VEM Livre Acesso vai substituir carteira de gratuidade nos ônibus da RMR

 

vem livre acesso Foto - Tania Passos DP/D.A.Press

Os usuários do Sistema de Transporte Público de Passageiros (STPP) da Região Metropolitana do Recife que têm direito a gratuidade pela carteira de Livre Acesso terão que fazer a troca do documento pelo VEM Livre Acesso. A medida deverá beneficiar cerca de 93 mil usuários. A ação que faz parte da Semana Nacional da Pessoa com Deficiência está sendo realizada pela Superintendência Especial de Apoio à Pessoa com Deficiência (Sead), o Grande Recife Consórcio de Transportes Metropolitano e o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Pernambuco (Urbana-PE).

A troca da antiga carteira pelo cartão do VEM deve ocorrer até o dia 31 de dezembro de 2013. A partir de janeiro de 2014, o acesso gratuito ao sistema de transporte só poderá ser feito com o VEM. Para evitar filas e garantir mais conforto aos usuários, a troca só será feita com um agendamento que pode ser pelo site www.vemlivreacesso.com.br ou pelo telefone 3125-7585. O atendimento será das 7h às 19h.

A mudança deverá coibir com as fraudes. “A carteira usada hoje pode ser facilmente falsificada. Com o modelo do VEM, nós acreditamos que o sistema ficará mais seguro e dará mais conforto a quem de fato necessita da gratuidade”, revelou o presidente do Grande Recife, Nélson Menezes.

Os cartões eletrônicos terão um layout diferente dos demais para facilitar a identificação e fiscalização. O VEM do beneficiário será azul e para as pessoas com deficiência que tiverem direito a acompanhante a cor será amarela. “Será um único cartão que passara duas vezes no validor”, explicou o superintendente de bilhetagem eletrônica do Urbana-PE, Pedro Luiz Ferreira.

Para quem ainda não dispõe da gratuidade a porta de entrada no sistema será pelos Centros de Referência de Assitência Social (CREAS) dos 14 municípios da Região Metropolitana. “Os assistentes sociais recebem o pedido, que deve ser acompanhado da documentação pessoal como CPF, RG e comprovante de residência, além de um laudo médico indicando o tipo de deficiência e se a pessoa precisa ou não de acompanhante. Nós analisamos o pedido e se for aceito, ele é encaminhado ao Grande Recife para a confecção do cartão do VEM”, explicou Rose Maria, superintendente de Apoio à Pessoa com Deficiência.

Mobilidade ainda precária para pessoas com deficiência

Segundo dados de 2010 da Secretaria de Saúde de Pernambuco, cerca de 10,1% da população pernambucana têm algum tipo de deficiência física. Desse número, quase metade se queixa de dificuldades ao acesso físico a edifícios, em geral, e de inclusão no mercado de trabalho, e na vida social. Um problema antigo que entra em alerta máximo nesses tempos de eleição. O que os candidatos estão fazendo para melhorar a acessibildade de pessoas com deficiência? Um importante alerta para o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência, lembrado nesta sexta-feira (21).

As empresas Estaf Equipamentos e Usina Petribu junto com o Sesi/PE,oferecem palestras de orientação sobre a Lei de Cotas e também sobre a sensibilização dos funcionários e adaptação da estrutura física da empresa para receberem esses novos colaboradores. “Nossa palestra é interativa, onde simulamos as deficiências entre os participantes e compartilhamos as dificuldades encontradas no dia a dia por essas pessoas. Dessa forma, encontramos a melhor forma de acolhê-los”, completa Cinthya Carvalho. A palestra pode ser contratada por qualquer tipo de empresa. O Sesi atua também há mais de 60 anos com exigências e normas da Segurança e Saúde no Trabalho e prevenção de acidentes no ambiente corporativo.

Lei das Cotas –  A Lei das Cotas (Lei 8.213/1991), que completou 20 anos em 2011, estabelece o número de profissionais portadores de deficiência ou em reabilitação no quadro das empresas, de acordo com o número de funcionários da empresa. A cota foi fixada em 2% para quem tem entre 100 e 200 funcionários, 3% para 201 a 500 funcionários, 4% para aqueles que possuem entre 501 e 1000 e 5% para as empresas cujo quadro supera os mil empregados.

Fonte: Sesi/PE

Uma campanha pela melhoria da acessibilidade

O acesso ao transporte coletivo é uma das reivindicações mais presentes no mundo de hoje. Além das tarifas caras e serviços de pouca qualidade, convivemos com a falta de veículos adaptados e profissionais preparados para o transporte de pessoas com diferenças significativas.

Esse vídeo mostra uma campanha da TV Vermelho que produziu dois vídeos para a campanha “Por um transporte acessível para todos”. Os vídeos também concorrem ao 11º Prêmio de Educação no Trânsito do Denatran.

Acessibilidade não acessível: Ensaio sobre a cegueira nas ruas do Recife

Segunda matéria sobre a série acessibilidade não acessível. Aqui o deficiente visual Júlio Tabosa mostra as dificuldades de circulação em um trecho “tecnicamente” acessível. Matéria publicada no dia 03 de agosto de 2009.

 

 

Tânia Passos

taniapassos.pe@dabr.com.br

Um teste simples de equilíbrio. Ficar de pé com uma perna só e abrir os braços. Tente fazer o mesmo de olhos fechados e irá perceber o grau maior de dificuldade, mesmo sem sair do lugar. Imagine então andar pelas ruas da cidade sem ter a mínima ideia de onde está pisando e o que vai encontrar pela frente.

Segundo o censo do IBGE de 2000, em Pernambuco eram mais de 900 mil deficientes visuais, dos quais cerca de 9.340 eram cegos e 146 mil tinham uma grande dificuldade permanente de enxergar. Estes dois últimos grupos estão à mercê das inúmeras barreiras que dificultam a acessibilidade.

Sejam buracos, orelhões, árvores e as temíveis bocas de lobo. Reduzir o abismo que separa a acessibilidade plena da realidade das ruas é um dos desafios dos gestores públicos e de todos nós.

Foi aos 19 anos que Júlio Tabosa, hoje com 52, perdeu a visão. Ele chegou a passar cinco anos trancado dentro de casa com medo do mundo. Mas decidiu ir à luta. Fez um curso de locomoção na Associação Pernambucana dos Cegos (APEC).

Hoje preside a Associação Beneficente dos Cegos de Pernambuco, uma casa de apoio aos cegos do interior do estado, na Estrada dos Remédios, no bairro de Afogados.

Para se deslocar na área urbana, utiliza o transporte público. Sem nenhum tipo de ajuda, Júlio concordou em fazer uma espécie de “ensaio sobre a cegueira” pelas ruas do Recife. E assim como no romance do escritor português José Saramago, ele sabe que é preciso confiar no outro

“Por mais que o cego aprenda a caminhar sozinho pelas calçadas, precisa confiar nas pessoas. Seja para pegar o ônibus certo ou atravessar o semáforo. Sempre aparece alguém para ajudar, mas há também os que dão informação errada. Se possível, é melhor confirmar com mais de uma pessoa e confiar”, ressaltou.

O ensaio pelas ruas teve início no Corredor Leste-Oeste, uma das mais recentes e importantes obras do município no sistema viário da cidade contemplada com acessibilidade.

O mesmo local onde o cadeirante Edvaldo Gonçalves, da primeira matéria da série, já havia apontado dificuldades nas rampas do entorno da Praça do Derby e na falta de continuidade dos acessos. Júlio iniciou sua caminhada no mesmo ponto da praça.

E assim como ensina o manual de locomoção para cegos, procurou a linha do canto esquerdo da calçada e seguiu em frente com a segurança de quem parece enxergar tudo.

Poucos metros à frente, o primeiro obstáculo. Um banco de concreto em um espaço que deveria estar livre. Mesmo com a bengala, quase tropeçou. Um susto para quem observa e só mais uma barreira para Júlio contornar e seguir em frente. Dessa vez, um pouco mais pela direita, pois já não parecia tão certo de que o caminho à sua esquerda estivesse livre.

Encontrou pela frente um orelhão, sem sinalização no piso. A batida foi inevitável. Mais na frente, ao lado de uma parada de ônibus, mais dois orelhões. Um ao lado do outro. Júlio tentou livrar o primeiro, mas esbarrou.

Ele contornou pelo lado contrário e deu de cara com o segundo. Foram três orelhões e três batidas emuma mesma calçada. Um sofrimento desnecessário se a acessibilidade tivesse sido respeitada. E o mais grave, em um espaço que em tese já recebeu ações e investimentos para esse fim.

As barreiras nas calçadas não são o maior temor dos cegos. O principal inimigo deles são as bocas de lobo, verdadeiros precipícios que surgem do “nada” pelo caminho. Uma lição que Edson José de Amorim Oliveira, 18 anos, já aprendeu. “Certa vez eu caminhava pela Avenida Guararapes com uma colega cega e caí em uma boca de lobo. Ela me ajudou a sair. É difícil encontrar um cego que não tenha sido vítima de uma boca de lobo”, revelou.

A preocupação é tanta que Edson faz um apelo desesperado. “Se não fizessem nada em acessibilidade e tapassem todas as bocas de lobo nós nos sentiríamos mais seguros”, desabafou o jovem, que chega ao extremo de exigir tão pouco quando tem o direito legítimo a tudo.

Remoção – Em nota, a Secretaria de Serviços Públicos da Prefeitura do Recife informou que os orelhões da praça vão receber pisos táteis e que os técnicos da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) vão estudar uma forma de sinalizar os bancos das calçadas.

Especialista em acessibilidade, a arquiteta do Crea Ângela Carneiro tem outra sugestão. “A solução é remover os bancos da calçada. Eles podem ficar no interior da praça, mas não na calçada que deve estar livre de obstáculos”, explicou.