O pedestre ainda é um alvo fácil e frágil no trânsito, e muitas vezes se coloca em situação de risco. Em Pernambuco, entre 2011 e 2013, foram registrados 9,6 mil acidentes – evitáveis – com pessoas que se deslocam a pé, a maioria provocada por descuido ou imprudência do próprio pedestre ou do motorista. Ao todo 1,2 mil morreram nesse período. Morrem mais pedestres do que acidentados de carro. No mesmo período, segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde, perderam a vida em acidentes de carro 1.008 pessoas.
No dia (18) do lançamento da campanha da Semana do Trânsito, do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), que traz como tema a segurança do pedestre, duas mulheres entraram nas estatísticas.
Uma das vítimas foi atropelada por um ônibus no cruzamento da Avenida Cruz Cabugá com a Avenida Norte. Severina Bezerra de Menezes, 43 anos, foi atingida quando fazia a travessia pela faixa de pedestre e morreu na hora.
O motorista da empresa Cidade Alta, que teve o nome preservado, vai responder por homicídio culposo, sem intenção de matar. Em nota, a empresa informou que o sinal estava verde para o motorista. O delegado de plantão da Polícia Civil Paulo Medeiros contou que alguns passageiros do ônibus confirmaram essa versão.
Mas a falta de atenção do pedestre não tira, segundo o chefe do departamento de educação de trânsito da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), Francisco Irineu, a responsabilidade do condutor.
“O Código de Trânsito é claro: a responsabilidade é do maior para o menor. O pedestre é a parte mais frágil, e não importa se o sinal está aberto. O condutor tem que ficar atento aos pontos de travessia.”
Já o consultor em trânsito Eduardo Biavati alerta para a velocidade. “Quando o condutor está em baixa velocidade e atento, ele consegue evitar o atropelamento”, afirmou.
Por falta de atenção, uma motorista perdeu ontem o controle do carro e invadiu a faixa contrária na Avenida Norte, por cima do gelo baiano e acabou atingindo uma mulher que estava fazendo panfletagem na via. A CTTU não caracterizou esse acidente oficialmente como atropelamento porque a mulher foi atingida pelo carro após a batida. A vítima não corre risco de morte.
No Recife, a média mensal de atropelamentos no ano passado foi de 33,1, o que dá pelo menos um atropelamento por dia. Nos seis primeiros meses de 2014 foram registrados 176 acidentes envolvendo pedestres.
Sem segurança nem conforto
Ser pedestre não é fácil e quando o sistema viário não ajuda é mais difícil ainda. Na RMR, um terço da população se desloca a pé, na maioria das vezes sem condições de acessibilidade. Além de buracos e obstáculos, enfrentam invasão do passeio e acabam migrando para a faixa de rolamento, o que aumenta os riscos de atropelamento.
O auxiliar de serviços gerais Wanderson Rodrigues caminha ao trabalho todo dia e enfrenta trechos sem calçada, como na Rua João Lyra. “A calçada acaba numa esquina onde os ônibus fazem uma curva acentuada e a gente fica sem espaço”, afirmou.
Para o arquiteto e urbanista Francisco Cunha, autor do livro Calçadas: o primeiro degrau da cidadania urbana, a invisibilidade do pedestre é resultado de uma cultura de ignorância. “O pedestre nunca é visto como prioridade. Quando um motorista sai da garagem, passa pela calçada sem preocupação se há alguém fazendo a travessia.”
Há um ano, ele iniciou uma campanha para “multar” carros estacionados nas calçadas. “Foram confeccionados dois mil blocos de multas educativas e serão feitos mais 10 mil”, diz o arquiteto.
Melhorar as calçadas e travessias do Recife é um dos desafios da Secretaria de Mobilidade. Entre as ações estão a redução da velocidade no Bairro do Recife, com a Zona 30, e a melhoria dos passeios. “Agimos para deixar as calçadas mais livres”, afirmou o secretário João Brag