Uma cena que não deve servir de exemplo, mas que é bastante comum nas ruas do Recife, é a ocupação irregular das áreas zebradas nas esquinas das ruas por carros estacionados. Pela legislação de trânsito deve haver uma distância mínima de cinco metros nas esquinas para permitir uma melhor visibilidade ao motorista, e o descumprimento pode acarretar em infração gravíssima. É o que diz a lei, quase nunca cumprida.
Mas algumas cidades da Europa e do Brasil estão dando uma outra perspectiva de aproveitamento desses espaços a partir do chamado martelo urbano. O modelo, que garante a visibilidade para o motorista e também mais segurança ao pedestre, consiste no redesenho das esquinas ampliando a calçada para cima das áreas zebradas.
A proposta foi apresentada à Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife pela Associação Metropolitana dos Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo). “É uma forma também de tornar esses espaços mais agradáveis dentro da mesma lógica dos parklets (extensões da calçada que promovem o uso do espaço público)”, explicou Guilherme Jordão, coordenador da Ameciclo. Outra vantagem, segundo ele, é a redução da velocidade nas conversões. “A medida induz o motorista a reduzir a velocidade, o que também reduz a probabilidade de acidentes”, reforçou Guilherme Jordão.
De acordo com a presidente da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), Taciana Ferreira, a proposta do martelo urbano não pode ser generalizada para todas as áreas zebradas, mas nada impede que seja feito um estudo que aponte as vias para uma possível implantação. “Está previsto no manual de sinalização o sentido do fluxo. Mas é possível avaliar, desde que não se generalize”, afirmou. Entre as áreas sugeridas pela Ameciclo estão a Praça Oswaldo Cruz e a Rua das Graças. A CTTU não deu prazo para avaliar a viabilidade de implantação dos martelos urbanos na cidade.
Mas já há uma experiência bem-sucedida na Rua da Moeda. O avanço da área da calçada para a pista de rolamento também ajuda a delimitar a área destinada ao estacionamento. Também há experiências em São Paulo e em Belo Horizonte.
Saiba Mais
Indicações e vantagens dos martelos urbanos
1- Alargar a calçada nas esquinas que são pontos de conflitos entre pedestres
2- Encurtar a travessia do pedestre, aumentar a visibilidade do pedestre/condutor
3- Reduzir o raio de curva do carro obrigando a redução da velocidade
4- Permitir a utilização de um espaço considerado “morto”
Fonte: Ameciclo
Ideia boa, mas de aplicação restrita como é a justificativa. Devem tomar o cuidado, por exemplo, sobre que tipos de veículos circulam na área. Essa medida reduz o raio de curvatura o que afeta diretamente veículos maiores. Aqui no Brasil, a grande maioria de praças, ilhas, esquinas, entre outros não tem o passeio rebaixado que ajuda na manobra de veículos grandes além de evitar danos para os dois.
Um veículo pesado que precisa subir um passeio sem rebaixamento força o conjunto de direção e suspensão. A dificuldade em subir pode danificar a borda do passeio ou da ilha, etc.
Não sei se concordo, Raimundo. A limitação imposta pela CTTU é apenas flagrante do seu total desconhecimento técnico do que se anda fazendo no mundo para reduzir as mortes no trânsito. Lembro que há alguns meses a própria Taciana assegurou numa entrevista de jornal que o Recife nunca teria uma Zona 30, que isso era coisa de europeu e outras desculpas de baixo nível intelectual. A pressão apareceu e de repente temos uma Zona 30 (ainda que muito capenga, porque não tem nenhum elemento de traffic calming).
Nesta postagem fica demonstrada a importância desse tipo de avanço da calçada sobre o espaço que antes era dos automóveis: http://www.streetsblog.org/2014/10/23/eyes-on-the-street-west-end-avenue-ped-islands-in-action/
Onde uma criança foi morta atropelada, fizeram uma ilha para pedestres e um balizador. Eis que uma motorista passa por cima do negócio e diz que “não viu”. Saiba que poderia ter sido outro pedestres, caso o espaço tivesse sido mantido como apenas pintura no chão. Os caminhões são grandes demais pra fazer a curva? Que usem caminhões menores! A preferência é sempre do pedestre, e deve ser inclusive no planejamento dos nossos espaços. Já sofremos demais com as aberturas dadas aos motorizados em detrimento da possibilidade de circular a pé na nossa cidade. É hora de virarmos o jogo.
Mais investimentos nas calçadas, minino.