Mês: junho 2013
Blog Mobilidade Urbana no “Abre Aspas”
Um convite da jornalista e professora Carolina Cavalcanti para um encontro com os alunos de jornalismo da Aeso, que resultou numa entrevista no estúdio da faculdade sobre mobilidade urbana. Eis o resultado da entrevista.
Algumas explicações e correções do conteúdo da entrevista:
Quando a entrevista foi gravada em, abril de 2013, a CTTU ainda não havia divulgado o atual número de câmeras que passarão a monitorar o trânsito do Recife. Eram 27 câmeras, em tempo real, e vão passar a ser 72. Um grande avanço para a engenharia de tráfego do Recife.
Outro adendo, a RMR terá 25 terminais de integração, dois a mais do que previa o Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU).
E ainda, cinco dos 12 corredores radiais da RMR irão receber pistas exclusivas para o transporte público no modelo BRS (Bus Rapid Service), que consiste na sinalização vertical e horizontal na faixa para privilegiar o ônibus.
E por último, o endereço do blog correto: blogs.diariodepernambuco.com.br/mobilidadeurbana
Previdência ameaçada no futuro com mortes de jovens no trânsito
Foi no início da década de 1990 que o sociólogo Eduardo Biavati foi chamado para fazer parte de uma pesquisa na rede hospitalar Sarah Kubitschek, em Brasília. A missão era identificar as causas dos atendimentos de pacientes vítimas de lesão medular e cerebral.
Identificar e desenvolver ações de prevenção. O trânsito era o vilão da maior parte dos atendimentos. Desde então, o sociólogo tem atuado na área de educação do trânsito e hoje é um dos mais requisitados profissionais do país na defesa do tema. Atualmente, é consultor de trânsito do Detran no Rio Grande dos Sul.
Recentemente, esteve no Recife para participar da 1ª Conferência Interdisciplinar Universitária de Trânsito, promovida pela UPE/FCAP. Uma de suas preocupações é a educação do adolescente, futuro motorista, mais facilmente influenciado pelo grupo.
Para ele, não bastam as ações voltadas para as crianças. A lacuna educacional está justamente no jovem, as maiores vítimas do trânsito. As mortes prematuras trazem um impacto direto nas contas da previdência. Na entrevista, ele alerta que os idosos de amanhã podem ficar sem a renda da aposentadoria, caso a futura mão de obra continue a morrer no trânsito. Acompanhe a entrevista.
Como o senhor decidiu pela área da educação de trânsito?
Uma das principais patologias atendidas na rede Sarah Kubitschek, onde fui chamado para integrar uma equipe de pesquisa em 1992, era de pacientes jovens com lesões graves e o trânsito estava por trás. As conexões dessa violência no trânsito resultam na ponta do iceberg de uma problemática, onde a raiz da violência no trânsito está diretamente ligada ao comportamento das pessoas.
E qual seria a razão de tantas pessoas morrerem no trânsito?
A sociedade moderna se organizou para dar primazia ao veículo. As pessoas não morrem por azar. Não é uma questão individual, ela é sistemática. As pessoas estão sendo expulsas das cidades. Uma reprodução da forma de ocupar os espaços. O trânsito mata pessoas porque o espaço que vai para o carro sai de algum lugar.
É o canteiro central que tinha árvore, é a calçada que diminui de tamanho ou o pedestre que anda no canto do muro, quando existe calçada. Alguém pode dizer, mas o carro tem que ter o espaço dele. E o pedestre também. O povo brasileiro anda muito a pé. Pelo menos 30% da população das cidades brasileiras se deslocam a pé. Não é um dado para ser ignorado.
O senhor também defende o controle da velocidade para reduzir as mortes?
As pessoas se machucam em função direta da velocidade. Quanto mais alta a velocidade média, mais energia cinética circulando. Nós temos um limite para suportar essa energia. Às vezes o impacto é tão violento que o sapato fica e a pessoa voa. E como a gente baixa a energia cinética? Reduzindo a velocidade. Então, a melhor maneira de compartilhar o espaço na via é reduzindo a velocidade de maneira justa para chegarmos a um ponto de equilíbrio. A verdade é que, no Brasil, a velocidade nas vias urbanas é ainda muito alta.
Garantir o aumento da velocidade nas vias é uma das ferramentas dos órgãos de trânsito para reduzir os engarrafamentos e permitir mais fluidez ao tráfego. É uma lógica inversa?
Sim. A lógica é inversa porque o poder público está atendendo à demanda de uma parcela da população. Isso deveria ser feito exclusivamente para dar prioridade ao transporte público. Os corredores de ônibus do sistema BRT precisam de fluidez. Mas o olhar dos engenheiros, em geral, e dos gestores de trânsito é resolver o congestionamento do veículo particular.
Porque ele é o eleitor que mais reclama, que tem mais informações, que aparece na imprensa…Essa classe média, que hoje é enorme no Brasil, demanda vias para sua circulação. Mas o gestor público deveria pensar o seguinte: os maiores deslocamentos são feitos a pé, então a prioridade deve ser as calçadas e não os viadutos.
Como o senhor percebe a transição da bicicleta para as motos?
É preocupante. No interior muita gente se desloca de bicicleta. A gente esquece que o veículo mais popular no Brasl, tirando as pernas, são as bicicletas. Só que essa cultura da bicicleta, vem morrendo há décadas. As pessoas nas cidades do interior, na primeira oportunidade, abandonam a bicicleta ou jegue pela moto. A tendência é de uma total motorização no interior. E nas cidades maiores, as bicicletas estão completamente sem espaço. Se andar a pé já é difícil, de bicicleta beira o impossível. A não ser que você corra riscos. E novamente porque a velocidade é alta.
Então, não é possível compartilhar a mesma via com veículos tão grandes e rápidos. Eu sou ciclista e pedalo desde criança, mas não sou louco de andar ao lado de um ônibus ou caminhão a 40km/h ou 60 km/h. Então, essa batalha que a gente vem tendo de incentivar e resgatar a bicicleta, vai desembocar numa outra batalha. Nós temos que baixar a velocidade e criar ciclovias ou ciclofaixas. Não que seja necessário separar a cidade do resto, mas é um processo de transição para resguardar a segurança do ciclista.
Aqui no Recife, o órgão de trânsito baixou a velocidade nas vias, onde há ciclofaixas aos domingos para 40km/h. Já é um caminho?
É um caminho, mas 40km/h é uma velocidade que mata pessoas. Para se ter uma ideia, a cada 10 pedestres atropelados em um veículo a 40km/h, quase metade morre. Com 30km/h, a cada 10 atropelados, três morrem. É uma diferença muito grande. De 30 para 40km/h quase dobra o número de mortes, no caso de adultos. Porque se forem crianças, ai mata mesmo. É uma forma talvez, muito simbolicamente, de conscientizar os motoristas. Olha, ao lado de uma bicicleta, a velocidade tem que ser baixa. O problema que eu vejo é que as ciclofaixas cumprem esse papel de educação simbólica. De mostrar que nós podemos conviver. Isso é um aprendizado útil. Por outro lado, gera um questionamento: e se a gente pudesse ter ciclofaixa todos os dias?
Os acidentes com moto sáo considerados uma verdadeira epidemia em todo o país. Como o senhor enxerga esse fenômeno?
Eu diria que não se pode atribuir a uma questão meramente comportamental. Em São Paulo, grande parte dos acidentes de moto acontece na madrugada. E não são de pessoas que estavam em festas. O perfil é de trabalhadores. O que está por trás dessas mortes é o cansaço. Na verdade, a moto é mais do que um meio de locomoção, ela é principalmente uma ferramenta de trabalho para muitos profissionais autônomos.
Mas as nossas estatísticas não mostram isso. Os europeus investiram 15 milhões de euros em uma pesquisa denominada MAIDS, para identificar como acontecem os acidentes com moto. São informações importantes para serem aplicadas nas políticas públicas.
Uma questão que o senhor levantou foi da relação dos acidentes de trânsito com a previdência. Como isso acontece?
A pergunta é: o que cada um de nós tem a ver com o fulaninho que tomba no trânsito? E eu digo: Tudo. Porque a tragédia do trânsito tem uma idade para acontecer e ela acontece justo na entrada da adolescência e início da vida adulta. Só que esse adulto jovem vai fazer falta lá na frente. Porque nascem cada vez menos crianças.
Então, todos nós, hoje, adultos, quando chegarmos aos 85 anos, quem estará atrás de nós trabalhando para sustentar a previdência? A previdência social no Brasil caminha para uma falência a longo prazo e a gente vai estar vivo para ver. Então, o que cada um vai fazer chegando aos 85 anos com uma bengala na mão e descobrindo que não tem mais aposentadoria? De modo que a cada vítima que se fere no trânsito, todos nós nos machucamos.
Mais corredores de ônibus de Recife
Por
Tânia Passos
O sistema de circulação da rede integrada de transporte público da Região Metropolitana do Recife é composto de 12 corredores radiais e quatro perimetrais. Até 2014, dois desses corredores radiais serão beneficiados com o modelo do corredor exclusivo de ônibus nos moldes do BRT (Bus Rapid Transit), os corredores Norte/Sul e Leste/Oeste, que integram radiais como as avenidas Caxangá e Cruz Cabugá. Mas quais as perspectivas de melhora nos outros 10 corredores?
A Secretaria de Mobilidade do Recife está estudando a implantação de faixa exclusiva de ônibus para cinco vias radiais. Além das avenidas Domingos Ferreira e Conselheiro Aguiar, também deverão receber faixa exclusiva para ônibus, as avenidas Abdias de Carvalho, Beberibe e Mascarenhas de Morais. A instalação da faixa exclusiva para o transporte público nos corredores poderá representar um ganho entre 20% a 30% na velocidade e melhoria na regularidade das viagens.
A ideia é implantar nas cinco avenidas o mesmo modelo que já faz sucesso no Rio de Janeiro, denominado BRS (Bus Rapid Service), uma versão mais simples do BRT. Numa analogia simples, o BRT estaria para as ciclovias, assim como BRS para as ciclofaixas. O primeiro é segregado e o segundo tem a sinalização horizontal e vertical na faixa.
De acordo com a presidente da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU), Taciana Ferreira, a Avenida Norte ficou de fora porque já está contemplada com um projeto do governo do estado. “Já existe um projeto de BRT para a Avenida Norte, que não foi contemplado agora, mas está entre as prioridades, por ser uma linha troncal que faz ligação com o Terminal da Macaxeira”, explicou. Já o binário Rui Barbosa/Rosa e Silva será beneficiado com o projeto de navegabilidade.
A melhoria dos corredores que integram o sistema de transporte público é considerado um avanço para os especialistas. “Qualquer melhora para o transporte público irá significar ganho para a população, mesmo quando gera insatisfação do usuário do transporte individual com a redução das faixas”, ressaltou Maurício Pina, especialista em mobilidade e professor do departamento de engenharia das universidades Federal e Católica de Pernambuco.
Também especialista, o engenheiro César Cavalcanti elogia a iniciativa da instalação das faixas exclusivas, mas chama atenção para a Avenida Mascarenhas de Morais. “A Mascarenhas é paralela ao metrô, que é o principal corredor de transporte. Não haveria necessidade de investir numa faixa exclusiva para o ônibus, que tem uma demanda menor em função do metrô”, ponderou. Segundo ele, a iniciativa poderia ser aplicada na Avenida Norte.
“Já que o BRS é um modelo mais simples de ser implantado poderia ser adotado na Avenida Norte, enquanto o BRT não chega. Da mesma forma que será feito na Avenida Domingos Ferreira”, ressaltou. Atualmente o Sistema de Transporte Público de Passageiros (STPP) realiza 26 mil viagens por dia e transporta cerca de dois milhões de passageiros em um frota de três mil ônibus. “O que vai fazer a diferença também será o investimento nas perimetrais dois, três e quatro. A quarta perimetral na BR-101 liga Abreu e Lima a Prazeres. É de uma importância fundamental”, detalhou Oswaldo Lima Neto, doutor em mobilidade urbana.
Exames de direção diferem nos estados, inclusive o tempo de olhar o retrovisor
Por
Márcia Pontes
Alguns estados brasileiros, na tentativa de serem mais rigorosos nos exames de direção, já tentaram de tudo: iniciar a prova pela baliza, diga-se de passagem, o terror de todo candidato a habilitação, provas nas ruas, segurar o carro na rampa de frente e de ré, fazer garagem, dentre outros comandos básicos de condução.
Para muitos, isso não é novidade, tampouco significa tanto rigor assim porque é o que diz a Resolução nº 168/2004, de abrangência federal, e, portanto, deveria ser regra de toda avaliação ao final do processo de habilitação. Deveria! Porque não é bem assim.
Por incrível que pareça, em alguns estados os exames de direção ainda se limitam às manobras do pátio compostas de duas fases: slalom e baliza. Fez o percurso curtinho sem bater nas balizas ou cones de slalom e depois colocou o carro na vaga, pronto! Está habilitado.
A falta de padronização nos exames é tão grande que no Grupo Aprendendo a Dirigir, no Facebook, – um espaço de construção de práticas seguras e defensivas no trânsito, mas também um rico laboratório de informações e de aprendizagens significativas para o processo de habilitação, – cada vez que algum candidato expõe o motivo da reprovação no exame, causa espanto.
Não pela reprovação em si ou pelas dificuldades de cada um, mas pelo modo como os exames de direção são feitos. O que mais se lê são comentários do tipo: “Nossa, como aí no seu estado é fácil o exame!”, ou mesmo: “aqui a prova nem é feita na rua, só no pátio.”
Curiosos mesmo são os comentários que informam que nas provas práticas em alguns estados, os candidatos são punidos caso olhem por muito tempo para o espelho retrovisor. E não são comentários só de alunos, de candidatos à habilitação, mas também de instrutores que já me alertaram quando posto alguma dica significativa para a prova de direção que envolva a devida atenção aos espelhos retrovisores.
Ora, condutores, todo mundo sabe ou deveria saber que os espelhos retrovisores são os olhos do motorista para tudo que acontece atrás e nas laterais de seu carro e não olhá-los é o mesmo que dirigir com venda nos olhos? Como formar futuros motoristas para um trânsito cada vez mais exigente de cuidados desse jeito?
Será que quem inventou essa proibição absurda faz baliza sem olhar os retrovisores? Sem checar a aproximação com os obstáculos, com o meio fio, com os outros carros, pessoas e ciclistas?
Peraí, mas não é para formar condutores defensivos? Não é para ensinar nas aulas a dirigir como se vai dirigir nas ruas? Então, como dirigir no trânsito de verdade sem saber usar os retrovisores? É para prevalecer o adestramento, esse câncer que corrói o processo de habilitação inteiro?
Pois saibam que para dirigir no dia a dia não existem macetes, não existe contar voltinha em volante, muito menos marcações nos vidros e nas portas do carro. Existe sim, a exigência de que o motorista recém-habilitado tenha o mínimo de autonomia e segurança para dirigir.
A estimativa é de que 30% dos acidentes por imperícia em manobras de ré são porque os motoristas iniciantes não olham os retrovisores! Muitos dos acidentes por imperícia nas transposições de faixa são porque os alunos temem de morte olhar nos retrovisores.
Vocês fazem ideia de quantos retrovisores são arrancados ou quantas portas e outras partes laterais do carro são amassadas por dia porque motoristas novatos não aprenderam a olhar os retrovisores nas manobras, estacionamento e entrada de vagas, garagens e portões?
Então, faz sentido punir o candidato que olha atentamente no retrovisor para fazer uma manobra de baliza no teste prático se todo motorista que se preze faz isso atentamente no dia a dia?
Ou será que a direção defensiva se encerrou lá atrás, com as aulas teóricas e não precisa ser aplicada na prática? Então, de que adianta cobrar tanto dos instrutores e do CFC se até no dia da prova prevalece o adestramento com carimbo vindo de cima?
Sabemos que a 168 é tão federal quanto a 358, que dá autonomia aos Detrans para fazer as mudanças pedagógicas necessárias que melhorem o processo de habilitação e a formação de condutores. Mas, não seria um desserviço à boa aprendizagem da direção e à formação de condutores defensivos uma proibição absurda dessas de olhar nos retrovisores o tempo que for necessário para fazer uma manobra segura?
Sinceramente? No que essas diferenças nos exames de direção no país estão implicando para as reprovações e para os acidentes por imperícia?
Fonte: Portal do Trânsito
Transporte público sem impostos
O governo publicou em edição extra do “Diário Oficial da União” a Medida Provisória 617, que zera o pagamento do PIS e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) de empresas de transporte coletivo urbano. A medida havia sido anunciada no fim de maio pelo Ministério da Fazenda como uma forma de evitar reajustes maiores nas tarifas de transporte.
As alíquotas do PIS e da Contribuição para Financiamento da Seguridade Social (Cofins) incidentes sobre o transporte coletivo urbano somam 3,65%. Com a isenção, o governo quer aliviar os custos das classes média e baixa, que se utilizam de ônibus e metrôs, impedindo um crescimento maior da inflação.
Aumento nas tarifas
O Rio de Janeiro se torna neste sábado (1º) a 11ª capital brasileira a ter aumento na tarifa de ônibus municipal em 2013. Segundo levantamento realizado pelo G1, com base nos dados disponibilizados pelas prefeituras, os preços dos ônibus aumentaram neste ano em Aracaju, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, João Pessoa, Manaus, Natal, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Vitória.
Já Cuiabá e Belo Horizonte reajustaram suas tarifas em 28 e 29 de dezembro, respectivamente.
No Rio, o preço passa de de R$ 2,75 para R$ 2,95.Na capital paulista, o novo valor da tarifa, que passou de R$ 3 para R$ 3,20, também começa a valer em junho. No Recife, os preços dos ônibus variam hoje de R$ 1,50 a R$ 3,45 dependendo da linha, respectivamente o menor e o maior valor de passagens entre as capitais.
Junto de Belo Horizonte, com ônibus que vão de R$ 2 a R$ 2,80, Brasília também possui uma das menores tarifas, de R$ 1,50 e R$ 2 para circulares, e que pode chegar a R$ 3 entre o Plano Piloto e as regiões administrativas. Os valores na capital federal não mudam desde 2005.
Campo Grande também deverá ter aumento de tarifas neste ano.
Via Portal Mobilize
Homem sobe no capô do carro que parou na faixa de pedestre
Um homem demonstrou bastante ousadia e causou o maior “climão” com o motorista de um veículo que parou em cima de uma faixa de pedestre na Rússia. Um vídeo publicado no YouTube mostra o momento em que o rapaz sobe no capô do carro, com toda tranquilidade, para atravessar a via. Ele ainda é aplaudido por uma mulher que também passa pelo local.
Quem não gostou nem um pouco da atitude do pedestre foi o motorista, que desceu do veículo para iniciar uma discussão. Ninguém sabe como tudo terminou porque o condutor que filmava a movimentação precisou acelerar quando o sinal abriu.
Carros cercam praças do Recife
Por
Tânia Passos
Praças são espaços de integração das pessoas. Pelo menos deveriam ser. Nem sempre é o que acontece no Recife. Mais do que locais voltados para os pedestres, as praças da cidade têm se transformado em pontos de estacionamento legalizados pelo município. Em algumas, o acesso das pessoas ao espaço público fica limitado. Pelos dados da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) quatro praças no Centro dispõem de Zona Azul. A relação do órgão não cita, por exemplo, a Dom Vital, no bairro de São José, em frente ao mercado.
O Diario visitou esse espaço e também as praças do Arsenal e da República para verificar a relação delas com a população. Em comum, o fato de serem cercadas pelos automóveis. Apesar do desconforto que a situação provoca, o pedestre segue sem muita reclamação e parece desconhecer que esses locais deveriam ser seus por excelência. Já os urbanistas criticam a opção preferencial pelo carro em um território que existe para ser, essencialmente, das pessoas.
Pedestres sem espaço
Localizada em uma área histórica de São José, em frente ao mercado e servindo praticamente de largo da Igreja da Penha, a Praça Dom Vital é cercada de automóveis. Os estacionamentos permitidos fazem um “L” ao redor do logradouro. Além de ser um espaço de integração, a praça também é ponto de passagem de quem circula entre o comércio da Rua das Calçadas e o mercado. Sem falar na feirinha de frutas e verduras e do comércio ambulante. O espaço fervilha de pessoas e carros.
Em meio a uma área de grande movimentação, o pedestre é obrigado a passar espremido entre os veículos. A turismóloga Bruna Feitosa, 24 anos, já havia observado a tendência da cidade em disponibilizar espaço para os carros até mesmo nas praças. “Em outras praças da cidade, essa mesma cena se repete. O pedestre tem cada vez menos espaço”, reclamou.
Um “arsenal” de veículos
Em um dos pontos mais turísticos do Recife, a Praça do Arsenal tem estacionamentos com aval do município. As vagas no entorno são disputadas. A maioria dos empreendimentos localizados em áreas históricas não dispõe de estacionamento próprio e a praça e as ruas acabam sendo as opções. Depois de estacionar o carro, a funcionária pública Claudileide Vieira, 49 anos, admitiu que a presença do veículo atrapalha a mobilidade e estraga a beleza do lugar. “Não deveria ser um lugar para os carros. Prejudica o visual, tira a privacidade para as conversas e afeta a circulação”, enumerou. Para a professora do Laboratório de Paisagismo da UFPE, Ana Rita de Sá Carneiro, os carros são uma séria barreira. “É importante ter a visualização da praça. Até por uma questão de segurança, pois fica difícil para o pedestre perceber a calçada, principalmente o deficiente físico”, criticou.
República tomada
A Praça da República, entre o Palácio do Governo e o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), é um dos maiores símbolos do Centro. A sua origem remonta a 1639, quando Maurício de Nassau iniciou o plantio de um parque. É considerada o primeiro jardim renascencista das Américas. Mas hoje é, principalmente, um espaço para estacionamento. Entre os dois lados da praça, uma via ficou segregada para os carros, que fazem fila no entorno aguardando a vez. A urbanista Virgínia Pontual, professora do Departamento de Pós-graduação de Arquitetura da UFPE, fala sobre os prejuízos dessa opção para a cidade. “Os carros funcionam como cerca e algumas praças já têm até grades. Quem precisa de um lugar para estacionar deve pagar por isso. Esse espaço deve ser devolvido às pessoas”, reforçou. O Diario tentou falar sobre as praças com a presidente da CTTU, Taciana Ferreira, mas não obteve retorno
Fiscalização eletrônica ampliada nos principais cruzamentos do Recife
Por
Tânia Passos
Quem costuma parar o veículo em plena faixa de pedestre, enquanto aguarda o semáforo abrir, ou ainda tem o péssimo hábito de avançar o sinal vermelho, deve começar a repensar a forma de dirigir ou vai acabar sentido o peso no bolso.
A Companhia de Trânsito e Transporte Urbano do Recife (CTTU) vai aumentar de 57 para 177 o número de equipamentos de fiscalização eletrônica nos principais cruzamentos da cidade. Eles vão identificar as placas dos motoristas infratores por meio de reconhecimento óptico de caracteres, os chamados OCR. Hoje, o avanço do sinal vermelho é a segunda infração mais cometida, com 39.490 multas registradas no ano passado. Já parar o carro na faixa de pedestre é a sexta maior infração, com quase 17 mil multas.
Avanço de sinal é infração gravíssima e o motorista pode receber sete pontos na carteira e multa de R$ 191,54. Já estacionar na faixa é uma infração grave, com cinco pontos na carteira e multa de R$ 127,69. Os motoristas que insistem em cometer essas infrações, mas ainda não foram flagrados por um agente de trânsito, dificilmente irão escapar das lentes de reconhecimento óptico que serão instaladas nos cruzamentos.
Os equipamentos devem começar a funcionar em até 60 dias. Ontem, o prefeito Geraldo Julio assinou o edital para contratação de uma empresa especializada em engenharia de tráfego. “A fiscalização do trânsito do Recife é ainda muito precária. Estamos instalando novos equipamentos e teremos ainda um concurso para a contratação de novos agentes de trânsito, além dos monitores de tráfego para reduzir essa carência”, ressaltou.
A ampliação dos equipamentos eletrônicos de fiscalização do trânsito é bem vista pelos especialistas. Para o engenheiro e especialista em mobilidade César Cavalcanti, a medida terá um caráter essencialmente educativo. “Além de melhorar o trânsito, a punição é educativa porque irá pesar no bolso, a nossa parte mais sensível”, opinou.
Já o professor dos departamentos de engenharia das universidades Federal e Católica de Pernambuco, Maurício Pina, ressalta que os motoristas vão pensar duas vezes antes de fechar um cruzamento. “É uma medida bastante positiva porque obrigará o motorista a mudar o comportamento no trânsito para não ser multado”. Graças à leitura óptica das placas, o equipamento também poderá identificar veículos que estejam irregulares.
As faixas de pedestre onde os equipamentos vão ser instalados terão que estar devidamente pintadas e iluminadas. “A empresa que vencer a licitação também se encarregará da pintura e da iluminação. É um pacote completo”, explicou a presidente da CTTU, Taciana Ferreira. Além dos 120 equipamentos fixos de OCR, haverá ampliação no número de câmeras que transmitem informações em tempo real à Central de Operações de Tráfego da CTTU, de 40 para 72. Os equipamentos de fiscalização vão funcionar das 6h as 20h.
Saiba mais
Sistema de identificação veicular com leitura das placas
Identifica veículos com restrição de circulação
Elabora estatística do tempo de percurso
Identifica a velocidade média dos veículos
Registra a placa dos veículos que avançarem o sinal vermelho
Registra a placa dos veículos que pararem na faixa de pedestres
Ampliação dos equipamentos de fiscalização:
57 equipamentos existem atualmente
120 novos equipamentos serão instalados nos cruzamentos da cidade
40 câmeras auxiliam no monitoramento do tráfego em tempo real
72 câmeras passarão a fazer o monitoramento do tráfego em tempo real
Algumas das principais avenidas que receberão os equipamentos
Domingos Ferreira
Sul
Caxangá
Mascarenhas de Morais
Beberibe
Dois Rios
Norte
Agamenon Magalhães
Escalonamento de horários
Por
Tânia Passos
Uma alternativa que vem sendo discutida em várias cidades brasileiras para a melhoria da mobilidade ainda não ganhou eco na capital pernambucana: o escalonamento dos horários de funcionamento das empresas públicas e privadas. A lógica parte de um princípio básico: com horários distintos, a movimentação será segmentada e o tráfego mais rápido.
É verdade que não é uma solução de fácil consenso e precisaria ser discutida nas três esferas de governo. Mas mudar horários não deveria ser mais complicado do que construir grandes obras viárias (com soluções temporárias) ou ainda implantar rodízio de placas, também com prazo de validade. A ideia de mexer na dinâmica de circulação da massa trabalhadora resultaria numa melhor eficiência da ocupação dos espaços públicos e da qualidade de vida. Mas como decidir uma questão tão complexa, a partir de soluções pontuais?
Em Cuiabá, o escalonamento chegou a ser discutido como medida temporária durante as obras da Copa do Mundo, mas não saiu do papel. Em Curitiba, a ideia do escalonamento também já foi colocada em pauta. Apesar de ter um dos melhores sistemas de transportes públicos do país, a capital do Paraná tem uma das maiores frotas de veículos e também sofre com os congestionamentos.
Mas nem mesmo lá, o escalonamento chegou a ser adotado. Numa época em que as soluções mágicas para melhoria da mobilidade surgem de todas as formas, readequar horários não parece ser nenhuma medida espetacular, mas pode modificar um cenário de incertezas nas ruas cada vez menores para uma frota que cresce a cada dia.