Ciclista: livres para infrigir

Ciclista na contramão e transportando duas crianças

Tânia Passos
taniapassos.pe@dabr.com.br

Na escala da mobilidade, o ciclista é o segundo mais importante. Só perde para o pedestre. A defesa pelas ciclovias é uma das principais bandeiras quando o assunto é integração dos modais e melhoria do tráfego. Mas há um aspecto que precisa ser visto com preocupação: as infrações dos ciclistas. Sempre ignorado nas políticas de mobilidade, o ciclista, em geral, não se sente integrante do sistema de mobilidade e ignora as leis de trânsito criando regras próprias. Como o transporte não é regulamentado pelo município, não há como aplicar multa e eles ficam livres para infrigir.

De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, os veiculos não motorizados devem se adequar às normas de circulação dos veículos motorizados, mas cada município deve fazer sua regulamentação. “Aqui em Pernambuco nenhum município regulamentou as normas de circulação dos veículos não motorizados. Sem o instrumento do licenciamento não há como aplicar a multa”, explicou a presidente do Conselho Estadual de Trânsito (Cetran), Simíramis Queiroz.

Seja por falta de punição, descuido ou conhecimento, o fato é que o trânsito das bicicletas na cidade é confuso e arriscado. E para piorar não há ciclovias ou ciclofaixas suficientes para pemitir uma melhor mobilidade por parte do ciclista. “No caso de não haver ciclovia, o ciclista tem que trafegar na via de acordo com as normas, mas muitos pedalam na contramão”, afirmou a presidente do Cetran. A estudante Jéssica Lima, 19 anos, conta que já foi atropelada por uma bicicleta em plena faixa de pedestre. “Alguns não param quando o sinal fecha e o pedestre acaba sendo vítima. Isso já aconteceu comigo”, revelou.

Ciclista ignora o sinal vermelho da ciclovia

Durante quase duas horas, o Diario acompanhou o tráfego na Avenida Boa Viagem e constatou que os ciclistas ignoram o sinal vermelho na ciclovia, sem nenhuma hesitação. “Se não tiver pedestre passando na faixa, eu não paro”, admitiu o ciclista Cleonildo da Silva, 34 anos, porteiro. Ele mora no Ibura e trabalha em Boa Viagem. A bicicleta é o seu meio de transporte. “Eu não vou dizer que cumpro todas as normas de trânsito de minha casa até o trabalho. Os carros não respeitam o ciclista e, em alguns casos, a gente tem que se defender, mesmo que seja errado”, justificou.

Pedalar na contramão, aliás, deixou de ser exceção há muito tempo. Flagrar esse tipo de irregularidade é fácil. Na Avenida Jaime da Fonte, no bairro de Santo Amaro, onde há duas vias largas nos dois sentidos, é comum encontrar ciclistas circulando pela contramão. Foi lá que encontramos a dona de casa, Sandra Maria Cabral Cavalcanti, 45 anos, transportando os dois netos em uma bicicleta pela contramão. Um neto no bagageiro e outro dentro de uma caixa no quadro da bicicleta, o que também não é permitido.  “É o único transporte que eu tenho, mas vou ter mais cuidado para não ir pela contramão”.  Apesar dos riscos, ela conta que nunca sofreu um acidente.

 

Desprovidos de segurança

Enquanto transporta um dos netos em uma caixa no quadro da bicicleta, a dona de casa Sandra Maria Cabral, que circulava na contramão, também ignora outras normas de segurança, inclusive para ela mesma. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), entre os equipamentos de segurança, a bicicleta deve dispor de campainha, sinalização noturna e espelho retrovisor do lado esquerdo. A bicicleta dela não dispõem de nenhum desses equipamentos e para piorar, ela também pedalava de chinelo. “Essa é a bicicleta que eu tenho e aqui eu consigo levar juntos os meus netos”, afirmou.

A incoerência é que os ciclistas, que mais usam a bicicleta como meio de transporte, são, talvez, os que dispõem de menos equipamentos de segurança. É o caso do ciclista Amaro Barbosa Farias, 53 anos, ambulante, que mora em Peixinhos e trabalha na Estação Central do Metrô Recife. “Eu venho para o trabalho todos os dias de bicicleta e gasto menos tempo do que se viesse de ônibus”, comemorou. A bicicleta dele, no entanto, é quase um atentado à segurança. Para começar não tem freio e nenhum tipo de sinalização, mesmo ele fazendo percurso noturno. “Eu circulo pela Agamenon e PE-15 para chegar em casa. É perigoso e já sofri um acidente uma vez, mas é o meu transporte”, afirmou.

 

 

 

Comportamentos no trânsito

 

Pesquisa realizada nos EUA mostrou que motoristas de carros maiores e/ou de luxo tendem a cometer mais infrações de trânsito, notadamente cortar à frente dos demais veículos ou não deixar pedestres atravessarem (Folha de São Paulo, 29/2/2012, p.C-7, ou edição eletrônica da revista PNAS).

Em cidades brasileiras, defronte de colégios e cursos de línguas, motoristas estacionam impunemente em qualquer lugar, ou param em fila dupla ao deixar ou apanhar seus filhos, contribuindo para a imobilidade urbana. A justificativa é: “todo mundo faz”. Os pesquisadores da Univ. da Califórnia, Berkeley apontam como provável gerador dos comportamentos antiéticos testados (e não somente no trânsito), a ganância para levar vantagem pecuniária ou de outro teor – versão americana da brasileira Lei de Gérson.

Ao volante, essa lei implica avançar um metro aqui, três minutos ali, mesmo ao custo de imprudências e atrevimentos de alto risco. Mas, não dá para concluir que rico, no trânsito, é mais afoito e prepotente. Tenho sido vitima da truculência de motoristas de veículos “humildes” cortando meu carro pela esquerda, ou não me dando passagem, quando estou pedestre.

Tal qual os condutores dos carros de luxo testados na Califórnia. Na minha cidade, ricos e pobres pintam e bordam no trânsito. Não vejo diferença entre a arrogância do que se acha dono do mundo num potente quatro-rodas e o que se crê super-homem numa motocicleta de “delivery” de encomendas. Motoqueiros e ciclistas que, em sua maioria, não são classe alta, são os que mais “aprontam”, atentando contra a própria vida e a dos outros.

Um hábito vigente e perigosíssimo é interpretar o sinal amarelo nos cruzamentos como “acelere e passe”. O significado do amarelo no Código Nacional de Trânsito é “diminua a velocidade e pare”. Disse-me uma especialista em tráfego que o sinal amarelo é para dar tempo ao motorista que já estiver atravessando o cruzamento, de completar a travessia.

Quem vem atrás dele, tem de parar, pois o amarelo sempre precede o vermelho. Na ânsia de levar uma vantagem de três segundos, ao acelerar vendo o amarelo, vários motoristas acabam cortando o sinal vermelho. Enfim, nem ricos nem pobres são flor que se cheire como condutores de veículos. Entre os reprovados em comportamento no trânsito estão os pés de chinelo e os exibidores de grifes. Falta gentileza e civilidade – comportamentos a aprender desde pequenininho, independentemente de nível socioeconômico.

 

Fonte:

Artigo – Tereza Halliday  (Da página de Opinião do Diario de Pernambuco)

 

A ineficácia das multas de trânsito

 

O Código de Trânsito Brasileiro nasceu para contribuir com a educação no trânsito, visando, em última análise, reduzir do número de acidentes e mortes no País. Passados 15 anos – a lei é de 1997 – temos visto um significativo desvirtuamento sobre seus reais objetivos.

A leitura do Código deixa claro que o princípio da lei é o de que “infrações devem ser punidas”. Para isso, vêm sendo desenvolvidos inúmeros mecanismos de controle, para garantir que as punições cheguem aos respectivos infratores. O exemplo mais recente é o do Renainf – Registro Nacional de Infrações de Trânsito, que passou a emitir as multas cometidas por condutores de estados diferentes daquele onde o carro foi emplacado.

O problema é que determinadas autoridades de trânsito do País, do âmbito Federal, Estadual ou Municipal, enxergam as multas não como um instrumento educativo, mas sim como uma fonte de arrecadação. Não é novidade que hoje, inclusive, as multas de trânsito já frequentem os orçamentos de “receita” dos diversos Governos.

Outro desvirtuamento é que, para facilitar o recebimento das multas, as autoridades de trânsito insistem cobrá-las do proprietário do veículo – e não do real infrator. Isso prejudica e burocratiza o processo de notificação e cobrança. Na maioria das vezes, no caso do setor de locação de automóveis, o infrator já retornou ao seu domicilio de origem, gerando dificuldades enormes para a locadora, proprietária do veículo, e também para o cliente envolvido com a infração.

O posicionamento da ABLA é bem claro: o Código de Trânsito Brasileiro tem como filosofia primordial a educação. O objetivo é inibir os motoristas de dirigirem colocando em risco a integridade física do próprio condutor, dos demais ocupantes do veículo e do cidadão comum que transita pela via pública.

Portanto, ninguém é contra a aplicação das multas, mas sim a favor do óbvio: que os responsáveis pelas infrações sejam também responsabilizados pelo pagamento, sem o quê perde-se totalmente o principio educativo que fez nascer o Código de Trânsito.
Esta filosofia também estimularia mais cuidados com os carros e, portanto, menos acidentes. O resultado seria menor custo de manutenção e de reparos da frota, economia que poderia ser revertida em maiores benefícios também para os clientes usuários do nosso setor.

Por tudo isso, e também para o cumprimento do dever de cidadania responsável, a ABLA tem trabalhado arduamente. O encaminhamento direto das punições aos reais infratores facilita e permite aos clientes terem tempo hábil para adotar as providências necessárias. Também desonera a locadora de um trabalho que não lhe é de responsabilidade (cobrar multas de trânsito), mas principalmente é uma medida que contribui para um modo mais seguro de dirigir.
Antes de punir e arrecadar, o caminho é educar.

*Paulo Gaba Jr. é presidente do Conselho Nacional da ABLA (Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis).

FONTE: Trânsito Manaus

Elas são melhores no trânsito, mas ainda insistem no celular

Tânia Passos
taniapassos.pe@dabr.com.br

Os números não mentem: as mulheres dirigem melhor que os homens. De acordo com dados do Detran/PE, há no estado um total de 379.821 mulheres habilitadas para dirigir contra 1,4 milhão de motoristas homens. Elas representam, na verdade, um quarto no número de condutores no estado, ou seja 25%. Mas são responsáveis por apenas 22,86% do total de infrações cometidas.

Tecnicamente elas têm uma vantagem de quase 3% a menos de infrações cometidas em relação aos homens. É pouco? Claro que não. Isso só mostra que é um mito, nada lisonjeiro, para a classe feminina de que os homens são melhores no volante. O fato deles terem tido acesso primeiro ao carro, em um passado distante, não quer dizer nada hoje.

Para se ter uma ideia do perfil de cada um ao volante, os números do Detran/PE revelam que no ranking das 10 dez infrações mais cometidas pelos dois gêneros, alguns dados curiosos. Em matéria de velocidade, os homens estão a frente e chegam a ultrapassar com até 50% da velocidade permitida.

As mulheres também são velozes, mas elas costumar ultrapassar com velocidade 20% maior do que a permitida. Mas é na hora de falar ao celular que elas ganham para eles nas infrações. No ranking, esse tipo de infração é a terceira mais cometida por elas. Para os homens, o celular está em quarto lugar entre as infrações mais praticadas.

A empresária Cíntia Maia Ramos Ruas, 41 anos, costuma usar o celular no volante, mas até hoje não foi multada. As três infrações que já sofreu foram por aumento da velocidade. “Na verdade, a sinalização não estava adequada e eu não vi que havia uma lombada. Não foi culpa minha”, declarou.

De acordo com o diretor de fiscalização do Detran, Sérgio Lins os números mostram que as mulheres de fato são melhores no volante, mas faz uma ressalva. “Elas dirigem um pouco melhor, mas precisam esquecer o celular quando estiverem dirigindo”, afirmou. No quesito estacionamento proibido, os dois estão empatados.

A infração é a quinta mais cometida pelos dois gêneros. De acordo com a presidente da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), Maria de Pompéia, se fossem somados os vários tipos de estacionamento proibido, o item seria campeão das infrações entre homens e mulheres. “A classificação é feita de forma diferenciada. Por exemplo: quem estaciona em calçada recebe um tipo de código e quem estaciona em fila dupla é outro tipo. Se fóssemos somar todas as formas de estacionamento proibido, o resultado do ranking seria outro”, explicou Maria de Pompéia.

O Recife e o plano municipal de educação no trânsito

 


Tânia Passos
Taniapassos.pe@dabr.com.br

Educar o motorista no trânsito não é uma tarefa fácil. E há pelo menos duas razões para isso: o individualismo e a ausência de campanhas sistemáticas. No ano em que a Organização das Nações Unidas (ONU) clama a participação de todos para a redução da violência no trânsito, na década de 2011 a 2020, a Prefeitura do Recife traz uma proposta de um plano muncipal de educação para o trânsito nas escolas do município. A ideia é capacitar os professores da rede, em todas as disciplinas.

O plano, que será definido em decreto, a ser assinado hoje pelo prefeito João da Costa, tem metas até 2015 e aposta nos motoristas do futuro. Já é um passo no trabalho da formação de uma consciência. A outra parte, bem mais difícil, é trabalhar com os motoristas do presente. Na Semana Nacional do Trânsito, o município e o estado definiram ações que também focam na questão da conscientização.

O Recife tem uma frota de mais de 500 mil veículos, mas recebe diariamente a frota que circula na Região Metropolitana, que já ultrapassou a marca de um milhão de veículos. E não é apenas o excesso de carro que prejudica a livre circulação. É carro demais e motorista despreparado. A qualquer hora do dia ou da noite, em qualquer das vias da cidade é possível identificar as mais diversas infrações. Nem todas são vistas.

No balanço divulgado, no ano passado, pela Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) foram registradas multas em apenas 20% da frota que circula na capital pernambucana.
Ontem, o repórter fotogáfico Paulo Paiva registrou irregularides em alguns pontos da cidade. Na Avenida Norte, o desrespeito na ciclovia com o estacionamento na faixa dos cicilistas. As calçadas também não são poupadas. E na Avenida Agamenon Magalhães, uma cena corriqueira de avanço da faixa de pedestre.

Ontem, um ônibus de turismo parou em cima da faixa. Um agente de trânsito foi até local e emitiu a multa. Acostumado com o trânsito caótico da cidade, o motociclista e policial militar, Alcemir Lopes dos Santos, 38 anos,  dá a receita para sobreviver ao trânsito. “É preciso ter muita paciência. O problema é que todo mundo tem muita pressa e acaba sendo pior . Em muitos casos, o melhor é dar a vez”, revelou.

Taxista há 13 anos, Augusto César Lins, 55 anos, ainda se impressiona com a falta de educação dos motoristas. “Tem gente que simplesmente estaciona o carro em uma via de fluxo intenso como se não tivesse fazendo nada demais, mesmo que tenha uma fila enorme tentando passar. Não há como melhorar se não houver conscientização, por mais estradas e viadutos que sejam construídos”, ensinou.

No ranking das 10 infrações mais cometidas na capital pernambucana, a velocidade superior à permitida é a campeã com mais de 50 mil multas. Em segundo lugar, o avanço do sinal vermelho. Uma prática comum para mais de 49 mil motoristas e em terceiro o uso do aparelho celular. O estacionamento irregular é a 4ª maior infração.

Saiba Mais

Semana Nacional do Trânsito ( de 20 a 29 de Setembro)

– Plano Municipal de Educação para o Trânsito – Será lançado hoje com assinatura do decreto pelo prefeito João da Costa. Plano irá atuar nas escolas
– Campanhas nas redes sociais – Pretende apostar na internet para divulgação de material de campanha nos perfis (@recifeweb) e (@CTTu_recife)
– Twiticam – Amanhã, a presidente da CTTU Maria de Pompéia estará no twitter da CTTU respondende perguntas dos internaturas das 15h ás 15h30
– Campanhas nas rádios comunitárias – Divulgação de dicas para motoristas e pedestres durante a semana nascional em 15 rádios comunitárias
– Campanha nos shoppings – A Prefeitura do Recife e a Associação Pernambucana de Shoppings Centers fará campanha para conscientizar sobre as vagas especiais
– Formação de corpo técnico da Vigilânciia Sanitária – Entre os dias 27 e 29, numa ação conjunta com a CTTU, os profissionais de saúde vão ser capacitados a orientar usuários de bicicletas a usar equipamentos de segurança.

Fonte: Prefeitura do Recife