação Nacional de Transportes Urbanos (NTU), Otávio Cunha, do silêncio dos empresários e omissão dos órgãos gestores. “Essa é uma questão muito mal resolvida. Nas manifestações pela redução da tarifa, os empresários ficaram calados e o poder público, que estabelece o valor, também se calou. Via de regra, isso vem acontecendo”.

Ainda, segundo Cunha, falta clareza. “A gente não tem sabido explicar e esse número é para ser público. O órgão gestor tem obrigação de saber como a operação é feita. E hoje com a bilhetagem eletrônica não tem como não saber”, afirmou. A razão é simples: o sistema eletrônico permite identificar quantos passageiros passam pela catraca, quantas viagens são feitas e quantos quilômetros cada ônibus percorre em um dia. “Nós temos como saber quanto entrou de receita e com a quilometragem percorrida há indicadores para avaliar desgaste de pneus e combustível”, detalhou.

Fazer as contas e disponibilizá-las para o público é o caminho mais transparente que os especialistas da área apontam. “No próprio site do órgão gestor essa tabela de custos pode ser disponibilizada e atualizada a quem interessar”, ressaltou Marcos Bicalho, diretor administrativo da NTU. Na RMR, o site do Grande Recife Consórcio não dispõe de informações a respeito da planilha de custos da operadoras.

Na RMR, são transportados por dia cerca de 2 milhões de usuários e uma frota de três mil ônibus. Foi o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros que revelou dados do custo de operação para justificar a incapacidade de dar um aumento de 10% aos empregados do sistema e mais um reajuste de 75% no tíquete alimentação. A queda de braço entre patrões e empregados penaliza o usuário com as paralisações.

“Nós estamos com um déficit de quase R$ 7 milhões por mês e a saída está sendo usar o fundo da renovação da frota para alimentar o sistema”, revelou o presidente da Urbana-PE, Fernando Bandeira, em entrevista coletiva.

O déficit pegou todo mundo de surpresa, até mesmo o presidente do órgão gestor, Nélson Menezes, que na ocasião disse ser necessário um estudo para a avaliar a existência ou não de um buraco no sistema. Alheio às contas, o usuário também tem dúvidas sobre a matemática do sistema.

Passageiros ônibus/Recife - Foto - Roberto Ramos /DP/D.A. Press
Passageiros ônibus/Recife – Foto – Roberto Ramos /DP/D.A. Press

A lei anticorrupção também no transporte

Aprovada em 2013 após as manifestações populares de junho, a Lei 12.846/13, também conhecida como lei anticorrupção, pode ajudar a mudar a imagem do sistema. As empresas de ônibus sempre tiveram a imagem associada aos financiamentos de campanhas eleitorais. Não por acaso, o tema foi destaque do último seminário promovido pela Associação das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).

O puxão de orelha nos empresários é para usar da transparência em todas as áreas. “Quanto mais transparente, melhor. A lei anticorrupção vai apertar cada vez mais e a sociedade está cobrando isso”, afirmou o diretor administrativo da NTU, Marcos Bicalho. Segundo ele, a licitação do sistema servirá para deixar as regras mais claras. “Na licitação, se firma um contrato com direitos e deveres. Nem mais, nem menos. O que possibilita uma melhor transparência do processo.”

A advogada Rogéria Gieremek, gerente executiva de Compliance traduziu para o setor as várias vertentes da legislação, que não pode ser ignorada pelas empresas em qualquer ramo. “A grande novidade dessa lei é que ela não pune apenas pessoas, mas as empresas também são responsabilizadas. E ela pode, inclusive deixar de existir. Além disso, a prisão é uma consequência possível”, alertou.

Ela também ressaltou a responsabilidade objetiva. Qualquer irregularidade na empresa, o proprietário é diretamente responsável e não poderá dizer que não sabia.

Saiba mais

Receita da tarifa R$ 76.349.619,67
Folha de pessoal R$ 38.433.176,30
Combustível R$ 14.798.710,99
Depreciação R$ 7.767.306,29
Lucro R$ 4.344.266,30
Impostos R$ 6.184.319,19
Peças R$ 6.067.015,08
Gratuidade R$ 5.409.857,26
Custo total R$ 83.004.651,42
*Déficit mensal R$ 6.655.031,75

Tributos e desonerações das atividades das empresas operadoras na RMR
– IPVA PE – 1% sobre o valor do veículo
– ISS – Reduziu de 5% para 2% sobre o faturamento
– RST (Remuneração por Serviços Técnicos) – 5,5% sobre o faturamento
– COFINS – 3% (cobrança suspensa, atualmente está em 0%)
– PIS – 0,65% (cobrança suspensa, atualmente está em 0%)
– CSLL – 12% (Contribuição Social sobre Lucro Líquido)
– Contribuição social – reduziu 2% sobre o faturamento
– Encargos sociais – 70% sobre o salário. Não houve redução
-Tributos incidentes sobre os insumos (pneus, peças e acessórios, combustível), ICMS, IPI, PIS, COFINS

Fonte: Urbana-PE

Para onde está caminhando o transporte público no Grande Recife ?

ônibus engarrafamento Recife - Foto - Júlio Jacobina DP/D.A.Presss

Um ano e três meses após os protestos de junho de 2013, a população ainda aguarda melhorias no transporte público. Persistem os ônibus lotados, longas filas, falta de informações e o trânsito travado. Somente na Região Metropolitana do Recife, quase mil viagens deixam de ser realizadas por dia em razão dos congestionamentos. Nem os R$ 50 bilhões disponibilizados pelo governo federal após os protestos pela melhoria do transporte no país tiveram resultados práticos.

Dos R$ 143 bilhões destinados a obras de mobilidade, apenas 10% foram utilizados. O BRT, principal aposta de mobilidade na Copa, funcionou com limitações na maioria das cidades-sede em decorrência de atrasos nas obras. O Recife não conseguiu, ainda, operar 100% da capacidade dos corredores, dois meses após o fim do mundial. Ainda engatinhamos nas discussões sobre os salários dos rodoviários e o valor da tarifa, e não avançamos na questão da qualidade do serviço, usado por cerca de 2 milhões de usuários/dia.

Passageiros ônibus/Recife - Foto - Roberto Ramos /DP/D.A. Press
Passageiros ônibus/Recife – Foto – Roberto Ramos /DP/D.A. Press

O modelo não atende mais às necessidades de uma clientela cada vez mais consciente, com menos tolerância para sofrer em um transporte que custa a andar. Até domingo, o Diario coloca em discussão o funcionamento do Sistema de Transporte de Passageiros na RMR.
O Brasil se surpreendeu com a explosão das manifestações de junho de 2013 pela melhoria do transporte público. Nunca a necessidade de melhoria do sistema foi tão evidente. As mobilizações começaram em São Paulo, pela revogação de um aumento de R$ 0,20 na tarifa. Mas já se sabia que a raiz do problema não estava no reajuste. Como não está até hoje.

engarrafamento10O congelamento das tarifas não satisfaz quando o serviço não é satisfatório. E não há sinais de melhoria. Nem mesmo as desonerações tributárias oferecidas em alguns estados e municípios serviram para mudar o quadro atual. Há uma longa distância entre fazer o sistema funcionar aos trancos e barrancos e manter um serviço regular, eficiente, seguro e confortável.

Enquanto espera por um ônibus comum em uma parada na Rua do Sol, Centro do Recife, o biólogo Diogo Aguiar, 27, que usa três conduções por dia, reclama do tempo que perde nos deslocamentos. “Eu gasto em média uma hora e 20 minutos no trajeto, mas com a integração pago apenas uma passagem de R$ 2,15. Eu não me importaria em pagar um pouco mais se o serviço fosse melhor”, diz ele.

Passageiros aguardam ônibus no Centro do Recife, sem informações do trajeto dos ônibus
Passageiros aguardam ônibus no Centro do Recife, sem informações do trajeto dos ônibus a espera é angustia diária – Foto Annaclarice Almeida

No modelo atual, as contas do sistema ficam nas costas dos usuários. O consenso entre os especialistas é que não é mais possível custear todo o sistema com a tarifa. O sinal de alerta acendeu e revela que a saúde do sistema está comprometida. “O quadro é grave. O que se arrecada não é suficiente. As empresas estatais estão tendo déficits crescentes com a canibalização dos serviços e os equipamentos que não se renovam. É a desorganização do sistema”, alertou o especialista Frederico Bussinger, do Instituto de Desenvolvimento Logístico, Transporte e Meio Ambiente (Idelt).

O anúncio de um déficit mensal de R$ 7 milhões pelo Sindicado das Empresas de Transporte Urbano (Urbana-PE), não foi surpresa para os especialistas. “Não é apenas o Recife que passa por essa crise. Esse modelo é insustentável, e há o agravante das tarifas congeladas e sem nenhuma outra fonte de receita”, disse o diretor-administrativo da NTU, Marcos Bicalho.

A lógica é que a conta também seja dividida com os beneficiários do transporte público, como os usuários de carros. “Quanto mais gente estiver no transporte público mais espaço sobra para o carro. E não há nenhum tributo para beneficiar o transporte público’, ressaltou o urbanista em mobilidade sustentável, Nazareno Stanislau Affonso, do Movimento pelo Direito ao Transporte (MDT).

A criação de um fundo para o transporte público e redirecionamento de verbas para projetos a curto prazo são urgentes. “Com 10% dos R$ 50 bilhões oferecidos pelo governo, seria possível construir 4 mil km de faixas exclusivas e isso traria um ganho significativo na redução do tempo das viagens”, afirmou Otávio Cunha, presidente-executivo da NTU.

Saiba mais

10 propostas para melhoria do sistema de transporte

Instalar e ampliar faixas exclusivas nos corredores de transporte

Equipar paradas e abrigos de ônibus com informações das linhas

Cobrar pedágio urbano nos centros para estacionamento de veículos

Proibir estacionamento em todas as vias de corredores de transporte

Criar tributos na compra de veículos e na gasolina para fundo do transporte público

Ampliar as redes de integração do sistema de transporte

Destinar IPTU de imóveis de grande porte para o transporte público

Discutir a gratuidade em órgãos como Correios e Polícia Militar

Aumentar a eficiência da fiscalização dos beneficiários com a gratuidade

Fonte: ANTP;NTU e MDT

A mobilidade e as eleições de 2014

ônibus Recife - Foto - Teresa Maia/ DP.D.A.Press

Engana-se quem acredita que os desafios em mobilidade urbana devem estar apenas na pauta municipal e não nas campanhas dos candidatos à Presidente e governos estaduais. A história recente tem mostrado que governo federal e estados tem papel importantíssimo, sendo responsáveis pela maior parte dos investimentos públicos em transporte, habitação e saneamento.

Mesmo nos projetos municipais, como por exemplo BRTs ou corredores de ônibus, a participação federal é decisiva. Sobretudo se os recursos vierem, como de fato vem (salvo raras exceções) de empréstimos da Caixa Econômica Federal e do BNDES. A participação do Governo Federal com recursos a fundo perdido (OGU) ainda é tímida se comparada, por exemplo,à política habitacional.

Cabe ao governo federal estabelecer políticas públicas integradoras em seus programas de governos. A desarticulação entre as políticas em distintas esferas (federal, estadual e municipal) é grave, precisa ser revista do ponto de vista institucional e compromete o desenvolvimento urbano sustentável de nossas cidades. Já a desarticulação entre políticas de um mesmo nível de governo é absolutamente inaceitável!

Vemos constantemente políticas que não dialogam entre si. Como os Planos de Saneamento, Diretor, Mobilidade e Resíduos Sólidos. Estes planos estão dialogando com os aportes financeiros do governo federal e estadual? Os planos de mobilidade, saneamento e diretor de cada município estão sendo levados em consideração na construção das milhares de unidades do programa Minha Casa Minha Vida?

Em âmbito estadual o desafio é enorme e caro. Cabe, segundo nossa constituição, aos estados os transportes por trilhos, seja ele metrô ou trem. Esse alto custo leva os governos estaduais a tomarem empréstimos do governo federal. Também é fundamental analisar o impacto urbano causado por grandes obras de infraestrutura nas cidades. Estão seguindo as diretrizes do plano diretor e de mobilidade? Estão refletindo sobre os impactos nos entornos das estações e da área de abrangência do projeto? Isso mostra, mais uma vez, a importância de termos agências de planejamento metropolitano.
Do ponto de vista da política econômica outra questão merece esclarecimento dos candidatos: manteremos o incentivo à compra do automóvel e, ao mesmo tempo, a CIDE zerada?

Estudos recentes da UFPR indicam que os resultados dessa política de incentivo à compra de automóveis para o crescimento da economia e geração de empregos foram pífios. Do outro lado os custos com congestionamentos, segundo recente pesquisa da Firjan chegam a R$ 29 bilhões apenas no Rio de Janeiro. Com esse valor seria possível construir o equivalente a 4 vezes a rede atual de metrô da cidade por ano. Isso sem contar os custos ambientas ou com saúde e vítimas de trânsito, que segundo dados do IPEA custam cerca de R$ 40 bilhões de reais por ano, ou um pouco mais que um terço do total investido em mobilidade urbana pelo atual governo federal.

Se ainda não está convencido do papel que a mobilidade merece nessa eleição presidencial lhe apresento mais um argumento: em abril de 2015 vence o prazo estabelecido pela Lei 12.587 para que as cidades com mais 20.000 habitantes concluam seus planos municipais de mobilidade urbana. Caso não tenham seus planos até essa data serão impedidos de acessar recursos do governo federal para mobilidade. O próximo presidente manterá essa data? Ou como no caso dos planos de saneamento o prazo será adiado?

Por fim deixo um desafio e uma proposta para o próximo presidente. Hoje, de acordo com dados da ANTP, cerca de 40% dos deslocamentos feitos nas cidades são por meio não motorizado (a pé ou bicicleta). Mas não há uma linha sequer exclusiva de financiamento para o transporte não motorizado em âmbito federal. Se dos R$ 143 bilhões tivéssemos destinado 1% para infraestrutura cicloviária poderíamos ter construído 7.150 km de ciclovias.

Pedro Torres é especialista e mestre em Planejamento Urbano pelo IPPUR/UFRJ. Atualmente é Gerente de Políticas públicas no ITDP Brasil.

Fonte: MDA (http://mdt-mdt.blogspot.com.br/)

Uma cidade sem carros até 2025. Helsinque acredita ser possível

Em dez anos, a capital da Finlândia quer tirar os carros da rua - Foto: Michael Day/Flickr
Em dez anos, a capital da Finlândia quer tirar os carros da rua – Foto: Michael Day/Flickr

A capital finlandesa, Helsinque, pretende estar praticamente livre dos carros até 2025. A saída para alcançar este objetivo: tornar o transporte público tão eficiente, que os moradores não terão vontade de tirar seus automóveis particulares da garagem.

O projeto pretende transformar o transporte coletivo em uma estrutura mais personalizada e prática, conforme informado pelo jornal britânico The Guardian. Todos os diferentes modais oferecidos pelas autoridades públicas devem ser interligados, ao mesmo tempo em que os usuários conseguem ter acesso aos horários, trajetos e demais informações por um aplicativo no celular.

A tecnologia não servirá apenas para informar, mas também deve permitir que os passageiros solicitem paradas de ônibus fora dos pontos, para maior comodidade. Por meio do aplicativo, a população também poderá pedir, usar e pagar por outros tipos de serviços, como táxis, bicicletas e até carros compartilhados.

Atualmente a cidade europeia já possui um serviço de micro-ônibus em que os usuários especificam seus próprios pontos através do aplicativo e a informação é transmitida ao motorista. Mas Helsinque pretende ir ainda mais longe.

Mesmo sendo uma proposta promissora, ainda há quem critique por considerar a medida mais restrita do que deveria ser e um tanto segregadora, já que as facilidades atendem só a pessoas que têm smartphones. Independente disso, a ideia de tornar o sistema mais eficaz já é um exemplo para outras cidades do mundo que precisam de renovação no sistema de transporte coletivo para atrair cada vez mais a população.

Fonte: Ciclovivo (via Portal Mobilize)

Assédio sexual no transporte público poderá ser punido com prisão

Metrô Recife - Foto Annaclarice Almeida DP.D.A/Press
Metrô Recife – Foto Annaclarice Almeida DP.D.A/Press

A Câmara dos Deputados analisa o Projeto de Lei 7372/14, do deputado Romário (PSB-RJ), que torna crime o ato de constranger alguém por meio de contato físico com fim libidinoso. A intenção é punir o assédio sexual no transporte público, em que homens se utilizam da superlotação para se aproveitar de mulheres.

Segundo o projeto, quem for enquadrado no crime pode pagar multa e cumprir detenção (prisão em regime aberto ou semiaberto) de três meses a um ano. A pena poderá ser convertida em prestação de serviços ou outro tipo de pena alternativa.

Romário critica o fato de a lei que revisou os crimes sexuais em 2009 ter retirado a punição do abuso em transporte ou aglomerações públicas. A conduta, segundo ele, precisa voltar a ser crime, já que a impunidade incentiva o assédio.

Divulgadores
A proposta também aplica a punição a quem divulgar imagem, som ou vídeo com a prática do ato libidinoso.

“Uma busca rápida pela internet revela que a prática é exaltada em redes sociais, sites e blogs. Sem pudor ou constrangimento, os ‘encoxadores’, como se autodenominam, compartilham experiências, marcam encontros e trocam imagens das vítimas e relatos do que, muitas vezes, chamam de ‘brincadeira’. As histórias, que vêm de várias partes do País, chamam atenção pela quantidade de detalhes e descortinam a certeza da impunidade”, argumenta Romário.

O projeto de lei também exige que os responsáveis pelos serviços de transportes reservem área privativa para as mulheres e afixem avisos de que é crime constranger alguém mediante contato físico com fim libidinoso.

Repressão
O relator da proposta na Comissão de Seguridade Social e Família, deputado Paulo Foletto (PSB-ES), apresentou parecer favorável, que aguarda votação. Foletto diz que a punição não é o melhor caminho, mas afirma que ela se torna necessária diante do aumento dessa agressão. “Não é polícia nem punição que resolvem o problema, mas passa a haver um temor”, afirma.

Foletto lembra que, atualmente, o agressor, quando punido, cumpre somente pena alternativa, como prestação de trabalho comunitário. “Se for só ‘sem-vergonhice’, cabe mais ainda a punição penal. Se for desvio de conduta na personalidade, também há necessidade de se encaminhar para um tratamento porque, aí, só a punição não vai resolver”, ressalta.

O advogado criminalista Pedro Paulo Castelo Branco, que é professor da Universidade de Brasília (UnB), dá apoio integral a essa proposta. “Não resolve, mas ameniza. É preciso reprimir esse tipo de contato físico, que nós chamamos de ‘encoxada’, e também essas outras situações de se tirar fotografias e de se filmar as partes íntimas de uma pessoa que, de repente, se vê constrangida em uma situação dessas.”

Tramitação
O projeto precisa ser analisado pelo Plenário, mas ainda depende de votação nas comissões de Seguridade Social e Família; de Viação e Transportes; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Fonte: Agência Câmara