Recife: mais de um milhão de carros até 2020


Diario de Pernambuco
Por Tânia Passos

Uma cidade com mais de meio de milhão de veículos e engarrafamentos a qualquer hora do dia. Agora imagine essa mesma cidade com o dobro de veículos daqui a apenas oito anos. Essa é a projeção que os especialistas já estão desenhando para o Recife até 2020.

O aumento da frota, dentro desta perspectiva, se dá em razão dos números atuais. De 2011 para 2012, o crescimento da frota do Recife foi de 8,2%. Isso significa que a cidade recebe uma média de 174 novos carros por dia útil, o que dá uma média de 3,8 mil carros a mais por mês. Se continuarmos neste ritmo vamos passar de uma frota de 580 mil veículos para 1.090 milhão no ano de 2020. Onde vamos parar?

A questão foi levantada ontem na última edição do Fórum de Mobilidade Urbana da Assembleia Legislativa. No encontro, a receita apontada pelos especialistas para a cidade não parar de vez é a melhoria do transporte público e a restrição ao uso do automóvel.

“Numa cidade onde serão abertas 10 mil vagas de estacionamento no Centro com os edifícios-garagem não está se restringindo o uso do automóvel. Pelo contrário, isso é um estímulo”, declarou o professor e engenheiro Maurício Pina, também crítico da construção dos viadutos na Avenida Agamenon. “Se hoje está ruim, ficará muito pior”, apontou Pina.

O vigilante Daniel Francisco, 48 anos, comemorou ontem a compra do seu segundo carro zero. Há cinco anos, ele trocou o transporte público pelo individual e acredita que ter carro hoje é uma necessidade. “Eu preciso do carro para agilizar os deslocamentos. Não tem como depender do transporte público”, relatou. O problema é quandos os carros não conseguirem mais trafegar na cidade.

Para o engenheiro e consultor em mobilidade urbana Germano Travassos, a aposta no transporte público tem que se refletir nos investimentos. “Acredito que nunca houve tanto investimento na mobilidade, em tão pouco tempo, como está sendo feito agora, mas é preciso observar que o transporte individual vem recebendo, proporcionalmente, mais recursos do que o transporte público”, apontou Travassos. Numa ordem de grandeza, o engenheiro destaca algumas obras.

“Se a gente comparar, por exemplo, o que será gasto nos corredores Norte/Sul e Leste/Oeste, que juntos somam cerca de 45km, com a obra da Via Mangue, que terá 4,3 km, proporcionalmente os recursos para o transporte individual são maiores”. Outra questão levantada no fórum pelo engenheiro e doutor em mobilidade urbana, Oswaldo Lima Neto, foi em relação ao planejamento das cidades.

“Há um Plano Diretor de Transporte Urbano, engavetado desde 2007, onde há projeções que precisam ser analisadas e atualizadas para o direcionamento do crescimento das cidades”, revelou. Durante seis meses, a Comissão de Mobilidade da Assembleia, fez audiências públicas com temas relativos à mobilidade. “Vamos reunir o material levantado nas audiências e apresentar propostas às autoridades”, disse o deputado Sílvio Costa Filho (PTB), que presidiu a comissão.

Saiba Mais

Projeção do crescimento da frota do Recife em 8 anos

2012 – 580 mil veículos
2013- 627 mil veículos
2014 – 679 mil veículos
2015 – 735 mil veículos
2016 – 795 mil veículos
2017 – 860 mil veículos
2018 – 931 mil veículos
2019 – 1007 mil veículos
2010 – 1090 mil veículos

**Projeção estimada para um crescimento de 8,2% ao ano, segundo percentual registrado de 2011 a 2012 com cálculos do engenheiro Maurício Pina.

Comparação de investimentos viários até 2014

Transporte Público                Transporte individual

13 novos terminais de integração        Alargamento do viaduto Capitão Temudo
R$ 80 milhões                                               R$ 50 milhões

Corredores Norte/Sul e Leste/Oeste        Via Mangue
33,2 kms + 12,5 kms                                         4,3 kms
R$ 598 milhões                                                 R$ 433 milhões

Corredor da Conde da Boa Vista        Túnel da Herculano Bandeira
R$ 14 milhões                                             R$ 28 milhões

Fonte: Secretaria das Cidades e Prefeitura do Recife

 

One Reply to “Recife: mais de um milhão de carros até 2020”

  1. Se critica, mas não dão soluções viáveis ou mesmo definitivas.
    A Via Mangue demanda investimento alto, pois é numa nova via em trecho alagado, afora vários elevados, mas esquecem que ela está sendo feito para viabilizar o corredor exclusivo de ônibus na zona sul. Sendo assim, o investimento do Norte/Sul não é total por até então só atender parte do percurso. O pessoal que critica os elevados transversais da Agamenon, mas tomando como base o gasto no túnel da Herculano Bandeira, teríamos, no mínimo, 112 milhões em investimento se fossem feitos quatro túneis transversais na Agamenon, afora que o tempo de conclusão poderia ser maior já que em escavações tubulações complicadas podem surgir, sem esquecer que a Agamenon sofre com alagamentos. Aliás, teve sugestões de se construir elevados e túneis longitudinais a depender do trecho para o transporte coletivo, mas aí questiono que túnel na Agamenon pode ficar interditado se chover forte e não ajudaria as linhas que saem do centro com destino ao subúrbio, situação que ocorreria nos viadutos transversais que não só viabilizariam o corredor exclusivo para BRT sem a interferência de vários cruzamentos como os ônibus com destino ao subúrbio não ficariam aguardando a sua vez para cruzar a avenida, ou não há ônibus nesse sentido? Claro, para isso dependerá da fluidez do trânsito nas extremidades que espero receberem o devido tratamento.
    Agora, hoje lendo algumas notícias sobre a vinda de novas montadoras para o Brasil, me questiono se quem tem carro usuaria mesmo o transporte público de prometida qualidade? Aliás, poderiam perguntar a esses que criticam ou sugerem coisas do tipo se deixariam os seus carros em casa, pois há quem segue aquele dito popular “faça o que digo mas não faça o que eu faço”.
    Se novas montadoras virão, é porque há um grande mercado disposto a comprar o seu primeiro carro ou aumentar. No outro lado o governo vem investindo em meios de transporte público com prometida qualidade e agilidade. Já se falou aqui não adiante ter, por exmeplo, ônibus melhor e maior ou metrô se os TIs não funcionam, pois vemos nesse enorme filas, aguardo considerado para pegar um ônibus que a depender do local e horário já sai lotado, então há como disse a outra matéria um funil já que o ganho de tempo propiciado por um tipo de transporte pode ser anulado num processo de migração. Fora isso, não adiante privilegiar o transporte público e o usuário não ter segurança para circular nas vias públicas. Outra matéria divulgada aqui mostrou o óbvio: quem tem carro o usa também para não ficar tão vulnerável aos assaltantes, pois pode ir exatamente para o local que querem e não ter que descer numa parada de ônibus e percorrer parte do destino a pé.
    Por fim, da mesma forma que o governo investe em transporte público, também procura novos investimentos via instalação de montadoras de veículos. Se vê que o governo não pode ser absoluta na defesa de um dos lados e tem que trabalhar para beneficiar os dois, pois ele vai querer gente usando ônibus para justificar o investimento, mas sabe que vai ter gente que não abrirá mão do veículo particular e não poderá obrigará a deixar de comprar ou usar, pois isso em outras palavras provocaria uma diminuição na demanda que prejudicaria o investimento feito pelas novas montadoras.
    O bonsenso, nesse caso, seria admitir que o aumento da frota de carro é inevitável, mas que o seu uso seja moderado, ou seja, estimule o proprietário a usar apenas nos finais de semana ou em situações que o veículo é útil, para nos demais dias o transporte público de qualidade e ágil tenha preferência.