Quem disse que calçada é lugar para estacionar carro? Pois é, se existe um ponto que deveria ser inquestionável é que calçada é espaço sagrado do pedestre. Pelo menos deveria. Mas é comum encontramos carros “esparramados” nos passeios como se estivessem em casa. A cultura do não fazer nada alimenta esse tipo de prática.
E se é ruim para o pedestre imagine para o cadeirante. Ontem recebi um email da cadeirante Mosana Cavalcanti, que há nove anos mora na Rua Capitão Ruy Lucena, junto ao Quartel da Rádio Patrulha, na Rua Dom Bosco, no bairro Boa Vista. Ela já perdeu as contas de quantas vezes ficou impedida de seguir em frente por causa dos carros estacionados em cima da calçada do Quartel, muitas vezes dos próprios soldados. Ela conta que certa vez pediu a um soldado para tirar o carro da calçada devido a sua condição de usuária de cadeira de rodas e recebeu a seguinte resposta: E eu com isso?
Parece inacreditável que para muita gente o direito a acessibilidade seja um problema que só diz respeito aos outros. Para pessoas assim, a única linguagem é a lei ou a autoridade de quem dispõe de poderes para tal. No caso da calçada do Quartel da Rádio Patrulha, a determinação da atual comandante, coronel Conceição Antero, que mandou retirar todos os veículos da calçada, tem sido motivo de elogios dos usuários. O tal soldado que não se incluía como responsável, talvez não tenha feito o mesmo questionamento a comandante. Mas pode fazer o mesmo por outras calçadas. O mais importante é enterdemos que todos temos a ver com “isso” todas as vezes que limitamos o direito do outro.
A data foi estipulada pela empresa Serttel, vencedora do edital de manifestação de interesse aberto pela Prefeitura Municipal em 21 de agosto. O resultado foi divulgado nesta terça-feira (4) pelo prefeito José Fortunati e pelo diretor-presidente da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Vanderlei Capellari. O compromisso da empresa é entregar 40 estações até dia 30 de abril de 2013, atingindo a meta de 400 bicicletas na cidade. O valor do aluguel sugerido pela Sertel foi de R$ 5,00 para o passe diário e R$ 10,00 o passe mensal.
Ao todo, cinco empresas apresentaram propostas de interesse para operação do serviço. Foram elas a FGTV, Serttel, Trunfo, MobiBike e Compartibike. A escolha, segundo Capellari, seguiu critérios técnicos exigidos pela equipe que desenvolve as ciclovias na cidade. “Não foi uma escolha aleatória. A Sertel atendeu todos os requisitos para entregar as estações, bicicletas e fazer a manutenção dentro do estudo técnico repassado pela EPTC às empresas participantes da seleção. Levamos em conta também o preço mais barato”, explicou.
O gerente comercial da Compartibike, Eduardo Fernandez acompanhou a divulgação do resultado e questionou a Prefeitura sobre a publicação da ata com o relatório da escolha. Segundo ele, o projeto vencedor foi mais caro e não prevê patrocínio para manutenção do serviço. “Os custos para transporte das bicicletas nas estações, para que nenhuma fique sem os veículos ou com bicicletas demais, além da manutenção delas e toda a instalação das estações… Essas coisas estão com valores caros. O investimento não se paga sem patrocínio. Nossa proposta previa 60 estações por um preço relativo ao TRI (Transporte Integrado de Porto Alegre)”, disse.
O diretor da EPTC esclareceu que algumas empresas tiveram problemas com documentação ou não apresentaram as condições necessárias para execução do serviço. Capellari informou também que não foi estipulada exigência de patrocínio e a empresa vencedora terá que arcar, com patrocínio ou não, os compromissos assumidos com a administração municipal. “A empresa vencedora apresentou um cronograma e terá que cumprir, de acordo com as exigências que estipulamos. Se não cumprir essas exigências, estará fora. Ela administrará o serviço por um ano, podendo ser prorrogado por mais 36 meses ou não”, salientou.
A empresa Serttel é mesma que realizou o serviço de aluguel de bicicletas no Rio de Janeiro. Além da capital carioca, inspiram o modelo a ser implantado em Porto Alegre os utilizados em Paris e Londres. “Observamos um aumento no número de ciclistas na cidade, o que demonstra uma mudança cultural. Com a diferença que, em Londres há poucas ciclovias e aqui estamos com uma série delas em andamento. Todas as obras da Copa do Mundo prevêem construção de ciclovias”, salientou José Fortunati.
Dentro do Plano Diretor Cicloviário, aprovado na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, a Prefeitura de Porto Alegre informa que já estão em funcionamento as ciclovias da Restinga (4,6 quilômetros); Ipanema (1,25 quilômetros); Diário de Notícias (2,1 quilômetros) e Icaraí (1,7 quilômetros). Estão em construção também, segundo a EPTC, a Ciclovia da Avenida Ipiranga (9,4 quilômetros) e a da Edvaldo Pereira Paiva (6,35 quilômetros). Estão projetadas ainda, ciclovias para as obras da Copa do Mundo na Avenida Tronco (5,6km); Severo Dullius (1,6 quilômetros); Sertório (12 quilômetros) e Voluntários da Pátria (3,5 quilômetros).
Fortunati: “Se ocorrerá a integração, só o tempo dirá”
Cada estação terá de seis a 12 bicicletas disponíveis para uso. A intenção é colocar ao menos uma estação em cada terminal de ônibus dos pontos escolhidos para instalação do aluguel das bicicletas. O mapa das estações foi sugerido pela empresa, mas ainda será analisado pela EPTC e poderá sofrer ajustes conforme o impacto na mobilidade. “Vamos estudar a possibilidade de futuramente integrar o aluguel ao TRI para o usuário pagar a bicicleta com o cartão do sistema integrado de transporte da cidade”, falou Vanderlei Capellari.
A integração com os demais modais da cidade, como o futuro projeto do Metrô de Porto Alegre as ciclovias que estão sendo construídas em Porto Alegre será ajustado depois de o aluguel começar a funcionar. “Se ocorrerá a integração, só o tempo dirá. O importante é começarmos a fazer as coisas acontecerem. Todos os ajustes poderão ser feitos conforme a demanda for surgindo, bem como a ampliação do serviço”, disse Fortunati.
Os interessados em alugar as bicicletas deverão realizar credenciamento prévio no sistema, por meio do site da Sertel, telefone ou aplicativo de celular. A gestão do sistema acontecerá de forma totalmente eletrônica, de modo a contabilizar os deslocamentos de forma automática. O passe diário custará R$ 5,00 e o passe mensal R$ 10 reais. O tempo máximo de utilização será de 60 minutos. Cada hora excedente custará R$ 5,00.
Segundo o diretor da EPTC, o valor para o usuário faz parte da proposta da empresa vencedora e poderá ser alterado futuramente. “Se entenderemos que não está sendo compensatório para o usuário, poderemos alterar”, disse. Com o valor diário do aluguel de bicicleta equivalente ao custo do deslocamento de ida e volta com ônibus em Porto Alegre, hoje R$ 2,85, Capellari explica que a intenção é incentivar o aluguel mensal. “Queremos que as pessoas utilizem a bicicleta como meio de transporte. Deixe a sua em casa ou quem não tem, possa começar a usar. O aluguel diário acabará sendo para o turista ou para lazer”, avaliou.
Será constituído um serviço de Call Center para informar o tempo de percurso entre as estações, o mapa geográfico da localização dos pontos do aluguel, valores, monitoramento do serviço e apuração de defeitos ou outras demandas dos usuários. As estações também terão paineis com identificação nominal da estações, mapa de localização e instruções sobre o aluguel, em português e inglês.
O aluguel de bicicletas começará pelo Centro da Cidade a partir de 22 de setembro, com estações no Mercado Público, Casa de Cultura Mário Quintana, Usina do Gasômetro, Praça da Matriz e Câmara de Vereadores de Porto Alegre. Até 30 de outubro serão entregues mais 10 e em 20 de dezembro mais 20 estações. As demais estão previstas para março e abril de 2013. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Pontifícia Universidade Católica do RS (PUCRS) estão contempladas com estações.
ATUALIZAÇÃO: Em contato com o Sul21, a assessoria de imprensa da EPTC corrigiu informação prestada anteriormente sobre a cobrança de R$ 5,00 pela hora excedente no aluguel das bicicletas. Segundo a nova informação, a cobrança não será efetuada.
Que o pedestre tem sido, até então, o último a ser lembrado na escala da mobilidade, quando deveria ser o inverso, o histórico da falta de acessibilidade já mostra isso. Mas quando todo mundo resolve usar a mobilidade como causa inconteste, a prática pode provar que o discurso está muito distante disso.
O que dizer, por exemplo, da passagem usada por pedestres e ciclistas na Ponte Paulo Guerra? Alguém já observou a barreira que foi criada na cabeceira da ponte? Parece inacreditável, mas foi construída uma barreira para impedir que pedestre e ciclista sigam em frente em direção à Avenida Herculano Bandeira, caminho natural de quem faz o percurso. O motivo? Um acesso que está sendo feito para o mais novo centro de compras da cidade. Nada contra, aliás. A questão é que o acesso construído para os carros, eles mais uma vez, coloca, claro, em último lugar ou lugar algum a opção de deslocamento do pedestre e do ciclista. Minto, ambos podem sim seguir em frente se optarem em caminhar pela pista e, nesse caso, teriam que pular a barreira que foi criada para impedir justamente que alguém tenha essa ideia.
Talvez o caminho do pedestre e ciclista seja dar um pulinho no shopping para fazer a volta e continuar o caminho pela Herculano Bandeira. O fato é que eles não foram pensados dentro dessa lógica da mobilidade. A experiência mostra que o caminho que as pessoas usam nos deslocamentos é modificado, em geral, para encurtar caminho, nunca para aumentá-lo. A solução encontrada para o acesso dos carros ao shopping poderá significar risco de atropelamento na cabeceira da ponte e engarrafamentos a perder de vista. A expectativa, aliás, é que o centro de compras atraia um público muito grande ao local. Agora misture tudo isso a uma via estreita e com risco de acidentes no meio do caminho. Socorro!
Fonte: Diario de Pernambuco (Coluna Diario Urbano)
Um bom exemplo disso é a instalação “Green Pedestrian Crossing” (Faixa de Pedestres Verde), criada por Jody Xiong (da agência DDB) para a Fundação de Proteção Ambiental da China, com o objetivo de incentivar os deslocamentos a pé ao invés do uso do carro dentro das cidades.
Como você pode ver nas fotos, e no vídeo abaixo, um grande painel (12,6m x 7m) com uma árvore seca desenhada foi colocado em uma avenida movimentada de Xangai. Nos dois lados das calçadas, foram fixadas grandes esponjas encharcadas de tinta verde lavável e eco-friendly. Assim, cada pedestre que se prepara para atravessar a rua passa pela esponja e sai, literalmente, pintando o caminho de verde. Cada passo representa o nascimento de uma nova planta na imensa árvore, fazendo referência aos benefícios que a caminhada pode trazer para todos.
A instalação fez tanto sucesso em Xangai que foi reproduzida em sete principais avenidas da metrópole chinesa e, depois, em mais 132 ruas em 15 cidades pelo país. No total, estima-se que mais de 3,9 milhões de pessoas tenham participado da ação e despertado para a reflexão sobre seu modo de se deslocar na cidade.
Enquanto a CTTU decidiu reduzir 350 metros da ciclofaixa do binário da Zona Norte, os cicloativistas apostam em outras vias para determinar o espaço das bicicletas. Agora é a vez da Rosa e Silva. Congestionada em tempo integral, a Rosa e Silva não parece a mesma. A madrugada permite uma visão bem mais tranquila com a passagem dos ciclistas. Pena não ser assim…
Parece óbvio que o espaço público é de todos, mas para alguns “espertinhos”, o espaço público é de quem viu e ocupou primeiro. Os exemplos são diversos e não precisa ir muito longe. Os terrenos “vazios” são os principais alvos, mas há casos mais extremos de áreas de uso comum, que fazem parte da dinâmica de uma cidade e mesmo assim são apropriados indevidamente.
Um exemplo são as calçadas e não estou me referindo aos obstáculos que “normalmente” ocupam as calçadas como as lojas que se estendem até o passeio, ou ainda ambulantes, árvores, orelhões etc. Em alguns casos é possível driblar os obstáculos, mas o que dizer de um muro obstruindo toda a passagem do passeio? Não entendo como obras desse tipo passam tão despercebidas pela Diretoria de Controle Urbano (Dircon). Acredito que, na maioria das vezes, são obras clandestinas. Não sei se foi o caso da Rua Epaminondas de Melo, no bairro Paissandu, onde um leitor indignado enviou uma foto mostrando a cena. A construção da quadra do colégio GGE, ocupa a área da calçada e os pedestres são obrigados a circular na rua ao lado os carros.
O caso já foi denunciado à Dircon que diz que o colégio foi autuado. A direção da unidade de ensino não se pronunciou. O caso da Rua Epaminondas não é único. No início da Rua João Lira, no bairro de Santo Amaro, o muro de um colégio ocupa a área que deveria ser uma calçada. Agora imagine se parte da rua fosse destinada para o passeio e o espaço dos carros fosse reduzido? A revolta dos motoristas teria um peso muito maior do que teria com os pedestres. Que o digam os ciclistas do binário do Parnamirim, que perderam a queda de braço para os motorizados.
O Projeto de Lei 3591/12, do deputado Policarpo (PT-DF), destina uma faixa exclusivamente a viaturas operacionais nas vias com mais de uma faixa de circulação no mesmo sentido. Pelo texto, quando estiver em atendimento, estes veículos deverão se deslocar unicamente pelo trecho a eles destinado. Na ausência deles, os demais motoristas poderão circular por esse espaço normalmente.
De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (Lei 9.503/97), definem-se como viaturas operacionais veículos destinados a socorro de incêndio e salvamento, de polícia, de fiscalização e operação de trânsito e ambulâncias. O código também já determina que não conceder passagem a esses serviços constitui infração gravíssima.
Policarpo acredita que a medida irá diminuir o tempo dos atendimentos e conferir maior segurança aos passageiros. Segundo o parlamentar, estatísticas do National Safety Council (organização não governamental dos Estados Unidos dedicada à promoção da saúde) indicam que os veículos de emergências colidem 13 vezes mais do que os demais e causam cinco vezes mais mortes.
Tramitação
Tramitando em caráter conclusivo, o projeto foi encaminhado às comissões de Viação e Transportes; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
A região Nordeste é a campeã em acidentes de trânsito. A constatação foi feita com base em estudo divulgado pela Seguradora Líder DPVAT. Segundo os dados da pesquisa, no primeiro semestre do ano foram pagas 216 mil indenizações do DPVAT para pedestres, motoristas e passageiros em todo Brasil, o que corresponde a um aumento de 31% em relação ao primeiro semestre de 2011.
De acordo com a entidade, a região Nordeste concentrou a maior parte das indenizações pagas pelo seguro, com 30%, seguida pelo Sul e Sudeste com 27 e 25%, respectivamente. Os menores índices foram das regiões Norte, que acumulou 10% e Centro-Oeste com 8%. O Seguro DPVAT pode ser solicitado em até três anos a partir da data do acidente e os valores de indenização chegam a R$ 13.500 em caso de morte e de até R$ 13.500 no caso de invalidez permanente.
O seguro também disponibiliza indenização de até R$ 2.700 para reembolso de despesas médicas comprovadas. Mais informações para requerer o seguro podem ser consultadas pelo site www.dpvatsegurodotransito.com.br ou no telefone 0800-022-12-04.
Tânia Passos
Trinta dias após a implantação do binário Arraial/Encanamento, na Zona Norte do Recife, os caminhos ainda estão sendo ajustados. Motoristas, pedestres, ciclistas e os próprios agentes de trânsito tentam se adequar às mudanças. Nesta quarta-feira, 29, a Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) realiza uma audiência pública para ouvir sugestões da comunidade em relação ao binário. A audiência será realizada às 20h no Centro Comunitário Salesiano, na Estrada do Encanamento, ao lado da Igreja da Harmonia. A ideia é incorporar as sugestões que forem tecnicamente viáveis e tentar por fim às críticas da população desde que o binário foi implantado.
No próximo sábado, entrará em vigor a readequação da Rua Virgínia Loreto, que passará a ser mão única no sentido da Rua João Tude de Melo. Outra decisão é manter de forma permanente dois agentes de trânsito no entorno da Praça do Parnamirim. O papel dos agentes vai além dos tempos dos semáforos. Os agentes tentam reduzir os congestionamentos liberando ou fechando a passagem dos carros, independente do sinal está verde ou vermelho.
Também são os agentes que estão improvisando um ponto de passagem para os pedestres. A faixa de pedestre que existe nas imediações da praça no sentido de quem vem da Rua Padre Roma perdeu a função desde a remoção do semáforo. “Ninguém espera o pedestre passar. Os carros ficam em cima da faixa”, criticou a dona de casa Maria Estelita de Jesus, 54 anos.
Se para o pedestre o trânsito ainda está confuso, para os ciclistas a definição de uma ciclofaixa trouxe mais segurança, mesmo quando eles usam o contrafluxo. “Se eu não fizer o caminho de volta pela ciclofaixa, mesmo na contramão, terei que ir pela Avenida 17 de agosto, que não tem ciclovia. Acho melhor por aqui”, revelou o estudante Lucas Matos, 17 anos. Segundo ele, os carros estão respeitando o espaço da ciclofaixa e os ciclistas conseguem se entender. “A gente espera o outro passar se for preciso. Aqui na faixa a gente se entende”, afirmou o estudante.
Ainda totalmente insatisfeitos estão os motoristas, que não sentiram melhora no tráfego até agora. “Não melhorou nada. Entrei nessa rua porque esqueci que estava assim e já me arrependi”, disse o taxista André de Castro, 37 anos. Apesar de já admitir a necessidade de mudanças, a presidente da CTTU, Maria de Pompéia, faz um balanço positivo dos 30 dias da implantação do binário. “A introdução de um binário é sempre positiva porque permite mais segurança. Com a mão única se reduz o atrito lateral e permite mais fluidez”, revelou Pompéia. Em relação às críticas do binário, ela se defende. “É um ponto que já tinha problema e pode ter se acentuado depois do binário. Por isso é importante essa a audiência pública para que as pessoas possam trazer sugestões e contribuir para melhoria do tráfego. Estamos abertos a isso”, ressaltou.
Por
Tânia Passos
Coluna Mobilidade Urbana, publicada no Diario de Pernambuco de 16.07.12
Uma das grandes vantagens de viajar, do ponto de vista do olhar da cidade, é conhecer de perto a experiência de outros lugares. E fazer um questionamento simples: porque não copiamos as experiências que dão certo? Uma das poucas coisas que sinto, realmente, inveja é da falta de acessibilidade plena nas ruas do Recife. E não precisaria ser assim. Entre o caos e a ordem, bastaria uma decisão. Fico me perguntando quando os gestores públicos vão entender que as calçadas são do pedestre. Não são para fazer comércio ou exposição de produtos ou ainda uma extensão dos imóveis para realização de serviços, sejam públicos ou privados. Não. A calçada é do pedestre.
Muitas cidades já entenderam isso, o Recife ainda não. Apesar do “esforço” das equipes da Diretoria de Controle Urbano (Dircon) para “disciplinar” o comércio nas ruas, abrindo um pedacinho da calçada para o pedestre passar, isso está longe de ser suficiente. Mas não é uma decisão da Dircon, apenas. A decisão passa pelo gestor público. Mas isso não é de agora. Tem sido assim sempre. O discurso da questão social e da tradição dos mascates na cidade, não justifica sermos uma cidade tão pouco acessível. E o direito de ir e vir. Ninguém nunca questionou?
Tirar o comércio ambulante das ruas, seja na área central ou nos bairros, as oficinas mecânicas das calçadas, os produtos das lojas no meio do passeio, não é fácil. Mas quem conseguir implantar um modelo que devolva os passeios aos pedestres com certeza fará história e será sempre lembrado como um gestor que fez a diferença para a mobilidade. Percorri, nestes últimos 15 dias as ruas do centro de Belo Horizonte e Curitiba e em ambas, o respeito ao passeio é uma regra que não pode ser quebrada. Não foi sempre assim. Os ambulantes tiveram que ser transferidos para centros comerciais populares, uma ideia que o Recife já teve, mas nunca implantou. Outra coisa, não é apenas o centro que ficou livre para os pedestres, as ruas dos bairros periféricos também.
Mas há outro detalhe que diferencia muito essas cidades do caos que temos no Recife, além dos passeios ficarem totalmente livres, não há carros estacionados nas vias públicas em áreas centrais ou corredores de tráfego. Operação de carga e descarga, atrapalhando o fluxo, nem pensar. A sensação é de que tudo está limpo, livre e acessível. Cada rua que eu passava pelo centro de Belo Horizonte, em áreas históricas da cidade, mentalizava a realidade das vias do Recife. Acho que essa é a única inveja que tenho de outras cidades..