Por
Tânia Passos
Coluna de Mobilidade Urbana publicada no Diario de Pernambuco no dia 11.06.12
Alguém já parou para olhar como é difícil atravessar uma rodovia de trânsito intenso? Normalmente quem está dentro do carro não tem esse olhar. E acredito que quem faz as estradas também não se lembra do pedestre.
Na Região Metropolitana do Recife, o crescimento das cidades se confunde com as rodovias, sejam estaduais ou federais. Além de abrigarem o fluxo de passagem da própria rodovia, servem também para compor o tráfego urbano e, dentro deste contexto, estão os pedestres. Mas nenhuma delas foi preparada para ser uma rodovia urbana. E nenhum pedestre foi preparado para entender a dinâmica e os perigos de uma via de tráfego intenso.
A construção de uma ou duas passarelas, em trechos gigantescos, dificilmente será suficiente para educar o pedestre a fazer o caminho mais longo. O ideal era que essas estradas passassem bem longe, mas elas estão cada vez mais perto e junto com elas nenhum estudo de circulação para o pedestre.
Na Zona Oeste do Recife, a BR-232, mesmo com duas passarelas, na área do distrito industrial e outra próxima ao Hospital Pelópidas Silveira, se tornou um tormento para quem deseja passar de um lado para outro. As lombadas eletrônicas limitam a velocidade dos carros e ajudam quem faz a travessia fora da passarela.
O mesmo ocorre com a BR-101, que há muito se tornou uma via urbana. Em Jaboatão dos Guararapes, que inclui a área de contorno da rodovia federal, a travessia de pedestre é quase um bilhete premiado para quem consegue finalizar a viagem. Ninguém respeita ninguém. Motoristas ignoram pedestres e pedestres ignoram os riscos. Não por acaso, é um dos trechos que registram maior índice de atropelamento da BR-101 no estado.
Outro exemplo é o município de Abreu e Lima, que é cortado pela BR-101. É um tal de “Deus nos Acuda”, não se sabe até quando o Departamento Nacional de Infraestrutura e Transporte (Dnit) irá permitir que a rodovia continue passando por dentro da cidade. Difícil para quem dirige, dirá para quem está a pé.
Nas rodovias estaduais não é diferente. Em Paulista, a PE-01 não oferece opção de travessia para o pedestre e quem fica no acostamento esperando o melhor momento de passar, corre o risco de ser atropelado, uma vez que o acostamento é, normalmente, usado como uma terceira faixa. Para quem mora no Cabo de Santo Agostinho, a PE-60, uma das rodovias mais congestionadas do litoral Sul, também não dá vez para o pedestre. Afinal, rodovia foi feita para carro. E o pedestre, quem olha?