Educação de Trânsito tem que ser nas escolas

 

Sempre achei que a educação de trânsito fosse uma função diretamente ligada aos órgãos de trânsito. Defendi, inclusive, que a futura escola municipal de trânsito do Recife  fosse vinculada à Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), da mesma forma que o Centro de Treinamento de São Paulo é ligado à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Pois é, mas mudei de ideia depois de ouvir o consultor em educação de trânsito Eduardo Biavati.

Biavati defende, com razão, que nenhum órgão de trânsito tem estrutura suficiente para uma educação sistemática do trânsito em todos os bairros da cidade. É impossível para qualquer órgão se manter presente no dia a dia das pessoas. Por causa disso, as campanhas acabam sendo pontuais como é o caso da Semana do Trânsito. “As campanhas não trazem um efeito duradouro e não há gente suficiente para trabalhar em todas as escolas. As escolas já contam com a estrututura do professor. É mais fácil capacitar o professor e fornecer estrutura às escolas para que, dessa forma,  o trânsito passe a fazer parte deum  estudo contínuo, em todos os níveis escolares”, explicou.

Ele explica que somente as escolas podem ter esse grau de penetração.Mas para isso, os professores precisam se engajar nessa tarefa. Outro engano, segundo ele, é apostar apenas nas crianças. “Por mais que a criança seja educada na sua infância, na adolescência, em algum momento, ela chuta o balde. A força do grupo a que ela pertence é maior. Ou seja é preciso trabalhar o jovem. E ninguém faz nada hoje para o ensino médio justamente quando o jovem se inicia no trânsito”. Concordo com ele.

Já pensou 15 dias preso nos engarrafamentos?

Talvez você, motorista do Recife, nunca tenha parado para fazer os cálculos, mas poderá está perdendo cerca de 15 dias por ano preso em engarrafamentos. É muito? Em São Paulo esse tempo já é estimado em 30 dias. Um mês inteiro parado no trânsito. Mas ninguém parece perceber.

O apelo do Dia Mundial sem Carro não foi ouvido pela maioria no Recife e Região Metropolitana. Com poucas exceções, os efeitos da campanhanão foram sentidos. Também não houve engajamento do poder público e dos órgãos de trânsito no sentido de estimular as pessoas a deixarem o carro em casa.

Foi na raça que o aluno de doutorando da UFPE Tiago Gonçalves, 37, decidiu ir de bicicleta de Casa Forte até a UFPE, na Cidade Universitária. Sem ciclovia, teve que enfrentar o trânsito, inclusive na BR-101.

“Na BR não tem acostamento e a velocidade dos carros é maior, o que torna o percurso mais perigoso”, avaliou. Mesmo assim, ele conseguiu fazer o roteiro em 35 minutos. De carro, ele contou que gastaria praticamente o mesmo tempo.

O engenheiro e consultor em mobilidade urbana Germano Travassos decidiu ir de ônibus para o trabalho. Ele diz que o tempo é em média 10 minutos a mais do que o gasto com carro. O especialista já fez os cálculos de quanto tempo perde nos engarrafamentos.

“Comparei o tempo em um dia útil com um feriado ou domingo e gasto em média a mais entre 15 e 20 minutos no dia útil. Em um ano, isso significa cerca de 15 dias perdidos”, revelou. Segundo Germano Travassos, o cálculo foi feito em cima da sua própria experiência. “É um cálculo pessoal, mas é provável que muita gente perca nessa faixa de 20 minutos, por dia, no trânsito”.

Entre os que decidiram contribuir com a melhoria no trânsito, encontramos ontem o técnico em eletrotécnica Isaac Barbosa, 26 anos. Ele deixou a moto em casa e foi de bicicleta para o curso. Já o motorista Cosme Vital, 61, deixou o carro no trabalho e atravessou a cidade em um coletivo para almoçar em Camaragibe.

O fotógrafo Anderson Freire, 25, saiu de Olinda de bicicleta para chegar à faculdade. A ideia do Dia Mundial Sem Carro era que esses exemplos fossem seguidos pela maioria dos motoristas. Mas o que se viu ontem no Recife foram vias congestionadas, fluxo intenso em horário de picos e pouca mobilização social.

Um grupo que defende o uso de bicicleta tentou fazer a sua parte. Os integrantes se encontraram às 6h30 para garantir vaga de estacionamento em frente ao Paço Alfândega, Bairro do Recife, e realizaram a intervenção urbana Vaga Viva. Ao invés de colocar carros em quatro vagas, esticaram faixas, placas e montaram um café da manhã no asfalto.

Cerca de 14 pessoas participaram da mobilização, entre elas o casal Paulo Lima, 24, e Tereza Cavalcante, 25. Ela saiu do Cabo e se encontrou com o namorado em Boa Viagem. Os dois puseram cartazes nas bicicletas e seguiram para o Bairro do Recife. “Quanto mais você dá espaço para os carros, mais eles enchem as ruas.

Enquanto o carro for o principal modal da cidade, o trânsito será caótico”, afirmou Paulo. Às 18h, o grupo voltou a se reunir na Praça do Derby, para realizar uma edição extra da Bicicletada, uma passeio ciclístico realizado uma vez por mês nas ruas do Recife.