Calçadas com ou sem camelôs ?

 

Policiamento para impedir camelôs na Avenida Conde da Boa Vista Foto Júlio Jacobina DP/D.A.Press
Policiamento para impedir camelôs na Avenida Conde da Boa Vista Foto Júlio Jacobina DP/D.A.Press

Em se tratando do Recife, a pergunta pode até parecer descabida, afinal somos a terra dos mascates. Mas o fato é que a ocupação dos espaços públicos há muito tempo já ultrapassou a barreira do razoável. Em alguns pontos da cidade, o pedestre precisa pedir licença para passar em um espaço que é essencialmente seu. Tratar do comércio informal na cidade é uma tarefa, no mínimo, inglória para o Controle Urbano. Mas pior do que ter o trabalho e o desgaste na remoção é permitir a fixação.

Em 2008, quando a Avenida Conde da Boa Vista foi “requalificada” a um custo de R$ 14 milhões com a instalação do corredor central de ônibus, as calçadas foram todas refeitas com tijolos intertravados para facilitar a acessibilidade. Na ocasião, todos os ambulantes foram retirados da avenida e relocados para vias transversais. Não precisou de muito tempo para que os camelôs voltassem a ocupar o corredor, cuja artéria é o principal acesso ao Centro da cidade. A Conde da Boa Vista foi novamente tomada e as transversais continuaram ocupadas.

A cada ano, o número de ambulantes na cidade só aumenta. Além do problema social é inegável a facilidade que eles encontram para se apropriar de um pedaço da calçada que passa a ser seu. A retirada do comércio informal das calçadas é um alívio para o pedestre. A área do passeio parece maior e mais limpa. A falta de espaço, além do incômodo é também mais inseguro.

O desafio do poder público, agora, é dar melhores condições para o setor informal. O projeto dos shoppings populares é uma alternativa, principalmente por estarem projetados em áreas próximas ao corredor central. A expectativa, no entanto, era que a ação ocorresse após a entrega dos centros de compra, mas o município decidiu se antecipar e uma das razões é que o número de ambulantes já ultrapassou os que foram cadastrados em 2013. E para quem chegou depois, o recado é que não há nada para eles. É preciso ir atrás de outra freguesia. Talvez a própria Conde da Boa Vista depois que a poeira baixar.

Ônibus convencionais sairão da Conde da Boa Vista para dar lugar ao BRT

Avenida Conde da Boa Vista Foto - Ricardo Fernandes DP/D.A.Press

Por

Tânia Passos

A Avenida Conde da Boa Vista, principal artéria de acesso ao Centro do Recife, terá seu formato modificado, com um novo conceito de uso. Sairão os ônibus convencionais para dar lugar ao sistema BRT (Bus Rapid Transit ou Transporte Rápido por Ônibus) do corredor Leste/Oeste. As mudanças, que incluem intervenções urbanísticas para trazer de volta a importância da via, ocorrerão cinco anos depois que a avenida passou por uma reforma que custou R$ 14 milhões, com a proposta de fazer parte do Leste/Oeste. A modificação é voltada a adequar a via ao modelo do corredor projetado pelo governo do estado, que vai até o Derby e deve ficar pronto em março de 2014.

Atualmente, 54 linhas circulam pela avenida. com um total de 537 ônibus. Com a implantação do BRT, serão 16 linhas e 160 ônibus. As outras 38 linhas e seus 377 ônibus terão que ser deslocados para vias paralelas à avenida. De acordo com o secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, ruas como Mário Melo, Palmares, Visconde de Suassuna, Príncipe, Manoel Borba e Barão de São Borja passarão por adequações para receber os ônibus convencionais que precisam chegar ao Centro.

O plano da prefeitura só deverá ficar pronto até o fim do ano, mas segundo o secretário de Mobilidade e Controle Urbano, João Braga, isso não atrapalhará as obras das estações do BRT na Avenida Conde da Boa Vista. Ainda de acordo com Braga, as ruas transversais também serão modificadas. “A proposta é devolver o glamour da avenida, com a reurbanização dela e das vias do entorno. Em alguns trechos haverá necessidade de desapropriação para facilitar a circulação dos ônibus”.

Estação do BRT Avenida Conde da Boa Vista - Secretaria de Mobilidade do Recife/Divulgação
A proposta de um novo conceito para a Conde da Boa Vista já foi apresentada ao Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano, responsável pela gerência do transporte público. Segundo o presidente do Grande Recife, Nélson Menezes, o conceito do município de privilegiar o BRT é interessante. “Por enquanto é um conceito. Somente com os estudos teremos condições de saber o tratamento para as demais linhas”, ressaltou.

Segundo Nélson, como o projeto do município só será entregue no fim do ano, as paradas de ônibus atuais vão passar por uma adequação provisória. “A ideia é fechar algumas paradas para instalar catracas para o pagamento antecipado com os ônibus com portas também do lado direito. As estações definitivas só serão feitas com a conclusão do projeto do município”.

Para o especialista em mobilidade César Cavalcanti a priorização da avenida para o BRT é importante. “A Conde da Boa Vista não tem mais como exercer o seu papel de eixo de transporte e ao mesmo tempo proporcionar as condições de bem-estar para o comércio e quem frequenta a via”, afirmou. Outro especialista que preferiu não se identificar diz que será complicado adequar as demais linhas para as vias paralelas, principalmente para quem tem como destino a Conde da Boa Vista.

Saiba Mais

A trajetória da Conde da Boa Vista

Em 1840, o governador Francisco do Rego Barros, o conde da
Boa Vista, executou o aterramento do que chamou Caminho Novo, que ligaria o Centro do Recife ao então bairro de Camaragibe

Em 1870, com a morte de Rego Barros, o nome da via foi alterado para Rua Conde da Boa Vista, em homenagem ao ex-governador

Com seu alargamento em 1956, na administração de Pelópidas da Silveira, a rua passou à categoria de avenida, chamando-se, então, Avenida Conde da Boa Vista
Entre 2007 e 2008, a avenida sofreu modificações no seu corredor viário, passando a fazer parte do chamado Corredor Leste-Oeste, um corredor exclusivo de ônibus, juntamente com a Avenida Caxangá e a Rua Benfica

A Conde da Boa Vista passou por ampla e polêmica reforma, sendo reinaugurada em abril de 2008, na gestão do ex-prefeito João Paulo (PT). Com o propósito de priorizar
o transporte coletivo, ganhou paradas de ônibus no meio da via e tirou espaço de carros
de passeio

A atual proposta da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano
é deixar a avenida exclusivamente para o BRT do corredor Leste/Oeste nas duas faixas destinadas aos ônibus. As demais linhas seguirão por vias paralelas. Os carros vão permanecer com uma faixa por sentido

Perfil da Avenida
Conde da Boa Vista

Hoje

54 linhas de ônibus circulam pela via

537 ônibus passam pela avenida

6 paradas

Com BRT

16 linhas

160 ônibus

3 paradas

2008 – o início do corredor Leste/Oeste

6 paradas centralizadas

R$ 14 milhões foi o custo da implantação do atual traçado

Antes da mudança em 2008

9,7 mil veículos

400 mil pessoas

Fonte: Grande Recife e Prefeitura do Recife

O “calo” do Leste/Oeste

 

Por

Tânia Passos

A concepção do corredor Leste/Oeste foi iniciada com a requalificação da Avenida Conde da Boa Vista em 2008. Tudo começou por ela. Mas a via, que já se chamou Rua Formosa um dia, ficou de fora do projeto do governo do estado, quatro anos depois, na hora de finalmente receber o modelo do corredor Leste/Oeste, nos moldes do BRT (Bus Rapid Transit), ou Transporte Rápido por Ônibus, modal escolhido para o corredor. As obras também mudaram de sentido vindo do Oeste para o Leste, mas não chegarão à Conde da Boa Vista, nessa etapa. O projeto só foi licitado até a Praça do Derby.

 

A ironia é que a Boa Vista, que foi construída em 1899, significou o novo caminho para ligar justamente o Derby ao Centro da cidade. Essa ligação, claro, não pode ser rompida. São 169 ônibus e 110 mil passageiros que passam por dia pelo bairro em direção ao Centro. A Conde da Boa Vista efetivamente faz parte do Leste/Oeste, mesmo não tendo sido contemplada, ainda. A expectativa é que um outro projeto ainda não licitado atenda o restante do corredor nos próximos dois anos.

 

O projeto licitado até agora do Leste/Oeste terá 12,5 quilômetros. A Boa Vista tem 1,6 km. Ou seja, menos de 2km separam um modelo de transporte que promete ser referência de um “arranjo” para permitir a entrada do BRT numa via não preparada para o modelo. Já sabendo da limitação, a primeira hipótese levantada pela Secretaria das Cidades foi a de fazer uma integração temporal no Derby. Ou seja, os futuros ônibus do BRT chegariam até esse ponto para retornar.  O passageiros que quisessem seguir em frente até o Centro poderiam usar um bilhete temporal e mudar de condução, sem precisar pagar outra passagem. Isso tudo faltando 1,6km para concluir o percurso.

 

Fazer uma integração temporal com um volume de cerca de 100 mil passageiros é, no mínimo, arriscada e pode pôr em “xeque” o principal trunfo do BRT: a rapidez do sistema. O Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano já pensa no plano B. De acordo com o diretor de planejamento, André Melibeu a integração temporal no Derby não é uma solução possível devido ao grande volume de passageiros. “A operação tem que continuar até o Centro. Não é possível fazer um transbordo no Derby com o volume diário de passageiros”, revelou.

 

Uma ideia que já chegou a ser cogitada foi a construção de algumas estações no modelo BRT na Conde da Boa Vista e em alguns pontos do Centro, que atenderiam, inclusive, o corredor Norte/Sul. Outra opção será adaptar os ônibus no BRT com uma porta do lado direito para o desembarque dos passageiros nas paradas já existentes da Conde da Boa Vista.

 

113 anos desde o Conde

 

 

A antiga Rua Formosa só recebeu o atual nome em 1870. Herdou o título do ex-presidente da Província Francisco do Rego Barros, falecido naquele ano. Ainda em construção a via passou por pelo menos três etapas. O primeiro trecho foi entre as ruas da Aurora e do Hospício. Depois mais um trecho até a Rua Gervásio Pires e por último até o Derby. Este último, também conhecido como caminho novo.

Do caminho novo ao corredor Leste/Oeste já se passaram 113 anos. O transporte e o número de passageiros não são comparáveis, mas a importância da via como corredor é indiscutível até hoje. “O importante é não tirar sua característica de via prioritária ao transporte público”, destaca o coordenador da Associação Nacional do Transporte Público (ANTP), César Cavalcanti.

Um total de 18 linhas passa pelo trecho do Leste/Oeste distribuídas em 169 ônibus. Com a implantação do sistema BRT, a estimativa é de reduzir a frota para 71 ônibus e apenas cinco linhas. “O número de pessoas transportadas deve ser equivalente ao que é hoje de 110 mil pessoas. Mas haverá uma redução significativa de ônibus em direção ao Centro”, revelou André Melibeu, diretor de planejamento do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano.

Para o engenheiro e ex-presidente da antiga EMTU, atual Grande Recife de Consórcio Metropolitano, Oswaldo Lima Neto, o centro da cidade é ainda muito atraente. “A Conde da Boa Vista não pode ficar de fora do corredor pois representa um grande polo de viagens. Cito apenas dois exemplos: o Shopping Boa Vista e o Atacadão dos Presentes, que são estabelecimentos que atraem usuários do transporte público”.  O Centro, destaca,  será beneficiado com a implantação dos corredores. “Tanto o corredor Norte/Sul quanto o Leste/Oeste irão proporcionar mais mobilidade a Boa Vista”.