Por
Milton Corrêa da Costa
O trânsito do Rio caminha para o que já se previa há anos atrás: a saturação dos espaços viários e o caos total. E a recente adoção do BRS (Bus Rapid Service)- um corredor exclusivo de ônibus- no Centro e na Zona Sul da cidade mostrou claramente isso. Tudo desemboca no grande gargalo do Centro. Por mais racional que a implantação do BRS possa ter sido planejada constata-se que há veículos demais em circulação em horário de pico, muitos em péssimo estado de conservação.
Se o BRS encurtou o tempo de viagem para quem viaja de ônibus criou, como efeito colateral sem solução, mais congestionamentos em avenidas e ruas próximas. Quem reside na Zona Oeste do Rio pode levar, por exemplo, mais de duas horas preso em engarrafamento em horário matutino de pico e outras tantas horas no horário vespertino. Quem reside nas Zonas Norte e Leopoldina já não é muito diferente.
Aquisição facilitada de carros, falta de grandes obras viárias, cultura do uso irracional do carro particular, cruel espera da expansão do transporte de massa, horários idênticos para o início e término das diferentes atividades profissionais, além do comércio, constantes veículos com defeito e parados em via pública, acidentes diários nos corredores de trânsito, excesso de ônibus em vias públicas e carga e descarga em horários de rush, traduzem um conjunto de fatores que faz com que, cada vez mais, caia a velocidade média de circulação na cidade do Rio de Janeiro, que se prepara para grandes eventos nos anos de 2013, 2014 e 2016.
O uso ilimitado e irracional do carro particular está, pois, com os seus dias contados no Centro do Rio. Não há mais dúvida. A lei que trata da mobilidade e priorização do transporte público, já está em vigor no país e autoriza a cobrança do pedágio urbano a carros particulares. Mantida a média de emplacamento de novos veículos no município do Rio (100 mil/ano), até os Jogos Olímpicos de 2016 teremos mais 500 mil veículos se arrastando e engarrafando ainda mais ruas e avenidas. Ou seja, o trânsito do Rio vai parar num grande congestionamento daqui há pouco tempo, numa grande fonte de estresse.
Proprietários de veículos, repudiem ou não, batam o pé ou não, só poderão circular ao volante e no conforto dos seus bens móveis (refrigerados), no Centro o Rio e sua periferia, entre 06:00 e 21:00 horas, em dias de semana, desembolsando um alto valor para o pagamento do pedágio urbano, tal e qual algumas cidades do mundo. Ou se acaba e se desestimula a cultura individualista do uso irracional do automóvel ou o pedágio será privilégio de poucos que se disponham a incorporar no orçamento mais um pesado item. Uma medida inevitável ainda que restritiva de direito de uso do solo urbano. Uma medida em prol da coletividade e do meio ambiente, ainda que de repúdio social. Não haverá para onde correr.
O que é pior: o futuro da indústria automobilística, que depende do permanente aquecimento do mercado de venda de carros para manter a produção e consequentemente os empregos e sua própria sobrevivência, sem falar no futuro das concessionárias e revendas de veículos, está em xeque. Assim como os locais autorizados para uso do cigarro estão cada vez mais restritos aos fumantes o uso do automóvel particular, inevitavelmente, estará também limitado no futuro.
A bicicleta, quer queiramos ou não, surge como meio alternativo de transporte para alguns. Haja, portanto, bicicletários, ciclofaixas, ciclovias, preparo físico e paciência para encarar doravante o trânsito do Rio que no futuro, adotado o regime de pedágio no Centro, fluirá melhor e com menos estresse. Que se preparem, pois, todos aqueles que imaginaram dispor, ad eternum, de ruas e avenidas, a seu bel prazer, para deslocarem-se, com conforto, em seus veículos. Os espaços viários são finitos e a era do uso ilimitado do automóvel está com os seus dias contados. Sinal dos novos tempos. Quem sobreviver ao caos urbano verá.
*Milton Corrêa da Costa é coronel da reserva da PM do Rio de Janeiro
Fonte: Portal do Trânsito