O transporte é público, mas só funciona se tiver gente em excesso? O metrô do Recife foi a principal aposta de transporte público na Copa das Confederações e passou vexame. A estação Cosme e Damião não foi capaz de atender a demanda e a imagem do metrô ficou bastante arranhada.
Deixou dúvidas, se, de fato, teria capacidade para grandes demandas. Na verdade, tem. Nenhum outro meio de transporte supera o metrô em capacidade, mas outros elementos precisavam ser agregados,como a melhoria do escoamento na estação Cosme e Damião,o que demorou a acontecer.
Agora, no jogo entre Náutico e Sport, o metrô informa que vai levar os passageiros, mas não os trará de volta. Uma das alegações é que foram vendidos menos de 5 mil ingressos, até o momento. Embora a prática revele que muita gente deixa para comprar no dia do jogo. Mas na verdade a questão não é o número de ingressos.
O metrô perde uma excelente oportunidade de se firmar como o principal meio de transporte para a Arena Pernambuco e mais do que isso, de criar um hábito entre esses “novos” usuários de usar o trem e saber que ele pode ser seguro, rápido e confortável. Afinal, não é esse o maior desafio: conquistar mais usuários e reduzir o número de pessoas que ainda preferem o carro?
Abaixo o texto de Cássio Zirpoli sobre a estranha estratégia adotada pelo Metrorec.
O Plano B
A Arena Pernambuco foi lançada em 15 de janeiro de 2009. Na ocasião, num anúncio pomposo, o governador do estado anunciou o empreendimento, a 19 quilômetros do Marco Zero, com uma larga integração na mobilidade. O principal modal seria o metrô, através da linha já existente, mas com uma nova estação. A tal estação, Cosme e Damião, foi erguida. Após eventos-testes, Copa das Confederações e até um show, enfim o primeiro clássico estadual. Ironicamente, sem o auxílio pleno do metrô.
O jogo começará às 21h50 e no curso normal terminará por volta de meia-noite. Contudo, a rede metroviária será encerrada no horário padrão, às 23h. Para a chegada ao estádio, há o plano do transporte das maiores facções uniformizadas em trens isolados. A Fanáutico irá embarcar na estação central, às 18h30, e a Jovem na Joana Bezerra, as 19h. A uniformizada alvirrubra irá desembarcar no TIP e a rubro-negra desce na estação Cosme e Damião. Já o esquema de volta saiu aos 45 do 2º tempo. A indefinição em relação ao metrô durou o dia inteiro.
A missão acabou ficando a cargo do Grande Recife, que irá disponibilizar 50 ônibus extras na arena. Os torcedores alvirrubros seguirão em direção ao Derby ou até o Cais de Santa Rita, passando pela Conde da Boa Vista. Já os leoninos vão realizar viagens expressas até a Ilha do Retiro e embarcarão nos coletivos pelo portão R da Arena. Para facilitar o retorno, as passagens de ônibus (da volta) serão vendidas nos guichês do metrô, nas estações Centro, Joana Bezerra, TIP e Cosme e Damião.
“O metrô tem uma estrutura definida e a partir de 0h30 é o início da manutenção dos trens. Esse trabalho dura três horas, começando o processo de distribuição dos trens para o dia seguinte, às 5h. Para aumentar o horário é preciso mudar toda a estratéria, com hora extra e até com a Celpe. Para isso, é preciso uma demanda”. Segundo João Dueire, gerente de operações da CBTU vem monitorando a venda de ingressos do clássico (que até ontem era de 4.520). “Vamos definir uma estratégia para os jogos que passem das 23h. Se passar de 15 mil pessoas, poderemos dar sequência ao metrô. Fizemos isso em um show (Maior Show do Mundo, neste mês), e apenas 400 pessoas voltaram com a gente”, afirmou.
A volta para casa
Torcida do Náutico
Ônibus na arena, com destino a Derby ou Cais de Santa Rita
Torcida do Sport
Ônibus na arena (portão R), com destino à Ilha do Retiro
A estação Cosme e Damião não foi feita atender a Arena, até porque o projeto era anterior focando apenas na comunidade. Aplicar mais recursos para uma estação maior e ficar subutilizada não tem graça.
Transporte público funciona sob demanda, então se não há oferta que sustente os custos operacionais, não há porque ter.
A Arena ano que vem através do Ramal da Copa irá se integrar ao Leste-Oeste, portanto a oferta de transporte público será maior. Outra, o BRT ano que vem deverá funcionar de forma similar ao metrô, ou seja, na madrugada as estações ficarão fechadas e ônibus convencionais deverão operar nos corredores para pegar as pessoas nas proximidades das estações, pois não seria viável manter ar ligado e cobrador na estação para uma demanda irrisória.
Raimundo,
O projeto da Estação Cosme e Damião é antigo. Isso é verdade. Mas ela foi incluída no Pac Copa e recebeu recursos para finalmente ser construída para atender a Arena também. Em relação à demanda se for levar em conta apenas a lógica da matemática, concordaria com você. Mas o transporte público vai muito além disso. Em São Paulo, já se cogita ter metrô 24h e é evidente que haverá momentos de pouca demanda. Mas é importante saber que é possível contar com ele a qualquer momento. O transporte público precisa dar essa segurança sim. O que não se concebe é que ele transporte as pessoas para determinando evento e elas não poderão contar com ele na volta para casa. Isso passa insegurança e incerteza. Acredito que esse tipo de estratégia precisa ser repensada, mas cada tem sua própria opinião.
Tania,
concordo que criar uma oferta pontual não é certo, mas se há no dia seguinte uma grande demanda que depende da manutenção no sistema, paciência.
A Arena recebeu recursos, mas para mim, foi para dar acelerar as obras, pois até então a mesma ia a passos para lá de lentos. Outra, diferente das Copas, os jogos nacionais na Arena terão o seu estacionamento a disposição, e como muitos que têm carro não irão trocar migrar para o transporte público, ainda mais no horário noturno onde a oferta cai bastante e a partir de certos horários só as linhas bacurais estão disponíveis, quem pode irá de carro. Sendo assim, o transporte público é só uma opção de uso que no horário noturno fica muito limitada: ônibus rodam em intervalos bem grandes e com trajetos diferentes do dia; metrô não funciona.
Não comentei acima, mas para mim há um grande problema do qual os torcedores são reféns muito mais do que a falta de disponibilidade do transporte público: o horário dos jogos entre segunda e sexta-feira imposto por redes de tv e com a conivência da CBF que vende a elas o direito de exibição.
Quem vai ao jogo duvido que na maioria não trabalhe no dia seguinte, mas a depender do jogo, se submete a chegar em casa de madrugada porque emissora A ou B irá televisionar em canal aberto ou fechado e por conta da sua grade coloca o jogo em horário ruim que faz o torcedor chegar durante a madrugada em casa, horário que o sistema público de transporte e até privado (táxi) são mais escassos.
Já deveriam para ontem proibir isso fazendo com que os jogos começassem, no máximo, 20h30 da noite. Se emissora A ou B deixa de exibir certos programas para mostrar alguns eventos esportivos quando lhe convém, que altere a sua grade para exibir jogo em horário mais cedo. Basta dizer que em grandes eventos como Copa, Olimpíadas, algumas emissoras praticamente mudam toda a grade para exibir a maior parte do tempo conteúdo do evento. Se elas de forma pontual fazem isso na busca pela audiência, não vejo porque não acatar horários padronizados e mais amigáveis ao telespectador e torcedor que vai ao estádio.
“Público” para quem? Metrô deixa na mão torcedores de Náutico e Sport
Postado em: agosto 28, 2013
O jogo NÁUTICO X SPORT – Copa Sulamericana hoje a noite será no horário conveniente para a grade de programação da Globo (22:00h), então só a Globo lucrará nessa, se o Metrorec disponibilizar Metrô extras, vai ter que pagar salário extras aos funcionários e ainda ter que pagar a conta do quebra-quebra das composições após o jogo. Por isso não haverá Metô para a volta
Os clubes assinaram com as TVs pra passar os jogos nas TVs, então desde já, lugar de torcedor é em qualquer lugar menos nos ESTÁDIOS.
Tânia, o Metrô não pode assumir uma demanda criada pelo governo do estado que decidiu construir um Estádio que atende meramente o interesse da iniciativa privada – ODEBRECHT, e por conta disso acabar por colocar em risco o transporte de quase 300 mil usuários que se utilizam do sistema diariamente para ir ao trabalho, escola, etc. Não tem cabimento algum o Metrô rodar até duas horas da madrugada para atender um público pífio, que não trará receita suficiente para justificar os custos que a operação do sistema trará com horas extras para os funcionários, quebra-quebra promovido por “torcedores”, energia de tração, entre outros custos envolvidos. Isso sem falar que não é garantida a segurança do sistema e tão pouco a dos funcionários por parte do estado. Tudo isso pra quem lucrar? A iniciativa privada – ODEBRECHT. Parabenizo o momento de lucidez da direção da CBTU em se posicionar em não atender essa demanda em detrimento do transporte do usuário que estará às 5h esperando o trem para ir trabalhar. O Metrô do Recife é um equipamento público e que tem que servir o interesse público e não privado.
Sobre o Metrô de São Paulo operar 24h, isso dificilmente acontecerá, a não ser que alguém desprovido de conhecimento técnico sobre as características do sistema metroviário permita tamanha loucura. Quando seria feita a manutenção?
Diogo,
Acredito que o nó dessa discussão seja justamente esse: quem vai bancar os custos da operação? Afinal o metrô é vinculado ao governo federal e o evento é privado e com aval do governo do estado. Sob esse ponto de vista a sua colocação está correta. Até porque essa é uma conta a ser compartilhada. E acho mesmo que deve se levar a cabo essa discussão, visto que muitos outros eventos irão ocorrer, independente da Copa, onde essa questão de custo não foi levantada. O que defendo é o melhor transporte público para as pessoas. O metrô é o melhor, isso ninguém tem dúvidas. Agora se o horário é inconveniente para atender interesses de uma rede de tv ou de uma empreiteira. Isso é outra história. E essa discussão pode se perpetuar sobre infindáveis viés. Se a conta deve ser compartilhada então esse é o foco. O transporte público bom e com qualidade custa caro mesmo e alguém tem que pagar por isso. Já que não existe ainda o tal do subsídio, o metrô pode e deve chamar os interessados para dividir a conta. O usuário não deve ser pensalizado. E quanto aos 300 mil usuários que usam o sistema diariamente também não devem ser pensalizados. Claro que não. Se o público é menor, como você mesmo disse, não seriam usados todos os trens, não é?
E o quebra-quebra já começou. A Arena vai ressarcir o Metrô? Ou será o Governo do Estado?
http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/esportes/nautico/noticia/2013/08/28/vagao-com-torcedores-do-nautico-e-atingido-por-pedra-95358.php
Confirme-se palavras do sr.Raimundo supra, não existe estação da Copa, Cosme Damião foi “escolhida” e incentivada, à revelia da logística e bom senso, pelo governo Estadual como transporte oficial para arena privada devido à incompetência nos projetos e entrega de corredores de ônibus, os quais não ficaram prontos no tempo prometido e que são irrefutavelmente um modal ultrapassado como corredor de massa,só se justificando perante os interesses da iniciativa privada em relação promíscua com a coisa pública, vide PDTU e o fato de que nenhuma grande metrópole do mundo baseia sua mobilidade, no que tange à entroncamento, nas rodovias, tendo o ônibus seu papel como distribuição técnica capilar, não menos importante. É evidente a posição maleficamente tendenciosa e tecnicamente desprovida por parte do Estado no desprestígio ao transporte sobre trilhos.Criticar miopiamente e de forma reducionista é fácil, notadamente após sistemática redução orçamentária e tentativas incansáveis de sucateamento, contudo o Metrô do Recife permanece, de maneira heróica, funcionando e transportando nossa população à tarifa respeitosa, cumprindo seu papel social, apesar da política Federal desprovida de responsabilidade e da surdez e insensibilidade técnica das autoridades locais(estadual e municipal) insistentes em formulas peremptas e carentes de suporte técnico, porém prenhes de potencialidades quanto aos financiamentos eleitorais. Para reflexão: Metrô não financia campanha, existe única e somente só pela sua missão pública e não lucrativa de transportar a população com eficiência, pontualidade e qualidade. A quem este norte incomoda e contraria?
gostaria de saber, se os ônibus disponibilizados prestaram serviço de graça? ou seja, as empresas vão, ou não, faturar com isso? e o metrô iria receber alguma compensação financeira pelo serviço até a madrugada? aliás, muitas vezes, os serviços durante a madrugada chegam até as quatro da manhã. e o mais importante, não estou vendo “ninguém” reclamar da emissora de tv que está “obrigando” os torcedores a andarem na rua pela madrugada, só para não trocar o horário da novela. vamos lá, cadê a “coragem” para mostrar que a rede de tv não está nem aí para a segurança das pessoas. além disso, o metrô não pode viver em função das apresentações no estádio, apesar de ser um serviço público. quando os jogos ocorrem em outros lugares, não existem serviços até a madrugada. quando ocorrem shows no Centro de Convenções, o público que quiser sair mais cedo, vai ter que ir pra casa de táxi, pois não nem ônibus. eu moro próximo, e sei como é. o Consórcio que toma conta do estádio, só quer que o metrô cumpra o que eles desejam. cadê a contrapartida? no primeiro jogo da Copa das Confederações, o sistema funcionou até tarde, transportando “mosquitos” até a madrugada. então, antes de denegrir a imagem da empresa, propositalmente ou não, procurem ver também que existem outros fatos por trás do problema. até concordo que poderia haver mudanças, mas nem tudo “tem”, ou pode ser, do jeito que desejam os que organizam os eventos.
Tânia Passos,
Sua matéria, principalmente em seu título, tenta desqualificar o Metrô do Recife por meio de uma visão tendenciosa, simplista e superficial, que desconsiderou outras implicações de uma extensão no horário de atendimento aos usuários daquele sistema. A injustiça cometida contra o Metrô durante.a Copa das Confederações, agora se repete. O metrô tem características próprias e seria interessante que você as conhecesse.
A responsabilidade de deslocar os torcedores e expectadores para aquela Arena deveria ser compartilhada com o Governo do Estado e seu sistema rodoviário, porém infelizmente mais uma vez foi transferida integralmente para o Metrô.
O que fica evidente diante dos problemas da falta de mobilidade em nossa região metropolitana, é a necessidade de maiores investimentos do Governo Federal na CBTU, e a diversificação do Governo Estadual na escolha dos seus projetos de mobilidade. Os ônibus não atendem a demanda nem oferecem o conforto necessário para que os cidadãos deixem seus veículos em casa.
Os Projetos de expansão para o Metrô do Recife existem, mas o interesse exclusivo dos Governantes locais pelos corredores de ônibus inviabiliza a criação de um sistema melhor interligado entre o metrô e o transporte rodoviário.
Renato,
Concordo inteiramente sobre a necessidade de investir mais no sistema ferroviário. Aliás, já fiz essa defesa inúmeras vezes. Também concordo que o transporte público seja compartilhado. Não parecia ser o caso. Havia a previsão do ônibus, mas não do metrô. Também acho que foi injusto colocar todo o peso do transporte no metrô durante a Copa das Confederações, como disse aqui outras vezes, até porque o metrô não recebeu investimentos da Copa com exceção dos investimentos na estação Cosme e Damião. Isso é fato. E acredito que o metrô não deveria ter aceito essa missão sozinho, mas o fez. O meu comentário não tem o objetivo de desqualificar o metrô do Recife, que vem sendo injustiçado há muito tempo. O que quis dizer é que o metrô tem que se mostrar como protagonista que é. Ele tem a devida importância da sua dimensão. Mas há outros aspectos a considerar que não o fiz, como a conveniência do horário de uma rede de tv. Isso é verdade. Outra questão é que essa conta precisa ser compartilhada.
Tânia, o Metrorec tem o compromisso de atender os usuários com conforto e segurança mas é preciso também ter um pouco de bom senso. Sou torcedor mas tenho a plena consciência que o Metrô tomou a decisão correta por alguns motivos que citarei abaixo:
1) No jogo de inauguração da Arena entre Náutico x Sporting, aplicaram a “brilhante” estratégia de que o Metrô seria o principal (único) modal para os torcedores se deslocarem (os ônibus transportavam da Arena para a Estação), onde sabia-se que o Metrorec não teria a estrutura suficiente para suprir a demanda daquele jogo pois a “Estação da Copa” não foi projetada para atender a quantidade de torcedores da Arena e sim a comunidade dos arredores.
Consequências: Superlotação na Estação Cosme e Damião e uma grande repercussão negativa na mídia.
2) Após o evento acima citado, o Metrorec ainda continuou operando em horários nada eventuais como o Show da Cláudia Leite (evento particular e privado). Os trens permaneceram circulando durante toda a madrugada, e nos outros jogos foram traçadas estratégias desconfortáveis para a população (trabalhadores, estudantes e outros que utilizam diariamente o sistema) do Recife ou da Região Metropolitana como a de partir de 2 trens para Camaragibe e 1 para Jaboatão da Estação Recife (normalmente parte de Recife, 1 trem para Camaragibe e outro para Jaboatão alternados) sacrificando a chegada de usuários que moram em Jaboatão e Cavaleiro.
3) Eventos como este clássico no meio da semana geram alguns problemas para a empresa. Nas madrugadas, equipes da manutenção do Metrorec trabalham para manter a plena circulação dos trens durante todo o horário comercial. São equipes na via ou na oficina dos trens pois saiba que há um desgaste enorme do material rodante e da via permanente todos os dias e cada trabalho é fundamental para a circulação diária dos trens apesar dos baixos investimentos do Governo Federal no Metrorec (falta material, ferramentas…).
Neste clássico, ainda sim, foram programado dois trens exclusivos para as nossas “ilustres” torcidas organizadas TJS e Fanautico que não concretizou por causa do Apagão em todo Nordeste e pelo baixo público no clássico.
Portanto, em tempos de consciência política e protestos por todo o Brasil, devemos refletir o verdadeiro papel do administração pública ao aplicar os serviços sociais básicos (saúde, transporte, habitação,…). Será que a prioridade não seria o usuário que transportamos todos os dias ou devemos priorizar eventos particulares desta Arena para alguns?
A imagem arranhada fica com os governantes deste estado por não priorizar o bem estar da população pernambucana.
concordo.mas culpa não só dos governantes.culpa da sociedade infantil que temos!