VLT: Porque descartar?

A discussão pode ter demorado a chegar, mas é preciso levar em conta que estamos falando não apenas da Copa de 2014, mas principalmente de um meio de transporte para o futuro da mobilidade do Recife e Região Metropolitana. Para quem hoje não tem nada, o BRT (Transporte Rápido por Ônibus), pode parecer o supra sumo da solução. E de fato, é um modal que tem exemplos de sucesso em  Curitiba e Bogotá, mas já revela problemas de superlotação.

Mas podemos ter melhor. Os países do primeiro mundo apostam principalmente no sistema ferroviário. É mais caro mesmo, mas com tempo de vida útil e de capacidade operacional incomparáveis, sem falar no conforto e rapidez. Também teria mais condições de atrair o usuário do carro com mais eficiência do que o ônibus.

Demoramos a implementar a discussão. A própria CBTU-Metrorec ficou praticamente apagada durante todo o processo de definição dos modais, onde o monotrilho parecia ser a única dúvida.

Olhando para a Copa estamos com o tempo apertado para a execução. Além disso, o próprio governador já havia decidido pelo BRT  para a BR-101. Aliás, esse trecho foi o primeiro a ser definido. O estado já afirma como certa a escolha e descarta de vez o VLT, segundo a reportagem abaixo de Ana Cláudia Dolores. O que é uma pena. Porque descartar?

VLT que esteve em fase de testes entre as estações de Cajueiro Seco e do Cabo. Imagem: GEORGE ANTONY/DIVULGAÇÃO

Diario de Pernambuco

Por Ana Cláudia Dolores

A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), através do Metrô do Recife (Metrorec), sugeriu à Secretaria das Cidades o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) como alternativa ao Bus Rapid Transit (BRT) que será implantado no corredor exclusivo a ser construído na BR-101.

A CBTU/Metrorec já vinha realizando estudos sobre a viabilidade do VLT no trecho entre o Terminal Integrado da Macaxeira e a estação de Cajueiro Seco, em Jaboatão dos Guararapes, e apresentou essas conclusões ao titular da pasta, Danilo Cabral. Apesar de ser um investimento mais caro, a principal vantagem do VLT sobre o BRT, segundo a CBTU, estaria na maior capacidade de transporte de passageiros: 150 mil, por dia, contra 110 mil do BRT.

Os estudos feitos pela CBTU foram mostrados pelos metroviários e pela equipe técnica do Metrorec ao secretário Danilo Cabral na semana passada. Segundo o gerente de manutenção da CBTU/Metrorec, Bartolomeu Carvalho, a proposta seria implantar o VLT a partir do TI da Macaxeira, passando pelo Hospital das Clínicas, Universidade Federal e terminal do Barro até chegar a Cajueiro Seco.

 

A frota utilizada seria de 13 VLTs, cada um com capacidade para 800 passageiros. “Quem mora em Boa Viagem e estuda na Federal, por exemplo, poderia pegar o metrô na Linha Sul e seguir até Cajueiro Seco para, de lá, concluir o trajeto no VLT. O mesmo para quem sai de Igarassu, Paulista e Abreu e Lima e quer ir para a Zona Sul. Esse pegaria o VLT integrando na Macaxeira. Essa solução melhoraria o trânsito não apenas na BR-101, como também na Avenida Recife”, ponderou.

O custo de implantação do VLT seria de R$ 890 milhões. Um valor bem superior ao BRT, que está estimado em R$ 480 milhões. No entanto, Carvalho argumenta. “O VLT é mais confortável, mais seguro e polui menos. Além disso, ele atenderia a demanda dos próximos 40 anos. É um transporte que tem sustentabilidade”.

Apesar de ver a proposta da CBTU com bons olhos, a secretaria das Cidades não cogita mudar o projeto do BRT, que já está pronto e em análise no Dnit. “Mesmo com capacidade de transporte menor, o BRT atende as necessidades da população num horizonte de até 20 anos. Hoje, ficou proibitivo pensar em investimentos mais caros que demorarão a dar um retorno por causa da crise do mercado internacional”, justificou o secretário executivo de Mobilidade Flávio Figueiredo.


Saiba mais

BRT (Bus Rapid Transit)

O valor para implantação é de R$ 480 milhões

Terá capacidade para transportar 110 mil passageiros/dia

O projeto foi pensado para atender a demanda futura de 15 a 20 anos

Se a demanda subir, terá que passar por novas obras para implantar outro modal
que suporte a quantidade e passageiros

VLT (Veículo Leve sobre Trilhos)

O valor para implantação seria de R$ 890 milhões

Teria capacidade para transportar 150 mil passageiros/dia

O projeto foi pensado para atender a demanda futura de 30 a 40 anos

Aumentando a demanda, não será preciso construir outra ferrovia, apenas aumentar o
número de composições

Semelhanças

Tanto o BRT quanto o VLT usariam um corredor exclusivo a ser construído no canteiro central
da BR-101 e teriam estações, assarelas, viadutos e elevados Nos dois sistemas, a passagem
é paga antes do embarque e os ois tipos de veículos têm ar-condicionado

 

 

 

11 Replies to “VLT: Porque descartar?”

  1. Pra variar, vão jogar nosso dinheirinho dos impostos fora num produto final que é superficial, economia que sairá cara num futuro não tão distante.

  2. Bem, na minha sincera opiniao o secretario deu uma desculpa sem sentido.
    falam em crise atual nao condiz com a realidade do brasil. que segundo lula enfrentaria uma marolinha.
    fora que para horizontes de 20 a 30 ou 40 anos nao devemos considerar o estado atual. nao devemos deixar algo se pensa parar hoje influenciar algo que servira para daki a 30 anos.
    o secretario praticamente nem pensou em elaborar uma desculpa mais concreta.
    na minha opiniao estamos refens do lobi das empresas de onibus. que nao tao nem ai pra o que acontecera com o transito da nossa cidade daki a 5 ou 10 anos.
    o BRT nao tem capacidade nem de perto ao que o metro tem.
    e o mais importante… nao conseguira convencer os usuarios de carro que o transporte publico é a melhor solucao.
    o BRT é falho desde o projeto e infelizmente alguem daki a 20 anos vai ter que pagar esse preco. seja com milhares de horas perdidas no transito de pais de familia e estudantes. seja em milhoes que serao gastos posteriormente em indenizacoes na futura linha de metro daki a 20 anos.
    pq em minha opiniao nao tem solucao melhor. METRO PARA TODOS!!!

  3. Pingback: VLT: Porque descartar? | Olhe pelo Recife

  4. Amigos do Blog,

    Em breve, acredito que a Tânia trará mais novidades e mais matérias sobre o sistema ferroviário. Qual o motivo?

    TODO país desenvolvido tem seu sistema de transporte da seguinte forma: – Sistema Ferroviário como principal modal.

    Existe um abismo entre o Governo do Estado e o Metrorec. Digamos que ambos não andam alinhados e direcionados, uma pena. Um governo sério, um Governador sério, uma sociedade séria, teria que buscar no Metrorec a salvação para a mobilidade.

    Um dia, quem sabe, meus netos possam ver o Recife novamente como meu Avô viu e usou os 141 Km de linhas ferroviárias para se locomover na Cidade!

  5. Esse é o problema da falta de visão do futuro. Dinheiro público parece que brota de árvores.
    Nosso sistema de BRT já nasce, para mim, com um limitador: não vi e alguns trechos dos corredores não suportam veículos biarticulados, logo vamos usar ônibus menores e mesmo que sejam articulados e havendo uma configuração que usa 4 eixos e leva um pouco mais, ainda é menos que um biarticulado.
    Desta forma, se a demanda crescer, ou vai alterar novamente o corredor para ver se cabe os biarticulados ou vai ter que aumentar a frota que implica em mais motoristas por exemplo, logo aumento de custos que reverte em passagens mais caras.
    Como o texto fala, num tempo bem maior, os VLT são muito melhores, pois eles já levam mais passageiros que um ônibus numa configuração de três composições e se a demanda aumentar e só agregar mais composições sem alterar a via que costuma trazer grandes impactos.
    A corredor Leste/Oeste é, para mim, um exempo de como se torrar dinheiro, pois vem sofrendo várias requalificações, mas nenhum que aparenta solução definitiva e que será feita vai mudar bastante.
    Agora, uma coisa que o texto não abordou, é que o VLT, assim como o trem, tem limite para subir rampa. Alguns trechos da BR 101 como o cruzamento com a Caxangá teria que ser feito por elevado e aí para subir esse elevado é preciso a subida garanta a capacidade de rampa que eles tem, do contrário, não sobem.
    Não sei, mas com tantas empresas de ônibus e tantos corredores onde se vê um fluxo misto de veículos, mesmo que alguns veículos tenha pista exclusiva, opções por trilhos parecem ficar de lado e só aparecem como alternativa quando já há parte da infraestrutura como ocorre no ramal desativado que vai de até Suape.

  6. Já falei antes sobre este assunto e reitero: o BRT é um péssimo projeto, uma enganação que não passa de 5 anos.
    Repito, 5 anos.
    Primeiro ano: tudo novo funcionando, veículos, estações e pistas.
    Segundo ano: veículos já começam a virar sucata, sistema de ar condicionado já estará quebrado na maior parte da frota, o pavimento dos corredores já estará esburacado graças à honestidade das empreiteiras.
    Terceiro/quarto anos: todos os componentes do sistema estarão em fase avançada de sucateamento.
    Quinto ano: o sistema BRT será uma sucata só. Veículos, estações, pistas, atendimento, limpeza, pontualidade, segurança, etc, tudo isto estará nos piores padrões de qualidade em menos de cinco anos.

  7. O governo deveria pelo menos apresentar uma pesquisa, nem que fosse de uma única pergunta: Você deixaria seu carro para utilizar um sistema de ônibus?
    Eu já adianto que não deixarei meu carro para andar num sistema que é apenas uma maquiagem do que temos hoje. Maquiagem enquanto estiver em boas condições, depois de dois ou três anos volta a precariedade de nossos dias.
    Agora, deixarei meu carro para utilizar um sistema de trens/metrô/VLT já no primeiro dia que estiver em funcionamento.

    Em tempo: não acredito na escusa da ignorância por parte dos representantes do governo estadual, não há como ignorar a necessidade de um sistema de transporte massificado com veículos sobre trilhos. Não há como aceitar um lixo de projeto como este do BRT, como se fosse a solução final.

  8. Leo, concordo que os BRT são questionáveis a longo prazo, mas recordo que o setor é forçado num determinado período a renovar a frota – pelo menos isso. Logo, haveria um certo sucateamente, mas não eterno.
    Vemos na net e aqui fotos dos VLTs circulando entre os demais veículos. Aqui, para mim, isso seria impensável, pois se os condutores não respeitam os ônibus quando querem mudar de faixa e costumam invadir, quando há, seus corredores, se os VLTs circulassem com os demais, acredito que acidentes seriam fáceis.
    Mesmo que BRT e VLT sejam aplicados em corredores exclusivos com acesso ou não aos demais veículos – parcialmente isolados – e tomando como referência o metrô, se um BRT, que é um ônibus, quebrar, sua remoção é mais rápida. No caso do VLT, se houver quebra, pode até ser mais difícil por não ficar exposto aos outros fatores de infra-estrutura, costumam parar o sistema e é preciso um outro veículo, também sobre trilhos, para ocorrer a remoção ou reparo.
    São vários prós e contras a serem analisados.
    Sou a favor do VLT, mas não em certos locais e ainda há que ver se em outros ele pode ser empregado.

  9. O velho poder economico…
    Quem constrói? Quem fará a manutenção Quem são os donos das empresas de ônibus?
    São os mesmos que financiam as campanhas.
    O secretário sabe que o VLT é a solução, mas vai arriscar ir contra os interesses destas pessoas? deve haver da população a devida pressão. Imaginem o tempo de viagem. A manuteção do sistema? o VLT é sistema de primeiro mundo, mas o pensamento de mobilidade é de terceiro.

  10. Pingback: Blog Mobilidade Urbana » Blog Archive » VLT: Porque descartar? : Link Mundial

  11. Isso de dizer que no caso do BRT vir a saturar e não atender a demanda daqui a 20 anos é só mudar o modal para VLT ou Metrô é uma afirmativa equivocada, pois o serviço teria que ser suspenso para as alterações no corredor segregado por ele utilizado. Como transformar a rodovia em ferrovia? Como isso seria viabilizado? O povo ficaria sem o serviço até a obra ficar pronta?