Por
Tânia Passos
As coisas boas e bonitas são atraentes. Na mobilidade não é diferente. Ruas e calçadas bem cuidadas e arborizadas tornam a caminhada mais fácil e possível. O cuidado com a qualidade das intervenções para tornar os ambientes atraentes para os deslocamentos não motorizados, em especial, o pedestre, é um detalhe que precisa ser levado muito a sério. E chamo atenção aqui para dois exemplos emblemáticos na cidade do Recife: as calçadas no desenho das pedras portuguesas e as passarelas.
Em relação às calçadas em pedra, uma característica arquitetônica que herdamos dos portugueses, não foram incorporadas aqui com os cuidados necessários para garantir uma boa acessibilidade. Os nossos granitos “portugueses” são inviáveis do ponto de vista da acessibilidade. E há uma razão para isso. Nunca houve o cuidado e o requinte que o passeio exige.
Quem dera, essa herança portuguesa fosse hoje um dos nosso orgulhos não apenas pela beleza, mas pela eficiência. Polir pedra por pedra para nivelar a superfície é um cuidado que há lá fora, mas não aqui. Nos contentamos, até então, com a beleza dos desenhos e deixamos o nosso conforto e segurança em último plano. Ousamos reclamar apenas dos buracos provocados pela ausência de manutenção. Um degrau muito abaixo do que se poderia supor requinte. Afinal para que tanto trabalho e dedicação com um simples pedestre?
Já o uso da passarela é um desafio para os planejadores urbanos. A presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-PE), Vitória Andrade, resumiu bem a razão dessa dificuldade. Segundo ela, o pedestre, na maioria das vezes, prefere se arriscar pela passagem em nível. Além de encurtar distância ele não se sente atraído em fazer a travessia pela passarela.
A arquiteta compara as passarelas de Londres, verdadeiras obras de arte, que são pontos de confluência e não apenas de passagem, com as nossas, muitas vezes inseguras e desconfortáveis. É verdade que ainda estamos muito longe desse nível, mas as nossas pedras que ainda resistem podem e devem ter um melhor tratamento. Mobilidade também é requinte.