A briga pelos espaços públicos

 

Nada mais emblemático na disputa pelo espaço público do que a briga de dois flanelinhas na defesa dos seus “territórios”. As vias públicas estão todas loteadas e há regras entre os loteadores. Ontem, dois flanelinhas se desentenderam quando um invadiu o “espaço” do outro.

A disputa que terminou com briga de canivete e um pedaço de madeira, ocorreu no cruzamento das ruas do Navegantes com a Bruno Veloso, em Boa Viagem. Na avenida beira-mar, essa divisão já foi definida. Os oito quilômetros da avenida foram divididos entre eles da seguinte forma: cada um fica responsável por um quarteirão e valem os dois lados da via.

Há 10 anos trabalhando na Avenida Boa Viagem, o flanelinha Aluísio Xavier do Nascimento, 30 anos, toma conta de um trecho onde cabem 20 carros estacionados dos dois lados. “Eu trabalho aqui a semana toda. Mas o sábado e o domingo são os dias de melhor movimento. Por mês, eu consigo tirar um salário para sustentar a família”, revelou.

Aluísio disse que nunca houve problema na divisão do espaço. “Cada um cuida do seu espaço. E todos nós fomos cadastrados no Instituto Tavares Buril há um mês”, afirmou. A iniciativa da polícia em fazer o cadastramento foi logo após um flanelinha ter sido acusado de extorsão.

Fabrício Barros de Souza, 21, que trabalha na Rua da Moeda, no Bairro do Recife, chegou a passar três dias no Centro de Observação e Triagem (Cotel), em Abreu e Lima,  depois que um policial denunciou ter sofrido extorsão. Fabrício foi liberado, após a prisão ter sido relaxada.

Ontem, a disputa por espaço na via pública acabou na delegacia. O flanelinha que se armou com o canivete, Willis Oliveira da Silva, 19 anos, foi ferido na cabeça com o pedaço de madeira e levado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Imbiribeira. Depois, ele foi encaminhado para a Delegacia de Boa Viagem junto com o outro flanelinha Wagner da Silva dos Santos, 19 anos, que depois de liberado voltou para o “seu” ponto.

“Ele queria pegar os meus clientes. Eu já tinha colococado papelão no vidro de todos os carros da rua e ele chegou com o canivete para me agredir. Eu peguei o pedaço de madeira e me defendi”, revelou Wagner. Entender a divisão do espaço público é outra questão. Não é apenas a antiguidade no lugar que é levada em conta, mas principalmente quem consegue se impor. Segundo o próprio Wagner, Willis, está no local há mais tempo que ele, mas houve um acordo para dividir os dias. O domingo seria dele.

Wagner dos Santos contou que chegou no endereço por volta das 6h30. “No domingo, o movimento começa cedo. Tenho clientes antigos. Estava lavando um carro, quando me distrai e ele chegou querendo pegar as vagas para ele”, disse. Em média, num dia de domingo, Wagner disse que fatura até R$ 50 cuidando dos carros nas ruas de Boa Viagem. Na delegacia, Willis não quis dar entrevista, mas admitiu que tinha puxado o canivete.

Os dois flanelinhas envolvidos na briga foram liberados depois de terem sido ouvidos. Segundo o delegado de Boa Viagem, Erivaldo Guerra, eles irão responder a um Termo Circustânciado de Ocorrência (TCO). “Eles serão investigados por crime de lesão corporal leve. Vão ser ouvidos no juizado especial criminal”, explicou.

O que você faria se atropelasse alguém?

Qualquer pessoa está passível de se envolver em um acidente de trânsito, seja como vítima ou causador do fato. E é difícil saber, com antecedência, como reagir em tal situação. É quase aquela lógica do assalto. Ninguém sabe ao certo como irá se comportar.

Mas há questões que estão intrísecas na nossa formação: a primeira delas é a ética. Afinal nós sabemos diferenciar, naturalmente, sobre o que é certo ou errado. Outro ponto é o conhecimento. E, nesse caso, talvez a formação dos motoristas devesse conter dicas de como as pessoas devem se comportar em um caso de acidente. Até mesmo com noções de primeiros socorros.

O que temos assistido, infelizmente, são notícias de motoristas que fogem sem prestar socorro. E o blog levantou essa questão: o que você faria se atropelasse uma pessoa?

71% das pessoas disseram que prestariam socorro

14% disseram que prestariam socorro, se fosse seguro

10% informaram não saber o que fazer. Cada situação é um fato

5% admitiram que fugiriam do local, por não saber qual seria a reação das pessoas

A enquete revela que a grande maioria afirma que se predispõe a fazer o socorro. E quase 30% condiciona a prestação do socorro à segurança pessoal. Nas duas situações fica claro, que não existe um modo padrão de comportamento. E saber como agir pode fazer toda a diferença na hora de salvar vidas.

 

 

 

Um dia diferente no trânsito, que poderia se repetir

 


A integração do transporte público é um dos diferenciais da Região Metropolitana do Recife em relação a outras capitais brasileiras. Mas o acesso aos principais corredores de tráfego e terminais de integração ainda deixa muito a desejar.

No dia mundial sem carro, quando decidi deixar o carro em casa, tentei observar as opções para chegar ao corredor principal, no caso a Avenida Conselheiro Aguiar. Levando-se em conta que eu estava na Barão de Souza Leão, a caminhada até a Conselheiro levaria cerca de 20 minutos. Outra opção seria, a paralela da Barão, a Capitão Zuzinha. A primeira opção teria uma oferta maior de linhas, a segunda mais limitada.

Optei pela segunda. Foi o primeiro erro. O ônibus da linha PE-15 me levaria até a Agamenon Magalhães, mas eu queria ir para o Bairro de Santo Amaro, no centro. Tive que descer na Conselheiro Aguiar e pegar a segunda condução até o Terminal de Santa Rita. Tudo certo. Lá peguei, enfim, o circular .O terceiro ônibus, a terceira passagem.

Para minha surpresa o terminal de Santa Rita não tem o sistema de integração. O terminal que é estratégico na área central da cidade e recebe linhas de todas as áreas, não oferece a opção de integração, nem mesmo com as linhas circulares.

Como não saí no horário de pico e não houve nenhum acidente no meio do caminho, foram só 45 minutos de casa até o trabalho. Quase me convenceu se as opções fossem mais atraentes. Depois soube que poderia ter pego o metrô na estação aeroporto e descido na estação Joana Bezerra e de lá pegaria o circular da integração.

Parecia perfeito, mas o deslocamento até a estação também precisaria de uma longa caminhada com calçadas ruins. E fiquei pensando que a Barão de Souza de Leão, que é um corredor de acesso para o Aeroporto, bem que poderia ter uma linha circular.Até porque o acesso da estação para o aeroporto é também complicado.  A travessia a pé, seria uma aventura cansativa e desnecessária.

Seria bom deixar o carro pelo  transporte público, mas precisa me oferecer melhores opções antes de me convencer…

 

 

Quem é prioridade na educação de trânsito?

 

Consultor em educação para o trânsito defende trabalho com jovens e não apenas com crianças

Tânia Passos
Taniapassos.pe@dabr.com.br

Talvez o tema educação no trânsito nunca tenha estado tão em evidência quanto agora. O trânsito interefere diretamente na questão da mobilidade e mais do que isso: mata. A Semana Nacional do Trânsito enfocou mais uma vez a necessidade de tornar o tema um elemento essencial ao desenvolvimento e sustentabilidade das cidades. E é.

Na palestra promovida ontem pelo Detran-PE, no Parque Dona Lindu, o sociólogo e consultor em educação no trânsito, Eduardo Boavita chamou atenção para um grupo específico: o dos jovens.

Uma das preocupações do sociólogo é que não existe hoje nenhum programa direcionado aos jovens. As crianças, em geral, são o principal foco das campanhas, mesmo assim de forma eventual. “Por mais que se eduque a criança, quando ela entrar na adolescência será influenciada pelo seu grupo. Por isso, é importante que as atenções estejam voltadas aos jovens, que a qualquer momento estarão no trânsito”, revelou.

Ainda segundo o sociólogo, há pelo menos duas lacunas nessa questão da educação do trânsito em todas as cidades brasileiras: a ausência de educação do trânsito nas escolas e o descaso com os jovens. “O Brasil está em um momento econômico favorável ao desenvolvimento. Quando esse jovem começar a ganhar dois salários, ele vai comprar uma bicicleta ou uma moto?”, questionou.

O consultor em educação do trânsito defende ainda que o processo educativo seja desenvolvido nas escolas. “Os órgãos de trânsito não têm estrutura para atuar em todas as escolas nos diversos níveis de ensino. Essa função é do educador que precisa ser capacitado. Os órgãos de trânsito podem fazer parceria nesse sentido”, explicou.

Também no Parque Dona Lindu, até amanhã, estará funcionando a 11ª Feira de Educação do Trânsito promovida pelo Detran. A Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU) levou ao evento o projeto “Cinema nas Escolas”, onde irá apresentar vídeos sobre educação no trânsito. E, a partir do dia 3 de outubro, o projeto irá percorrer as escolas da rede municipal.

O gerente de Educação para o Trânsito da CTTU, Francisco Irineu, explicou que é preciso usar as diversas linguagens de comunicação para se aproximar do mundo imaginário da criança. “Os filmes fazem um link com algumas fábulas da leitura das crianças, como Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, entre outros. No tema, esses personagens vivem situações de trânsito e ajudam a passar a mensagem para os estudantes”, afirmou. Segundo ele é importante educar a pessoa desde pequena. Agora sabemos que não só.

Educação de Trânsito tem que ser nas escolas

 

Sempre achei que a educação de trânsito fosse uma função diretamente ligada aos órgãos de trânsito. Defendi, inclusive, que a futura escola municipal de trânsito do Recife  fosse vinculada à Companhia de Trânsito e Transporte Urbano (CTTU), da mesma forma que o Centro de Treinamento de São Paulo é ligado à Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Pois é, mas mudei de ideia depois de ouvir o consultor em educação de trânsito Eduardo Biavati.

Biavati defende, com razão, que nenhum órgão de trânsito tem estrutura suficiente para uma educação sistemática do trânsito em todos os bairros da cidade. É impossível para qualquer órgão se manter presente no dia a dia das pessoas. Por causa disso, as campanhas acabam sendo pontuais como é o caso da Semana do Trânsito. “As campanhas não trazem um efeito duradouro e não há gente suficiente para trabalhar em todas as escolas. As escolas já contam com a estrututura do professor. É mais fácil capacitar o professor e fornecer estrutura às escolas para que, dessa forma,  o trânsito passe a fazer parte deum  estudo contínuo, em todos os níveis escolares”, explicou.

Ele explica que somente as escolas podem ter esse grau de penetração.Mas para isso, os professores precisam se engajar nessa tarefa. Outro engano, segundo ele, é apostar apenas nas crianças. “Por mais que a criança seja educada na sua infância, na adolescência, em algum momento, ela chuta o balde. A força do grupo a que ela pertence é maior. Ou seja é preciso trabalhar o jovem. E ninguém faz nada hoje para o ensino médio justamente quando o jovem se inicia no trânsito”. Concordo com ele.

Já pensou 15 dias preso nos engarrafamentos?

Talvez você, motorista do Recife, nunca tenha parado para fazer os cálculos, mas poderá está perdendo cerca de 15 dias por ano preso em engarrafamentos. É muito? Em São Paulo esse tempo já é estimado em 30 dias. Um mês inteiro parado no trânsito. Mas ninguém parece perceber.

O apelo do Dia Mundial sem Carro não foi ouvido pela maioria no Recife e Região Metropolitana. Com poucas exceções, os efeitos da campanhanão foram sentidos. Também não houve engajamento do poder público e dos órgãos de trânsito no sentido de estimular as pessoas a deixarem o carro em casa.

Foi na raça que o aluno de doutorando da UFPE Tiago Gonçalves, 37, decidiu ir de bicicleta de Casa Forte até a UFPE, na Cidade Universitária. Sem ciclovia, teve que enfrentar o trânsito, inclusive na BR-101.

“Na BR não tem acostamento e a velocidade dos carros é maior, o que torna o percurso mais perigoso”, avaliou. Mesmo assim, ele conseguiu fazer o roteiro em 35 minutos. De carro, ele contou que gastaria praticamente o mesmo tempo.

O engenheiro e consultor em mobilidade urbana Germano Travassos decidiu ir de ônibus para o trabalho. Ele diz que o tempo é em média 10 minutos a mais do que o gasto com carro. O especialista já fez os cálculos de quanto tempo perde nos engarrafamentos.

“Comparei o tempo em um dia útil com um feriado ou domingo e gasto em média a mais entre 15 e 20 minutos no dia útil. Em um ano, isso significa cerca de 15 dias perdidos”, revelou. Segundo Germano Travassos, o cálculo foi feito em cima da sua própria experiência. “É um cálculo pessoal, mas é provável que muita gente perca nessa faixa de 20 minutos, por dia, no trânsito”.

Entre os que decidiram contribuir com a melhoria no trânsito, encontramos ontem o técnico em eletrotécnica Isaac Barbosa, 26 anos. Ele deixou a moto em casa e foi de bicicleta para o curso. Já o motorista Cosme Vital, 61, deixou o carro no trabalho e atravessou a cidade em um coletivo para almoçar em Camaragibe.

O fotógrafo Anderson Freire, 25, saiu de Olinda de bicicleta para chegar à faculdade. A ideia do Dia Mundial Sem Carro era que esses exemplos fossem seguidos pela maioria dos motoristas. Mas o que se viu ontem no Recife foram vias congestionadas, fluxo intenso em horário de picos e pouca mobilização social.

Um grupo que defende o uso de bicicleta tentou fazer a sua parte. Os integrantes se encontraram às 6h30 para garantir vaga de estacionamento em frente ao Paço Alfândega, Bairro do Recife, e realizaram a intervenção urbana Vaga Viva. Ao invés de colocar carros em quatro vagas, esticaram faixas, placas e montaram um café da manhã no asfalto.

Cerca de 14 pessoas participaram da mobilização, entre elas o casal Paulo Lima, 24, e Tereza Cavalcante, 25. Ela saiu do Cabo e se encontrou com o namorado em Boa Viagem. Os dois puseram cartazes nas bicicletas e seguiram para o Bairro do Recife. “Quanto mais você dá espaço para os carros, mais eles enchem as ruas.

Enquanto o carro for o principal modal da cidade, o trânsito será caótico”, afirmou Paulo. Às 18h, o grupo voltou a se reunir na Praça do Derby, para realizar uma edição extra da Bicicletada, uma passeio ciclístico realizado uma vez por mês nas ruas do Recife.

Dia mundial sem carro, topas?

Dia mundial sem carro. A ideia é essa. A realidade ainda está longe disso. Abrir mão do conforto do carro e encarar o transporte público, ou talvez descolar uma carona, ou quem sabe pedalar de casa para o trabalho ou, em situação mais remota, caminhar, ainda é um desafio para poucos. Mas serve no mínimo para uma reflexão.

E os números mostram o tamanho dos contrastes. Um ônibus comum transporta uma média de 80 pessoas. Um carro comum, no máximo cinco pessoas. Temos uma frota de três mil ônibus e mais de um milhão de veículos na Região Metropolitana. O resultado é um trânsito que trava dia a dia.

Os engarragamentos são apenas uma parte do problema. Outro viés é a poluição ambiental. E nessa conta, os que transportam menos poluem mais. Um exemplo disso é a moto que, transporta duas pessoas e polui 32,3 mais vezes do que ônibus. Já o carro 17 vezes mais que o ônibus.

“Em relação a ocupação das vias, a moto, por incrível que pareça necessita quatro vezes mais de espaço do que o ônibus e o carro de 6,4 vezes mais de espaço em relação ao ônibus”, afirmou o engenheiro e professor das universidades Federal de Católica de Pernambuco, Maurício Pina.

Para quem está disposto a usar a bicicleta como meio de locomoção, tem a certeza de que as ciclovias existentes no município não são suficientes para interligar os quatro cantos da cidade. O Recife dispõe atualmente de 13,2 quilômetros de ciclovias em trechos distintos: Centro, Orla e a ciclovia Tiradentes, na Zona Oeste.

No Recife, o casal de cirurgiões-dentistas Maria Carolina Moura e Renan Almeida, vem tentando fazer a parte deles. Renan, que trabalha em dois locais diferentes, costuma deixar o carro na garagem e ir de bicicleta ou até mesmo caminhando. “Um deles, que fica mais próximo da minha casa, tento utilizar a bicicleta para fazer pequenos deslocamentos, já que é uma maneira de fazer exercícios e fugir também dos congestionamentos que são bastante estressantes”, ele conta e lamenta a falta de meios de transportes públicos de qualidade. “Se os meios locomoção fossem confortáveis, as pessoas deixariam mais seus carros na garagem”, acredita Almeida.

Criado na França em 1998, o Dia Mundial Sem Carro, ganhou força no Brasil em 2001. Desde então, 110 cidades do país já fazem alguma movimentação na data. Em Pernambuco, a cidade de Olinda será 111ª a fazer a mobilização com o intuito de trazer uma reflexão sobre os problemas causados pelo uso massivo de automóveis como forma de deslocamento, sobretudo nos grandes centros urbanos.

De acordo com o secretário executivo de transporte e trânsito de Olinda, Adriano Max, existem 110 mil automóveis cadastrados na cidade Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade. “Para se ter uma noção, nós temos 380 mil habitantes. Se cada pessoa resolvesse dar um carona a três, não seria necessário o transporte público”, diz o secretário. Em Olinda, a avenida Ministro Marcos Freyre, beira mar da cidade, será o palco da mobilização social. “Vamos isolar três quarteirões, das 5h ao meio-dia, com o intuito de chamar a atenção da população”, fala Max.