Nas últimas quatro décadas, a restrição à mobilidade das crianças vem se tornando cada vez maior. Um hábito antigo de caminhar de casa para a escola está dando lugar aos transportes escolares nas diversas classes sociais, e a questão da segurança é o principal fator.
De acordo com o consultor em educação de trânsito, o sociólogo Eduardo Biavati, o fenômeno também é visto em países desenvolvidos como Estados Unidos, Inglaterra e Austrália. E o Brasil caminha na mesma direção. “O próprio Ministério da Educação dispõe do Programa Caminho da Escola, que oferece ônibus escolar em todo o país para reduzir as distâncias percorridas pelas crianças. Se por um lado isso é positivo, por outro traz problemas em relação à restrição do caminhar”, comparou.
Segundo Biavati, as crianças têm hoje mais acesso a alimentos gordurosos, com açúcar e à base de farinha, e ao mesmo tempo fazem menos exercícios. “Será preciso redobrar o esforço do gasto energético das crianças. Nós tiramos a mais tradicional delas, que era o caminhar para a escola”, reforçou. Na classe média, ele diz que a situação é ainda pior. “As crianças não andam nem até a esquina. Aliás, a ordem é não andar mesmo”, disse.
A segurança também foi destacada pelo pesquisador da OMS, Carlos Dora. Segundo ele, os pais, que optam pelo transporte individual a fim de garantirem um deslocamento seguro aos seus filhos, ajudam a tornar o sistema como um todo inseguro. “Os lugares que têm mais espaço dedicado aos pedestres e bicicletas são aqueles que têm menos acidentes”, explicou.