Os integrantes da Frente de Luta pelo Transporte Público seguem em passeata para a Avenida da Conde da Boa Vista, no centro do Recife. Os manifestantes anunciaram que pretendem fechar o tráfego da via na tarde desta quarta-feira, em protesto pela Passe Livre.
Em caminhada pela Rua do Hospício, eles chegaram a interromper a via nos dois sentidos. Os manifestantes, ligados ao movimento estudantil e a organizações não-governamentais, iniciaram o cortejo na Escola Estadual Luiz Delgado, no Parque Treze de Maio.
O percurso deve seguir até a Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) e à Câmara Municipal do Recife. O ato cobra ao prefeito Geraldo Julio um projeto de lei de gratuidade do transporte público para os estudantes e aos vereadores, a abertura de uma CPI para investigar as empresas de ônibus.
Caso mantenham a Câmara como roteiro da passeata, eles deverão encontrar as portas fechadas. O presidente da casa, o vereador Vicente André Gomes (PSB), decidiu suspender o expediente, apresentando como motivos a “proteção da integridade física dos funcionários, a preservação do serviço de biometria que vem sendo realizado pelo Tribunal Regional Eleitoral (T R E) nas dependências do prédio, bem como de todo o imóvel, que é patrimônio público e histórico da cidade”.
O tradicional desfile cívico-militar de sete de setembro não será mais realizado na Avenida Cruz Cabugá, em Santo Amaro. Este ano, a Avenida Mascarenhas de Moraes, na Imbiribeira, deverá ser o novo endereço da festividade. Com isso, o desfile, que por décadas aconteceu na Conde da Boa Vista, deixará de ser no Centro do Recife e passará para a Zona Sul. Em mais de 70 anos, essa é a terceira mudança de localidade da parada que marca o Dia da Independência do Brasil. A informação foi confirmada pela Sétima Região Militar do Exército, que coordena o evento.
De acordo com o Exército Brasileiro, a mudança de local foi solicitada pela Prefeitura do Recife (PCR). O problema é que, como já começaram as obras do corredor Norte/Sul na Avenida Cruz Cabugá, de responsabilidade do governo do estado, não seria possível realizar o desfile nessa via.
No dia da parada, toda a avenida, do shopping Tacaruna até o Parque Treze de Maio, ficava interditada para a passagem dos militares e estudantes. Algumas interdições precisavam ser feitas antes do dia 7 para a montagem de arquibancadas e palanques. No próximo mês, pelos menos três trechos da avenida estariam em obras, com circulação de máquinas pesadas, o que tornaria o desfile inviável.
Como outros corredores também serão alvos de intervenções para a melhoria do transporte público na cidade, a Mascarenhas de Moraes surgiu como opção para não ferir a tradição. Os detalhes do planejamento do desfile, como local exato de arquibancadas e palanques e pontos de concentração e dispersão, estão sendo fechados pelos militares e pela Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU). Algumas decisões, no entanto, já foram tomadas.
Conforme antecipou o setor de comunicação social da Sétima Região, o palanque principal, onde ficam as autoridades civis e militares, ficará em frente ao Ginásio de Esportes Geraldo Magalhães (Geraldão). Somente a pista no sentido Jaboatão/Recife será utilizada. É nela que deverão ser montados outros dois palanques e arquibancadas. Civis e militares deverão desfilar na mesma direção da pista. Os militares deverão se concentrar ainda em Porta Larga, Jaboatão dos Guararapes.
A cerimônia começará, às 8h, com a revista da tropa feita pelo governador Eduardo Campos e pelo comandante militar do Nordeste, general do Exército Odilson Sampaio Benzi. Às 8h50, será cantado o hino nacional e, em seguida, às 9h, terá início o desfile. As escolas serão as primeiras e deverão sair do viaduto Tancredo Neves em direção a Afogados.
As vias do Ipsep e a Avenida Antônio Falcão poderão servir como rotas de dispersão. Em nota, a CTTU informou que ainda está definindo a operação de trânsito para o desfile. Como ficará o acesso à UPA da Imbiribeira e ao Aeroporto Internacional do Recife/Guararapes durante a parada é um dos pontos que estão sendo estudados.
Decisões isoladas não só prejudicam qualquer ação de intervenção urbana como retardam, encarecem e desacreditam. Nas obras de mobilidade não é diferente. E uma das premissas da ausência de comunicação entre os órgãos ou os diversos níveis de governo está na falta de planejamento.
Um norte para se caminhar na mesma direção é o chamado plano diretor, seja na esfera urbana ou de transporte ou em que qualquer área com políticas afins. As obras de mobilidade que a Região Metropolitana do Recife está tendo o privilégio em receber não ficaram livres de contratempos. Uma das razões foi justamente a falta de conexão entre quem executa e quem resolve planejar depois.
Um exemplo clássico foi a obra de recuperação da PE-15. Parte do serviço da rodovia estadual teve que ser refeito porque alguém lembrou, tardiamente, que o piso por onde irá passar o ônibus do corredor Norte/Sul, no modelo articulado, exige um pavimento mais resistente. O jeito foi quebrar para refazer.
Outro exemplo mais gritante foram as obras de recuperação das avenidas Conde da Boa Vista e Caxangá. Novas paradas, canteiro central, coberturas modificadas, inclusive no Derby, para descobrirmos que quatro anos depois o que foi feito em 2008 terá que ser refeito agora.
Enquanto a Prefeitura do Recife trabalhou na ótica de criar um corredor de ônibus comum, o estado apostou no modelo do Transporte Rápido por Ônibus. Tudo será refeito para se adaptar ao modelo proposto. E fico me perguntando se poderia ter sido diferente, independentemente dos gestores públicos. Só mesmo um plano diretor de transporte urbano para nortear as escolhas.
Em todo caso, quem poderia antever que o Recife seria uma das subsedes da Copa do Mundo? Ninguém. Mas porque será que em Curitiba, o anúncio das obras da Copa não precisou provocar mudanças na concepção do sistema de tráfego existente? Eles planejaram na década de 1970 e a Copa ainda era um sonho só visto na televisão.
Fonte: Diario de Pernambuco (Coluna MobilidadeUrbana)
Foi em março de 2008 que a Avenida Conde da Boa Vista ganhou a configuração atual com um corredor exclusivo no centro da via. O impacto na redução da circulação dos automóveis e os congestionamentos no entorno deixaram uma imagem negativa em relação às intervenções. A Conde da Boa Vista que, inicialmente, fazia parte do projeto do Corredor Leste/Oeste, chegou a ser preterida e o projeto passou a ser da estação Timbi de Camaragibe ao Derby, mas quatro anos depois ela volta a ser palco das intervenções. A via é a ligação natural com o Centro do Recife e se une pela Ponte Duarte Coelho com a a Avenida Guararapes.
Antes das intervenções o número de linhas que passava pela Conde da Boa Vista era de 107 e com as mudanças houve uma redução para 91. A expectativa com a entrada do BRT na via é de reduzir ainda mais a entrada de ônibus no centro da cidade. A empresa Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano ainda não definiu a logística das linhas com a inclusão do BRT. Para o consultor em mobilidade urbana, Germano Travassos, a redução das linhas ao centro não é uma tarefa fácil. “É uma concepção histórica: muita gente vai até o Centro para pegar outra condução”, explicou Travassos.
Na década de 1970, segundo o especialista, uma pesquisa elaborada pela Sudene apontou que em 50% das viagens dos coletivos, os passageiros tinham como destino o Centro da cidade. Em 1997 com a pesquisa de origem/destino foi identificado que o número de viagens ao Centro era de 25%, mas dessas apenas 15% efetivamente tinham como destino o Centro da cidade. “Esse local funciona como um ponto de transbordo. As pessoas sabem que vão linhas de todo lugar e fica mais fácil fazer a transição”, explicou Germano Travassos.
Em 2008 com atualização das informações para o Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU), o percentual de 15% ainda permanece. “Isso significa que 85% das viagens não têm o Centro como destino. Grande parte dos ônibus chega até lá praticamente vazios”, ressaltou. Apesar disso, o Centro do Recife é o ponto de maior preferência de destino quando as comunidades solicitam uma linha. “Nenhum lugar no Recife tem mais preferência que o Centro da cidade, mesmo com o esvaziamento das atividades. É uma questão histórica, ganha inclusive para Boa Viagem”, afirmou Travassos.
O corredor Leste/Oeste vai mudar radicalmente a Avenida Caxangá para se adaptar ao modelo do BRT (Transporte Rápido por Ônibus). As intervenções também vão atingir a Praça do Derby e as avenidas Conde da Boa Vista e Guararapes. Veja o vídeo.