Coluna Mobilidade Urbana – publicada no dia 28.05.12 no Diario de Pernambuco
Por Tânia Passos
Uma situação recorrente no período chuvoso é que o trânsito fica muito pior do que em dias normais. A primeira impressão é que os motoristas não sabem dirigir em vias alagadas. De fato, a velocidade fica mais lenta, mas a quantidade de água, em muitos casos, impede realmente o desempenho do carro eé comum muita gente ficar no “prego”. Se é ruim para quem está no carro,imagine então para o pedestre que é obrigado a por o pé na “lama”.
O Recife é uma cidade onde a drenagem das águas pluviais já é,normalmente, complicada devido o baixo nível em relação ao nível do mar, mas há outros complicadores que nunca foram levados em conta e ajudam a fazer jus à “Veneza brasileira”. A impermeabilização do solo é uma delas. Não apenas das vias, mas dos prédios, das casas, dos estabelecimentos que não dispõem de um sistema de drenagem e despejam toda a água nas ruas.
O sistema de drenagem do Recife é antigo e ultrapassado. Nossas galerias de águas pluviais não suportam a quantidade de água e lixo queacumulam. O resultado é que as ruas ficam intransponíveis. A Prefeitura do Recife ensaiou, há dois anos, a realização de um plano diretor de drenagem, o primeiro a ser feito em quase 500 anos de história. Mas o governo municipal já está na reta final e o plano nunca ficou pronto.
Embora pareça que estamos fadados a passar pelos mesmos problemas a cada inverno, os engenheiros são unânimes em dizer que qualquer problema de drenagem tem solução técnica. A questão é a relação custo benefício. Algumas intervenções têm soluções mais baratas, outras não. Eu diria que, se levarmos em conta os prejuízos causados pelas vias alagadas, essa conta já teria sido paga muitas vezes. Basta lembrar que o município gasta mais de um R$ 1 milhão por ano em operações tapa-buraco e não há nada que prejudique mais o asfalto do que á água. E, se formos contabilizar os prejuízos dos motoristas e comerciantes, toda vez que o trânsito trava, o crédito estaria algumas centenas de vezes acima de qualquer investimento que já tivesse sido feito.
Estamos a dois anos da Copa de 2014 e corremos um sério risco de afogar nossos visitantes. É bom também lembrar que daqui a dois anos, a nossa frota de veículos não será mais a mesma. A essa altura já teremos, comcerteza, os corredores exclusivos de ônibus em funcionamento, mas essa é só uma parcela do público que utiliza o transporte público, a outra terá que continuar a dirigir em meio aos alagamentos, como sempre fez.