Por Alice Sousa
Diario de Pernambuco
A transformação de imóveis antigos em áreas livres para estacionamento cresce no Recife. Com uma frota incrementada em 233% nos últimos 26 anos, a necessidade por vagas aumentou na cidade e impulsionou o surgimento de serviços desse tipo, a despeito de muitos casarões do passado. Em esquinas e ruas movimentadas, a existência desses espaços sofrerá revisão até o fim deste ano, dentro do Plano Diretor de Mobilidade Urbana. Regras serão criadas para instalação de pontos de estacionamento e a ideia é reordenar a disposição dos espaços, privados e também públicos, priorizando a circulação via transporte coletivo.
Áreas de estacionamento estão intimamente ligadas à mobilidade de uma cidade. A medida em que existem espaços para deixar os veículos, a tendência é que a população prefira usar os automóveis particulares para realizar o deslocamento até o destino. Por outro lado, esse é um tipo de negócio é atraente, já que basta ter um terreno em uma área comercial ou de circulação grande e abri-lo ao público. Foi o que aconteceu com os imóveis número 594 e 595 da Rua Manoel Borba, na Boa Vista. “As casas ficavam fechadas e ninguém alugava. Marginais costumavam entrar e gerava um estresse que hoje não há”, afirmou o administrador dos espaços, George Nascimento, 33.
Não muito longe dali, no cruzamento entre as ruas da Soledade e Progresso, funciona um grande parque rotativo há cerca de cinco meses. Outro ponto conhecido e que gerou polêmica estava no cruzamento entre a Rua Amélia e a Avenida Rosa e Silva, nas Graças. O casarão onde funcionava uma padaria foi demolido e passou meses como estacionamento, na última sexta-feira recebeu tapumes para abrigar um ponto comercial.
Em toda a Região Metropolitana, trafegam 1,2 milhão de veículos. Parte deles entra no Recife diariamente, somando-se à frota da capital de 679 mil veículos. A Lei de Uso e Ocupação do Solo, uma das que dispõe sobre as condições de estacionamento, é de 1998. Ela prevê vagas mínimas, de acordo com a localidade e função de cada imóvel, mas não cita em nenhum momento a instituição de estacionamentos como unidades. O Plano de Mobilidade prevê essa atualização, invertendo a lógica, com a criação de uma política de estacionamento, a partir de uma série de estudos em curso.
“Experiências internacionais mostram que a gestão de estacionamentos é importante na gestão das viagens de automóvel de uma cidade. Uma das nossas frentes de trabalho mais discutidas segue uma tendência mundial de estabelecer número máximo de vagas, e não mínimo, como ocorre hoje, por área construída. Fazer com que a implantação de empreendimentos priorize o transporte público”, afirmou o secretário executivo do Instituto da Cidade Pelópidas Silveira (ICPS), Sidney Schreiner.
Até 2012, foram concedidos no Recife 314 alvarás para estacionamentos particulares. Em nota, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano (Semoc) informou que, para que seja realizada a demolição de um imóvel, o interessado precisa solicitar o alvará de demolição na Gerência Regional correspondente ao bairro em que o imóvel é localizado. Diante disso, técnicos da pasta analisam e verificam se ele está inserido em algum critério de preservação histórica, seja do próprio imóvel ou da área em que está inserido.
Caso não exista nenhum impedimento legal, a demolição é autorizada. Em seguida, afirmou o órgão, é necessário solicitar o alvará de localização e funcionamento, que também está sujeito à análise dos técnicos da pasta, para a regularização do estabelecimento. No caso de o espaço ser utilizado para estacionamento, será observado, principalmente, o acesso de entrada e saída dos veículos, com o objetivo de minimizar transtornos na mobilidade.
A função dos estacionamentos integrados
Outra ideia do Plano de Mobilidade é restringir o uso do espaço público com a finalidade de estacionamento e garantir o conceito de estacionamento integrado. Dessa forma, parte da população em deslocamento da periferia para o centro poderia deixar o automóvel em algum bolsão de vagas próximo, por exemplo, a um terminal integrado. Estão em definição onde seriam esses espaços e a quantidade de vagas de cada um deles.
“As propostas serão inseridas dentro de condicionantes. Isso ocorrerá dentro da prerrogativa de ter uma rede de transporte público melhor, com maior capacidade, e requalificação de calçadas. Estamos trabalhando junto ao Grande Recife e à CTTU no planejamento de novas linhas de transporte de média e alta capacidade”, afirmou Sidney Schreiner.
Também será revisto o preço da zona azul. Pelas estimativas do Instituto Pelópidas, há hoje carros que passam até 13 horas nas vagas, com isso elas perdem a função de rotatividade. “Queremos ampliar a zona azul em área de abrangência. Levar a experiência do bairro do Recife para outras áreas comerciais da cidade”, acrescentou o secretário executivo do Instituto.