Recife tem a menor tarifa de metrô do país. clique aqui
Enquanto isso, no Distrito Federa, em Brasília,l a tarifa do metrô chega a R$ 4,00. Confira abaixo a reportagem do Portal Mobilize.
Milhares de pessoas, entre servidores, sindicalistas e populares participam de manifestação em frente ao Palácio do Buriti, em Brasília, na última quinta-feira (24). O protesto, que atinge o governador Rodrigo Rollemberg, tem entre os principais motivos o aumento de impostos e das tarifas públicas no DF, entre elas a passagem do transporte coletivo, que no domingo (20) teve elevação de 40%.
O metrô, cuja tarifa era de R$ 3, passou para R$ 4, sendo agora a mais cara do Brasil, acima da do Rio de Janeiro, que subiu para R$ 3,70 em abril deste ano.
No caso do ônibus, a menor passagem passou de R$ 1,50 a R$ 2,25; e a maior, de R$ 3 para 4.
As medidas foram anunciadas na última terça-feira (15) pelo governo, com a justificativa de tentar equilibrar as contas da capital federal. Com essas medidas o GDF pretende arrecadar R$ 1,8 bilhão que, além do reajuste no transporte público, envolvem impostos mais caros, cortes em salários de comissionados, reestruturação de secretarias, suspensão de concursos, entre outras.
“R$ 1 faz diferença”
“Para quem ganha pouco, esse R$ 1 na passagem faz muita diferença. No fim do mês, é um dinheiro que poderia usar, por exemplo, para o lazer da minha família”, afirmou à reportagem da Agência Brasil a empregada doméstica Lila Oliveira.
O contador Ricardo Monte conta que foi pego de surpresa com o anúncio do governo de Brasília. Ele mora no Entorno do DF, que também teve o valor das passagens reajustados neste ano, e precisa pegar dois ônibus para chegar ao trabalho. “Gasto pelo menos R$ 300 todo o mês com ônibus, fora o que minha esposa e filhos gastam. Esse valor vai para mais de R$ 400. Juntando toda a família, é mais de 30% da renda comprometidos com transporte público”, calcula Monte.
Segundo o secretário de Mobilidade do DF, Carlos Tomé, embora o reajuste vá gerar uma carga maior de gasto para a sociedade, se não fosse decidido agora, disse ele, “corríamos o risco de o sistema parar até o final do ano por absoluta falta de recursos”, disse.
Movimentos sociais organizam protestos em Brasília contra a medida. “A gente não vai parar enquanto não baixar a passagem. Não temos condições de pagar essa passagem absurda”, disse Raíssa Oliveira, do Movimento Passe Livre.
O ramal do sistema Bus Rapid Transit (BRT) da Avenida Agamenon Magalhães corre risco de não sair do papel. Após vários prazos vencidos para o início das obras, o projeto está sendo avaliado pelo governo do estado, que vai decidir se o trecho é prioritário no atual momento. Embora ainda não tenha descartado oficialmente a implantação do BRT na artéria, a Secretaria de Cidades já não trabalha mais com prazos e diz que não sabe se a pauta vai entrar nos planos do estado.
Diante da falta de perspectivas para o projeto, a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) estuda implantar uma Faixa Azul na Agamenon Magalhães, com o objetivo de melhorar o fluxo do transporte coletivo no corredor. A velocidade média da via, em horários de pico, é de 17km/h.
“Houve a contratação de empresa para a implantação do Ramal Agamenon Magalhães, mas a companhia não tem interesse em continuar. Está ocorrendo processo de distrato contratual”, informou, através de nota, a assessoria da Secretaria das Cidades de Pernambuco.
Segundo o gerente de Mobilidade da pasta, Gustavo Gurgel, há um termo de compromisso entre a secretaria e a Caixa Econômica Federal, no valor de R$ 120 milhões, para a realização das obras. Ele acrescenta que o grau de prioridade do serviço será uma avaliação administrativa que não se deve à falta de recursos. No inicío do ano, contudo, a pasta justificou que as obras, previstas inicialmente para serem entregues antes da Copa do Mundo, estavam atrasadas porque a verba do governo federal não havia sido liberada.
Análises
Por causa da intenção de implantar o ramal, a via ficou de fora das prioridades da CTTU para a Faixa Azul, sistema de faixas exclusivas para ônibus e táxis com passageiros que deve abranger 60km até o fim de 2016. “A possibilidade de implantar uma Faixa Azul na avenida não está descartada, mas depende dos resultados de uma série de análises técnicas e simulações de engenharia de tráfego, que indiquem a viabilidade de garantir um aumento considerável na velocidade dos transportes coletivos que circulam no local”, ponderou a CTTU, por nota. O órgão afirmou que os estudos serão realizados.
Solução eficaz para os ônibus
O consultor em transporte público Germano Travassos comenta que os ônibus ocupam apenas 30% da Agamenon Magalhães atualmente, e, com as faixas exclusivas, o uso do espaço viário pelo transporte coletivo poderia até 20 vezes mais eficiente.
“A Faixa Azul é uma alternativa barata e simples de melhorar a mobilidade, que deve ser prioritária para as pessoas e não para os veículos. O espaço viário é finito”, opina Travassos. Na Avenida Mascarenhas de Morais, por exemplo, onde os congestionamentos são constantes, foi possível aumentar a velocidade média de 21 km/h para 35,42 km/h.
O consultor disse, no entanto, que no caso da Agamenon Magalhães, a solução da faixa azul para acomodar os veículos BRT do corredor Norte/Sul é totalmente inadequada, pois compromete os conceitos da operação dos sistemas BRT, e inviabiliza o uso daquela via perimetral na rede estrutural de transporte público da RMR e, em especial, do Recife.
O Ramal de BRT da Agamenon Magalhães faria parte do Corredor Norte/Sul, que liga Igarassu ao Centro do Recife. A proposta era de que o corredor, quando chegasse na altura do Shopping Tacaruna, se bifurcasse. Um outro ramal, que passa pela Avenida Cruz Cabugá até a Avenida Guararapes, está quase concluído. No caso da Agamenon, o corredor se integraria ao Terminal de Joana Bezerra.
No ano em que o metrô do Recife completa três décadas de operação, o principal modal de transporte de massa da Região Metropolitana passa por sua maior crise: a falta de confiança dos passageiros em relação à segurança nos trens. Assaltos, furtos, quase diários, e até mortes acenderam um alerta na direção da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), que fez um reforço de sessenta seguranças terceirizados para conter a onda de medo. O desafio é restabelecer a confiança no sistema e trazer de volta parte dos usuários que está deixando o metrô.
De dezembro do ano passado até agora, houve uma queda no número de passageiros de até 3% de um universo de quase 400 mil, o que significa cerca de 12 mil pessoas. Sem pesquisa de satisfação, a CBTU ainda não sabe mensurar se a redução se deu por questões econômicas ou de falta de segurança. Mas, na prática, não é difícil encontrar usuários que só usam o metrô por não ter outra opção ou de passageiros que já começam a mudar a rotina das viagens para evitar o trem.
Morando quase em frente à estação Aeroporto, na Zona Sul do Recife, a dona de casa Maria Santiago, 42 anos, decidiu não usar mais o modal. “Agora só ando de ônibus. Fiquei assustada depois desses casos de violência”, revelou. Somente com o marido, o militar David Santiago, 42 anos, ela aceitou ir ao Centro de metrô na última quarta-feira. “Ela não queria vir de Metrô de jeito nenhum. Só aceitou porque veio comigo”, completou Santiago.
A direção do metrô reconhece o problema e as dificuldades, mas já adiantou que não tem como resolver essa questão sem ajuda. O pedido de socorro já foi feito ao governo do estado no sentido de uma parceria com a Polícia Militar nas 12 estações de integração do Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano, que integra o ônibus com o metrô.
Para a CBTU, as integrações são a principal porta de entrada do comércio informal na área interna do sistema. A direção da empresa também acredita que muitos dos assaltantes entram disfarçados de ambulantes. “Fica difícil fazer a distinção e esse tipo de comércio dentro do metrô também não é permitido. Mas não há como nossos seguranças fazerem um embate direto e tomar a mercadoria. A polícia tem que estar presente”, afirmou o engenheiro da CBTU-PE, Bartolomeu Carvalho. O acordo vem sendo negociado nas duas esferas de governo, mas ainda sem definição.
Para o professor de engenharia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Fernando Jordão, especialista em transporte ferroviário, a situação do metrô do Recife é preocupante. “O que está acontecendo com o metrô do Recife é um problema de segurança pública. É lamentável que um sistema tão importante para a população esteja se preocupando com segurança e não em melhorias do serviço”, criticou o professor. No ano passado, o Sindicato dos Metroviários realizou três paralisações para protestar contra a falta de segurança não apenas para os usuários, mas também dos trabalhadores.
Déficit na receita dificulta operação
O metrô do Recife trabalha com déficit de mais de 70% no orçamento anual. O serviço é bancado pelo governo federal, que aplica por ano cerca de R$ 300 milhões. A única fonte de renda vem da venda de bilhetes. A receita anual com passagens é de cerca de R$ 66 milhões e representa pouco mais de 24% na cobertura das despesas.
De acordo com o engenheiro da CBTU-PE, Bartolomeu Carvalho, é preciso um esforço dos três níveis de governo para ajudar o modal a se manter, principalmente com a tual crise econômica. “O metrô, mesmo pertencendo ao governo federal, trabalha para o estado. Hoje, metade das pessoas que usam o metrô não paga nada. E não temos nenhum tipo de subsídio”, aponta Carvalho.
Ele compara, por exemplo, o metrô do Rio de Janeiro, que é privado e tem isenção no ICMS (Imposto de Circulação de Mercadoria e Serviço) sobre a energia. “A energia é onde está o nosso maior custo. Pagamos por ano R$ 26 milhões e se tivéssemos isenção no imposto, haveria uma economia de 25% nesse valor”, revelou Bartolomeu.
Além de não oferecer isenção, o governo do estado, por meio do Consórcio Grande Recife, órgão gestor do Sistema de Transporte Público de Passageiros, não repassa, desde 2012, o valor referente ao cartão VEM. A dívida já ultrapassa os R$ 30 milhões. “É um dinheiro que nos faz muita falta. Infelizmente tivemos que colocar essa causa na justiça”, afirmou Carvalho. Por nota, o consórcio disse reconhecer parte da dívida, mas não informou qual o valor é reconhecido.
E para piorar a receita, o metrô tem a menor tarifa do país: R$ 1,60, a mesma desde 2012. “Acredito que a população poderia ajudar caso o bilhete fosse do mesmo valor da tarifa A do ônibus de R$ 2,45”, sugeriu Fernando Jordão da UFPE.
O sistema BRT ainda nem foi totalmente implantado no estado, mas sua estrutura já amarga prejuízos da depredação e do descaso com a manutenção do bem público. Dados do Consórcio Grande Recife revelam um número preocupante: de um total de 37 estações em funcionamento nos dois corredores de transporte, 31 já apresentam algum dano, ou seja, 83,8%. A manutenção das estações em operação é de responsabilidade do consórcio. Até agora, no entanto, a empresa não investiu qualquer valor na recuperação dos danos. O pior: não há previsão para início das reformas. Algumas delas exigem licitação, como a troca de vidros quebrados.
Segundo o consórcio, as primeiras paradas passaram para os cuidados da empresa em julho do ano passado. Ao todo, 17 estações do Norte/Sul e 14 do Leste/Oeste já sofreram atos de depredação. Os registros apontam principalmente vidros quebrados, além de pichações e quebras de quadro de aviso. “90% dos vidros das estações de BRT são laminados, que não são facilmente encontrados no mercado. Os vidros vêm da região Sudeste e, como todo órgão público, a partir de valores maiores, temos que fazer um processo licitatório público para aquisição”, diz um trecho da nota enviada pela assessoria de imprensa do Grande Recife.
Enquanto isso, na Estação Riachuelo, na rua de mesmo nome, na Boa Vista, os vidros estão rachados nos dois lados da estrutura pertencente ao corredor Norte/Sul. Segundo funcionários, adolescentes em situação de rua jogaram pedras contra os vidros há cerca de seis meses. “Eu não estava aqui, mas falaram que ainda era cedo da noite quando os meninos fizeram essa bagunça”, comentou um jovem que trabalha no local.
A poucos minutos dali, outra estação do Leste/Oeste, a Tacaruna, na Avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro, foi danificada pela ação de um motorista de caminhão. “Por esse lado da via somente é permitida a passagem de BRT, mas os caminhões insistem em passar. Esse era muito alto e levou um pedaço do teto”, comentou uma funcionária. Do outro lado, parte do teto também já caiu, deixando buracos à mostra. O mesmo problema com o teto é verificado na Estação do Derby, que compõe o corredor Leste/Oeste.
Pichações e pó acumulado durante meses nos vidros da estação de BRT São Francisco de Assis, em Paulista, é outra prova da falta de cuidado com o espaço público. A estação ainda não foi sequer inaugurada e por isso sua manutenção ainda é de responsabilidade da Secretaria das Cidades.
Os buracos do sistema com as obras inacabadas
No corredor Leste/Oeste, o primeiro consórcio responsável pela obra do corredor formado pela Servix e a Mendes Júnior, paralisou as obras desde janeiro deste ano, após problemas financeiros resultado do envolvimento na Operação Lava Jato. De acordo com a Secretaria das Cidades, o governo optou por uma nova licitação e uma empresa que apresentou proposta está com os documentos sendo analisados. “ Até a próxima semana, concluiremos a análise e homologaremos a licitação”, afirmou Gustavo Gurgel, secretário executivo da pasta.
No corredor Leste/Oeste, o secretário explicou que ainda estão pendentes os terminais da 3ª e 4ª perimetral, a conclusão de seis estações da Avenida Conde da Boa Vista, a Estação Benfica, além das quatro estações de Camaragibe. Toda a obra está sem previsão de entrega.
No corredor Norte/Sul, a Estação Complexo do Salgadinho, que está pronta, ainda necessita de conclusão do sistema viário do entorno. Já o terminal Abreu e Lima, faltam a ligação de energia e água e o ajuste no portão de acesso. As duas obras estão previstas para o final do ano.
Saiba mais:
Diagnóstico atual dos dois corredores de BRT
37 é o total de estações em operação nos dois corredores
31 estações já sofreram algun tipo de dano
83,8 % das estações foram danificadas em um ano de operação
R$ 2 milhões foi o custo de construção de cada estação de BRT
R$ 20 mil é o custo para manter cada estação em operação
* Consórcio não fez nenhum reparo nas estações danificadas desde que assumiu a operação do sistema há um ano
O que está operando e o que ainda falta operar:
Leste/Oeste:
Hoje
15 estações em operação
3 linhas
60 mil passageiros
Futuro
27 estações
7 linhas
155 mil passageiros
Norte/Sul:
Hoje
22 estações em operação
5 linhas
50 mil passageiros
Futuro
28 estações
8 linhas
180 mil usuários
Fonte: Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano
Até 2012, a Prefeitura do Recife havia concedido 314 alvarás para estacionamentos particulares. Em três anos, os números não foram atualizados. Mas é um negócio que cresce a olhos vistos, regulares ou não, eles estão em qualquer esquina. Mas essa lógica pode mudar. As regras de estacionamento particulares vão fazer parte de uma política pública. De acordo com o Instituto da Cidade Pelópidas da Silveira, o estudo que será incluído no Plano de Mobilidade do Recife a ser entregue em maio de 2016 e trará regras para instalação dos estacionamentos, que afetam diretamente a circulação viária.
A mudança na política da implantação desses equipamentos já é uma tendência adotada em outros países. Os urbanistas partem de um pressuposto básico: o carro vai onde há espaço para estacionar. Dessa forma, não há como pensar em reduzir ou redirecionar o tráfego com estacionamentos em qualquer esquina. O professor de planejamento e transporte urbano da Universidade de Yokohama, no Japão, Fumihiko Nakamura é um dos defensores. “Os estacionamentos são de extrema importância na utilização da terra e é exatamente por isso, que precisam ser definidos pelo poder público e não pelo privado”, destacou.
O pensamento do professor é compartilhado pelo atual secretário executivo de planejamento de território do Instituto da Cidade Pelópidas da Silveira, Sidney Schreiner, que fez escola no Japão, onde estudou por nove anos, e é um dos discípulos de Nakamura. “Nós estamos desenvolvendo essa linha de pensamento para o plano de mobilidade. Nós precisamos usar o número de vagas a serem disponilizadas como forma de coibir a circulação em certas áreas da cidade”, apontou Schreiner.
O município além de não dispor de informações dos estacionamentos regularizados não tem controle dos clandestinos. O empresário Cristóvão Pedrosa da Fonseca Filho, 51 anos, herdou do pai um terreno de dois mil metros quadrados com entrada para as ruas da Concórdia e Floriano Peixoto, no São José. “Nós pagamos impostos, mas qualquer terreno hoje serve de estacionamento”,disse
Nem tudo o que é desenhado vira obra. Na última década, o recifense esperou e acreditou em uma nova cidade, de mais espaços de convivência e melhores condições de deslocamentos. O anúncio da capital pernambucana como subsede da Copa encheu de expectativas de novas possibilidades em infraestrutura, principalmente na área de mobilidade.
Da ilusão da implantação do monotrilho ou do Veículo Leve sob Trilho (VLT) à realidade do BRT (Transporte Rápido por Ônibus) ainda incompleto vimos a cidade do futuro em forma de maquetes e acordamos com a realidade das obras inacabadas na segunda metade da década de 2010.
Também sonhamos com uma nova cidade, a da Copa, idealizada nas imediações da Arena Pernambuco para estimular o desenvolvimento na Zona Oeste, mas isso só ficou na maquete. “A gente esperava que essa região seria mais valorizada com a Arena, mas as pessoas assistem aos jogos e vão embora”, relatou o mecânico Gustavo Xavier, 43, na sua oficina às margens da BR-408.
Não foi a primeira vez que a Zona Oeste do Recife ficou no “quase”. No fim da década de 1970, com a construção do Terminal Integrado de Passageiros (TIP), a expectativa era estimular o desenvolvimento local com a implantação de um Centro Administrativo do estado, o projeto desenhado por Oscar Niemeyer no governo de Marco Maciel não saiu do papel. “A proposta era descentralizar e estimular o desenvolvimento, mas depois Marco Maciel foi para o Senado, vice-presidência e o projeto não foi adiante. O cenário seria outro, sem dúvida”, afirmou o arquiteto e urbanista José Luiz da Mota Menezes.
Com a Cidade da Copa todos os olhares voltaram-se novamente para a Zona Oeste e até um condomínio de luxo se instalou nas imediações. A Cidade da Copa havia sido projetada para ser a primeira Smart City da América Latina a 19 quilômetros do Centro do Recife. A proposta era implantar um modelo de mobilidade urbana com incentivo ao transporte público e criação de faixa exclusiva para ciclistas e pedestres no entorno da Arena. Além de moradias, também prometia faculdades, bancos e hospital. Mas hoje é um grande espaço de nada no entorno da Arena.
O governo do estado acabou concentrando os esforços para viabilizar a construção da Arena e dos corredores de transporte de BRT. A Arena ficou pronta depois de consumir R$ 743 milhões na parceria público-privada. Já os corredores de BRT ainda estão com as obras inacabadas, um ano após a realização do mundial. E deixando de fora pontos previstos no projeto original como a pavimentação nova ao longo dos corredores, faixas segregadas, expansão dos terminais antigos e requalificação da PE-15.
Segundo a Secretaria das Cidades o corredor Norte/Sul será entregue até o fim do ano. O Leste/Oeste está parado e depende de nova licitação. Já a requalificação da PE-15 depende de captação de recursos.
Para o urbanista Geraldo Marinho, as obras incompletas ou modificadas provocam frustração e perda na qualidade dos espaços. “É um desastre, uma vez que o produto esperado não se concretiza e causa frustração e descrédito do poder público”, apontou.
Uma Agamenon a ser reinventada
Dos espaços idealizados em maquetes, a Avenida Agamenon Magalhães é um dos que mais receberam projetos que não saíram do papel nesta última década. Em 2009, o urbanista Jaime Lerner trouxe para a cidade um desenho futurista de uma Agamenon com um elevado sobre o canal em toda sua trajetória com um espaço segregado para o transporte público.
O projeto, contratado pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Urbana-PE), tinha como propósito a implantação do corredor Norte/Sul nos moldes do BRT. Pelo projeto de Lerner, as estações ficariam sobre o canal e sob o elevado e o ônibus não teria nenhum contato com o tráfego misto.
Dois anos depois, o governo do estado apresentou um outro projeto para o corredor Norte/Sul no trecho da Avenida Agamenon Magalhães. O elevado de Jaime Lerner ao longo do canal ficaria de fora e, no lugar dele, quatro viadutos cortando os principais cruzamentos da perimetral.
A proposta do governo era garantir velocidade para o transporte público com uma faixa exclusiva para o BRT ao lado do canal e não mais em cima. Os viadutos acabaram provocando uma forte reação da sociedade e o estado recuou e não levou o projeto adiante.
Para o corredor Norte/Sul foi desenhado um terceiro projeto. Os viadutos saíram, mas a faixa exclusiva ao lado do canal e as estações sobre o canal foram mantidas. O projeto passou a ser chamado de ramal da Agamenon. Ou seja, o corredor Norte/Sul passa pela Avenida Cruz Cabugá, que está em obras, e outro ramal passará pela Agamenon. O projeto era para ficar pronto até a Copa, ainda não saiu do papel. E não há previsão de quando o ramal será construído ou se a Agamenon receberá um quarto projeto ainda nesta década.
Segundo o secretário adjunto da Secretaria das Cidades, Gustavo Gurgel há pendências com o consórcio responsável pela obra, orçada em R$ 96 milhões. “Estão sendo revistas questões contratuais com consórcio Heleno Fonseca/Consben referente a remanescentes do início da obra e adequação ao modelo determinado pelo Tribunal de Contas da União. A empresa alega que a adequação determinada pelo TCU é anterior à assinatura do projeto”, revelou Gurgel. A Secretaria das Cidades decidiu não dar prazo de início das obras na Agamenon. “Não temos como precisar, pois se não houver acordo com a empresa teremos que refazer a licitação”.
A informação é uma aliada fundamental na mobilidade. Mas há situações, onde a ausência dela pode significar o mergulho no caos. Imagine vir de Boa Viagem sentido Centro e na hora de optar entre o Cais Estelita e a Avenida Agamenon Magalhães, você opta pela segunda e mais na frente se surpreende com um caminhão quebrado em cima do viaduto.
A situação não é hipotética, ela já ocorreu inúmeras vezes, mas o motorista só descobre a má escolha depois que não tem como sair dela. Pelo menos até agora.A Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) está licitando 13 Painéis de Mensagens Variáveis (PMV), que serão distribuídos em pontos estratégicos da cidade a partir de 2016.
Os pontos foram estudados justamente para possibilitar ao condutor mudar a sua direção a tempo. As informações vão incluir a velocidade das faixas em tempo real e os avisos no caso de acidentes ou protestos interrompendo as vias. “Esse tipo de informação dará um salto de qualidade muito grande na mobilidade. A partir das informações as pessoas terão condições de mudar o roteiro com as rotas de fuga”, explicou o gerente de fiscalização da CTTU, Marcos Araújo.
Dos 13 painéis seis serão localizados na Zona Sul, sendo três na Herculano Bandeira, dois na Mascarenhas de Moraes e um na Conselheiro Aguiar. “Foi feito um estudo para instalar nos principais corredores onde há opção do motorista mudar de rota, mas esses locais não são definitivos e podem sofrer alteração a partir de novas necessidades”, explicou o diretor de operações de trânsito da CTTU, Agostinho Maia.
As avenidas Beberibe, Estrada de Água Fria e Abdias de Carvalho também irão receber informações em tempo real da velocidade das faixas. “O motorista vai poder se adequar com as informações da velocidade”, ressaltou Marcos Araújo.
Em São Paulo, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) dispõe de 40 painéis. Em 2011, eram 23 equipamentos. Uma das reclamações mais comuns era a demora na atualização das informações. “Aqui no Recife, nós teremos informações transmitidas imediatamente após um evento que traga prejuízo a fluidez do trânsito”, explicou Marcos Araujo.
Detalhamento da localização dos 13 PMV’s
Avenida Mascarenhas de Moraes
– 1 painel (sentido centro) em frente ao Aeroporto Internacional dos Guararapes
– 1 painel (sentido subúrbio) após a descida da ponte Motocolombó
Avenida Abdias de Carvalho
– 1 painel (sentido centro) após a lombada eletrônica da Av. Eng. Abdias de Carvalho
– 1 painel (sentido subúrbio) em frente ao Sport Club do Recife
Avenida Herculano Bandeira
– 1 painel (sentido subúrbio) Após a descida da ponte Governador Paulo Guerra
– 2 painéis (para atendimento da Domingos Ferreira / sentido subúrbio), sendo um no início da pista leste e outro no início da pista oeste
Avenida Recife
– 1 painel (sentido aeroporto) próximo à entrada de Jardim São Paulo
– 1 painel (sentido Ceasa) após a descida do viaduto Tancredo Neves
Avenida Beberibe
– 1 painel (sentido centro): próximo ao antigo terminal de Beberibe
– 1 painel (sentido subúrbio) próximo ao Mercado da Encruzilhada
Avenida Conselheiro Aguiar
1 painel próximo à pracinha de Boa Viagem
Rua – Estrada Velha de Água Fria
1 painel (sentido aeroporto) início da Estrada Velha de Água Fria, próximo ao DNOCS Fonte: CTTU
Para escapar dos congestionamentos e ter os deslocamentos diários menos sofridos será preciso uma mudança no comportamento do condutor. Um levantamento da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) aponta que as cinco vias mais lentas da cidade registram nos horários de pico uma velocidade de 12km/h.
O primeiro horário de pico fica entre 6h30 e 9h. São duas horas e meia de pico no trânsito. Para quem consegue sair 15 minutos antes ou depois desse horário, a velocidade praticamente triplica.
“Nós chegamos a velocidade das carroças e das carruagens e os veículos são feitos para andar até 100km/h”, compara o consultor em educação de trânsito, o engenheiro Carlos Guido. Entre as cinco vias mais lentas, a Avenida Mascarenhas de Moraes – no sentido Centro – é a campeã em lentidão com velocidade de 11km/h.
Além do volume de carros, a estrutura da via dificulta o escoamento do tráfego. “O motorista sai de quatro para duas vias na subida da Ponte Motocolombó e no Largo da Paz há um giro à esquerda para quem vai para Afogados que também dificulta a fluidez”, apontou o gerente de operações de trânsito da CTTU, Agostinho Maia.
Com uma frota de quase 670 mil veículos, a capital pernambucana trava também em outros dois horários. Além da manhã, o trânsito complica das 17h30 às 19h30 e das 21h às 22h30. “Encontrar brecha no trânsito é um sufuco. Eu não tenho como sair antes da 7h e depois das 9h ficaria muito tarde. O jeito é sofrer no engarrafamento”, revelou a psicóloga Kátia Abreu, 36 anos.
Ela sai de casa bem no olho do furação às 7h20 e pega a Avenida Rui Barbosa, que registra nesse horário 12km/h. “Demoro de 40 minutos a uma hora só para conseguir chegar na Rua Fernandes Vieira”, contou. A distância entre as duas vias é de menos de 3km. A combinação escola e trabalho no mesmo horário é apontada por especialistas como desastrosa para a mobilidade.
Nas férias, a redução do fluxo de veículos nas ruas do Recife é de cerca de 20%. “Mesmo quando os pais trabalham a partir das 8h ou 9h, muitos têm o compromisso de levar os filhos na escola e todo mundo sai na mesma hora ”, ressaltou o diretor de operações da CTTU, Agostinho Maia.
Para o especialista em educação de trânsito, o engenheiro Carlos Guido, o escalonamento (alternar horários) é uma das soluções, mas não é a única. “Hoje não existe uma solução, mas um mix de alternativas.O escalonamento é uma opção que pode ser estudada para a realidade local. Além disso, vamos lembrar que a restrição ao veículo particular e a taxação para carros com apenas uma pessoa também são medidas importantes, sem falar na melhoria do transporte coletivo”, elencou Carlos Guido.
Ranking das cinco vias com menor velocidade nos horários de pico
Os três picos no trânsito: 6h30 às 9h; das 17h30 às 19h e das 21h às 22h30
1ª – Rua Visconde de Albuquerque (30.000 veículos)
Velocidade nos horários de pico: 12 km/h
Velocidade fora dos horários de pico: 31 km/h
2ª – Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes (sentido centro): 59.000 veículos
Velocidade nos horários de pico: 11 km/h
Velocidade fora dos horários de pico: 33 km/h
4ª – Avenida Caxangá (sentido centro): (29.000 veículos)
Velocidade nos horários de pico: 15 km/h
Velocidade fora dos horários de pico: 35 km/h
5ª – Avenida Rui Barbosa:(25.500 veículos)
Velocidade média: 20 km/h
Velocidade nos horários de pico: 12 km/h
Velocidade fora dos horários de pico: 35 km/h
6ª – Rua José Bonifácio: (32.000 veículos)
Velocidade média: 20 km/h
Velocidade nos horários de pico: 12 km/h
Velocidade fora dos horários de pico: 32 km/h
Ranking das cinco vias com maior velocidade nos horários de pico:
1ª – Via Mangue – Pista Oeste (34.000 veículos)
Velocidade nos horários de pico: 37 km/h
Velocidade fora dos horários de pico: 57 km/h
2ª – Avenida Herculano Bandeira (63.000 veículos)
Velocidade nos horários de pico: 29 km/h
Velocidade fora dos horários de pico: 48 km/h
3ª – Av. Domingos Ferreira (até a Barão de Souza Leão com 36.000 veículos)
Velocidade nos horários de pico: 27 km/h
Velocidade fora dos horários de pico: 49 km/h
4ª – Av. Engenheiro Abdias de Carvalho (sentido UFPE com 27.500 veículos)
Velocidade nos horários de pico: 30 km/h
Velocidade fora dos horários de pico: 50 km/h
5ª – Cais José Estelita (sentido Centro com 18.500 veículos)
Velocidade nos horários de pico: 29 km/h
Velocidade fora dos horários de pico: 49 km/h
A lógica se inverteu. Quase 12 meses depois da abertura da Copa do Mundo, em 12 de junho do ano passado, algumas obras de mobilidade voltadas para facilitar a vida das pessoas durante e após o mundial estão atrasadas ou paralisadas.
Os principais entraves estão no corredor Leste-Oeste e no Ramal Cidade da Copa, cujas obras estão suspensas por problemas financeiros enfrentados pelo consórcio Mendes Jr./SERVIX, investigado na Operação Lava-jato. O corredor Norte-Sul, por sua vez, ganhou nova previsão de conclusão para dezembro, já que duas estações sequer foram iniciadas. Segundo Gustavo Gurgel, gerente geral de mobilidade da Secretaria das Cidades, até o fim deste mês o governo abrirá licitação para contratar a empresa responsável por levantar o que deixou de ser executado pelo consórcio. Somente depois haverá nova licitação para contratação de outra empresa para assumir o serviço.
De forma geral, a maior causa do atraso, segundo Gurgel, foram as desapropriações. Além disso, a existência de linhas de energia elétrica e telefônicas e redes de esgotamento sanitário ao longo do caminho geraram demora. “Existe uma prática no Brasil de prazos não serem cumpridos. Os governos apostam em recursos não disponíveis e subestimam cronogramas de obras”, analisa Germano Travassos, engenheiro consultor em mobilidade urbana.
Nas ruas, os sintomas do atraso são sentidos no dia a dia por motoristas, passageiros e pedestres. Na Cruz Cabugá, por onde passa o corredor Norte-Sul, a desordem é generalizada. “Estou participando de uma seleção de emprego e fiquei surpresa com a situação da avenida. Somos obrigados a andar no meio do mato e do lixo porque não tem calçada”, disse Gilvanice da Silva, 29 anos, na altura do Armazém Coral, onde está em obras uma das estações de BRT.
Gustavo Gurgel ressaltou que a secretaria trabalhou com cronogramas factíveis. “Os prazos são trabalhados para darem certo. Infelizmente as desapropriações têm prazos imprevistos. Muitas vezes o problema em um só imóvel atrasa todo um trecho”, destacou. Ainda segundo o gerente geral, o custo total das obras subiu 20% e o permitido por lei é 25%. Gurgel disse, ainda, que a verba para conclusão das intervenções está garantida pelo governo federal.
As obras do projeto de navegabilidade dos rios Capibaribe e Beberibe no trecho urbano do Recife serão retomadas no segundo semestre de 2015. O novo cronograma das obras prevê um ano e meio para conclusão. Ou seja início de 2017. De acordo com a Secretaria das Cidades, a retomada será possível após a aprovação dos projetos das estações pela Caixa Econômica Federal no início deste ano.
A Secid tem, no entanto, outro entrave: a relocação das palafitas de três comunidades que se encontram no trecho do ramal Oeste: Vila Brasil, Coelhos e Roque Santeiro. Esta, aliás, teria sido a principal razão para a interrupção da dragagem do rio por provocar instabilidade nas moradias.
De acordo com a Secid já foram dragados nove dos onze quilômetros do ramal Oeste. Segundo a secretária executiva de articulação, Ana Suassuna o próximo passo é remover as famílias. “Já existem soluções de habitações para as comunidades de Vila Brasil 1 e Coelhos. Ainda falta uma solução de auxílio-moradia para a comunidade de Roque Santeiro”, explicou a secretária.
A demora na análise dos projetos pela Caixa se deu, segundo ela, devido as alterações do local das estações. A estação do Derby que ficaria por trás do quartel da Polícia Militar foi transferida para as imediações do Memorial de Medicina. Já o galpão de manutenção previsto para ser instalado nas proximidades do metrô teve o projeto transferido para as imediações do Fórum Joana Bezerra. E a estação Recife ficará mais próxima da Ponte Velha (ferro).
Ao mesmo tempo que as obras serão retomadas, será lançado também o edital de concessão do serviço, que inclui também a compra das embarcações pela empresa que vencer a licitação. “No caso das embarcações chegarem antes da conclusão da estação Recife, nós poderemos entrar em operação com as que já estiverem concluídas”, pontuou.
O projeto prevê dois ramais: Oeste e Sul. A rota Oeste com 11 quilômetros de extensão no trecho entre a BR-101 e a estação central do metrô Recife. E terá cinco estações integradas ao sistema público de transporte por ônibus ou metrô. Já o ramal Norte com 2,9 km de extensão foi desenhado com duas estações. A estação Correios, na Rua do Sol, e estação Olinda, em frente ao Shopping Tacaruna. “No caso do ramal Norte, ainda não tivemos aprovação da Marinha para a estação Tacaruna”, revelou.
Saiba Mais
Cronologia das obras do projeto Rios da Gente
Início das obras – 2012
Retomada prevista no 2º semestre de 2015
Cronograma de conclusão 1 ano e meio (início de 2017)
O projeto contempla
R$ 289 milhões é o valor do orçamento
5 estações da rota Oeste
2 estações da rota Norte
13 embarcações
300 mil passageiros por mês deverão ser transportados
Rota Oeste – 11km de extensão
Estação Dois Irmãos
Estação Santana
Estação Torre
Estação Derby (imediações do Memorial de Medicina)
Estação Recife (imediações da Ponte Velha)
Galpão de manutenção (nas imediações do Fórum Joana Bezerra)
Rota Norte – 2,9 km de extensão
Estação Correios
Estação Tacaruna (Falta aprovação da Marinha)