A imobilidade no calçadão de Boa Viagem

Diario de Pernambuco

Por Anamaria Nascimento

O que deveria ser apenas uma atividade de saúde e bem-estar tem se tornado uma fonte de aborrecimento. Quem caminha ou corre na orla de Boa Viagem precisa ter atenção extra com cachorros, bicicletas, carroças com cadeiras e carrinhos de CDs e DVDs piratas, que disputam o espaço com os que se exercitam no calçadão. As reclamações são constantes. Os pedestres denunciam ainda a ausência de fiscalização nos 8,2 km de extensão da orla. A Prefeitura do Recife, por outro lado, garante que o trabalho de repressão aos que fazem o mau uso do espaço público é constante.

O médico Marcelo Fiuza, 53 anos, costuma correr diariamente. Há alguns anos, usava exclusivamente o calçadão de Boa Viagem. Hoje, se arrisca praticando o exercício na ciclovia ou na avenida. “O que vem acontecendo aqui é um absurdo. O espaço voltado aos pedestres está bastante obstruído. Carroças, cadeiras e bicicletas nos expulsam da calçada. Falta fiscalização”, reclamou.

Uma das carroças com cadeiras que atrapalhava o caminho do médico pertencia ao ambulante Vagner Batista, 19. Ele reconheceu o erro, mas disse que não poderia tirar o material da área porque isso dificultaria seu trabalho. “Estou sozinho na barraca. Não posso deixar minhas coisas do outro lado da pista porque os clientes vão esperar muito se eu fizer isso”, alegou.

Os ciclistas também se queixam da bagunça na orla. Segundo eles, trabalhadores que fazem carga e descarga bloqueiam a ciclovia. “Quase caí da bicicleta quando me deparei com caixas e sacos de gelo no caminho. Fico me perguntando como as autoridades não veem esses absurdos”, pontuou o professor João Lima, 34 anos.

De acordo com a gestora da Diretoria de Controle Urbano do Recife (Dircon), Roberta Valença, os cerca de 2,4 mil ambulantes da orla – entre estacionários e circulantes – são capacitados para não usarem o espaço indevidamente. “Nosso primeiro contato é de orientação. Conversamos com os comerciantes e fazemos esse trabalho educativo. Em casos de insistência, o material pode ser apreendido ou a licença para trabalhar na praia pode ser anulada”, afirmou.

Revitalização

A orla de Boa Viagem está sendo revitalizada desde a última quarta-feira. O trabalho deve terminar em maio. A Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) é a responsável pelos ajustes. Serão reparados a pista de cooper, as torres e os quadros de iluminação e alguns quiosques.

Para evitar transtornos aos pedestres, a manutenção foi dividida em etapas. A primeira é uma verificação da estruturas do quiosques, para avaliar se luminárias, balcões e portas precisam de conserto. Em seguida, os profissionais vão fazer uma vistoria no entorno. A última etapa será realizada no horário noturno. Uma equipe técnica trocará dos componentes das 131 torres de iluminação do calçadão.

Saiba mais

8,2 km é a extensão da orla de Boa Viagem

1,14 km são atendidos pela ciclovia na Avenida Boa Viagem

600 comerciantes estacionários estão cadastrados

1,8 mil ambulantes têm autorização

64 quiosques estão distribuídos ao longo do calçadão

De R$ 120 a R$ 500 é o valor da multa à qual eles estão sujeitos

60 dias é o tempo previsto para a conclusão da revitalização da orla

R$  146 mil serão investidos no projeto

Fonte: Prefeitura da Cidade do Recife

Depoimentos

“A presença de carroças e outros objetos ou veículos no calçadão atrapalha muito nossas caminhadas. Já presenciei acidentes com ambulantes que insistem em deixar o material na orla”
Leandro Andrade,
25 anos, administrador

” A situação é mais crítica entre as 8h e 9h. A descarga de materiais dos quiosques e barracas pelo calçadão é um problema diário para o usuários. O pior é que não há fiscalização”
Luciano Vasconcelos, 38 anos, empresário

“Sou de Salvador. O calçadão de lá é bem mais bagunçado que o do Recife. Fiquei surpresa com a organização da orla recifense. Ainda assim, percebi que existem muitos obstáculos”
l Leila Dantas, 37 anos, assistente social

“Ando de bicicleta diariamente na orla e está cada vez mais difícil usar a ciclovia. Além da passagem de ambulantes, somos atrapalhados por trabalhadores que fazem carga e descarga”
l Antônio Ortega, 53 anos, motorista

Bares nas ruas e calçadas: zero de acessibilidade

 

As calçadas já não são mais o limite. Insatisfeitos com o espaço interno dos bares e restaurantes, os donos dos estabelecimentos e os clientes, que antes já invadiam o passeio público, agora tomaram o meio da rua. Em época de confraternização, como é conhecido o mês de dezembro, as infrações dobram, segundo a Dircon. Ontem, esse tipo de comportamento podia ser visto em vários pontos da capital, inclusive em bairros considerados nobres.

Alheios a qualquer risco de serem vítimas de um atropelamento, os ocupantes de uma mesa do Bar Terraço, na esquina entre a Rua da Hora e a Barão de Itamaracá, no Espinheiro, bebiam divertidamente, na tarde de ontem, em plena via pública, ocupando um pedaço da rua. “Estou tão feliz que não pensei no perigo de atropelamento. Sei que esse cone realmente não me protege”, comentou uma das clientes, referindo-se a um cone colocado na rua pelos funcionários do bar.

O gerente do Terraço, que pediu para não ter o nome publicado, disse que só fazia aquele tipo de evento uma vez por ano. “É nossa confraternização, por isso coloquei as mesas e as cadeiras na rua”, explicou. Questionado sobre a licença da Prefeitura do Recife para usar a via pública, ele disse que tinha obtido autorização. Roberta Valença, da Diretoria de Controle Urbano (Dircon), no entanto, disse que em nenhum momento o órgão permite o fechamento de vias públicas a partir de um pedido particular de um bar. “Ofertamos licença apenas em casos de festas de rua, abertas ao povo”, esclareceu.

Na Rua Mamede Simões, no centro da capital, a situação era a mesma na tarde de ontem. Várias mesas e cadeiras de bares expostas em plena via pública. O espaço para a passagem de carros era mínimo. O endereço já é velho conhecido da Dircon que realiza blitz e, depois, os donos de bares voltam a utilizar a rua de forma particular. “Os donos dos outros estabelecimentos colocam as mesas na rua, então fazemos o mesmo”, disse o gerente do Puxinanã, Alexandre Duarte. Segundo Duarte, essa prática é corriqueira e os clientes apoiam. “Tem cliente que prefere ficar do lado de fora para fumar. Às vezes a gente liga o ar-condicionado e mesmo assim eles não querem ficar dentro”, disse. O gerente disse, ainda, que os donos de bar da via estão se mobilizando para apresentar uma solicitação à Dircon pedindo a liberação da rua para essa prática.

Proibição

Roberta Valença, da Dircon, disse que a colocação de mesas e cadeiras na rua é ilegal e pode ser punida com multa e até fechamento do estabelecimento. “Fazemos rondas todos os finais de semana e sempre alertamos para essa ilegalidade. Esse comportamento é cultural e o próprio cidadão deveria negar-se a sentar em bares e restaurantes que colocam as mesas na via pública”, alertou.

Ainda de acordo com a diretora da Dircon, o problema é comum na periferia do Recife, em bairros como Casa Amarela e Ibura, por exemplo. “Entendemos que o comércio é o meio de vida de algumas pessoas, mas é necessário obedecer a lei”, disse. Denúncias para a Dircon: 3355-2121.

Saiba mais

Irregularidades previstas na Lei das Calçadas, da Prefeitura do Recife

Obstruir ou concorrer, direta ou indiretamente, para a obstrução de valas, calhas, bueiros ou bocas de lobo ou impedir, por qualquer forma, o escoamento das águas pluviais

Utilização de marcos ou quaisquer tipos de barreiras físicas ou arquitetônicas nos passeios sem autorização do órgão competente

Despejo de águas pluviais ou de infiltração, água de lavagem, despejos domésticos e quaisquer outras águas servidas ou de esgotos sobre os passeios

Caixas de inspeção fora das especificações e/ou passeios danificados por concessionárias ou entidades a ela equiparadas
 
Colocar sobre a faixa exclusiva de circulação de pedestres, material de construção, mesas, cadeiras, banca ou quaisquer materiais ou objetos, quaisquer que seja a finalidade, excetuando-se os casos regulados por legislação específica, e, previamente autorizados pelo município

Passeio inexistente, em desacordo com as especificações ou em mau estado de conservação

Valor das multas

O valor da multa aplicada pela Dircon varia de acordo com a quantidade de mesas e cadeiras disponibilizadas na via pública

As multas custam entre R$ 100 e R$ 500

No caso de reincidência, o valor da multa é dobrado

As denúncias podem ser feitas para a gerência de apreensão da Dircon, no número 3355.2121

Fonte: Dircon

Associados-PE Aqui PE Rádio Clube FM PE Rádio Clube AM PE TV Clube PE Pernambuco.com Admite-se PE Lugar Certo PE VRUM PE