O carro pode e deve ser parceiro na integração com o transporte público

 

Carros estacionados de forma improvisada na Estação Integrada Souto Maior DP/D.A.Press
Carros estacionados de forma improvisada na Estação Integrada de Cajueiro Seco – Foto : Blenda Souto Maior DP/D.A.Press

Atrair o carro para a conexão intermodal, mais que uma tendência mundial, é uma necessidade. Com uma frota de mais de 600 mil veículos, a capital pernambucana é a terceira metrópole do país com maior tempo de deslocamento casa/trabalho (só perde para São Paulo e Rio de Janeiro). Para diminuir a circulação de veículos motorizados nas zonas mais adensadas das cidades, uma das alternativas é apostar nos estacionamentos periféricos, onde o carro poderá se integrar ao metrô e aos corredores de ônibus.

Uma ideia que o Recife já experimentou na década de 1980, mas que não foi levada adiante. Em Belo Horizonte, o modelo Park & Ride faz parte da estratégia de planejamento urbano para melhorar a mobilidade no município. No caso do Recife, a Secretaria de Mobilidade estuda a instalação de estacionamentos em pontos estratégicos da cidade, mas ainda sem uma logística de integração do carro com o transporte público.

Os 25 terminais de integração do Sistema Estrutural Integrado (SEI) da Região Metropolitana do Recife não oferecem estacionamento para veículos, mas terão bicicletários. “Quanto maior for a intermodalidade, melhor será a qualidade dos deslocamentos”, ressaltou o engenheiro e coordenador regional da Associação Nacional de Transporte Público (ANTP), César Cavalcanti.

A integração do carro, segundo o especialista, é um nicho ainda pouco explorado. “Muita gente usa o carro apenas para trabalhar. Se houvesse a possibilidade de haver essa integração, as chances de atrair o usuário do carro para o transporte público seriam maiores”.

Na década de 1980, no governo de Gustavo Krause, uma experiência que nasceu a partir de um projeto do extinto Geipot inspirava esse tipo de integração. Um deles funcionou no estacionamento Joana Bezerra. Para evitar a ida do carro ao centro, os motoristas deixavam o carro no estacionamento e seguiam em um ônibus de luxo e gratuito para o centro. Outro ponto funcionou na Agamenon Magalhães perto do Torreão.

Segundo o engenheiro e especialista em mobilidade, Maurício Pina, houve, na época, uma forte reação da classe média. “As pessoas queriam ir de carro para o Centro e o governo acabou cedendo às pressões. Havia também uma insatisfação quanto à qualidade dos estacionamentos”, lembrou Pina.

Fazer a integração do carro com o ônibus não seria problema para a bancária Ester Pires, 47 anos. Ela mora em Olinda e trabalha no Centro do Recife, onde tem dificuldades para encontrar vaga para estacionar. “Além de perder muito tempo no trânsito, o custo do estacionamento aqui é alto. Quando não encontro vaga na rua, a diária do estacionamento é de R$ 20. Se tivesse como deixar o carro no Tacaruna e intergrar com uma linha para o centro seria melhor”.

Para o secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga, os estacionamentos periféricos podem ser estudados. Segundo ele, o projeto dos edifícios-garagem foi suspenso para ser reavaliado. “Essa integração é muito importante. O Recife, de uma certa forma, já teve à frente do seu tempo quando implantou estacionamentos periféricos.Essa iniciativa, hoje, certamente teria tido um olhar mais cuidadoso para funcionar adequadamente”, revelou.

Ainda segundo ele, está sendo feito um levantamento de locais com potencial para esse tipo de investimento. “A ideia dos estacionamentos integrados é uma forma de reduzir os congestionamentos. Vamos precisar de estudos para identificar locais que ofereçam potencial para o investimento”, ponderou.

Soluções usadas em eventos

Criar bolsões de estacionamento aproveitando potenciais existentes para incentivar a integração do carro ao transporte público é uma ideia que, na prática, a cidade já adota em eventos de grande porte, a exemplo do Expresso Folia, no Carnaval, mas isso nunca foi pensado para o dia a dia da cidade.

“A gente pensa em criar bolsões de estacionamento em vários pontos com apoio da iniciativa privada. Há alguns investimentos particulares que vão dispor de estacionamento próprio e poderão servir para esse tipo de integração”, afirmou o secretário de Mobilidade e Controle Urbano do Recife, João Braga.

Para ele, a integração poderá ser feita com ônibus circulares ou com o VLT (Veículo Leve sobre Trilho), um projeto da Prefeitura do Recife que ainda aguarda liberação de recursos do governo federal.

Assim como o Carnaval conta com estacionamentos periféricos para integrar o carro ao transporte público, a Copa do Mundo também vai proporcionar a criação de bolsões para quem quiser deixar o carro e seguir de ônibus ou metrô.

A Secretaria da Copa pretende repetir o modelo inaugurado na Copa das Confederações, onde foram instalados bolsões no Shopping Recife e na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e já fez um levantamento de outros pontos com potencial para servir de estacionamento. Entre eles, o Parque de Exposição do Cordeiro, a Ceasa e o estacionamento da Justiça Federal, na BR-101.

Fonte: Diario de Pernambuco (Tânia Passos)

6 Replies to “O carro pode e deve ser parceiro na integração com o transporte público”

  1. Mobilidade aqui é muita promessa. O SEI se fosse levado a sério deveria onde tivesse ou fosse feito um TI local para bikes, estacionamento em nível ou edifício garagem conforme demanda de usuários que usam carros baseado numa pesquisa séria no entorno, acessibilidade no entorno para pedestres, automóveis e bikes com ciclofaixas ou ciclovia, além de segurança eletrônica pelo menos. Em suma, medidas para incentivar o uso do transporte público quando a necessidade for fazer rotas mais longas.
    No entanto, monitoramento de veículos, flexibilidade para sabermos os itinerários, respeito e fiscalização no embarque e desembarque nos TIs já há falhas. Cobrar cumprimento de horário onde a grande maioria das vias os coletivos não tem preferência é complicado, mas enquanto isso São Paulo a cada mês cria dezenas de km de faixa preferencial ou exclusiva para os coletivos, aqui alguns km levam meses.
    Na matéria é dito que há um projeto para VLT que anteriormente foi dito que será para dois locais, parte da zona sul e da zona norte. Projeto? Por que não foi mostrado o esboço dele, pois até então só foi divulgado possível traçado dele com uma previsão de demanda? O valores seriam estimados visto que projeto mesmo levando em consideração desapropriações, custos dos veículos, intervenções nas vias, não foram detalhados, logo poderia implicar na prática o valor superar aquele estimado em função de mudanças no projeto inicial.

    • Raimundo,

      concordo contigo. A gente está tendo a oportunidade de reverter décadas de ausência em investimentos no transporte público e as coisas estão sendo feitas, agora, em razão da Copa do Mundo, ainda pela metade ou menos que isso.Belo Horizonte que tem uma situação muito parecida com a de Recife está tendo uma disposição política de avançar muito mais. Lá eles já têm um plano de expansão do BRT com cronograma, refizeram todo o pavimento por onde vai passar o ônibus do BRT. Aqui teremos alguns trechos refeitos e a maior parte não e com relação aos estacionamentos periféricos, eles já se dispõem a implantar. O pior é que a gente não tem mais espaço para improvisar. É preciso levar a sério as ações e projetos. A situação já é insustentável do ponto de vista da mobilidade. Sem mencionar o problema das calçadas, que é outro viés importantíssimo.

      • Já está insustentavel mesmo Tânia. e pior, o povo tem orgulho de,mesmo sofrendo com o trânsito de Recife, exibir que”tem o seu carro”! debocha e muito dos ônibus(uma parte com razão). pois se chiou uma cultura de que,nos”paises desenvolvidos”,o povo anda de carro.com uma imprensa que deseduca e desinforma,até eu penso desse jeito. quem mandou o povo de Recife eleger um candidato do páes mendonça(JCPM)? BEM FEITO!

  2. Fazer a integração do carro com o ônibus não seria problema para a bancária Ester Pires, 47 anos. Ela mora em Olinda e trabalha no Centro do Recife, onde tem dificuldades para encontrar vaga para estacionar. “Além de perder muito tempo no trânsito, o custo do estacionamento aqui é alto. Quando não encontro vaga na rua, a diária do estacionamento é de R$ 20. Se tivesse como deixar o carro no Tacaruna e intergrar com uma linha para o centro seria melhor”.
    PEDRORECDOSKYSCRAPERCITYÉFAKE

  3. nOSSO MAIOR PROBLEMA É QUE FAZEM OS TIs SEMPRE COM A REALIDADE ATUAL. TEMOS COMO EXEMPLO OS DE AFOGADOS QUE FOI FEITO PARA ABRIGAR APENAS UMA LINHA COM 16 ONIBUS E HOJE TEM DUAS SOMANDO MAIS DE 60 VEICULOS. O DE PAULISTA, PELOPIDAS SILVEIRA, MAIOR DO ESTADO, COM MENOS DE 4 ANOS NÃO SUPORTA MAIS A DEMANDA. O DA MACAXEIRA É UM ABSURDO DESUMANO SE PEGAR UM ONIBUS, NEM AS GESTANTES E IDOSOS SÃO RESPEITADOS. SERÁ QUE VC DEIXARIA SEU CARRO EM UMA INTEGRAÇÃO COMO ESTAS PARA PEGAR UM ONIBUS DESSES? COM CERTEZA SÓ O FARIA UMA VEZ, QUANDO CONHECESSE A REALIDADE, JAMAIS O FARIA DE NOVO.