Talvez você, motorista do Recife, nunca tenha parado para fazer os cálculos, mas poderá está perdendo cerca de 15 dias por ano preso em engarrafamentos. É muito? Em São Paulo esse tempo já é estimado em 30 dias. Um mês inteiro parado no trânsito. Mas ninguém parece perceber.
O apelo do Dia Mundial sem Carro não foi ouvido pela maioria no Recife e Região Metropolitana. Com poucas exceções, os efeitos da campanhanão foram sentidos. Também não houve engajamento do poder público e dos órgãos de trânsito no sentido de estimular as pessoas a deixarem o carro em casa.
Foi na raça que o aluno de doutorando da UFPE Tiago Gonçalves, 37, decidiu ir de bicicleta de Casa Forte até a UFPE, na Cidade Universitária. Sem ciclovia, teve que enfrentar o trânsito, inclusive na BR-101.
“Na BR não tem acostamento e a velocidade dos carros é maior, o que torna o percurso mais perigoso”, avaliou. Mesmo assim, ele conseguiu fazer o roteiro em 35 minutos. De carro, ele contou que gastaria praticamente o mesmo tempo.
O engenheiro e consultor em mobilidade urbana Germano Travassos decidiu ir de ônibus para o trabalho. Ele diz que o tempo é em média 10 minutos a mais do que o gasto com carro. O especialista já fez os cálculos de quanto tempo perde nos engarrafamentos.
“Comparei o tempo em um dia útil com um feriado ou domingo e gasto em média a mais entre 15 e 20 minutos no dia útil. Em um ano, isso significa cerca de 15 dias perdidos”, revelou. Segundo Germano Travassos, o cálculo foi feito em cima da sua própria experiência. “É um cálculo pessoal, mas é provável que muita gente perca nessa faixa de 20 minutos, por dia, no trânsito”.
Entre os que decidiram contribuir com a melhoria no trânsito, encontramos ontem o técnico em eletrotécnica Isaac Barbosa, 26 anos. Ele deixou a moto em casa e foi de bicicleta para o curso. Já o motorista Cosme Vital, 61, deixou o carro no trabalho e atravessou a cidade em um coletivo para almoçar em Camaragibe.
O fotógrafo Anderson Freire, 25, saiu de Olinda de bicicleta para chegar à faculdade. A ideia do Dia Mundial Sem Carro era que esses exemplos fossem seguidos pela maioria dos motoristas. Mas o que se viu ontem no Recife foram vias congestionadas, fluxo intenso em horário de picos e pouca mobilização social.
Um grupo que defende o uso de bicicleta tentou fazer a sua parte. Os integrantes se encontraram às 6h30 para garantir vaga de estacionamento em frente ao Paço Alfândega, Bairro do Recife, e realizaram a intervenção urbana Vaga Viva. Ao invés de colocar carros em quatro vagas, esticaram faixas, placas e montaram um café da manhã no asfalto.
Cerca de 14 pessoas participaram da mobilização, entre elas o casal Paulo Lima, 24, e Tereza Cavalcante, 25. Ela saiu do Cabo e se encontrou com o namorado em Boa Viagem. Os dois puseram cartazes nas bicicletas e seguiram para o Bairro do Recife. “Quanto mais você dá espaço para os carros, mais eles enchem as ruas.
Enquanto o carro for o principal modal da cidade, o trânsito será caótico”, afirmou Paulo. Às 18h, o grupo voltou a se reunir na Praça do Derby, para realizar uma edição extra da Bicicletada, uma passeio ciclístico realizado uma vez por mês nas ruas do Recife.