Por
Tânia Passos (Coluna Mobilidade Urbana)
É preciso muita coragem do gestor público para enfrentar a questão dos estacionamentos em vias públicas. Imagine comprar briga com mais de meio milhão de usuários de automóveis, no caso do Recife. É verdade que nem todos os carros ficam na rua, mas é também verdade que, em algum momento, a rua é o espaço escolhido ou único para estacionar. Mas que essa briga pode acontecer, isso pode.
É o caso, por exemplo, do nosso vizinho latino-americano, o ex-prefeito de Bogotá, Enrique Peñalosa, que adotou o conceito de que as ruas são para as pessoas, ciclistas, transporte público e os carros, nessa ordem. Lá, ele deu início ao fim dos estacionamentos nas vias públicas e onde havia carro estacionado, abriu espaço para as ciclovias e garantiu acessibilidade dos pedestres nas calçadas. Funcionou.
E quando perguntado sobre o espaço para estacionar o carro, ele repondeu: “Estacionamento não é um problema público”. Por trás dessa resposta está também a seguinte mensagem: o problema do estacionamento é do dono do carro e do dono dos estabelecimentos, que têm demanda de clientes motorizados. O restante do público que circula pelas vias não tem nada a ver com seu “problema”.
Na verdade, o que acontece hoje é exatamente o inverso, quem atrapalha o fluxo de uma via, sem a menor cerimônia, está pouco se importando com as necessidades de mobilidade da maioria. Talvez por isso, no Japão, antes de alguém comprar um carro precisa provar que tem lugar para estacionar o veículo, que não será na rua.
Aqui temos estacionamento legalizado nas vias públicas por apenas R$ 1 e ficou a cargo do município viabilizar projetos, junto à iniciativa privada, para a construção de edifícios-garagem. Ninguém quer desagradar aos donos dos carros, que representam poder aquisitivo e de opinião, mesmo que esse universo represente cerca de 30% da população. Uma minoria, que está pouco interessada em saber de quem é a responsabilidade em deixar um lugar garantido lá na rua para seu carro.
Muito bom este post. Além do Japão, muitas cidades já estão adotando a prática de exigir que se comprove ter vaga para estacionar (em casa e no trabalho) antes de se comprar a praga-automóvel. Observe-se que colocar um automóvel estacionado na rua é privatizar um espaço público. É o mesmo que alguém colocar um seu sofá naquela “vaga”. Em Copenhague, a prefeitura tem feito desaparecer vagas de automóvel repentinamente. Eles chegam em alguma rua, cercam as tais supostas vagas, aumentam as calçadas e colocam bicicletários ocupando aquelas antigas vagas e quando os “donos” das vagas e das ruas chegam não há mais lugar para estacionar. Eles que se virem. Somente dificultano a vida dos agressivos-motoristas é que se vai direcionar a cidade para o transporte público e o transporte ativo.
Pergunta simples: o transporte público e o ativo são solução para tudo? Falar em privatizar o lugar público só serve para quem não tem vaga, flanerinha que cobra em lugar que não deveria ou além do que é pago na zona azul. Não sou contra tirar as vagas ordenadas das ruas (principais) se nas proximidades eu puder estacionar num edifício-garagem por exemplo fazendo a outra parte do percusor caminhando. Se é um problema do proprietário arrumar lugar para estacionar e do estabelecimento criar pago ou não, então para quê criar aqui e existe em vários paises vagas em estações de trem, metrô e ônibus, pois não é o governo que cria estes locais? O cara que vá de bike, leve um carrinho de mão com a bagagem ou pague caro por um táxi.
Não fiz na outra matéria sobre esse excelente prefeito, mas deixei a pergunta se perguntaram a ele como ele vai para a prefeitura se valoriza tanto o transporte público, a bike e o pedestre. Na ótica do gestor público pode ter regalias como veículo exclusivo para sua locomoção guiado por motorista profissional e batedores quando for o caso, enquanto ele vem com ideias que atendem a uma grande maioria desprovido de carros ou tentando forçar estes a usarem mais o transporte público, com vias mais livres, ele pode desfilar com o veículo da prefeitura sem problema, estacionando onde quer, afinal tem prioridade sobre os outros, em suma, a pessoa pode muito bem se passar por um ótimo idealizador para uma maioria, mas não vivencia essas medidas no seu dia a dia, além de ser beneficiado, pois quem dirige quer vias com maior fluidez e vagas estacionar.
Repito, defender demais um certo meio de locomoção pode virar um tiro no pé, pois no dia que você precisar usar o seu carro em situação que este fará diferença, você poderá ser impedido, então quem vai pagar o pato? O legislador, gestor é que não é.