Lapso temporal de quatro décadas no investimento do transporte público

Avenidas Caxangá (Recife) e Brasil (Rio de Janeiro) com implantação da faixa exclusiva na década de 1980
Avenidas Caxangá (Recife) e Brasil (Rio de Janeiro) com implantação da faixa exclusiva na década de 1980

Quando a mobilidade ainda não estava entre as principais preocupações da população e dos gestores públicos, os técnicos do setor já entendiam a necessidade de dar ao transporte público um tratamento diferenciado. Eles estavam certos. Mas a decisão sempre foi política. As primeiras faixas exclusivas foram implantadas no Recife nas avenidas Sul e Caxangá, no início da década de 1980.

Em São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), em uma experiência piloto, implantou uma faixa para o ônibus na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, em 1976. No Rio de Janeiro, o ônibus teve faixa exclusiva pela primeira vez, na década de 1980, na Avenida Brasil. As experiências pontuais também encontradas em outras capitais brasileiras não tiveram continuidade. Com raras exceções como Curitiba e Porto Alegre, houve um lapso temporal de investimentos no setor de cerca de 30 anos, no mínimo. O país, que fez Curitiba conhecida mundialmente e exportou o modelo do BRT para Bogotá, perdeu – e muito – quando resolveu não priorizar o transporte coletivo.

Graças ao corredor segregado de 5,8 km da Caxangá, a implantação do atual corredor Leste/Oeste encontrou o espaço reservado para um futuro BRT. “No caso da Caxangá, o nível de demanda na época em que foi implantado o corredor era muito menor. Se a avenida fosse toda de tráfego livre, a implantação de uma via segregada para o ônibus, hoje, teria uma reação muito maior”, atestou Germano Travassos, consultor e especialista em mobilidade urbana. Outra conquista dos técnicos que atuaram no Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU) da Região Metropolitana do Recife (RMR), na década de 1980, foi garantir o espaço centralizado para a faixa do ônibus na PE-15, por onde irá passar o corredor Norte/Sul.

Apesar dessas conquistas, a RMR contabilizou, até agora, 39,5 km de faixas segregadas, de um total de 1.360 km de vias, o que corresponde a apenas 2,9 % da malha. O caminho que o país trilhou para o transporte individual se reflete na realidade vivida hoje nas ruas de qualquer cidade brasileira. “É impensável deixar o ônibus preso nos engarrafamentos. Reservar um espaço para o coletivo é dar prioridade ao transporte público e garantir mais velocidade”, ressaltou o professor de Engenharia Civil da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Maurício Pina.

Na maior metrópole do país, o modelo de faixa exclusiva iniciado em 1976 alcançou outras vias da capital paulista, mas sempre ficou longe de ser prioridade em relação ao espaço ocupado pelo carro. Até agora. A cidade volta a apostar em espaços segregados para o transporte público. “Antes eu fazia duas viagens por dia e hoje faço quatro”, revelou o motorista de ônibus César Alexandre Sobral, que trabalha em uma linha entre a Zona Sul e o Centro da cidade.

No Rio de Janeiro, a parada nos investimentos ocorreu logo após a implantação da faixa segregada da Avenida Brasil. A retomada veio com a recente implantação do modelo de faixas que recebeu o nome de BRS (Bus Rapid Service). Ela prioriza o ônibus no lado direito da via. “Nós estamos tendo uma melhora significativa na velocidade dos ônibus. É uma coisa nova para a gente e nossa meta é atrair usuários do carro para o transporte público”, explicou o subsecretário de Transportes, Alexandre Sansão. Tarefa árdua, já que a priorização do automóvel nas últimas décadas também significou o enraizamento de uma cultura do transporte individual, ainda difícil de ser mudada.

Jaboatão terá faixas de BRS

 

BRS Jaboatão - Foto - Glynner Brandão DP/D.A.Press

Jaboatão dos Guararapes deverá ganhar dez faixas para ônibus até o fim do ano. Serão 26,9 km de vias preferenciais nos bairros do Jordão, Piedade, Muribeca, Prazeres, Barra de Jangada e Candeias, nos moldes do Bus Rapid Service (BRS, sigla em inglês para sistema rápido de ônibus). O plano para melhorar a mobilidade no município, que será implantado com recursos da prefeitura e do governo do estado, foi apresentado ontem pelo prefeito Elias Gomes (PSDB). Ele também anunciou oficialmente a redução da tarifa de ônibus do sistema municipal de R$ 2 para R$ 1,90, que já está em vigor há dois dias. Cem mil pessoas usam o sistema.

Uma das faixas para ônibus vai operar na Avenida Ayrton Senna, Piedade. Os coletivos que estiverem na Avenida Bernardo Vieira de Melo não precisarão mais dobrar à direita e entrar na Avenida Boa Viagem. Agora, poderão entrar à esquerda, ingressar na Visconde de Jequitinhonha (no contrafluxo) e seguir pela Domingos Ferreira. A meta é aliviar o trânsito no início da Avenida Boa Viagem. Sistema semelhante será implantado na PE-27, com a criação de mais uma faixa reservada aos coletivos. Hoje, a rodovia conta com duas pistas em sentidos opostos. O alargamento facilitará o deslocamenna BR-101.

Os outros corredores serão instalados na Estrada da Batalha, na Rua Arão Lins e na Avenida Barreto de Menezes, em Prazeres; na Avenida Presidente Kennedy, em Candeias; e nas avenidas Ayrton Senna e Visconde de Jequitinhonha, em Piedade.

“Não se trata de concorrência entre carros e ônibus, mas de transferência de oportunidades”, afirmou o prefeito Elias Gomes. Dependendo da complexidade, os corredores poderão levar de 30 a 180 dias para ficar prontos. A instalação da sinalização representará 60% das obras. As desapropriações e a construção de ruas somarão os outros 40%. “Só o aumento do número de vias não é suficiente para resolver o problema do trânsito. É preciso valorizar o transporte coletivo”, comentou o secretário de Mobilidade, Evandro Avelar.

Passagens
A prefeitura zerou o ISS e a Remuneração do Serviço de Transporte (RSP), diminuindo o preço dos bilhetes em R$ 0,10. Em contrapartida, 200 ônibus serão trocados pelas empresas, com o apoio do Banco do Nordeste, em um ano. Noventa coletivos serão substituídos até dezembro. Além disso, dois mil motoristas e cobradores serão capacitados em direção defensiva e atendimento.

saibamais

Avenida Presidente Kennedy
Trecho: Barra de Jangada/
Avenida 4 de Outubro
Extensão: 7 km
Prazo de implantação: 60 dias

Avenida Ayrton Senna
Trecho: Avenida Jequitinhonha/Avenida Barreto de Menezes
Extensão: 1,5 km
Prazo de implantação: 60 dias

Avenida Ayrton Senna
Trecho: Avenida Dantas
Barreto/Rua São Sebastião
Extensão: 1,4 km
Prazo de implantação: 90 dias

Avenida Ayrton Senna
Trecho: Rua São Sebastião/Barra de Jangada
Extensão: 3,9 km
Prazo de implantação: 150 dias

Avenida Jequitinhonha
Trecho: Avenida 4 de Outubro/limite do Recife
Extensão: 500 m
Prazo de implantação: 90 dias

Estrada da Batalha
(pista local)
Trecho: Avenida Maria Irene/
BR-101
Extensão: 3,7 km
Prazo de implantação: 60 dias

Rua Arão Lins
Trecho: Avenida Bernardo Vieira de Melo/Terminal de Prazeres
Extensão: 1,2 km
Prazo de implantação: 90 dias

Avenida Barreto de Menezes
Trecho: Estrada da Batalha/Avenida Bernardo Vieira de Melo
Extensão: 1,8 km
Prazo de implantação: 90 dias

Eixo de Integração
Trecho: BR-101/Entrada do Conjunto Marcos Freire
Extensão: 2,1 km
Prazo de implantação: 180 dias

Faixa exclusiva para motos

 

Motos - Foto - Bernardo Dantas DP/D.A. Press

A Câmara analisa projeto que obriga os órgãos municipais de trânsito a reservar faixa ou pista exclusiva para a circulação de motocicletas nas vias com tráfego pesado. O texto altera o Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97) e também aumenta o rigor da punição contra quem transitar na faixa ou pista da direita, regulamentada como de circulação exclusiva para determinado tipo de veículo. Pela proposta (PL 5007/13), a infração que hoje é tratada como leve, passará a ser considerada média.

No caso do trânsito de motocicleta fora da faixa exclusiva, onde houver, a infração será considerada grave e o condutor ainda será punido com multa. “Soluções desse tipo são fundamentais para conter a escalada dos acidentes envolvendo automóveis e motociclistas nos principais corredores das grandes cidades”, defendeu o senador Jorge Viana (PT-AC), autor da proposta.

O texto também deixa clara a responsabilidade do órgão municipal de “planejar, projetar, regulamentar, implantar e operar” esquemas especiais de circulação em vias com elevado volume de tráfego, para melhorar a segurança do trânsito.

Punições
O Código de Trânsito estabelece quatro níveis de multas:
– gravíssima: R$ 191,54 e ainda 7 pontos na carteira (o valor pode ser multiplicado em até 5 vezes em certas circunstâncias);
– grave: R$ 127,69 e 5 pontos na carteira;
– média: R$ 85,13 e 4 pontos na carteira; e
– leve: R$ 53,20 e 3 pontos na carteira.

Tramitação
O projeto foi apensado ao PL 1517/11, do deputado Newton Lima (PT-SP), e ambos serão analisados em caráter conclusivo pelas comissões de Desenvolvimento Urbano; de Viação e Transportes; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. O PL 1517 proíbe o trânsito de motocicletas entre as faixas.

Fonte: Agência Câmara