Oportunidades x investimentos

 

Há muitos questionamentos sobre o legado da Copa do Mundo para as cidades que estão recebendo investimentos na melhoria da infraestrutura, em especial, no sistema viário. Mas é inegável que se trata de uma oportunidade única em décadas. A questão é como esses investimentos estão sendo aplicados e de que forma as cidades se planejaram para direcionar suas ações.

No caso de Recife, o que conta a favor são os estudos elaborados no Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU). Os corredores de transporte e as perimetrais, que receberão investimentos foram pensados dentro de uma lógica da circulação e integração com o sistema de transporte público. Nem todas fizeram isso.

O Rio de Janeiro talvez esteja perdendo uma grande oportunidade de mudar a dinâmica de circulação com os investimentos que está recebendo para a Copa do Mundo e a Olimpíada. Há uma certa inquietude por parte dos especialistas em relação às escolhas que estão sendo feitas no direcionamento dos recursos.

Ninguém entendeu ainda porque o corredor TransOeste, o primeiro a entrar em operação, tenha sido feito onde foi. O corredor com pista exclusiva para ônibus e estações de embarque e desembarque em nível e com pagamentoantecipado, um luxo só, foi instalado em uma área pouco habitada. Na verdade, há trechos enormes de nada em um corredor que terá 56 quilômetros depois de concluído. O trecho não estava previsto no PDTU, mas o município alega que quer direcionar o crescimento para aquela área.

Outro questionamento que se faz é em relação ao corredor da TransBrasil, na Avenida Brasil, que hoje já tem uma demanda de 1,2 milhão de passageiros. Para se ter uma ideia, o corredor exclusivo de ônibus mais antigo de Curitiba tem uma demanda cinco vezes menor e a cidade já planeja um metrô prevendo um milhão de usuários em 2044. Há outros elementos, no entanto, que precisam ser observados: tempo e dinheiro. Decidir em cima dessas duas premissas limita em muito as opções.

O corredor da 4ª perimetral do Recife, por exemplo, caberia um metrô, mas os especialistas concordam que o ônibus com corredores exclusivos irá cumprir a sua função, por um determinado período, e no futuro o modal poderá ser substituído, mas o corredor não irá nascer com sua demanda estrangulada como é o caso da TransBrasil. O que temos hoje e o legado que será deixado, dependerá das escolhas que estão sendo feitas, mas dificilmente teremos de uma só vez a chance de mudar como a que estamos tendo agora.