Dia mundial sem carro. A ideia é essa. A realidade ainda está longe disso. Abrir mão do conforto do carro e encarar o transporte público, ou talvez descolar uma carona, ou quem sabe pedalar de casa para o trabalho ou, em situação mais remota, caminhar, ainda é um desafio para poucos. Mas serve no mínimo para uma reflexão.
E os números mostram o tamanho dos contrastes. Um ônibus comum transporta uma média de 80 pessoas. Um carro comum, no máximo cinco pessoas. Temos uma frota de três mil ônibus e mais de um milhão de veículos na Região Metropolitana. O resultado é um trânsito que trava dia a dia.
Os engarragamentos são apenas uma parte do problema. Outro viés é a poluição ambiental. E nessa conta, os que transportam menos poluem mais. Um exemplo disso é a moto que, transporta duas pessoas e polui 32,3 mais vezes do que ônibus. Já o carro 17 vezes mais que o ônibus.
“Em relação a ocupação das vias, a moto, por incrível que pareça necessita quatro vezes mais de espaço do que o ônibus e o carro de 6,4 vezes mais de espaço em relação ao ônibus”, afirmou o engenheiro e professor das universidades Federal de Católica de Pernambuco, Maurício Pina.
Para quem está disposto a usar a bicicleta como meio de locomoção, tem a certeza de que as ciclovias existentes no município não são suficientes para interligar os quatro cantos da cidade. O Recife dispõe atualmente de 13,2 quilômetros de ciclovias em trechos distintos: Centro, Orla e a ciclovia Tiradentes, na Zona Oeste.
No Recife, o casal de cirurgiões-dentistas Maria Carolina Moura e Renan Almeida, vem tentando fazer a parte deles. Renan, que trabalha em dois locais diferentes, costuma deixar o carro na garagem e ir de bicicleta ou até mesmo caminhando. “Um deles, que fica mais próximo da minha casa, tento utilizar a bicicleta para fazer pequenos deslocamentos, já que é uma maneira de fazer exercícios e fugir também dos congestionamentos que são bastante estressantes”, ele conta e lamenta a falta de meios de transportes públicos de qualidade. “Se os meios locomoção fossem confortáveis, as pessoas deixariam mais seus carros na garagem”, acredita Almeida.
Criado na França em 1998, o Dia Mundial Sem Carro, ganhou força no Brasil em 2001. Desde então, 110 cidades do país já fazem alguma movimentação na data. Em Pernambuco, a cidade de Olinda será 111ª a fazer a mobilização com o intuito de trazer uma reflexão sobre os problemas causados pelo uso massivo de automóveis como forma de deslocamento, sobretudo nos grandes centros urbanos.
De acordo com o secretário executivo de transporte e trânsito de Olinda, Adriano Max, existem 110 mil automóveis cadastrados na cidade Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. “Para se ter uma noção, nós temos 380 mil habitantes. Se cada pessoa resolvesse dar um carona a três, não seria necessário o transporte público”, diz o secretário. Em Olinda, a avenida Ministro Marcos Freyre, beira mar da cidade, será o palco da mobilização social. “Vamos isolar três quarteirões, das 5h ao meio-dia, com o intuito de chamar a atenção da população”, fala Max.