Mais corredores de ônibus de Recife

Fotos - Paulo Paica DP.D.A.Press

Por

Tânia Passos

O sistema de circulação da rede integrada de transporte público da Região Metropolitana do Recife é composto de 12 corredores radiais e quatro perimetrais. Até 2014, dois desses corredores radiais serão beneficiados com o modelo do corredor exclusivo de ônibus nos moldes do BRT (Bus Rapid Transit), os corredores Norte/Sul e Leste/Oeste, que integram radiais como as avenidas Caxangá e Cruz Cabugá. Mas quais as perspectivas de melhora nos outros 10 corredores?

A Secretaria de Mobilidade do Recife está estudando a implantação de faixa exclusiva de ônibus para cinco vias radiais. Além das avenidas Domingos Ferreira e Conselheiro Aguiar, também deverão receber faixa exclusiva para ônibus, as avenidas Abdias de Carvalho, Beberibe e Mascarenhas de Morais. A instalação da faixa exclusiva para o transporte público nos corredores poderá representar um ganho entre 20% a 30% na velocidade e melhoria na regularidade das viagens.

A ideia é implantar nas cinco avenidas o mesmo modelo que já faz sucesso no Rio de Janeiro, denominado BRS (Bus Rapid Service), uma versão mais simples do BRT. Numa analogia simples, o BRT estaria para as ciclovias, assim como BRS para as ciclofaixas. O primeiro é segregado e o segundo tem a sinalização horizontal e vertical na faixa.

De acordo com a presidente da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), Taciana Ferreira, a Avenida Norte ficou de fora porque já está contemplada com um projeto do governo do estado. “Já existe um projeto de BRT para a Avenida Norte, que não foi contemplado agora, mas está entre as prioridades, por ser uma linha troncal que faz ligação com o Terminal da Macaxeira”, explicou. Já o binário Rui Barbosa/Rosa e Silva será beneficiado com o projeto de navegabilidade.

A melhoria dos corredores que integram o sistema de transporte público é considerado um avanço para os especialistas. “Qualquer melhora para o transporte público irá significar ganho para a população, mesmo quando gera insatisfação do usuário do transporte individual com a redução das faixas”, ressaltou Maurício Pina, especialista em mobilidade e professor do departamento de engenharia das universidades Federal e Católica de Pernambuco.

Também especialista, o engenheiro César Cavalcanti elogia a iniciativa da instalação das faixas exclusivas, mas chama atenção para a Avenida Mascarenhas de Morais. “A Mascarenhas é paralela ao metrô, que é o principal corredor de transporte. Não haveria necessidade de investir numa faixa exclusiva para o ônibus, que tem uma demanda menor em função do metrô”, ponderou. Segundo ele, a iniciativa poderia ser aplicada na Avenida Norte.

“Já que o BRS é um modelo mais simples de ser implantado poderia ser adotado na Avenida Norte, enquanto o BRT não chega. Da mesma forma que será feito na Avenida Domingos Ferreira”, ressaltou. Atualmente o Sistema de Transporte Público de Passageiros (STPP) realiza 26 mil viagens por dia e transporta cerca de dois milhões de passageiros em um frota de três mil ônibus. “O que vai fazer a diferença também será o investimento nas perimetrais dois, três e quatro. A quarta perimetral na BR-101 liga Abreu e Lima a Prazeres. É de uma importância fundamental”, detalhou Oswaldo Lima Neto, doutor em mobilidade urbana.

PE-15, o trunfo do Norte/Sul

 

 

Foi na década de 1980 que a PE-15 foi concebida dentro do que previa o Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU). As vias largas com um corredor central saindo do Norte em direção ao Sul estão viabilizando hoje a implantação do corredor exclusivo para o transporte de massa pelo corredor Norte/Sul. Mas não foi fácil garantir a preservação desse espaço.

A engenheira Regilma Souza lembra que no governo de Miguel Arraes a ideia era fazer apenas uma parte da via e deixar a outra parte para o futuro, mas prevaleceu a orientação dos técnicos. “Nós técnicos brigamos muito para que a rodovia fosse feita da forma como está hoje. Havia uma preocupação nossa de invasão dos terrenos e a desapropriação no futuro iria complicar mais”, lembrou Regilma. Ela disse que os técnicos chegaram a receber críticas porque era um espaço gigantesco e não havia demanda na época. “Nós brigamos muito para que o corredor central fosse preservado para o transporte público e esse espaço hoje vale ouro”, declarou.

O consultor e engenheiro Germano Travassos também ressaltou a luta para preservar a PE-15. “Teve diretor do DER que queria transformar a PE-15 em uma pista de mão dupla. Foi uma luta convencer que era importante preservar o espaço do transporte público. Com isso, o corredor Norte/Sul está praticamente pronto com a PE-15”, afirmou Germano. De fato, a PE-15 cobre a maior parte do trecho do corredor Norte/Sul, de Igarassu até Olinda. A rodovia está apenas passando por ajustes como a troca das placas de concreto e requalificação das paradas que serão substituídas por estações. Mesmo sendo maior em extensão com 33,2 km contra 12km do Leste/Oeste, o custo do Norte/Sul é de R$ 135 milhões, enquanto o Leste/Oeste está orçado em R$ 145 milhões.

A PE-15 cumpre a sua função até o Complexo de Salgadinho, em Olinda. “O corredor Norte/Sul tem uma importância enorme para o desenvolvimento dos dois extremos e a Agamenon Magalhaes é fundamental com seu corredor exclusivo”, explicou o professor e doutor da UFPE, Oswaldo Lima Neto, especialista em mobilidade urbana.

Abram alas para as ambulâncias

 

Uma nova tentativa de melhorar a mobilidade urbana, via projeto de lei , propõe, dessa vez, a criação de uma faixa exclusiva preferencial para os veículos em situação de emergência a exemplo das ambulâncias.

A proposta é do vereador do Recife Dr. Rogério de Lucca. Ele justifica a medida devido a localização dos hospitais e batalhões no centro urbano. “Enfrentamos desafios de mobilidade, típicos de um grande centro urbano e como sabemos que a maioria dos hospitais, delegacias e batalhões estão localizados no centro da cidade, temos inevitavelmente engarrafamentos nas principais vias urbanas”, avaliou o vereador.

O projeto trata em seu art.2º,  que a faixa deverá ser usada livremente para o tráfego de veículos, sendo obrigatório o esvaziamento para o veículo em situação de emergência. Se aprovada, a faixa preferencial terá pintura diferenciada com sinalização específica a ser definida pela administração municipal. Essa alternativa é realidade em outras metrópoles, como Nova York, Londres, Tóquio e Paris, mas é inédita no Brasil.

Nota do blog

A criação de uma faixa preferencial para veículos de emergência não parece ser uma solução. Há alguns aspectos que devem ser levados em conta: a faixa é preferêncial, isso significa que ela poderá ser usada normalmente pelos veículos e devem oferecer passagem aos veículos em situação de emergência.

Na prática isso já acontece. Bem ou mal, há um esforço dos motoristas em dar passagem às ambulâncias. A dificuldade maior  é quando as vias estão muito engarrafadas e essa condição não mudaria com a faixa preferencial.

Há outra questão. As ruas do Recife, em sua maioria, são estreitas e até a implantação de corredores exclusivos para o transporte público passa por dificuldades. Mas não apenas isso, temos ainda que levar em conta a questão das ciclovias e dos passeios para os pedestres. Há uma cadeia de prioridades, que talvez não caiba mais uma via dedicada aos veículos de emergência, que são preferenciais na sua própria condição.