Qual o futuro da primeira e única perimetral do Recife?

 

Avenida Agamenon Magalhães, primeira perimetral do Recife - Foto - Ricardo Fernandes DP/D.A.Press
Avenida Agamenon Magalhães, primeira perimetral do Recife – Foto – Ricardo Fernandes DP/D.A.Press

A Avenida Agamenon Magalhães talvez tenha sido a via urbana do Recife que mais recebeu projetos para redesenhar o seu sistema viário. O mais polêmico foi o dos quatro viadutos previstos para facilitar a passagem em nível do BRT em 2012. Antes disso, já haviam sido cogitados sete viadutos na década de 1970 e ainda o projeto do urbanista Jaime Lerner, que desenhou um elevado passando do cima do canal para separar o transporte público do trânsito comum. E quando nenhum desses emplacou, houve ainda o projeto do ramal da Agamenon, um dos braços do corredor Norte/Sul. O fato é que 2014 está chegando ao fim sem sinal de obras do BRT na avenida.

O sistema chegou a ser licitado em 2013, mas as intervenções acabaram suspensas. A obra de R$ 96 milhões seria custeada pelo estado, que decidiu aproveitar recursos do PAC e aguarda aprovação da Caixa. A expectativa da Secretaria das Cidades é de retomada em outubro, mas há agora outra questão sobre a via. Urbanistas se perguntam o que é melhor – enquanto cidade inclusiva e sustentável – para a principal avenida da cidade.

A Agamenon é uma perimetral estratégica por ligar o Recife de Norte a Sul e Leste a Oeste. Também é passagem para municípios vizinhos e comporta frota maior do que muitas cidades – 79 mil veículos/dia. Para a arquiteta e urbanista Vitória Andrade, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB-PE), a avenida perdeu a sua principal característica de ser interbairros e passou a ser uma via de passagem.

“Acredito que o projeto do Arco Metropolitano (rodovia paralela à BR-101) vai ser importante para reduzir a carga da Agamenon. Grande parte do trânsito é de outros municípios que apenas passam por ela.” Uma das preocupações do presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU), Roberto Montezuma, está com a articulação da via com o restante da cidade. “Ela tem uma qualidade paisagística real. Mas precisa de calçadas com padrão internacional, iluminação e articulação com o projeto do Parque Capibaribe”.

O ramal do BRT terá corredor exclusivo ao lado do canal. Estão previstas nove estações próximas a semáforos para facilitar a passagem do pedestre. “Serão substituídas as placas de concreto que deram problemas”, informou o secretário-executivo de mobilidade, Gustavo Gurgel. “Essa solução merece debate profundo, pois cria uma barreira do Centro expandido com o resto da cidade”, ressaltou Montezuma.

Avenida Presidente Kennedy, em Olinda, continua na berlinda. O que vai mudar?

 

avenida kennedy - Olinda foto - Athur Souza DP.D.A./press

Uma avenida “espremida” entre a concepção de um modelo que pretende privilegiar o transporte público, mas que não conseguiu convencer e a forma de uso que a populaçao insiste em manter, sem as rédeas do controle urbano. O corredor central da Avenida Presidente Kennedy, em Olinda, onde estão inseridas oito paradas de ônibus, que dividem os dois lados da via com duas faixas, sendo uma para o ônibus e outra para o carro, ainda está longe de ser aceito.

Entre as reclamações: a dificuldade de travessia dos pedestres, a falta de opção dos motoristas de transitar de um lado para outro avenida e ainda a ausência de estacionamento para o comércio local e a falta de espaço para as operações de carga e descarga.
Das reclamações, a dos pedestres talvez seja a mais preocupante. A travessia de quatro faixas em um tráfego intenso sem faixa e sem semáforo não é fácil. Segundo os moradores, pelo menos três pessoas foram atropeladas este ano. De acordo com o secretário de Transportes de Olinda, Oswaldo Lima Neto, todas as oito paradas de ônibus terão faixa e semáforo de pedestre.

A licitação da empresa que fará a implantação e manutenção da rede semafórica está sendo concluída. “A travessia do pedestre ficará muito mais segura. Mas com o fechamento do canteiro central, que evita que os carros passem de um lado para outro, já melhorou muito a condição do pedestre”, ressaltou o secretário. A passagem dos carros de um lado para outro da avenida não será mesmo permitida. Haverá a opção de retornos que serão implantados juntos com a rede semafórica.

Um ponto inegociável é mesmo a questão dos estacionamentos e da operação de carga e descarga na via principal. E com apenas duas faixas não há como isso ser permitido. O problema é que a ocupação irregular da via pública e das calçadas, ocorria, há muito tempo, sem nenhuma ação do controle urbano.

“A gente não pode parar dois minutos que o guarda quer multar. Eles estão muito autoritários”, reclamou o motorista Lúcio Ferreira da Silva, 32 anos. No protesto, os comerciantes fecharam as portas em apoio ao movimento.”Nós estamos tendo prejuízo. Não há espaço para o carro estacionar e estamos perdendo cliente”, afirmou o comerciante Sérgio Pinto, 42 anos.

Se por um lado, a população estava acostumada a ausência do controle urbano, por outro o desenho da via traz insatisfações. Nas curvas, por exemplo, é impossível um veículo de grande porte fazer o contorno sem invadir a faixa do ônibus. Já o ônibus também é obrigado a invadir a faixa dos veículos nas laterais quando vai acessar as paradas.

O secretário de transportes de Olinda, Oswaldo Lima Neto, disse que houve problemas na coordenação da execução do projeto. Ele também acredita que a rejeição dos moradores se deu pela demora para implantação do corredor. “As obras que foram feitas do corredor acabaram sendo desgastadas pelo uso indevido e houve demora de muitos órgãos em concluir as intervenções, entre eles a Compesa”, alertou o secretário.

Mudanças no desenho do projeto que foi implantado não estão previstas. Segundo o secretário as intervenções que irão ocorrer são para melhoria do funcionamento do corredor, que é uma radial importante e faz parte do Sistema Estrutural Integrado (SEI).

Avenida Mascarenhas de Moraes, o plano b da Zona Sul

 

As avenidas Sul e Mascarenhas de Moraes são geograficamente paralelas  às avenidas Conselheiro Aguiar e Boa Viagem, mas estão longe de ter o mesmo tratamento. As duas vias têm tráfego intenso, que vão de 26 mil, na Sul, a 56 mil carros por dia, na Mascarenhas.

O trânsito poderia fluir melhor se houvesse uma ação de mobilidade para esses dois corredores que fazem ligação da Zona Sul com o centro da cidade. As duas vias apresentam sérios problemas nas condições do pavimento, drenagem e principalmente sinalização de pista. No caso da Avenida Sul não há nenhum tipo de sinalização.

A ausência das faixas de disciplinamento do tráfego contribui ainda mais para os congestionamentos. O gargalo principal, no entanto, está na Ponte Motocolombó quando as quatro faixas da Mascarenhas de Moraes são reduzidas pela metade na passagem da ponte, que recebe o mesmo fluxo.
As duas vias vão receber ações do Plano de Ação para o Trânsito 2011 e 2012, mas são, por enquanto, intervenções pontuais e insuficientes para apresentar um resultado significativo. Uma das medidas previstas é a eliminação do giro à esquerda nas proximidades do viaduto Tancredo Neves, que dá acesso à Avenida Recife.

A eliminação do giro vai acabar com um problema histórico de formação de até três filas paralelas para acessar o giro. A ousadia dos motoristas acaba reduzindo a quantidade de faixas para o tráfego na Mascarenhas de Moraes. “Eliminando esse giro, que dá acesso à Avenida Recife, nós acreditamos que a velocidade nesse trecho irá aumentar”, argumentou o diretor de projetos da CTTU, Manoel Damaceno.

Dentro das ações do plano houve ainda a modernização dos semáforos das duas vias.
Na melhoria das condições do pavimento as intervenções também são tímidas. De acordo com o diretor de manutenção da Emlurb, Fernando Melo houve a troca de 12 placas na Mascarenhas de Moraes e 20 na Avenida Sul. O trabalho, no entanto, não consegue melhorar o aspecto de degradação.

No corredor exclusivo da Avenida Sul, o acúmulo de água e terra na pista formam um verdadeiro lamaçal. O canteiro central e as paradas de ônibus da via completam o cenário de abandono. “Esse lamaçal ocorre devido ao problema de drenagem. Nós vamos também fazer uma ação de limpeza nessas áreas”, afirmou Fernando Melo.
Ainda segundo ele, as ações executadas foram de caráter emergencial. “Nós iniciamos a recuperação das placas de concreto nos trechos mais críticos. As próximas ações serão executadas após o mês de setembro para que as obras sejam iniciadas e concluídas sem interrupção das chuvas”, informou.

De acordo com o diretor de trânsito da CTTU, Agostinho Maia o trabalho de sinalização só poderá ser feito após a melhoria do pavimento. “Essas duas vias que são importantes corredores de ligação da zona Sul com o centro irão receber melhorias antes da Copa. Do jeito que está não vale a pena fazer a pintura”, revelou.

Saiba Mais

Avenida Mascarenhas de Moraes
6,5 km de extensão
56 mil carros trafegam por dia nos dois sentidos
29 semáforos

Avenida Sul
3,5 km de extensão
26 mil veículos trafegam por dia
6 semáforos

Fonte: CTTU