“O pedestre é o elemento mais fraco da cadeia alimentar da mobilidade”. Com essa frase, o consultor em gestão empresarial Francisco Cunha iniciou sua palestra, na última quarta-feira (7), durante a assembleia geral do Observatório do Recife.
Ancorado no tema “Caminhar é preciso – Considerações gerais em homenagem ao Dia Nacional do Pedestre”, o encontro também contou com a apresentação do engenheiro e ex-vereador, Luiz Helvécio.
“Por que é imprescindível andar?”, questionou Francisco Cunha. Para responder, o consultor fez uma explanação sobre a trajetória do homem no planeta, mostrando o mapa da expansão humana. Originados dos primatas, há duas grandes características que diferenciam os humanos das suas origens: a capacidade de pegar um instrumento com precisão, por exemplo, e a capacidade de andar na posição ereta, explicou.
Em seguida, Cunha apresentou as diversas razões por que caminhar é preciso. “Andar é o exercício mais natural que existe, é a melhor forma de manter contato com a natureza. Ajuda a pensar e facilita o raciocínio. É um modo eficaz de espantar a tristeza e, o principal, é o que nos faz humanos”, completou.
A mobilidade é o grande desafio das cidades contemporâneas, em todas as partes do mundo, ressaltou: “Já tivemos a ilusão que resolveríamos nossos problemas de carro, mas isso não ocorre mais. A saída é andar”, disse.
Calçadas do Recife
Atualmente, no Recife, 70% das pessoas usam as calçadas e 30% utilizam o carro para se locomover. Segundo estudos realizados em São Paulo, a frota no Recife em 2020 vai duplicar.
“Andar a pé é um modal, que deve vir combinado a outros, e a calçada é a via principal da cidade. É vital que haja mais opções para as pessoas se deslocarem de um lugar para o outro”, acentuou Cunha. “Se a gente quiser salvar a cidade e sair dos engarrafamentos temos que voltar a andar. É, inclusive, uma forma de não morrermos de raiva”, declarou.
Para o engenheiro Luiz Helvécio, a situação das calçadas na capital pernambucana está caótica e os pedestres correm riscos diariamente. “Há uma estatística feita em São Paulo afirmando que a segunda causa de problemas ortopédicos são as calçadas. Então, é um assunto que tem que ser resolvido. O uso inadequado, como o estacionamento de um automóvel impossibilitando a passagem do pedestre é outra questão que faz com que quem esteja passando nessas áreas corra perigo”, declarou.
Ao contrário do que temos acompanhado no mundo em geral, os norte americanos ainda utilizam muito seus “veículos particulares” para se deslocarem ao trabalho, contrariando uma tendência mundial de maior uso de meios de transporte públicos e/ou alternativos.
Segundo recente pesquisa do “EUA Census Bureau”, além do número de deslocamentos por carros ter aumentando substancialmento nos últimos 50 anos, as bicicletas ainda são tão irrelevantes que nem possuem uma categoria própria, sendo consideradas como “outros”, juntamente com táxis e etc!
Mesmo com eventos para promover o uso da bicicleta como meio de transporte, tais como o “Bike to Work”, o americano médio ainda não se animou a “pensar fora da caixa”, alegando muitas vezes dificuldades relativas a distância a ser percorrida, ou a altimetria elevada do percurso como motivos principais para não deixar seu carro em casa.
Talvez a comutação seja a solução para estes casos, misturando os modais, dependendo do trajeto a ser percorrido.
Não sabemos se serve de consolo ou não, mas por aqui a situação não é muito diferente. Temos casos isolados espalhados pelo país, mas no geral ainda somos extremamente conservadores com as nossas políticas e incentivos públicos relativos aos meios de transporte, onde claramente a tendência maior é incentivar os meios de transporte privados, tais como os carros e afins.
Parece um cenário desolador, mas na verdade não é, pois cidades como Paris e Nova Iorque mudaram seus paradigmas num espaço de tempo bem curto, cerca de cinco anos em média, privilegiando as bicicletas em seus modais de transporte.
O que falta para nós na maioria dos casos é visão e planejamento de futuro e principalmente a vontade de mudar.
Nós por aqui estamos fazendo a nossa parte. E você? o que tem feito?
Há dois anos mudei de vida: escolhi não ter mais carro. Vou trabalhar de bicicleta, de carona ou a pé, e o resultado é que agora vivo melhor. Antes, eu perdia a paciência, ficava estressado, procurando novos caminhos para escapar do trânsito, evitava horários… E me dei conta que não era uma coisa saudável.
Tudo começou como uma experiência, depois de ter morado um ano em Londres. Lá, só andei de bicicleta, metrô ou táxi. Quando voltei ao Brasil, decidi ficar um ano sem carro para experimentar, e ele fez menos falta do que eu imaginava. Vi que podia substituí-lo por outras alternativas e então percebi que o carro passa a ser algo que muitas vezes traz mais aborrecimentos que comodidade.
Não sou um cara xiita, que fala que todo mundo tem que andar de transporte público, até mesmo porque em diversas localidades ele ainda é muito deficitário. A decisão de utilizar o carro ou outro transporte alternativo deve se encaixar dentro das necessidades de cada um, mas, após a decisão de aposentá-lo, vi que minha vida melhorou bastante; não dependo mais da rotina estressante de demorar horas para chegar a algum destino e ainda contribuo um pouquinho para preservar o meio ambiente.
Talvez o que impeça algumas pessoas de fazer a mesma coisa é que o carro é visto como um símbolo de status. O que sou não vai mudar por estar atrás do volante ou num banco no metrô.
Acho que seria interessante propormos um rodízio espontâneo. Metade dos carros ficam em casa, sendo um dia para as placas de final par e outro para as de final ímpar. Naturalmente não seria algo imposto por nenhuma lei, mas para ajudar as pessoas a se organizarem. Quando você se vê sem carro, é obrigado a pensar numa solução: procurar alguém que mora perto para pegar carona, utilizar uma linha de ônibus que você não conhecia. Você vai pensar em alternativas e, mesmo sabendo que o transporte público tem muito a evoluir, elas existem aos montes.
E as alternativas alcançam quem usa o carro também. O pedágio urbano é uma delas. Se algumas pessoas querem usá-lo para ter mais comodidade, é justo pagar por isso, assim como ocorre em Londres. E esse dinheiro arrecadado com o pedágio poderia ser investido na melhora do transporte público.
Em Paris existe um dos projetos mais democráticos e de maior impacto de curto prazo que eu já vi, o Vélib’ (que em português quer dizer algo como “liberdade de bicicleta”). Você não anda um quilômetro dentro da região central da cidade sem ter uma estação onde possa alugar uma magrela. E você pode deixá-la em qualquer outro lugar, além de ter ciclovias na cidade inteira. Executivos, senhoras, turistas… todo mundo aderiu. À noite, você vê namorados e famílias, todos de bicicleta e, o mais importante, pedalando com segurança. Aqui em São Paulo os bicicletários estão começando a aparecer, e as ciclovias aos poucos começam a ser expandidas.
Chegou a hora de voltar do trabalho ou faculdade e você lembra que deve comprar pães: chegar em casa e aproveitar para esticar as pernas, caminhando, ou fazer uma parada estratégica no caminho? E para ir à farmácia ou restaurante que ficam a duas ruas de distância? Visitar um conhecido a três quadras de casa? A resposta natural e racional seria aproveitarmos essas oportunidades para nos movimentar.
Mas, na prática, o recifense tende a optar pelo automóvel em todas essas situações. Comodidade, hábito, falta de tempo, intolerância às altas temperaturas ou simplesmente receio da falta de infraestrutura e segurança que as ruas da cidade podem oferecer. Por mais diversas que sejam as justificativas, elas revelam uma sociedade mais sedentária e menos conectada ao local onde vive. O resultado acaba sendo não apenas um crescente problema de mobilidade urbana, mas também de saúde pública que, pelos indícios, está longe de encontrar uma solução.
Segundo o presidente do Instituto Pelópidas Silveira, Milton Botler, foi criada, no Recife, uma cultura vulgar, mal vista no mundo inteiro, que torna as pessoas reféns do automóvel. “Isso é ruim para a saúde e para a própria cidade”, explica. Para ele, a culpada seria a sensação de insegurança em toda a cidade, fato que independe da própria criminalidade ou de infraestrutura. “É uma questão de ‘percepção’. Se as pessoas não se sentem seguras acabam em uma cidade cujos prédios têm altos muros e seus moradores abandonam os espaços públicos. Os bairros em que as calçadas apresentam melhores condições de uso são justamente onde elas ficam mais abandonadas”, avalia.
Contrariando o que parece ser uma maioria, Hilton Costa, 48, busca ao máximo evitar o uso do próprio carro. Apesar de residir no bairro de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, e trabalhar no bairro da Boa Vista, no Recife, o publicitário estima que 80% de seus percursos sejam realizados a pé. “Planejo meu dia. Só uso o automóvel quando sei que vou me deslocar para longe e com pouco tempo. Prefiro ir trabalhar de ônibus. Nas áreas próximas ao centro, caminhando consigo chegar aos locais sem maiores atrasos e em menos tempo, sem preocupação com estacionamentos, que quase não existem”, explica, com a simplicidade lógica dos poucos pernambucanos que fazem este tipo de trajeto por opção.
De acordo com uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o Nordeste é a região com o menor índice de pessoas fisicamente ativas do país (48%). Para o Doutor em Nutrição da Universidade de Pernambuco Wagner Luiz Prado, a tendência é bastante forte na capital pernambucana, uma das menos ativas do Brasil. “Percebemos que a atividade acaba mais atrelada ao lazer. No cotidiano, as pessoas preferem a comodidade”, explica. A situação é tão alarmante que uma pesquisa desenvolvida na própria UPE mostra que o problema existe mesmo entre os universitários ingressantes em cursos de saúde, que deverão lidar profissionalmente com questões como obesidade, qualidade de vida e prevenção de doenças.
Os resultados apontaram que menos da metade faz exercícios físicos regulares e que uma média de 10% dos alunos de cursos como educação física e enfermagem apresentavam sobrepeso. “As pessoas não entendem que a questão vai além da estética ou da preservação cardiovascular. Atividade física significa qualidade de vida”, complementou Prado.
Conforto e calor
Estevam Marinho Filho
Administrador, 27 – Madalena
Para jovens de algumas décadas passadas, possuir um automóvel poderia ser sinônimo de independência e status. Hoje, para pessoas como Estevam Marinho Filho, 27, é uma questão de necessidade e, como brinca, de sobrevivência. A primeira questão se dá por conta da vontade de atender aos próprios anseios, sem intervenções de terceiros. “Não gosto de depender de ninguém. Mesmo quando vou para qualquer lugar com amigos, temos que ir no meu carro. Não gosto de ter ninguém influenciando o horário para onde eu vou ou volto dos lugares ou me impedindo de fazer o que eu tiver vontade”, explica.
O perfil do administrador de empresas acaba sendo um retrato de uma cultura local, que resulta em uma grande concentração de veículos nas ruas, com uma taxa pouco maior do que um ocupante por carro. “É uma questão de facilidade e, claro, de conforto”, justifica.
Quando fala de sobrevivência, na verdade o jovem se refere às altas temperaturas da cidade. Com uma média histórica de 27ºC, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, Recife faz de seus moradores reféns de um clima quente e bastante úmido. “O calor é muito grande. Não tem perigo de eu me deslocar na cidade sem ar condicionado”, conclui.
Hábito e falta de tempo
Bruno Moura
Empresário, 23 – Aflitos
Para algumas pessoas, 70% de todo o tempo que se perde em um dia é atribuído ao trânsito. No caso de Bruno Moura, 23, os mesmos 70% representam o tempo de seu dia que são gastos dentro do próprio carro. Proprietário de uma empresa de comunicação no Recife, o jovem circula entre os municípios da Região Metropolitana durante toda a semana e já fez dos congestionamentos um aliado. “O deslocamento é intenso, então você aprende a aproveitar melhor o seu tempo dentro do veículo mesmo. Telefona, manda e-mail, resolve pendências. Nestes casos, o trânsito infernal até ajuda”, brinca.
Questionado sobre o costume de caminhar pela própria cidade, o empresário admite que, por costume, prefere os arrodeios necessários para se deslocar nas proximidades de sua residência. A academia e a livraria que frequenta ficam em uma rua paralela ao seu apartamento, a 350 metros. Mas a opção acaba mesmo sendo o carro. Por conta dos sentidos da via e da grande concentração de semáforos, Moura percorre entre 800m e 1,1km e, às vezes, gasta três vezes mais tempo para chegar ao destino. “Mesmo com o congestionamento, em especial na Av. Rosa e Silva, acho mais vantajoso não ir andando”. No caminho não feito, o jovem deixa de ter contato com pontos culturais e o Parque da Jaqueira, recursos perdidos entre a ânsia do tempo e o cinza de um asfalto cada vez mais presente.
Praticidade e Planejamento
Betânia Rocha
Juíza, 37 – Casa Forte
Moradora do Recife e juíza em Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata pernambucana, Betânia Rocha não enxerga sua rotina sem o próprio carro. Mas, segundo ela, a distância não é o único empecilho para que seu deslocamento seja exclusivamente feito com o auxílio de quatro rodas. “A pessoa anda quando o sistema público de transportes funciona. Em outros lugares para onde viajo, não tenho problemas para caminhar. Aqui? É impossível”, justifica.
Se a dependência do veículo se apresenta quase como uma única alternativa para cobrir a ida e volta do trabalho, nas ruas do Recife, e mesmo ao redor da sua residência, a realidade se repete. E quando se somam questões de falta de segurança e de tempo, discurso comum entre a ‘geração motorizada’ da capital pernambucana, o resultado é um estilo de vida que mantém habitantes mais longe das ruas, o maior tempo possível. Uma vez dentro do carro, procura-se realizar todos os afazeres do cotidiano de uma só vez, especialmente no retorno para casa. “Faço todo um planejamento, elencando o que tenho que fazer ao sair do trabalho e cumpro o roteiro para não precisar ir a pé para lugar algum”, conta.
Infraestrutura
Cassandra Farias
Advogada, 58 – Boa Viagem
Para a advogada Cassandra Farias, a culpa da grande dependência dos recifenses por automóveis é da própria cidade. Sem uma estrutura que permita um caminhar confortável, muita gente acaba deixando de aproveitar o que o município tem a oferecer. “As calçadas estão em péssimo estado. Muitas são íngrimes e são marcadas por diversos buracos. Fica impossível alguém caminhar de salto alto sem correr um risco de se ferir”, explica.
Segundo o Instituto Pelópidas Silveira, apenas no Recife há 5.157,55 quilômetros de calçadas. O problema é que com a divisão de responsabilidade pela manutenção delas, entre a prefeitura municipal e proprietários ou condomínios privados, não se tem um levantamento eficiente de quanto deste total está em bom estado de uso.
Se as calçadas, enquanto recursos públicos disponíveis, não se fazem atraentes, seu complemento é ainda mais mal visto pelos moradores, o que reforça a massiva preferência pelos automóveis. “Os transportes públicos não estão adequados para a demanda e não dá para andar a pé”, defende Cassandra. Com um índice de ocupação média de 76,9 passageiros por viagem, os ônibus não se mostram uma opção viável.
Insegurança
Tereza Cristina de Andrade
Arquiteta, 64 – Graças
Bastou estacionar o carro um pouco mais distante da casa de uma amiga, em Boa Viagem, para que a arquiteta Tereza Cristina Cunha de Andrade, 64, fosse abordada por um ladrão na rua, enquanto caminhava do automóvel à recepção do edifício. “O porteiro foi quem viu a movimentação e veio me ajudar. O rapaz levaria minha bolsa. Desde então, não vou comprar um pão na esquina que não seja de carro”, conta.
A sensação de insegurança enfrentada pela moradora do bairro das Graças reflete uma cultura coletiva que atribui ao interior de seus próprios veículos, uma alternativa de fuga da violência urbana no Recife. De vidros fechados, marcados pelas películas de proteção (que, no final das contas, pouco a oferecem), os motoristas se previnem como podem. “Para falar a verdade, se eu for a um estabelecimento que não tenha estacionamento bem na frente, prefiro comprar em um outro lugar”, afirma.
A infraestrutura urbana também acaba reforçando a sensação de vulnerabilidade. No bairro em que vive, Tereza Cristina também identifica uma grande deficiência em termos de iluminação pública. Se durante o dia já há receio de circular pelas ruas caminhando, à noite, andar nas vias não é opção. “É horrível você sair de casa se preocupando na melhor forma de esconder o celular”, conclui.
De acordo com pesquisa sobre poluição veicular atmosférica divulgada no mês passado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), nos últimos 15 anos, enquanto a frota de automóveis cresceu 7% ao ano e a de motocicletas 15%, o transporte público perdeu, em geral, cerca de 30% da sua demanda no período.
Dados como este, revelam a necessidade de infraestrutura em transporte alternativo para que a população possa utilizar meios de locomoção mais sustentáveis.
No último dia 22 de setembro, houve a comemoração do Dia Mundial sem Carro, data instituída na França na década de 1990, com o objetivo de conscientizar motoristas sobre os danos da emissão de gases do efeito estufa e ressaltar a importância do uso sustentável dos meios de transporte, como por exemplo, a bicicleta.
De acordo com Humberto Guerra, um dos coordenadores do grupo de ciclistas Mountain Bike BH, de Belo Horizonte, a cada ano, o Dia Mundial sem Carro está mais impactante e consegue mobilizar discussões sobre o assunto, mas “a adesão de pessoas que deixam de sair de carro e procuram alternativas de transporte ainda é baixa. Poucas pessoas se dispõem e se sensibilizam com a data”. Para o coordenador, uma das dificuldades que o brasileiro encontra para deixar o carro em casa é a necessidade de um transporte público eficiente com vias exclusivas.
Desde 2006, Guerra é um dos responsáveis por organizar, anualmente, o Desafio Intermodal em Belo Horizonte. O intuito desta competição é comparar as várias possibilidades de deslocamento, estabelecendo um mesmo ponto de partida e um mesmo ponto de chegada. Várias pessoas realizam este desafio e se locomovem com um meio de transporte diferente (ônibus, metrô, carro, a pé…). A ideia é comparar não só o tempo que cada um gasta, mas também o número de calorias perdidas, o risco de acidente que a pessoa correu, qual o nível da emissão de poluentes que ela foi responsável, o custo do deslocamento, etc. Segundo ele, “ é possível perceber que a cada ano, o carro e o ônibus, por estarem sujeitos aos engarrafamentos, pioram seu desempenho”.
Este ano, a campeã do desafio foi à bicicleta elétrica, que percorreu um trajeto de cerca de nove quilômetros em pouco menos de 20 minutos. O carro levou 54 minutos para fazer o mesmo caminho. Contabilizando todos os critérios de avaliação considerados, o desempenho das bikes foi melhor.
Para Marcelo Araújo, advogado especialista em Direito de Trânsito e também ciclista, as pessoas sofrem uma série de desestímulos para não andar de bike. O grande problema para a sociedade absorver a utilização das bicicletas não está somente na necessidade de ciclovias. ”A dificuldade que as pessoas encontram é chegar ao seu destino e não ter onde colocar sua bicicleta com segurança. Há a necessidade de preparo seja dos prédios públicos, estacionamentos, shopping centers e outros para receber estas bicicletas”.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra Domiciliar (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estaística (IBGE) em 2009, apenas metade dos domicílios brasileiros possui carro ou motocicleta, ou seja, ainda há espaço para o crescimento de automóveis no país.
De 2011 até 2015, a estimativa de investimentos pelos fabricantes de automóveis é de 19 bilhões de dólares, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Dia mundial sem carro. A ideia é essa. A realidade ainda está longe disso. Abrir mão do conforto do carro e encarar o transporte público, ou talvez descolar uma carona, ou quem sabe pedalar de casa para o trabalho ou, em situação mais remota, caminhar, ainda é um desafio para poucos. Mas serve no mínimo para uma reflexão.
E os números mostram o tamanho dos contrastes. Um ônibus comum transporta uma média de 80 pessoas. Um carro comum, no máximo cinco pessoas. Temos uma frota de três mil ônibus e mais de um milhão de veículos na Região Metropolitana. O resultado é um trânsito que trava dia a dia.
Os engarragamentos são apenas uma parte do problema. Outro viés é a poluição ambiental. E nessa conta, os que transportam menos poluem mais. Um exemplo disso é a moto que, transporta duas pessoas e polui 32,3 mais vezes do que ônibus. Já o carro 17 vezes mais que o ônibus.
“Em relação a ocupação das vias, a moto, por incrível que pareça necessita quatro vezes mais de espaço do que o ônibus e o carro de 6,4 vezes mais de espaço em relação ao ônibus”, afirmou o engenheiro e professor das universidades Federal de Católica de Pernambuco, Maurício Pina.
Para quem está disposto a usar a bicicleta como meio de locomoção, tem a certeza de que as ciclovias existentes no município não são suficientes para interligar os quatro cantos da cidade. O Recife dispõe atualmente de 13,2 quilômetros de ciclovias em trechos distintos: Centro, Orla e a ciclovia Tiradentes, na Zona Oeste.
No Recife, o casal de cirurgiões-dentistas Maria Carolina Moura e Renan Almeida, vem tentando fazer a parte deles. Renan, que trabalha em dois locais diferentes, costuma deixar o carro na garagem e ir de bicicleta ou até mesmo caminhando. “Um deles, que fica mais próximo da minha casa, tento utilizar a bicicleta para fazer pequenos deslocamentos, já que é uma maneira de fazer exercícios e fugir também dos congestionamentos que são bastante estressantes”, ele conta e lamenta a falta de meios de transportes públicos de qualidade. “Se os meios locomoção fossem confortáveis, as pessoas deixariam mais seus carros na garagem”, acredita Almeida.
Criado na França em 1998, o Dia Mundial Sem Carro, ganhou força no Brasil em 2001. Desde então, 110 cidades do país já fazem alguma movimentação na data. Em Pernambuco, a cidade de Olinda será 111ª a fazer a mobilização com o intuito de trazer uma reflexão sobre os problemas causados pelo uso massivo de automóveis como forma de deslocamento, sobretudo nos grandes centros urbanos.
De acordo com o secretário executivo de transporte e trânsito de Olinda, Adriano Max, existem 110 mil automóveis cadastrados na cidade Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. “Para se ter uma noção, nós temos 380 mil habitantes. Se cada pessoa resolvesse dar um carona a três, não seria necessário o transporte público”, diz o secretário. Em Olinda, a avenida Ministro Marcos Freyre, beira mar da cidade, será o palco da mobilização social. “Vamos isolar três quarteirões, das 5h ao meio-dia, com o intuito de chamar a atenção da população”, fala Max.