Carrões: grandes e espaçosos

 

 

Por

Tânia Passos

A frota de carros do Recife já beira os 600 mil veículos. Na estatística do Detran não é possível identificar o modelo dos carros, mas seria um dado relevante, do ponto de vista de ocupação das vias, quantos “grandões” circulam hoje nas vias da cidade.

Quem já parou para observar que é cada vez mais frequente a presença de carros de grande porte, dos mais variados modelos, no trânsito da cidade? Imponentes, eles não só ocupam mais espaços como são potenciais poluidores.

Recentemente, o urbanista e presidente do Instituto da Cidade Pelópidas Silveira, Milton Botler, brincava que os carros grandes deveriam pagar Imposto Predial e Território Urbano (IPTU) devido o espaço que eles ocupam. Pode até ser uma piada, mas Botler está na verdade chamando atenção para um problema que pouca gente tem observado de uma frota crescente de veículos cada vez maiores.

Na Europa, já há uma preocupação em oferecer carros cada vez menores. Além do já conhecido Smart para dois lugares, eles já estudam a fabricação de um carro de um lugar só. É claro que isso não resolve a questão da mobilidade. Carros menores dão mais espaço para mais carros e os maiores engolem as áreas que deveriam ser comuns.

Em ambos os casos, a solução volta a esbarrar na melhoria do transporte público. Nem grandes, nem pequenos. Ou talvez, eles devam ser aproveitados para outros fins, de preferência bem longe dos centros urbanos. O fato é que não existe legislação sobre isso e os grandões vieram para ficar e não precisam pagar nada a mais por isso.

Fonte: Diario de Pernambuco

Comportamentos no trânsito

 

Pesquisa realizada nos EUA mostrou que motoristas de carros maiores e/ou de luxo tendem a cometer mais infrações de trânsito, notadamente cortar à frente dos demais veículos ou não deixar pedestres atravessarem (Folha de São Paulo, 29/2/2012, p.C-7, ou edição eletrônica da revista PNAS).

Em cidades brasileiras, defronte de colégios e cursos de línguas, motoristas estacionam impunemente em qualquer lugar, ou param em fila dupla ao deixar ou apanhar seus filhos, contribuindo para a imobilidade urbana. A justificativa é: “todo mundo faz”. Os pesquisadores da Univ. da Califórnia, Berkeley apontam como provável gerador dos comportamentos antiéticos testados (e não somente no trânsito), a ganância para levar vantagem pecuniária ou de outro teor – versão americana da brasileira Lei de Gérson.

Ao volante, essa lei implica avançar um metro aqui, três minutos ali, mesmo ao custo de imprudências e atrevimentos de alto risco. Mas, não dá para concluir que rico, no trânsito, é mais afoito e prepotente. Tenho sido vitima da truculência de motoristas de veículos “humildes” cortando meu carro pela esquerda, ou não me dando passagem, quando estou pedestre.

Tal qual os condutores dos carros de luxo testados na Califórnia. Na minha cidade, ricos e pobres pintam e bordam no trânsito. Não vejo diferença entre a arrogância do que se acha dono do mundo num potente quatro-rodas e o que se crê super-homem numa motocicleta de “delivery” de encomendas. Motoqueiros e ciclistas que, em sua maioria, não são classe alta, são os que mais “aprontam”, atentando contra a própria vida e a dos outros.

Um hábito vigente e perigosíssimo é interpretar o sinal amarelo nos cruzamentos como “acelere e passe”. O significado do amarelo no Código Nacional de Trânsito é “diminua a velocidade e pare”. Disse-me uma especialista em tráfego que o sinal amarelo é para dar tempo ao motorista que já estiver atravessando o cruzamento, de completar a travessia.

Quem vem atrás dele, tem de parar, pois o amarelo sempre precede o vermelho. Na ânsia de levar uma vantagem de três segundos, ao acelerar vendo o amarelo, vários motoristas acabam cortando o sinal vermelho. Enfim, nem ricos nem pobres são flor que se cheire como condutores de veículos. Entre os reprovados em comportamento no trânsito estão os pés de chinelo e os exibidores de grifes. Falta gentileza e civilidade – comportamentos a aprender desde pequenininho, independentemente de nível socioeconômico.

 

Fonte:

Artigo – Tereza Halliday  (Da página de Opinião do Diario de Pernambuco)