O metrô do Recife, principal modal de transporte para a Copa do Mundo, vem mostrando falhas reais no dia a dia e tirando a paciência dos usuários. Por mês, os trens têm que ser evacuados entre 10 e 15 vezes, uma média de até uma vez a cada três dias. Para a Metrorec, o número está dentro das normas internacionais, considerando as cerca de 570 viagens diárias. Difícil é fazer entender quem está na plataforma de embarque. Foi o que ocorreu ontem, em Camaragibe, quando, pelo segundo dia seguido, a média de espera passou de 12 para até 30 minutos.
Uma falha na rede elétrica do ramal de Camaragibe, na última terça-feira, provocou o uso de apenas uma das duas linhas do trecho, obrigando que ida e volta fossem feitas pelo mesmo caminho, o que causou uma demora maior no atendimento dos usuários. Revoltado, por volta das 6h30, um grupo arrastou uma carcaça de geladeira para os trilhos, paralisando o atendimento. A Polícia Militar foi chamada e por volta das 8h, os manifestantes foram retirados da estação, mas os protestos continuaram até as 10h. O serviço só foi reestabelecido à tarde.
e acordo com o engenheiro de transportes da Universidade Federal do Mato Grosso, Luiz Miguel de Miranda, a realidade verificada no Recife não condiz com os grandes sistemas de transporte do mundo, onde falhas do gênero não são tão recorrentes. “Se isso acontecesse em São Paulo, a cidade parava e o governador cairia”, afirma.
Já o especialista em ferrovias da Universidade Federal de Pernambuco Fernando Jordão defende a não existência de “padrões de tolerância” para a qualidade do serviço. “Não se deve ter nenhuma paralisação no mês. Se uma quantidade de aviões cai por ano, pode-se dizer que isso está dentro do tolerável?”.
A situação ainda poderia ser pior. Há três anos, antes da reforma e da troca dos trens hoje utilizados no metrô, o número de evacuações mensais por falhas técnicas variava entre 18 e 20, quase uma a cada dia útil, em média. “O Metrô está dentro das normas e o índice de problemas é proporcionalmente semelhante ao verificado em São Paulo”, garante o gerente de comunicação da empresa, Salvino Gomes.
Camaragibe
O terminal integrado de Camaragibe era a grande aposta para a integração do metrô e do BRT (Bus Rapid Transit) para a Copa do Mundo e seus efeitos práticos foram prometidos para o primeiro semestre deste ano.
Maior do que a estação de Cosme e Damião, testada na Copa das Confederações, a de Camaragibe deveria ser o principal suporte, mas não será. A expansão do terminal para receber o BRT sequer foi feita. E as seis estações que deveriam receber o modelo dos ônibus do BRT na principal via de acesso à cidade também não ficaram prontas. Camaragibe deixou de ser o plano A e Cosme Damião vai novamente ser a aposta para atender aos usuários do metrô. Não apenas os planos foram adiados. O conforto e o bom atendimento também.
Além das limitações de capacidade da estação, outro desafio não só para a Copa, mas também para os usuários todos os dias, é o intervalo nas viagens do trem. A média é 12 minutos no ramal que chega ao município, 2,4 mais tempo que o esperado na estação central do Recife nos horários de pico.
Ao chegar na integração, novo desafio. Com cerca de 51 mil pessoas atendidas por 107 veículos por dia, os passageiros enfrentam esperas de até 30 minutos, a depender de qual das 21 linhas precise. Na busca por qualidade, a população de Camaragibe lembra que é mais do que uma via de acesso a um dos palcos da tão aguardada Copa do Mundo.