Há hoje apenas 37 ônibus com ar-condicionado e cadeiras estofadas que fazem parte do sistema público de transporte da Região Metropolitana do Recife.
O luxo, que sai por R$ 2,67, 0,52 centavos a mais do que o anel A do ônibus convencional, representa apenas 1,2% da frota de 3 mil veículos da RMR. Atualmente há quatro linhas disponíveis no sistema geladinho: Aeroporto (opcional), Candeias (Opcional), Recife/Porto de Galinhas e Gaibu/Barra de Jangada.
Na viagem que fizemos na linha Aeroporto, havia bastante espaço e a temperatura interior estava agradável. A promotora de vendas Diana Maria Vieira, 46 anos, costuma pegar o geladinho, mas reclama que as opções são restritas. “Se for fazer uma rota diferente a gente tem que ir para o convencional. Outro problema é a demoram”, revelou.
Para o especialista em mobilidade urbana, César Cavalcanti, além da melhoria do conforto, rapidez e regularidade nas viagens é preciso também outras medidas para frear a frota de veículos nas cidades. “São necessárias políticas de restrição ao automóvel, entre elas o pedágio urbano, rodízio de placas, sobretaxa do combustível. Isso terá que ser feito. A única questão é quando?”, ressaltou.
Os ônibus da RMR transportam por dia 2,1 milhões de passageiros. Cerca de 60% desse universo são transportados nos horários de pico (manhã, tarde e noite).
Vazios por dentro e congestionados por fora. Após os horários de pico, a frota de três mil ônibus que circula na Região Metropolitana do Recife recebe uma demanda de cerca de 40% e muitos trafegam praticamente vazios.
Não há, no entanto, atrativo suficiente para conquistar o usuário do carro, que sai de casa depois das 8h, muitas vezes sozinho em seu veículo. Lado a lado: ônibus vazios e uma fila de carros a qualquer hora.
A ocupação irracional do espaço das vias, que só tende a piorar, está longe de ser invertida. A melhoria do transporte público deve levar em conta o conforto, a segurança, a rapidez, regularidade e um outro fator subjetivo, que vai de encontro a tudo isso: o desejo do usuário em adquirir o próprio carro ou moto justamente para fugir do transporte público.
O administrador João Paulo Marinho, 27 anos, mora em Camaragibe e trabalha em Boa Viagem. Passava das 10h, da última quinta-feira, quando o encontramos em um ônibus da linha Setúbal/Príncipe, na altura da Pracinha de Boa Viagem, na Conselheiro Aguiar.
Além dele, havia outros cinco passageiros. Não foi difícil perceber o contrasenso do ônibus com mais de 80% das cadeiras vazias e uma fila de carros passando ao lado da janela de João Marinho. “Não teria nenhuma dúvida em trocar de lado se pudesse, disse o passageiro, apesar do relativo conforto.
E ele não é o único. Uma média de 3.500 novos carros entram em circulação a cada mês na capital pernambucana. E cerca de 8 mil mensais na Região Metropolitana.
“O transporte público terá que ser mais rápido para concorrer com os carros. Se o ônibus atingir uma média de 30 quilômetros, na pista exclusiva, fará uma diferença grande”, revelou o especialista em mobilidade urbana e coordenador regional da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), César Cavalcanti.
Para a assistente financeira Aline Carvalho, 29, há duas questões que ela considera imprescindíveis para melhorar a qualidade do transporte público: conforto e regularidade. “A gente passa muito tempo esperando o ônibus. É calor do lado de fora e aqui dentro. No meu carro, eu teria ar-condicionado e sairia a hora que quisesse”, afirmou a futura motorista.
O patamar desejado por Aline, João Paulo e outros milhares de usuários do transporte público já faz parte da vida do administrador de empresas Alexandre Tavares, motorista há 13 anos, foi com ele que pegamos uma carona na Avenida Antônio de Góes para continuar a viagem até o centro e saber o que precisa ser feito para ele fazer o caminho de volta para o transporte público.
“Precisa que melhore. Nosso serviço é ruim. Não há conforto, segurança e muito menos regularidade no horário das viagens. Não há como se programar”, reclamou.
Alexandre havia saído da casa dele, no bairro de Piedade, Zona Sul, em Jaboatão dos Guararapes, às 11h05, para um almoço no Derby com um colega. Parou para abastecer em um posto, onde pegamos a carona, e só conseguiu chegar ao seu destino por volta das 12h20. “Uma hora e quinze minutos. Quase o tempo de ir até João Pessoa”, criticou. E quem disse que no trânsito é possível se programar?
O crescimento das cidades tem refletido no tempo que as pessoas demoram para ir de casa ao trabalho. O Censo 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), perguntou aos brasileiros, pela primeira vez, o quanto demora esse percurso e descobriu que, para 52,2% da população, ele leva em média de seis a 30 minutos.Quem vive em unidades da Federação mais desenvolvidas e populosas, porém, costuma levar, em média, mais de uma hora. É o caso de paulistas e cariocas.
Os dados não surpreendem os pesquisadores do instituto. Segundo a coordenadora de geografia, Maria Luísa Castello Branco, foi verificado no Brasil um fenômeno que ocorre em áreas metropolitanas de todo o mundo. “Mais pessoas se deslocando, levando mais tempo”, resumiu. Segundo ela, esse resultado era previsto porque geralmente quem mora em um município pequeno trabalha perto de casa e leva até cinco minutos para fazer o trajeto
. “Nas grandes cidades, as pessoas levam até mais de duas horas. Em São Paulo e no Rio (de Janeiro), por exemplo, que são densamente ocupados, o tempo de deslocamento de mais de uma hora é comum”, ressaltou. Nos dois estados, o alto tempo de locomoção atinge 428 mil (16,8% da população) e 229 mil (23,1%), respectivamente.
A expectativa da pesquisadora do IBGE é de que com os dados em mãos, os gestores consigam trabalhar melhor a questão do transporte público. “A informação nova é um indicativo para que se repense a questão da mobilidade urbana”, explica. Essa também é a esperança do técnico em prótese dentária, Fábio Alquimi, 32 anos.
Todos os dias ele pega um ônibus de Valparaíso para o Setor Comercial Sul, Distrito Federal. “Chego a ficar até duas horas no caminho, mas a média é de 1 hora e 20 minutos. O problema é que, sinceramente, eu não vejo como melhorar de imediato. A única saída seria investir mais em transporte público de qualidade”, sugere.
Para ele, uma alternativa para desafogar o trânsito seria uma maior variedade de transportes públicos. A especialista em mobilidade urbana e em educação da Universidade de Brasília (UnB), Maria Rosa Magalhães, também aposta no investimento em mais opções, como metrôs e trens urbanos. Segundo ela, a deficiência na variedade é, inclusive, um dos motivos para que o tempo gasto na locomoção seja grande.
O estudo divulgado ontem traduziu em números uma realidade bem conhecida de quem anda a pé pela cidade. De 12 capitais brasileiras, Recife ocupa o 4º lugar no ranking das que têm as piores calçadas. Buracos, imperfeições nos pavimentos, degraus, lixo, ambulantes, falta de acessibilidade, iluminação e sinalização são alguns dos problemas que atormentam os pedestres.
O levantamento foi feito pelo Mobilize Brasil, um portal da Associação Abaporu, uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). Os dados foram levantados entre fevereiro e abril deste ano e vão subsidiar a campanha nacional Calçadas do Brasil, para estimular vias melhores para os transeuntes.
De acordo com o estudo, a pior calçada do Recife está na Rua do Hospício, no Centro. Além de estreito – a largura mínima deve ser de 1,20m, segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) -, o passeio é tomado por buracos, comerciantes e lixo. “Nossas calçadas são uma vergonha e essa aqui é uma das piores da cidade. Já cai num buraco caminhando em Casa Amarela e fiquei 30 dias com a perna quebrada”, relatou a aposentada Rivanilde Soares, 70. Considerando os critérios irregularidades no piso, degraus, largura, existência de rampas de acesso, obstáculos, iluminação, paisagismo e sinalização, as calçadas da Rua do Hospício receberam média 3, inferior ao resultado da cidade, que foi 4,95.
O estudo selecionou ruas e áreas com alta circulação de pedestres, como terminais de ônibus, redondezas de hospitais e ruas comerciais. No Recife, dez vias foram avaliadas. De acordo com o estudo, o local onde o pedestre tem vez na capital é na Avenida Boa Viagem. O calçadão obteve a maior nota: 8,50. No Recife, vigora a Lei de Edificações e Instalações que determina que a manutenção das calçadas seja feita pelo proprietário do imóvel.
Já no entorno de praças, parques ou em frente a prédios públicos, a conservação é dever da prefeitura. “É claro que as calçadas do Recife não são boas, mas estamos tentando melhorar a acessibilidade”, reconheceu a assessora executiva da Secretraria de Controle e Desenvolvimento Urbano e Obras Glória Brandão. (Ana Cláudia Dolores)
A Comissão de Desenvolvimento Urbano aprovou o Projeto de Lei 1346/11, do deputado Lucio Vieira Lima (PMDB–BA), que cria o Estatuto dos Sistemas Cicloviários, com o objetivo de incentivar o uso de bicicletas no transporte urbano. O projeto obriga a União, os estados e os municípios a criar sistemas cicloviários nacional, estaduais e municipais.
O relator, deputado Valadares Filho (PSB-SE), afirmou que qualquer medida que se proponha a contribuir para melhoria dos meios de mobilidade, especialmente nos grandes centros urbanos, merece toda atenção, tendo em vista os graves problemas que a população brasileira vem enfrentando nas grandes cidades. “O atual modelo, fundado basicamente no transporte de veículos particulares de passeio e ônibus coletivos, tem se revelado inadequado, deixando a população sem alternativas para a mobilidade urbana”, assinalou.
Valadares destacou ainda que o transporte feito por meio de bicicletas é uma alternativa não poluente e que traz benefícios para a saúde. “Além disso, é também uma alternativa mais barata e com implementação mais rápida, que contribuirá para a melhoria do transporte, especialmente nos grandes centros urbanos”, disse.
Os sistemas propostos pelo projeto devem ser formados por uma rede viária para o transporte por bicicletas, constituídas por ciclovias (pista própria para a circulação de bicicletas, separada fisicamente do tráfego geral); ciclofaixas (faixa exclusiva para a circulação de bicicletas em vias de circulação de veículos, utilizando parte da pista); e faixas compartilhadas para circulação de bicicletas com o trânsito de carros.
Além disso, os sistemas cicloviários deverão conter locais específicos para estacionamento, chamados de bicicletários (locais para estacionamento de longa duração, públicos ou privados) e paraciclos (locais para estacionamento de curta e média duração em espaço público).
Tramitação
A proposta, que tramita em caráter conclusivo, já foi aprovada pela Comissão de Viação e Transportes, em dezembro do ano passado. Agora será analisada pelas comissões de Finanças e Tributação; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Entre fevereiro e abril de 2012 a equipe do portal Mobilize Brasil saiu pelas ruas de algumas capitais brasileiras para avaliar a situação das calçadas do país. Afinal, calçadas com boa qualidade são um equipamento fundamental para a mobilidade urbana sustentável. E, segundo dados do IBGE (2010), no Brasil cerca de 30% das viagens cotidianas são realizadas a pé, principalmente em função do alto custo do transporte público.
Além da importância para o transporte, as calçadas funcionam também como um “sensor” da qualidade de urbanização de uma cidade. Alguns pensadores afirmam que se pode medir o nível de civilização de um povo pela qualidade das calçadas de suas cidades. E há quem diga que as calçadas são melhor indicador de desenvolvimento humano do que o próprio IDH.
Enfim, cidades são feitas para pessoas, e estas primordialmente caminham. A necessidade de calçadas de qualidade vale para todos: jovens, adultos e também para crianças, idosos e pessoas com deficiência física, que demandam pavimentos bem nivelados, sem buracos, e dotados de rampas de acesso para cadeiras de rodas.
Calçadas devem ser suficientemente largas e, sempre que possível, protegidas por arborização para conforto de quem anda sob o sol. E bem iluminadas, para quem caminha à noite.
Outro item a não ser esquecido são bancos e jardins, que, sempre que houver espaço, são um sinal de gentileza urbana precioso, que se contrapõe à correria de nossos dias.
E, ainda, calçadas devem ser complementadas por faixas de segurança, equipamento básico para a travessia segura das ruas. Além disso, semáforos especiais, placas de sinalização e outros equipamentos de segurança podem ser necessários nas vias de maior movimento.
Levantamento Calçadas do Brasil
Para o lançamento da campanha Calçadas do Brasil, a equipe do Mobilize preparou um levantamento sobre a situação das calçadas em pontos-chave de algumas capitais do Brasil: Porto Alegre, Curitiba, São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Goiânia, Brasília, Salvador, Fortaleza, Natal, Recife e Manaus. No trabalho foram observados os seguintes itens, atribuindo-se notas de zero a dez:
– Irregularidades no piso
– Largura mínima de 1,20 m, conforme norma ABNT
– Degraus que dificultam a circulação
– Outros obstáculos, como postes, telefones públicos, lixeiras, bancas de ambulantes e de jornais, entulhos etc.
– Existência de rampas de acessibilidade
– Iluminação adequada da calçada
– Sinalização para pedestres
– Paisagismo para proteção e conforto
Outros indicadores de conforto para o pedestre, como o nível de ruído e a poluição atmosférica, não foram considerados, pois exigiriam ferramental técnico não disponível. O levantamento procurou coletar dados observáveis por qualquer pessoa que caminhe e observe o ambiente urbano. Assim, o mesmo formulário usado pelos correspondentes do Mobilize estará disponível para o público, que poderá avaliar as calçadas de outras cidades e publicar os resultados no endereço www.mobilize.org.br.
Para a avaliação, foram escolhidas ruas e áreas com alta circulação de pedestres, como estações de transportes, proximidades de hospitais e ruas comerciais.
As áreas avaliadas são todas de urbanização bem antiga, superior a 50 anos, e já passaram por processos de renovação de infraestrutura.
Nas doze cidades avaliadas, os resultados mostraram grande disparidade entre bairros e regiões. Numa mesma cidade, como Fortaleza, algumas ruas obtiveram nota média acima de 9, como a av. Bezerra de Menezes, enquanto a região central da capital cearense ficou com a média 5,38, bem abaixo da nota 7, que foi considerada a mínima para uma calçada de boa qualidade.
No Recife, enquanto as calçadas da Praia de Boa Viagem obtiveram nota 8,50, a rua do Hospício, no Centro, ficou com média 3,00.
Em São Paulo, enquanto a avenida Paulista tem uma calçada nota 10, a rua Darzan, em Santana, ficou com a nota 3,13, e a região da rua 25 de Março, no Centro, obteve média 5,14. E num mesmo quarteirão, no entorno da estação Santa Cruz do metrô, há calçadas bem cuidadas, com notas 8,75, e outras cheias de falhas e obstáculos, que levaram nota 5,63.
De forma geral, em todas as cidades avaliadas constatou-se certo descaso das autoridades quanto à conservação das calçadas, especialmente por conta das frequentes obras realizadas por concessionárias de serviços de água, gás, energia e telefonia. Raramente após uma obra a calçada é restaurada conforme seu padrão de qualidade original, o que resulta em feias cicatrizes, desnivelamentos ou simplesmente em buracos abandonados ao sabor do tempo.
As obras do metrô de Salvador e o Sistema de Transporte da Região Metropolitanavai receberão R$ 3 bilhões em investimentos do PAC Mobilidade. O valor foi anunciado na manhã desta terça-feira (23) durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, que contou com a presença da presidente Dilma e do governador Jaques Wagner.
O projeto do PAC Mobilidade Urbana tem o objetivo de investir R$ 22 bilhões para projetos de metrô, veículo leve sobre trilho (VLT) e corredores de ônibus em cidades com mais de 700 mil habitantes.
Em todo o país estão previstas a construção de mais de 600 km de corredores exclusivos para ônibus, mais de 380 estações e terminais, 200 quilômetros de linhas de metrô, além da aquisição de mais de mil veículos sobre trilhos.
Em Pernambuco serão investidos de R$ 2.4 bilhões do PAC da Mobilidade, dos quais R$ 1,6 bilhão será repassado ao Governo do Estado e R$ 800 milhões ao município do Recife.
Os recursos serão empregados para a construção de empreendimentos como os corredores exclusivos de ônibus na II Perimetral/Via Metropolitana Norte e IV Perimetral (BR-101), o programa de Navegabilidade do Rio Capibaribe – projeto pioneiro da Secretaria das Cidades onde o barco se transformará em um novo modal de transporte público da RMR, além da construção das obras de arte e estações dos corredores Norte Sul e Leste Oeste, que já estão em andamento pelo Governo do Estado.
De acordo com o secretário das Cidades, Danilo Cabral presente no anuncio oficial dos projetos contemplados no PAC da Mobilidade, os investimentos destinados ao Estado eram aguardados desde fevereiro do ano passado, após o anuncio da presidente Dilma Rousseff. Segundo ele, a decisão vai beneficiar mais de 2 milhões de pessoas que utilizam, diariamente, o transporte público, uma vez que os Corredores Exclusivos de Ônibus vão atender às cidades de Abreu e Lima, São Lourenço da Mata, Camaragibe, Igarassu, Jaboatão dos Guararapes, Olinda, Paulista e Recife.
O CREA-PE volta se posicionar contra o projeto dos quatro viadutos da Agamenon Magalhães. Mesmo com o edital nas ruas. os posicionamentos contrários ao projeto se intensificam. Confira a nota
Nota oficial do Crea-PE:
O Plenário do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco (Crea-PE), em decisão tomada por aclamação durante a primeira sessão de 2012 – Plenária nº 1.760, em 03 de fevereiro de 2012 –, decidiu contestar o processo de condução do Governo do Estado de Pernambuco no tocante às intervenções propostas para a Avenida Agamenon Magalhães, bem como a solução apresentada. Na deliberação, os conselheiros do Crea-PE aprovaram o envio de ofício ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE) manifestando a posição do Conselho, o que colaborou para a realização de audiência pública no último dia 30 de março.
O Plenário do Crea-PE reitera publicamente a necessidade de uma discussão ampla com a sociedade, não somente por ser esta a beneficiária principal de tal intervenção, mas, principalmente, por entender que a solução técnica apresentada não é a mais adequada. Alguns aspectos importantes do projeto ainda não foram devidamente esclarecidos ou apresentados, como a questão da travessia de pedestres ao longo de toda a extensão da Avenida Agamenon Magalhães, a ausência dos estudos de impactos nas vizinhanças e nos corredores de tráfego no entorno daquela via, a ausência de estudos de viabilidade econômica, financeira, social e ambiental e o fato de que investimentos de grande porte (no caso, os viadutos) seriam destinados ao transporte individual e não ao transporte coletivo.
A implantação do Corredor Norte-Sul pode prescindir da construção desses viadutos, os quais, longe de resolver o problema da mobilidade na nossa cidade, ainda constituir-se-ão em pontos de degradação urbanística e ambiental.
Aracaju, capital de Sergipe, é um exemplo de mobilidade urbana com a inclusão da cilcovia nos deslocamentos da cidade. Perfeitamente possível de ser feito também no Recife. É só uma queustão de decisão política. Simples assim. confira o vídeo.
Qual o primeiro sinal de crescimento de um bairro? O número de prédios, comércio ou número de carros? Acertou quem apostou no aumento do tráfego. O bairro de Santo de Amaro, que tem hoje um dos quadriláteros mais disputados pelas empresas, trouxe junto os estacionamentos em vias públicas, o aumento das operações de carga e descarga, comércio informal e a sensação de que o bairro do futuro não foi planejado para a sua nova vocação.
O Instituto da Cidade Pelópidas Silveira está elaborando um estudo prevendo edifícios-garagem, ciclovias e vias verdes em Santo Amaro. O estudo deverá servir de emenda para o Plano de Mobilidade da cidade. Mas, até isso acontecer, o impacto do crescimento desordenado é também uma das preocupações do Porto Digital, que expandiu seu território para o bairro e realiza hoje, às 19h, no Teatro Hermilo Borba Filho, um seminário sobre a mobilidade da área.
E a preocupação não é a toa. De acordo com a Dircon, nos últimos dois anos, 476 empresas receberam alvará de funcionamento no bairro. “Nós precisamos saber a cidade que queremos”, ressaltou o presidente do Porto Digital, Francisco Saboya. O impacto da circulação não é apenas dos veículos, mas também do deslocamento das pessoas.
Das novas empresas, uma das que mais chamam atenção pela dimensão é a Contax, que fornece serviço de call center e emprega cerca de 15 mil funcionários. Grande parte dos funcionários usa o transporte público e um número significativo opta pela moto. Um quarteirão inteiro de motos é o retrato da mobilidade que temos hoje.
Para quem depende do transporte público, como é o caso da operadora de telemarketing, Rafaela Martins, a rotina para chegar ao trabalho começa cedo. “Saio de casa às 4h40 para chegar aqui às 6h. Trabalho até o meio-dia e chego em casa por volta das 14h30”, revelou. Se tivesse condições, não teria dúvida em deixar o transporte público.
O que também contribui para a piora na circulação é o aumento das operações de carga e descarga. O bairro tem uma característica de dispor de um grande número de galpões. Em um passado não muito distante, as empresas aproveitavam a proximidade do bairro com o centro e construíam depósitos para armazenar mercadorias. Em Santo Amaro há atualmente 82 galpões. E pelo visto estão operando com toda sua capacidade. Não importa a hora. Uma cena comum no bairro é o motorista ter que esperar, pacientemente, que determinada empresa conclua a tarefa de carga e descarga para poder prosseguir. Há casos em que a via inteira fica obstruída.
De acordo com o diretor de trânsito da CTTU, Agostinho Maia, o bairro de Santo Amaro ainda não foi incluído no perímetro defindo pela portaria do órgão de trânsito, que determina que as operações sejam feitas das 22h até as 5h e durante o dia, em pontos definidos pela CTTU e com veículos de até seis metros de comprimento.
“Até julho devemos incluir Santo Amaro nesse perímetro”, afirmou Agostinho Maia. Na estratégia de ordenamento, o trabalho da CTTU é tentar administrar o caos que já está instalado. Mas como evitar que o problema se instale? De acordo com a diretora da Dircon, Maria José D’Biase, os novos alvarás estão sendo fornecidos com a condição das empresas disporem de uma área dentro do lote para as operações de descarga.