O artista plástico Wagner Malta Tavares, 47 anos, se inspirou no trânsito para confeccionar uma escultura que está em exposição do Museu de Arte Moderna de São Paulo. Olhando a foto talvez não dê para entender muito bem. Mas, segundo o artista, a peça entitulada nave é composta por uma cadeira, vela em TNT e um ventilador.
Na descrição do trabalho, trata-se de um contraponto ao trânsito frenético, aos itinerários e itinerâncias pelo mundo. De uma cadeira, elemento associado ao descanso e à espera, brota uma vela de bordo, signo dos viajantes. Na obra, a vela retrata a impossibilidade real do deslocamento.
Para quem não entendeu nada, talvez seja melhor só apreciar a escultura, sentar na cadeira e deixar o trânsito passar. A contribuição do post é do repórter Glynner Brandão.
O Diario teve acesso às imagens feitas pelo circuito interno do ônibus que estava atrás da carreta envolvida no acidente na Bahia em que morreram 34 pessoas. Vídeo mostra que a carreta saiu da pista várias vezes e invadiu a contramão. Imagens: PRF/BA
O engenheiro civil Laédson Bezerra, 61 anos, presidente do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, promovido pelos Diários Associados, teve desde o início a carreira voltada para a área do trânsito e transporte. Formado pela Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco em 1973, iniciou sua experiência profissional na empresa de consultoria Astep Engenharia Ltda, que era vista na época como uma segunda escola de engenharia, responsável pela formação de um corpo técnico de excelência, que até hoje, segundo ele, ainda é a principal referência do mercado. Na década de 1980, ele ajudou a elaborar o projeto do Metrô do Recife e apoiou sua implantação. Foi em 1989 que assumiu a direção do Detran-PE com a missão de reestruturar o órgão e tirá-lo das páginas policiais. Permaneceu no Detran até junho de 2006, quando foi convidado a assumir a Secretaria de Turismo e presidência da Empetur. Atualmente é responsável pela parte de projetos da ATP Engenharia. Nesta entrevista, ele fala sobre a experiência de presidir o Fórum de Trânsito com o desafio de agregar o envolvimento dos diversos segmentos na discussão de melhorias da política de mobilidade urbana antes da Copa de 2014.
De alguma forma, ao longo da sua carreira, o senhor sempre esteve envolvido com a questão da mobilidade. Como isso aconteceu?
Acredito que tem a ver com a minha própria formação e a experência na Astep, que teve uma influência grande, uma vez que é uma empresa de consultoria que já desenvolvia, na época, projetos na área de mobilidade. Embora seja uma palavra nova, havia já uma discussão de melhoria de trafegabilidade. Lá se formaram grandes nomes da engenharia pernambucana a exemplo de Emir Glasner e Anton Melo.
Quanto tempo o senhor permaneceu na Astep?
Eu entrei lá como estagiário em 1973 e fiquei até 1985. Foi uma experiência muito rica. Aliás, todo estudante de engenharia tinha como principal meta participar do corpo técnico da Astep, que formou profissionais que ainda hoje atuam na área de consultoria. Um dos projetos que ajudei a elaborar e apoiei a sua implantação foi do metrô do Recife, que já era visto como um importante equipamento para melhoria do transporte coletivo.
O senhor assumiu a direção do Detran em um momento em que o órgão recebia muitas críticas. Como foi esse desafio?
O desafio, de fato, era tirar o Detran das páginas policiais e reestruturar o órgão do ponto de vista físico e de equipamentos. Tirar o ranço burocrático, descentralizá-lo e simplificar o processo. Antes era apenas a sede com filas enormes para qualquer procedimento, o que facilitava a figura do “despachante”. Nós informatizamos o serviço e levamos o Detran para os centros de compra.
Como ocorreu essa transferência dos serviços para os centros de compra?
Nós quebramos alguns paradigmas e vencemos a resistência que havia na época do Shopping Recife. Havia o medo de filas enormes e de receber gente de todo “tipo”. Na verdade, o serviço se mostrou muito eficiente. Criamos o sistema de senhas e as pessoas esperavam sentadas ou iam fazer compras e depois retornavam. Também levamos o serviço para o Tacaruna, Plaza, Jaboatão e Caruaru. No Tacaruna tivemos até que ampliar e ainda houve a expansão dos serviços para o Expresso Cidadão. Com essa descentralização, o movimento na sede caiu 70%.
Além da modernização e descentralização dos serviços como o senhor encarou a questão da educação no trânsito?
Nós implantamos o projeto que é sucesso até hoje do palhacinho do trânsito. O agente de trânsito tem que ser antes de tudo um educador e não apenas usar o talão para aplicar multas como se fosse uma “chibata”. A ideia do palhacinho foi quebrar esse paradigma e levar a educação de trânsito para as escolas.
O senhor acredita que os órgãos de trânsito têm condições de fazer a educação de trânsito no lugar das escolas?
Acredito que sim. Basta aplicar o que diz o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Por exemplo, os recursos das multas arrecadados pela Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) devem ser revertidos na educação. Nem todo município faz isso.
Mas há uma discussão onde se defende que a escola tem um poder de penetração maior do que os órgãos de trânsito em todos os municípios. O que o senhor acha disso?
Isso é verdade. A única forma de conseguir uma eficiência na educação do trânsito é primeiro tornar a ação sistemática e não temática com a realização de campanhas em determinadas épocas do ano. E os órgãos de trânsito precisam ter essa interação com as escolas, mas é o órgão de trânsito que deve coordenar e capacitar.
Existe quase uma unanimidade em educar a criança para respeitar as normas de trânsito, mas não há essa mesma lógica para o jovem que está mais perto de começar a dirigir. Não é um contra-senso?
Há uma lacuna realmente e é importante observar que o jovem acaba sendo influenciado pelo grupo e muitas vezes “esquece” o que aprendeu quando era criança.
O senhor deixou a direção do Detran em 2006 e já estamos praticamente em 2012, qual a avaliação que o senhor faz do aumento da nossa frota?
Eu costumo dizer que da descoberta do Brasil até 2002, nós levamos 502 anos para atingir o primeiro milhão e, nove anos depois, em 2011, chegamos ao segundo milhão. É uma frota bastante preocupante e boa parte se deve ao aumento das motocicletas, que estão substituindo o papel que é do transporte público de oferecer regularidade e conforto. Como ainda não temos um transporte com essa qualidade, as pessoas migram para moto ou o carro.
Como o senhor recebeu o convite para presidir o primeiro Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, promovido pelos Diários Associados?
Eu recebi uma ligação dizendo que o presidente dos Diários Associados no Nordeste, Joezil Barros, queria conversar comigo e foi uma grata surpresa saber da preocupação de um jornal do porte do Diario de Pernambuco em abraçar uma causa como essa. Acredito que o Diario partiu na frente e é importante levar a discussão dos problemas do trânsito e da mobilidade para a sociedade que precisa estar diretamente envolvida.
Como foi a definição dos temas?
A escolha dos temas teve como propósito alcançar os diversos segmentos que envolvem a questão do trânsito e da mobilidade e tendo como gancho o evento da Copa do Mundo. E decidimos distribuir os temas em 10 edições. Começamos com a discussão sobre as condições das rodovias federais que cortam o estado, das rodovias estaduais e da operação do trânsito nos municípios. Trouxemos ainda o problema do aumento das motocicletas e as consequências para o trânsito e a saúde pública em um fórum específico e ressaltando ainda a questão da legislação de trânsito e da educação.
O senhor concorda que a Copa do Mundo é uma oportunidade para termos um salto na qualidade da nossa mobilidade?
Eu diria que as obras devem ocorrer independentemente da Copa do Mundo, mas, sem dúvida, os investimentos que resultam de um evento desse porte devem ser vistos como uma excelente oportunidade.
De que forma o senhor acredita que o fórum poderá contribuir na melhoria do trânsito?
A primeira contribuição foi despertar essa discussão e nós tivemos, ao longo das edições, contribuições importantes que serão apresentadas numa carta aberta com as sugestões para as autoridades. Acredito que iniciativas como essa podem incentivar outras organizações a tratar do assunto. Nós estamos em um momento de crescimento econômico do estado, que tem seu lado positivo, mas também preocupa na questão do aumento da frota. Por isso, precisamos cada vez mais nos prepararmos para enfrentar o que vem por aí. A gente corre o risco de dizer que éramos felizes e não sabíamos.
Saiba mais
Frota do estado nos últimos 40 anos
1973
– 108.675 veículos (era a frota do estado quando Laédson entrou na universidade)
1989
– 357.926 (essa era a frota ao assumir o Detran)
2002
– 1.007.613 veículos (o 1º milhão)
2006
– 1.250.400 (ao deixar o órgão essa era a frota)
2011
– 2.039.542 (o 2º milhão em menos de 10 anos do 1º)
Acidentes de trânsito no mundo
1,3 milhão
de pessoas morrem vítimas de acidentes de trânsito por ano em todo o mundo
2011
-2020 é a Década Mundial de Ação para Segurança Viária
A meta mundial da OMS é reduzir em 50% as mortes
de trânsito nesse período
No resultado da enquete do blog sobre o que é prioridade para melhorar o transporte público, um diagnóstico fiel dos principais entraves que fazem o transporte público perder a preferência para o individual.
A primeira delas, responsável por 42% da pesquisa, aponta a redução do tempo de espera como a principal prioridade e reflete não apenas a incerteza do horário de chegada do coletivo, mas também da perda de tempo para os deslocamentos.
Nos futuros corredores de tráfego, uma das promessas é a instalação de painéis com os horários das viagens que poderão ser acessados também pelo celular. Esse item será importante para reduzir a angústia da espera, mas a redução do tempo vai depender também da implantação de faixas exclusivas para os ônibus não apenas nos principais corredores, mas em todo o sistema.
No segundo item de prioridade para o transporte público conquistar o usuário do transporte individual está a climatização dos coletivos e mais conforto das cadeiras. Essa condição foi apontada por 30% das pessoas que votaram na enquete. Oferecer mais conforto aos usuários é só uma questão de decisão dos empresários do setor. Isso só será feito se houver uma exigência dos usuários e cobrança do órgão gestor, no caso o Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano.
A pesquisa também indica que para usar o transporte público, 20% das pessoas afirmam que precisam de estacionamento para deixar o carro e de ônibus circulares que possam fazer essa integração. Essa lógica, aliás, já deveria ser usadas nos terminais integrados. O mesmo se aplica com os bicicletários.
Já a segurança nos terminais é cobrada por apenas 5% das pessoas que consideram importante melhorar o funcionamento do sistema. O percentual indica que para a maioria, essa insegurança não é percebida. Já a acessibilidade e melhoria das calçadas são condições para 3% dos pesquisados. Pelo grau de deteriorização das calçadas, as pessoas com deficiência não devem considerar a possibilidade de entrar no sistema.
Artigo do professor José Alex Sant´Anna, publicado no “Informativo Perkons – Notícias em Trânsito”.
Nas grandes cidades, os veículos particulares ficam mais tempo parados nas garagens e estacionamentos do que efetivamente sendo utilizados, durante todo o dia.
As pessoas que se deslocam para compras ou para o trabalho, que não tem uma rotina fixa e bem estabelecida dependem do veículo particular para seus deslocamentos, pois o transporte público é planejado e operado com o foco principal nas pessoas que se destinam a trabalho e escola em viagens rotineiras e pendulares (do tipo vai e volta).
Nas grandes cidades, qualquer pessoa que tenha alguma atividade que saia um pouco da rotina passa a depender do automóvel para seus deslocamentos e a vida moderna tem na variedade de atividades das pessoas uma de suas características.
Com a crescente dificuldade de estacionamento, principalmente nas áreas centrais das grandes cidades, uma nova modalidade de “propriedade” de veículos parece ser o próximo passo para facilitar os deslocamentos de grande parte das pessoas que atualmente utilizam o carro próprio, nas cidades.
Se o transporte coletivo atualmente é operado por empresas privadas sob o controle do poder público, o transporte individual poderá ser otimizado com a formação de “sociedades” que disponibilizem uma quantidade de veículos em áreas de estacionamento privado, estrategicamente distribuídas pela cidade, de forma a se tornarem acessíveis aos “sócios” para pronta utilização mediante identificação previamente preparada (carteira de sócio) e reembolso das despesas de uso (pagamento debitado em cartão de crédito em função do tempo e quilometragem de cada utilização).
Dessa forma os sócios terão acesso a veículos para seus deslocamentos, sem ter que procurar estacionamentos e sem a preocupação com a manutenção e guarda dos veículos que estaria transferida para a Empresa operadora (poderia ser uma Sociedade por Cotas, onde cada sócio seria um cotista).
Isso não é novidade. Ainda nos anos 70 do século passado, as primeiras iniciativas de utilização compartilhada de automóveis apareceram em Santa Mônica, nos Estados Unidos, com o nome de “car pool”. Pessoas que residiam em um mesmo bairro e trabalhavam em um mesmo local se associavam para compartilhar o mesmo automóvel com o objetivo principal de usufruir das facilidades das “faixas exclusivas” para veículos com duas pessoas ou mais. Como conseqüência imediata, as empresas que incentivaram o “car pool” reduziram significativamente o número de veículos estacionados em seus pátios, abrindo espaço para os clientes.
Em algumas cidades da Europa, a utilização de bicicletas “públicas” ou de empresas locadoras, mediante uma garantia monetária e, às vezes, pequeno pagamento para manutenção dos serviços, surgiu no último quarto do século XX, permitindo considerável melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.
No caso dos automóveis, ainda não é comum locar veículos, no Brasil, embora tal atividade esteja aumentando consideravelmente, mas essa atividade se concentra em atender às demandas de longos períodos, principalmente semanas ou meses, e eventualmente um período de no mínimo 24 horas, mediante contrato específico.
O que se coloca agora para discussão não se trata de locação, nesses moldes, mas de propriedade compartilhada de veículos, disponibilizada para os sócios e gerenciada por uma empresa eventualmente formada pelos próprios proprietários (ou por empreendedores interessados). Em algumas cidades da Europa já começam a surgir iniciativas nesse sentido.
Os veículos seriam disponibilizados em garagens distribuídas pela cidade, para utilização imediata por parte do grupo de pessoas associadas na propriedade dos veículos com pagamento pelo uso e nos encargos de gerenciamento. Os veículos seriam utilizados por períodos curtos de tempo para um único deslocamento entre dois pontos da cidade e ao ser deixado em uma das garagens do “pool” seria disponibilizado para outro usuário.
Em outro segmento do setor de transportes, a propriedade compartilhada de aviões executivos e helicópteros é uma atividade bem sucedida no Brasil. Investidores adquirem esses veículos e os entregam a uma empresa gerenciadora que se encarrega da manutenção e operação com a garantia de disponibilidade por um número programado de horas mensais e eventual lucro resultante do aluguel da aeronave nos períodos que se encontra disponível.
A maior resistência a esse tipo de compartilhamento ainda é relacionada ao veículo automotor terrestre, tanto o automóvel como o veículo de carga; mas o que se espera ao colocar essa discussão é que as mudanças que vêm ocorrendo na sociedade contemporânea, levem à assimilação desse conceito de utilização compartilhada para o transporte individual urbano.
A dificuldade de estacionamento nas áreas centrais das grandes cidades e a modificação das atividades urbanas deste início de século, sugerem que o transporte individualizado sem rotas fixas e sem horários estabelecidos seja popularizado e o compartilhamento pode ser um caminho.
José Alex Sant´Anna
Professor da Universidade Federal do ABC
Dedica-se a pesquisas de Transporte e Trânsito Regional e Urbano
O governo do estado de Goiás deseja diminuir em 25% o número de acidentes de
trânsito em 2012. Para isso, anunciou uma medida que vai mexer diretamente no
bolso dos motoristas e que deve influenciar seu comportamento ao volante: a
partir do ano que vem, o motorista que não se envolver em nenhum acidente e
também não cometer infrações pelo período de 12 meses terá desconto de 50% no
valor do IPVA devido de seu veículo.
As regras valem para carros com motor 1.0 e motos de até 125 cilindradas. “É
uma ação de educação para o trânsito que visa, sobretudo, a valorização da
vida. O governo de Goiás incentiva o bom condutor, aquele que cuida da sua
vida e da vida do próximo. Sendo responsável, ele recebe esse bônus”,
esclarece o presidente do Departamento Estadual de Trânsito de Goiás (Detran),
Edivaldo Cardoso.
“Num primeiro momento, queremos ver qual será o resultado concreto com esses
veículos que delimitamos. Os carros 1.0 correspondem a 67% do total da frota e
as motos de até 125 cilindradas, a 64% de todas as motocicletas registradas em
Goiás”, afirmou Edivaldo Cardoso à Agência CNT de Notícias.
Taxistas, mototaxistas e motofretistas também terão direito ao desconto, desde
que cumpram as regras. Atualmente, Goiás conta com uma frota de pouco mais de
2,7 milhões de veículos, de acordo com levantamento do Detran. Desses, 1,28
milhão são automóveis e 656 mil, motocicletas.
Em 2010, foram registrados 91.103 acidentes de trânsito no estado, resultando
em 1.940 mortes e mais de 62 mil feridos. Se a redução no número de acidentes
se tornar realidade, o governo espera diminuir também as despesas com o
tratamento de vítimas de trânsito pelo Sistema Único de Saúde (SUS), os custos
das empresas por seus veículos não trafegarem em decorrência de acidentes e
melhorar, assim, a qualidade do trânsito em geral.
A ação do governo goiano condiz com o Plano Nacional de Redução de Acidentes
de Trânsito da Organização das Nações Unidas (ONU), que pretende reduzir pela
metade o número de mortes no trânsito até 2020.
Discutir educação de trânsito é discutir o princípio básico da nossa formação enquanto motorista, pedestre, ciclista, motociclista ou qualquer outro tipo de locomoção. E mais do que o “conhecimento” a respeito das normas de trânsito, a compreensão do que significa mobilidade da coletividade e não da individual, faz toda a diferença no trânsito nosso de todos os dias. A nona edição do Fórum Desafios para o Trânsito do Amanhã, promovido pelos Diarios Associados, trouxe, ontem, como tema a educação no trânsito. Entre os palestrantes, a consultora do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), Rita Cunha, a presidente do Detran-PE, Fátima Bezerra Costa e o engenheiro e consultor de trânsito, Carlos Guido Azevedo.
Depois de trazer temas como as condições das rodovidas estaduais e federais, a municipalização do trânsito (em duas edições), os desafios da engenharia de tráfego, a epidemia dos acidentes de motos no estado, a educação no trânsito é o penúltimo tema das 10 edições do Fórum. “Não basta investir apenas na engenharia de tráfego, ou em modernos equipamentos e obras viárias se não houver ações voltadas para a educação no trânsito”, ressaltou o presidente do Fórum, o superintendente comercial da ATP Engenharia, o engenheiro Laédson Bezerra.
Se o aprendizado sobre o trânsito não é doméstico e tampouco nas escolas de onde ele vem então? De certo, que não se pode esperar que seja “intuitivo”. A participação do estado é imprescindível na definição de políticas públicas voltadas para o trânsito. “Nós somos 10 vezes pior do que qualquer outro lugar no mundo em mortes no trânsito. São mais de 40 mil pessoas que morrem todos os anos nas estradas ou em vias urbanas”, ressaltou Carlos Guido.
Aos 14 anos, o Código de Trânsito Brasileiro não conseguiu preencher a lacuna da educação. O Denatran bem que tentou, junto ao Ministério da Educação, para que a atribuição do ensino fizesse parte da grade curricular das escolas. Não conseguiu. “O MEC publicou textualmente no Diario Oficial, que o trânsito não entrará na grade curricular. Na verdade, o Ministério da Educação mandou o recado para que os órgãos de trânsito façam a sua obrigação na questão da educação”, revelou a consultora do Denatran, Rita Cunha.
Foi em 2009 que o Denatran parece ter dado os primeiros passos, nesse sentido, 12 anos após a edição no novo código. O órgão de trânsito nacional criou campanhas educativas e material para distribuir nas escolas. “A gente não tem como fiscalizar de que forma esse material foi aproveitado ou se está indo para o lixo. As escolas não são obrigadas a usar. Nós teríamos que convencer as secretarias de educação. Nem sempre há essa compreensão”, ressaltou Rita Cunha.
O descompasso entre o que diz a legislação, a estrutura dos órgãos de trânsito dos estados e dos municípios, explica, em parte, o tamanho da lacuna educacional e talvez seja a principal razão das campanhas se tornarem apenas eventuais e nunca sistemáticas. Para o educador Eduardo Biavati, não há órgão de trânsito capaz de ter penetração suficiente em todas as camadas sociais e em todas as comunidadades. “Não há recursos nem gente suficiente. Já as escolas têm naturalmente essa penetração nos bairros, nas vilas e até na Zona Rural. Negar o papel das escolas nesse tipo de formação só faz perpetuar a lacuna que temos nessa área”, apontou Biavati.
De bermuda, camiseta e chinelo, ele chega ao colégio com pressa. Está atrasado. Rapidamente estaciona a cinquentinha na frente da escola e, em poucos minutos, se dirige para a sala de aula. A moto preta de 50 cilindradas é novinha. Foi presente do tio, dono da loja de material de construção onde o estudante trabalha. Custou R$ 3.500, quantia que está sendo paga em prestações mensais de pouco mais de R$ 300.
É símbolo de status para o condutor, um garoto de 17 anos que há dois aprendeu a pilotar com os amigos e hoje faz parte de uma legião de adolescentes motorizados que se beneficiam da falta de fiscalização e criam novos desafios para os hospitais especializados em traumas. Na capital ou no interior de Pernambuco, as cinquentinhas se proliferam. Viraram sonho de consumo dos adolescentes e já disputam espaço com as bicicletas nos estacionamentos das escolas e nas listas de presentes de Dia das Crianças e de Natal.
A lei existe. E ela proíbe que menores de 18 anos pilotem ciclomotores, categoria na qual a cinquentinha está inserida. Também não autoriza que esse tipo de veículo circule sem placa. Mas muita gente sequer sabe disso. E, pelo menos por enquanto, a existência da legislação não significa muito. Por causa de uma briga judicial que parece não ter fim, nem os municípios nem o órgão estadual de trânsito, o Detran, fiscaliza. Ou seja, poder, não pode. Mas e daí? “A polícia nunca me parou. Como não uso capacete ou placa, fica mais fácil”, disse o adolescente do início dessa reportagem, morador da cidade de Goiana, Zona da Mata pernambucana.
As cinquentinhas assumiram nas vidas dos adolescentes de hoje o papel que as lambretas tinham nas dos jovens das décadas de 50 e 60. O lançamento de modelos com frentes mais arredondadas, mais parecidas com a scooter, contribui para chamar a atenção do público jovem. Para eles, as 50 cilindradas são sinônimo de liberdade e amadurecimento. E quando, em uma roda de amigos, alguns têm, os outros também querem.
Que o diga um menino de 14 anos, morador do município de Vitória de Santo Antão, que ganhou uma moto de 50 cilindradas no mês passado, no dia das crianças. “Ando de moto todo dia. Vou pro colégio, vou comprar pão, saio nos fins de semana e vou para a casa da minha namorada”, disse o garoto. “Uns cinco amigos meus têm motos”, contou o estudante, que aprendeu a pilotar em uma moto de 125 cilindradas, aos 11 anos.
Os pais de outro adolescente, José Washington da Silva, deram ao filho uma moto de 50 cilindradas como presente de dia das crianças e de aniversário. O menino completou 14 anos no último dia 19 de outubro. O menino escolheu a cor e o modelo. “Ele começou a pedir uma cinquentinha aos 13 anos. Os amigos dele têm. Aí eu prometi que quando ele completasse 14, eu daria uma”, contou o pai, que disse não saber que a legislação proíbe que pessoas sem carteira de habilitação pilotem esse tipo de veículo.
Washington aprendeu a conduzir uma moto aos 13, com o tio. E já mostra desenvoltura. O pai, José João da Silva, garante que o filho nunca pilota desacompanhado ou sem capacete. Mas diz que tem medo. “É muito perigoso. Corre menos que uma moto, mas, ainda sim, eu tenho medo, claro”, afirmou. José João é pedreiro. A mulher, Maria das Graças da Silva, é dona de casa. O casal e os filhos, Washington e uma menina de 9 anos, vivem em uma casa de alvenaria, na parte alta de uma ladeira sem calçamento e esburacada. A cinquentinha custou R$ 3.390, pagos à vista. Mesmo vendo o irmão pilotando, a caçula da família, Camila, ainda não pensa em ter uma igual. “Ela é medrosa”, disse a mãe. “É perigoso pra todo mundo. Se for pensar, ninguém monta em uma moto nem entra em um carro”, afirmou.