Passageiros da agonia reféns de um modelo de transporte no Recife

Passageiros ônibus/Recife - Foto - Roberto Ramos /DP/D.A. Press
Passageiros ônibus/Recife – Foto – Roberto Ramos /DP/D.A. Press

o anúncio de greve dos motoristas de ônibus do Recife, que costuma ocorrer todos os anos no mês de julho, quando se negocia a data-base da categoria, vem provocando um fenômeno que poderia ser definido como tensão pré-greve nos usuários do transporte público.

É quando surgem os verdadeiros passageiros da agonia. Porque quem não participa diretamente das discussões sobre os salários dos condutores e preços das tarifas continua sendo, na prática, o maior penalizado. Os que pagam a conta não podem todas as vezes ficar reféns de um único modal.

Na última sexta-feira, presenciei o diálogo entre duas usuárias – enquanto aguardava o almoço – preocupadas com o cenário previsto para o dia de ontem. Pelo celular, elas buscavam informações a respeito da greve. Nem mesmo a determinação do Tribunal Regional do Trabalho (TRT-PE) em garantir 100% da frota nos horários de pico servia de consolo.

A aflição era justificada e há pelo menos duas fortes razões: o modelo de negociação salarial – que sempre se estende às últimas consequências e traz prejuízo principalmente ao usuário – e a ausência de outros modais para compensar a falta do rodoviário.

Em São Paulo, mesmo a duras penas, o usuário tem o metrô que atende aos quatro cantos da cidade, além dos trens a diesel. Lá, a superlotação, no entanto, não permite que os vagões sejam suficientes e nem poderiam. Não há mobilidade que resista a um único modal.

No caso de Recife, a rede de metrô com 39,5 quilômetros, voltada apenas para parte das zonas Oeste e Sul, é ainda insignificante para atender às necessidades de deslocamento da Região Metropolitana do Recife e nos deixa saudosistas da rede de 200 quilômetros de extensão dos bondes que atendia a Região Metropolitana até meados do século 20.

Quanto mais modais, melhor, e para uma cidade cortada por rios, o transporte hidroviário também atenderia uma parte da demanda, mas a obra prevista para ser entregue até junho deste ano foi adiada para 2015 e isso ainda não é certeza de nada.

A paralisação do sistema, mesmo em parte, afeta diretamente cerca de dois milhões de usuários. O trânsito também fica travado e, para piorar, a direção eleita do Sindicado dos Rodoviários, ainda não empossada, vem colocando em prática uma estratégia que consiste em orientar os motoristas para tirarem os ônibus das garagens e parar os veículos nos principais corredores de transporte. O transtorno é gigante para quem está dentro e fora dos ônibus e não tem para onde fugir. Com uma frota circulante de mais de um milhão de veículos, até a carona não parece ser uma boa ideia em dias assim.

Sem ônibus, sem barcos ou ainda metrô para todos, sobra um asfalto de incertezas, esperas e frustrações. Talvez quem menos sofra quando o ônibus deixa de circular seja o usuário de bicicleta. Mesmo sem faixas seguras, ele consegue deixar para trás os congestionamentos. Também para quem se desloca a pé em distâncias possíveis de serem vencidas, mesmo com passeios impossíveis.

Nesse cenário, uma pergunta que permanece é se os próximos julhos serão iguais. Provavelmente sim, mas não deveria. A melhoria do transporte público está diretamente ligada à qualidade e diversidade dos modais. As questões salariais entre trabalhador e empregado precisam ser definidas em lei de forma clara e segura. Para o bem de todos, principalmente do passageiro.

Calçada com faixa exclusiva para usuários de celular nos USA

 

Calçada nos Estados  dividida para usuários e não usuários de celular - Foto National Geographic/Divulgação
Calçada nos Estados dividida para usuários e não usuários de celular – Foto National Geographic/Divulgação

Espaço para fumantes e não fumantes. Nenhuma novidade. Mas que tal dividir o espaço da calçadas para usuários e não usuários de celular ou tablets? Pois é, quem é que pensa nisso? O canal americano National Geographic decidiu fazer um experimento e separou a calçada de uma rua de Washington, capital dos Estados Unidos, em “faixas” onde pedestres que andam usando seus celulares teriam um lado destinado apenas para eles.

O experimento faz parte da série científica Mind Over Masses, que “usa o que sabemos sobre o comportamento humano para desenvolver soluções interativas para os problemas diários”, segundo o canal explica.As linhas no chão são temporárias e a série filmou a reação dos pedestres no local, que podiam escolher entre a “faixa rápida e a devagar”.

Calçadas pedras portuguesas Foto - Inês Campelo DP/D.A.Press

No Recife, bem que poderia ter como experimento as calçadas acessíveis e não acessíveis, com buracos ou sem buracos. Os caminhos que se interligam com faixas de pedestres e os que deixam o pedestre sem alternativa. Faixa rápida ou devagar, pode ser medido pela que tem obstáculos e as que não tem.

Calçcada toda ocupada por uma árvore. O proprietário que quiser fazer recuo no muro, a PCR bancará a obra - Foto Paulo Paiva DP/D.A.Press
Calçada toda ocupada por uma árvore no bairro Poço da Panela, no Recife- Foto Paulo Paiva DP/D.A.Press

Fonte: Com informações do Correio 24 horas (Via Portal Mobilize)

BRT do corredor Norte/Sul do Recife entra em operação

ADepois do Leste/Oeste, agora é a vez do Norte/Sul entrar em operação  - Foto Júlio Jacobina DP/D.A.Press
Depois do Leste/Oeste, agora é a vez do Norte/Sul entrar em operação – Foto Júlio Jacobina DP/D.A.Press

Depois de atrasos e adiamentos, o Norte/Sul vai entrar em operação com várias estações ainda sem conclusão. Assim como o Leste/Oeste, o corredor vai começar com apenas uma linha. Notícia enviada pelo Grande Recife Consórcio de Transporte Metropolitano. Leia abaixo:

A primeira linha de BRT do corredor exclusivo de ônibus Norte/Sul começará a atender aos usuários, a partir desta quarta-feira (16). Após a fase de adaptação dos motoristas com o novo modal e dos testes de acoplagem nas estações do corredor, o Via Livre Norte/Sul começará a operar com a linha 1915- PE-15 (Dantas Barreto).

Neste momento, a linha inicia a operação com quatro BRTs, realizando 21 viagens por dia. É importante ressaltar que o veículo BRT será incorporado na operação atual da linha 915 – PE-15, ou seja, os 24 veículos convencionais da linha continuarão circulando. O tempo previsto de intervalo entre um BRT e outro será de 20 minutos. A primeira linha do Via Livre Norte/Sul espera atender cerca de 500 passageiros e irá operar de domingo a domingo das 9h às 16h.

O BRT irá operar de modo semi-expresso, ou seja, sairá do Terminal Integrado da PE-15 e seguirá em direção ao centro da cidade, realizando embarque e desembarque na estação Tacaruna, localizada na Av. Cruz Cabugá em frente ao Shopping Tacaruna e na estação Praça da República. Os veículos farão itinerário pela Rodovia PE-15, Avenida Pan Nordestina, Complexo de Salgadinho, Avenida Agamenon Magalhães, Avenida Cruz Cabugá, Rua do Riachuelo, Rua da Aurora, Ponte Princesa Isabel e Av. Dantas Barreto.

É importante lembrar que a tarifa da linha continuará a mesma, R$2,15 e que os usuários que desejarem experimentar o novo modal poderão utilizar o Vale Eletrônico Metropolitano (VEM) nos validadores instalados nas estações. Quem não possui o vale eletrônico, deverá fazer a troca do dinheiro nas máquinas de auto-atendimento, também disponíveis em todas as estações em funcionamento.

Na primeira vez que utilizar a máquina, o usuário poderá retirar o VEM Comum gratuitamente, mas para utilizá-lo será necessário fazer uma recarga mínima de R$ 4,00. As máquinas não concedem troco e só aceitam cédulas, portanto, o valor que for depositado será revertido todo em créditos no VEM.

Para orientar os usuários no uso do novo modal, o Grande Recife irá disponibilizar divulgadores que estarão distribuídos no TI PE-15 e nas estações de embarque e desembarque ao longo do Corredor Norte/Sul. A meta é que até novembro deste ano, toda a operação do Corredor Norte/Sul esteja funcionando com oito linhas de BRT e 84 veículos circulando no corredor.
BRT VIA LIVRE – Os BRTs têm capacidade de transportar de 140 a 160 passageiros e medem entre 19 e 21 metros de comprimento. As estações, que estão em fase final de preparação para receber o novo modal, possuem capacidade para atender cerca de 300 pessoas.

As estações do BRT Via Livre são as únicas do Brasil que possuem ar-condicionado, proporcionando mais conforto aos usuários. Os novos veículos também contam com câmbio automático, motor central ou traseiro e ar-condicionado, o que trará mais segurança tanto para os passageiros quanto para os motoristas.

Fonte: Grande Recife

Via mangue já reduziu em 41% o tráfego da Domingos Ferreira

Trajeto tornou mais ágil a volta para casa de quem mora na Zona Sul do Recife e em parte de Jaboatão Foto Guilherme Veríssimo Esp DP/D.A.Press
Trajeto tornou mais ágil a volta para casa de quem mora na Zona Sul do Recife e em parte de Jaboatão Foto Guilherme Veríssimo Esp DP/D.A.Press

Em um mês de funcionamento, a Via Mangue já absorveu 41% dos veículos que trafegavam pela Avenida Domingos Ferreira, em Boa Viagem. De acordo com a Companhia de Trânsito e Transportes Urbano (CTTU), 19 mil automóveis passam pela via, um aumento de 4 mil veículos se comparado com os primeiros 15 dias de utilização. Os números correspondem ao período de férias e, com a volta das aulas, a companhia espera um acréscimo de 5% a 7% no volume de veículos.

“Essa é a média já registrada no retorno do período escolar nas vias de grande circulação do Recife. Estamos monitorando o tráfego mas é claro que a pista oeste absorveu uma parte dele”, afirmou a presidente da CTTU, Taciana Ferreira.
Atualmente, cerca de 28 mil veículos circulam na Avenida Domingos Ferreira.

Para Taciana, o maior ganho foi no transporte público. “A avaliação é positiva para o território sul porque, além de se consolidar como uma alternativa viária, a Via Mangue viabilizou a implantação da Faixa Azul na Domingos Ferreira, que prioriza os coletivos”, disse a presidente da CTTU. Segundo a instituição, a velocidade média das 24 linhas de ônibus que operam na avenida aumentou cerca de 50%, passando de 11 km/h para 16,5 km/h. Cerca de 17 mil passageiros do transporte público foram beneficiados.

Quem trafega de carro também sentiu uma redução no tempo da viagem. A estudante de direito Regina Silva, 25 anos, dirige pela Domingos Ferreira diariamente para se deslocar do Pina, onde faz estágio, ao bairro de setúbal, onde mora. “Eu largo às 18h, horário de pique, e, de carro, levava pouco mais de uma hora para chegar em casa. Hoje levo vinte minutos”, contou a universitária.

Infrações
Desde que a Via Mangue foi inaugurada, dia 13 de junho, 810 infrações foram registradas por excesso de velocidade. Embora seja uma via expressa, sem semáforos e construída para dar fluidez principalmente aos automóveis que seguem para os bairros de Boa Viagem, no Recife, e de Piedade e Candeias, em Jaboatão, a velocidade máxima é de 60 km/h, limite em ruas e avenidas do perímetro urbano. As autuações são registradas por um pardal instalado próximo à entrada do Shopping RioMar e por um carro-radar.

Fonte: Diario de Pernambuco

Uma cidade sem carros até 2025. Helsinque acredita ser possível

Em dez anos, a capital da Finlândia quer tirar os carros da rua - Foto: Michael Day/Flickr
Em dez anos, a capital da Finlândia quer tirar os carros da rua – Foto: Michael Day/Flickr

A capital finlandesa, Helsinque, pretende estar praticamente livre dos carros até 2025. A saída para alcançar este objetivo: tornar o transporte público tão eficiente, que os moradores não terão vontade de tirar seus automóveis particulares da garagem.

O projeto pretende transformar o transporte coletivo em uma estrutura mais personalizada e prática, conforme informado pelo jornal britânico The Guardian. Todos os diferentes modais oferecidos pelas autoridades públicas devem ser interligados, ao mesmo tempo em que os usuários conseguem ter acesso aos horários, trajetos e demais informações por um aplicativo no celular.

A tecnologia não servirá apenas para informar, mas também deve permitir que os passageiros solicitem paradas de ônibus fora dos pontos, para maior comodidade. Por meio do aplicativo, a população também poderá pedir, usar e pagar por outros tipos de serviços, como táxis, bicicletas e até carros compartilhados.

Atualmente a cidade europeia já possui um serviço de micro-ônibus em que os usuários especificam seus próprios pontos através do aplicativo e a informação é transmitida ao motorista. Mas Helsinque pretende ir ainda mais longe.

Mesmo sendo uma proposta promissora, ainda há quem critique por considerar a medida mais restrita do que deveria ser e um tanto segregadora, já que as facilidades atendem só a pessoas que têm smartphones. Independente disso, a ideia de tornar o sistema mais eficaz já é um exemplo para outras cidades do mundo que precisam de renovação no sistema de transporte coletivo para atrair cada vez mais a população.

Fonte: Ciclovivo (via Portal Mobilize)

Zona 30 entra em operação no Recife

Bairro do Recife terá Zona 30 em 22 vias do bairro. Foto - Inês Campelo DP/D.A.Press
Bairro do Recife terá Zona 30 em 22 vias do bairro. Foto – Inês Campelo DP/D.A.Press

Veículos motorizados que circularem em 22 ruas do Bairro do Recife, a partir desta segunda-feira, não poderão ultrapassar a velocidade de 30km/h. A medida faz parte do projeto Zona 30, que está sendo implementado pela primeira vez no Recife.

A proposta, amplamente utilizada em diversas cidades do mundo, pretende tornar harmoniosa a convivência entre motoristas, ciclistas e pedestres. Até sexta-feira, a fiscalização vai funcionar em caráter educativo.

Já a partir do dia 5, condutores que não respeitarem a velocidade de 30km/h serão multados por agentes de trânsito ou pelos equipamentos de fiscalização eletrônica instalados na Rua Madre de Deus e na Avenida Marquês de Olinda. Eles vão funcionar todos os dias entre 6h e 22h.

Segundo a presidente da CTTU, Taciana Ferreira, a ideia não é desestimular o uso do carro, mas promover a segurança. “A diferença na velocidade será sentida principalmente na Rua Madre de Deus e na Avenida Marquês de Olinda, porque nas outras o tráfego já é lento”, ressalta Taciana. Hoje, algumas vias da área chegam a permitir velocidade máxima de 60km/h.

Como a sinalização só será implantada neste fim de semana, a medida pegou alguns motoristas de surpresa. “Não estava sabendo. Mas já é difícil de circular pelo bairro. Agora será um caos. O jeito será deixar o carro em casa”, opinou o empresário Wilson Lima Araújo. O taxista Antônio Gomes, que trabalha no Bairro do Recife há cinco anos, disse que nunca ouviu falar em Zona 30, mas aprovou a iniciativa. “Aqui é turístico e comercial. Não tem necessidade de se andar em alta velocidade”. Nos três primeiros dias do projeto, 60 arte-educadores estarão dispostos em 10 pontos da área para orientar motoristas, pedestres e ciclistas.

A Zona 30 está em consonância com as diretrizes estabelecidas no Plano Diretor Cicloviário Metropolitano, embora cicloativistas ressaltem que a medida não deve diminuir a urgente necessidade de ciclorrotas. “Em todo o mundo já se questionou a funcionalidade das Zonas 30: será que não vai piorar? Mas a experiência mostra que o projeto funciona na medida que melhora a velocidade média, porque aumenta a segurança e estimula outras formas de locomoção”, avaliou o coordenador geral da Ameciclo, Guilherme Jordão.

 

 

Calçada, terra de ninguém

calcadasPor

Eduardo Alcântara de Vasconcelos

Nas cidades brasileiras andar a pé é a forma mais utilizada de deslocamento, compreendendo entre 35% e 45% das viagens diárias das pessoas. No entanto, nossas políticas de mobilidade historicamente ignoraram o ato de caminhar.

A primeira constatação da falta de prioridade para o ato de caminhar é a exclusão legal da calçada do “sistema de mobilidade”, com a atribuição ao proprietário do lote da responsabilidade de construir e cuidar das calçadas. Esta decisão torna explícito o conceito implícito na decisão: o ato de caminhar não é considerado um assunto público, mas privado. Em conseqüência, toda a engenharia viária foi desenvolvida com atenção exclusiva à pista de rolamento dos veículos.

Nos projetos de transporte a calçada é não apenas ignorada como não dispõe de método técnico para seu dimensionamento físico, de forma a que seja confortável, segura e compatível com o fluxo de pedestres. Ao contrário dos métodos de dimensionamento de vias de trânsito veicular – que se encontram às centenas na literatura técnica – os técnicos brasileiros não têm nenhuma forma de dimensionar a calçada para acomodar adequadamente o fluxo provável de pedestres.

Isto tem o beneplácito geral das pessoas, que em sua maioria aceita a posição do pedestre como cidadão de segunda classe. A calçada é “terra de ninguém” e, portanto, ninguém precisa se preocupar com ela. Como conseqüência, não há nenhuma prefeitura no Brasil que tenha um mapa detalhado de todas as suas calçadas, ao passo que a maioria tem um mapa detalhado de todas as vias para os veículos.

Nas cidades brasileiras a maioria das calçadas tem condições inadequadas e inseguras para os pedestres, o que foi demonstrado por estudos feitos nas universidades brasileiras e o por organizações não governamentais como o Mobilize.

Existe grande variedade de pisos em um mesmo quarteirão, a largura é freqüentemente insuficiente para acomodar os pedestres com conforto, há obstáculos de toda ordem à circulação fluida das pessoas, em terrenos acidentados as rampas de acesso de veículos aos lotes transformam a calçada em uma escada. Na pesquisa do Mobilize feita em 228 ruas de 39 cidades do país a nota final foi de 3,4 em uma escala de 1 a 10.

calçadas portuguesas rotativas
Adicionalmente, a presença de buracos, obstáculos e irregularidades leva a muitos acidentes: um estudo do Hospital das Clínicas de São Paulo feito em 2001 mostrou que 9,5% das pessoas que deram entrada no pronto-socorro eram pedestres que caíram na calçada e uma pesquisa domiciliar feita no estudo IPEA/ANTP sobre custos dos acidentes de trânsito mostrou que ocorriam na Região Metropolitana de São Paulo 91 mil quedas de pedestres em calçadas por ano, com um custo hospitalar de R$ 2.500 por pessoa.

A posição secundária do pedestre dentro das políticas de circulação pode ser vista também por um estudo feito nos semáforos de São Paulo, que mostrou que os pedestres encontram 52 situações distintas para atravessar as vias, ao passo que condutores de veículos encontram apenas 11, o que mostra que os cruzamentos foram projetados para condutores de veículos e não para pedestres, dentro da visão tradicional que privilegia os veículos. Pode ser acrescentado que a maioria dos cruzamentos com semáforos no Brasil não têm focos dedicados a pedestres.

Por último, mas igualmente importante, os pedestres não dispõem de sinalização de orientação para os seus deslocamentos. Quem caminha não encontra indicações sobre a direção a seguir para chegar a equipamentos públicos, museus, zonas de comércio, pontos de parada de transporte público  e outros destinos desejados.

Apesar de todos estes problemas, são raros os movimentos individuais ou sociais na defesa dos interesses de pedestres ou ciclistas. Salvo movimentos pontuais, causados por situações específicas (por exemplo, protestos pela interrupção de circulação em áreas de obras), nada de relevante aconteceu em relação a uma atuação política concreta e permanente por parte dos usuários de calçadas.

É um caso claro de auto-admissão de cidadania de segunda classe, como se isto fosse natural e justo: para isto, basta lembrar que o pedestre no Brasil, quando atravessa a rua sobre uma faixa de pedestres, agradece o motorista que o deixa passar.
Calçadas do Recife - Foto - Maria Eduarda Bione DP/D.A.PressPor todos estes motivos, uma das ações mais importantes que podemos fazer é insistir na discussão do tema, na divulgação de dados e experiências bem sucedidas e na organização das pessoas para introduzir definitivamente o ato de caminhar nas nossas políticas de mobilidade.

Eduardo Alcântara de Vasconcellos é sociólogo e engenheiro com pós-doutorado pela Universidade de Cornell (EUA), consultor da ANTP – Associação Nacional dos Transportes Públicos

 

 

Descuidos de pedestres que podem ser fatais

Aumenta o risco de acidentes para pedestre que fazem travessia falando ao celular Foto - Alcione Ferreira DP/D.A.Press
Aumenta o risco de acidentes para pedestre que fazem travessia falando ao celular Foto – Alcione Ferreira DP/D.A.Press

Os pedestres estão morrendo mais. No Recife, pelo menos uma pessoa é atropelada por dia no trânsito. Um levantamento da Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) registrou 398 atropelamenos no ano passado, uma média de 33 acidentes por mês. O percentual é quase 5% maior do que o registrado em 2012. Em todo o estado, o número de mortes por atropelamento aumentou 13,3% no mesmo período.

Pedestre digita mensagem no celular em plena travessia Foto Alcione Ferreira DP/D.A.Press
Pedestre digita mensagem no celular em plena travessia Foto Alcione Ferreira DP/D.A.Press

As estatísticas oficiais não revelam as causas dos atropelamentos, mas além da culpa de motoristas que não respeitam as normas, outro viés começa a despertar preocupação de analistas: o comportamento pouco cuidadoso do pedestre com a própria vida.

Atravessar fora da faixa, usar fones de ouvido, falar ao celular e digitar mensagens enquanto caminha são algumas das ações que potencializam o risco de mortes. O Diario flagrou esse tipo de cena em dois pontos do Centro do Recife: Rua do Hospício e Avenida Guararapes.

A travessia fora da faixa é quase uma regra para quem não quer “perder tempo”. O uso de equipamentos eletrônicos nas travessias é um fenômeno relativamente recente e pouco estudado, porém tão danoso para o pedestre quanto para o motorista.

“As novas tecnologias estão tirando as pessoas do real e o risco é gerar abstração que pode trazer complicações para a vida. É um comportamento social novo que precisa ser estudado”, avaliou o engenheiro e consultor em trânsito Carlos Guido. Segundo ele, da mesma forma que dirigir falando ao celular equivale a dirigir embriagado, caminhar conversando ao celular tem o mesmo perigo. “Do ponto de vista do cérebro, o risco é o mesmo”, afirmou.

Pedestre caminha com fone no ouvido pelas ruas do Recife Foto - Alcione Ferreira DP/D.A.Press
Pedestre caminha com fone no ouvido pelas ruas do Recife Foto – Alcione Ferreira DP/D.A.Press

A professora Aglaé Costa, 35 anos, nunca larga o celular e na rua usa o fone de ouvido para ouvir música ou atender alguma ligação. “Mas eu costumo usar o fone só em um ouvido. O outro fica livre para ouvir alguma buzinada”, justificou.

Também consultor em trânsito, o sociólogo Eduardo Biavati faz outro alerta. “Não é só o pedestre que está no mundo da Lua e desconectado com o trânsito, o motorista também. E é o motorista quem atropela. Ou se toma alguma providência ou a gente não sabe onde isso vai parar”, criticou.

Primeira Zona 30 do Recife será implantada em junho em 22 vias do bairro histórico da cidade

 

Bairro do Recife terá Zona 30 em 22 vias do bairro. Foto - Inês Campelo DP/D.A.Press
Bairro do Recife terá Zona 30 em 22 vias do bairro. Foto – Inês Campelo DP/D.A.Press

O Bairro do Recife vai sediar a primeira área de Zona 30 da cidade. Isso significa que em 22 vias do bairro, em um perímetro de 15 mil metros quadrados, a velocidade da via passará a ser de 30km/h a partir de junho.

A iniciativa ocorre 31 anos depois que a Alemanha inaugurou o modelo de redução do limite de velocidade para dar mais segurança ao pedestre, ao ciclista e ao próprio motorista no compartilhamento dos espaços. Em Barcelona, na Espanha, a Zona 30 já alcançou 200km de vias.

A redução da velocidade é indicada para ruas que possam privilegiar a circulação de pedestres e vias locais de bairros residencias. No Bairro do Recife, circulam em média 17 mil veículos e a velocidade média é de 40km/h. O bairro também é ligação entre o Centro e a Zona Sul.

Das vias que terão redução de velocidade estão a Rua Madre de Deus e a Alfredo Lisboa, que hoje funcionam como binário. “Essas vias são, na verdade, atalhos. Há outras alternativas de rotas. A Alfredo Lisboa deveria funcionar como uma via parque e quem usa a Madre de Deus, tem a opção de usar a via Cais da Alfândega, que fica na margem do rio”, sugeriu o urbanista César Barros, que também defende a redução de velocidade.

O limite de velocidade tem impacto sobre a segurança. Em uma velocidade de 30km/h, as chances de uma pessoa morrer são de 5%, mas com 10km/h a mais essas chances ampliam para 45% de possibilidade de morte. “Em todos os países que adotaram a redução, as mortes no trânsito diminuíram”, afirmou o presidente do Instituto Avante, o jurista e professor Luiz Flávio, um dos maiores defensores da Zona 30.

Em janeiro, a presidente da CTTU, Taciana Ferreira, ainda não estava convencida da Zona 30. “Estamos criando um padrão de 40km nas áreas das ciclofaixas”, disse na ocasião. Ontem, porém, ressaltou: “É uma mudança de mentalidade para todos nós”. E o prefeito completou: “É uma ação que busca melhoria da qualidade de vida. A prioridade é para as pessoas”, afirmou Geraldo Julio.

Os descaminhos de quem anda a pé na Região Metropolitana do Recife

 

Vegetação invade área vegetação invade área do passeio na PE-15 - Foto - Jo Calazans pedestre
Vegetação invade área do passeio na PE-15 – Na foto a jornalista Eva Duarte – Foto – Jo Calazans – DP/D.A.Press

O mundo real de quem precisa caminhar todos os dias pelas calçadas da Região Metropolitana do Recife está a anos-luz do mínimo de razoabilidade. Isso significa ignorar um universo de cerca de 1,5 milhão de pessoas que precisam se deslocar a pé todos os dias.

Lixo na calçada também atrapalha a mobilidade do pedestre Foto Jo  Calazans DP/D.A.Press
Lixo na calçada também atrapalha a mobilidade do pedestre – Foto Jo Calazans DP/D.A.Press

Um público que permanece à margem das políticas públicas e nem é conhecido dentro de sua totalidade, já que a última pesquisa de origem e destino da RMR é de 1997, sendo atualizada em 2008 sem pesquisa de campo. O pedestre sequer é lembrado como elemento primário do sistema viário e é obrigado a andar por calçadas precárias, por vezes inexistentes, ou ainda obstruídas e sem conexão entre os caminhos.

Pedestre se equilibra no meio fio por falta de espaço
Pedestre se equilibra no meio- fio por falta de espaço na PE-15, por onde irá passar o corredor do BRT – Foto- Jo Calazans DP/D.A.Press

Não se vislumbra o que deveria ser um dever de casa básico para a ocupação dos espaços urbanos. E muito menos do que deveria ser um caminhar seguro e confortável.

Nós acompanhamos a saga da jornalista Eva Duarte, 43 anos, que se desloca a pé de duas a três vezes por semana pelas calçadas quase inexistentes da PE-15, em Olinda, um dos principais trechos do futuro corredor Norte/Sul do BRT (Bus Rapid Transit). Enquanto viadutos e estações se descortinam ao longo do corredor, as calçadas ainda não receberam nenhum tipo de tratamento para atender com o mínimo de dignidade o pedestre.

Quando há  calçada, o espaço serve de extensão de serviços - Foto - Jo Calazans DP/D.A.Press
Quando há calçada, o espaço serve de extensão de serviços – Foto – Jo Calazans DP/D.A.Press

Não é preciso percorrer grandes distâncias para se descobrir tudo o que não deveria acontecer na área do passeio. O trecho de 500 metros entre a Rua Romeu Jacobina de Figueiredo, em Ouro Preto, Olinda, onde ela mora, até a parada de ônibus, é um exemplo. Mesmo percorrendo o trecho mais de uma vez por semana, ela não deixa de se indignar uma única vez. E chega a interpelar os outros pedestres no meio do caminho, provocando reações. A vontade, que não é só dela, é de criar um movimento de conscientização pelos direitos do pedestre. “Somos a minhoca da cadeia alimentar do trânsito”, desabafa.

Eva fala com conhecimento de causa. No percurso que costuma fazer, passa por buracos de obras onde deveria haver calçada, se equilibra no meio-fio por ausência do passeio, salta para se livrar de trechos alagados e ainda passa por uma área coberta de vegetação, que mais parece uma trilha.

Depois de enfrentar esse trecho, Eva finalmente chega a um quarteirão com calçada. Deveria ser melhor, mas não é. Em trecho curto, ela passa por um lixão em plena área do passeio e se esquiva de duas oficinas que usam o espaço como extensão dos seus negócios.

Dificuldade de travessia na via. Não há espaço seguro para o pedestre. Foto Jo Calazans DP/DF.A.Press
Dificuldade de travessia na via. Não há espaço seguro para o pedestre. Foto Jo Calazans DP/DF.A.Press

Para chegar à parada de ônibus, ela ainda atravessa a pista sem faixa de pedestre. À noite, a situação se agrava. “A iluminação é péssima e se torna mais perigoso fazer esse percurso”, diz. Sem muita esperança de que a situação mude a curto prazo, ela decidiu adotar um esquema que a permite sair o menos possível. “Trabalho em casa, faço faculdade à distância, vou para o bar da esquina e namoro em casa. Mas isso tudo é, na verdade, imobilidade”, criticou.