A bicicleta ainda sem espaço seguro no trânsito do Recife

 

os risco de se pedalar no trânsito do Recife - Foto Alcione Ferreira DP/D.A.Press
os risco de se pedalar no trânsito do Recife – Foto Alcione Ferreira DP/D.A.Press

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Alice Souza

Ciclistas e perigo. As ações de incentivo ao uso de bicicleta na Região Metropolitana do Recife (RMR) ainda não distanciaram essas duas palavras, que quase sempre andam juntas em meio à falta de segurança para o uso do modal. Entre 2012 e 2013, o número de ciclistas acidentados atendidos no Hospital da Restauração (HR) aumentou 36%. Deve crescer ainda mais neste ano, segundo projeção do Comitê de Prevenção aos Acidentes com Moto (Cepam).

Um problema agravado pela falta de consciência de que o ciclista é parte e não obstáculo do trânsito. O Diario acompanhou um trajeto de 40 minutos e 6 km do estudante de direito Denis Meneses, 25 anos, de casa à faculdade. O percurso da Várzea ao Prado expõe os perigos que ameaçam quem usa a bike, como ciclofaixas apagadas e trechos de intenso fluxo de ônibus, sem área segregada para ciclistas.

É uma rotina longe do ideal de transporte agradável e tranquilo. Exemplos mais recentes têm nome e sobrenome. Kléber Cristiano Cavalcanti e José Ferreira da Silva entraram na estatísticas de mortes no trânsito em março. Kléber foi atropelado por um carro na Avenida Recife e José atingido por um ônibus no Cabanga. Ambos iam para casa de bicicleta.

Por trás dos números, uma malha cicloviária limitada e falta de consciência dos motoristas. Certa vez, um condutor de ônibus por pouco não inseriu o estudante Denis na conta das mortes. “Eu estava parado no sinal e pedi para ele manter distância até a minha saída, mas acelerou para cima de mim”. No boletim de ocorrência, o motorista afirma que o ciclista “se jogou” no veículo. O gráfico Aldênio Alves, 39, ressalta que a insegurança é frequente. “Já tive uma bike destruída pelo carro de um motorista impaciente”.

O coordenador de políticas da Associação Metropolitana dos Ciclistas do Grande Recife (Ameciclo), Cezar Martins, credita os acidentes ao modo de planejar o trânsito e à ausência de campanhas. “O pedestre e o ciclista também precisam respeitar, mas em uma cidade pensada para carros é difícil. Às vezes, o ciclista anda na contramão para evitar uma via de alta velocidade”, explica.

O Código de Trânsito Brasileiro (CTB) estabelece que cabe aos órgãos gestores dar segurança aos ciclistas e registrar seus veículos. Na prática, isso não acontece, abrindo precedente para se pensar no ciclista como parte externa ao trânsito. “Há prioridade para registrar, licenciar e multar quem pode trazer mais consequências à segurança (os condutores de carros)”, explicou a presidente do Conselho Estadual de Trânsito, Simiramis Queiroz.

Ela afirma, porém, que isso não impede os órgãos de atuar. “O segmento está sendo contemplado. Estamos dando espaço aos ciclistas e intensificando as ações de educação. Esperamos contrapartida. Todos têm que pensar como cidadão e cumprir as normas”, acrescentou Simiramis.

Fonte: Diario de Pernambuco