Todos os clubes da premier league inglesa são privados. Bilhões de euros de ex-soviéticos, petrodólares, investidores americanos etc. Capital aberto, proporcionando o campeonato nacional mais rico do mundo, midiático. O regimento do futebol na terra da rainha é o maior caso de sucesso relacionado à clube-empresa. No Brasil, esse formato econômico ainda não decolou. O caso pioneiro foi o do União São João, do interior de São Paulo.
Fundado em 1981, o clube de Araras passou a ser administrado sob o novo formato em 1994, ainda sob a Lei Zico. Nada de amadores, mas sim um corpo gestor com executivos profissionais e planilha de cobranças de investidores. Sem apelo popular e focado na revelação de atletas, entre eles o lateral-esquerdo Roberto Carlos, chegou a ser campeão da Série B em 1996. A fonte secou onze anos depois, colocando o sistema em xeque. Outros times no país, com o mesmo perfil – sem grandes conquistas e torcida – foram criados, como o Malutrom, no Paraná, também em 1994. Este se mantém sem identidade alguma, mudando constantemente de nome. Atualmente se chama “J.Malucelli”.
Pernambuco também dois exemplos neste ramo. Em 16 de outubro de 1996, o Unibol Pernambuco Futebol Clube foi criado como uma revolução no estado, com o primeiro exemplo de clube-empresa. Criado pelo Grupo Moura sob orientação do renomado José Carlos Brunoro, o time acabou sendo vendido por R$ 50 mil dois anos depois, sem posse alguma, à rede de lojas Via Sports. Passou das mãos de Pedro Ivo Moura para Jaildo Dantas. A última temporada de atividade profissional foi em 2004, na segunda divisão estadual. Atualmente, a instituição mantém um modesto centro de treinamento com dois campos em frente ao cemitério de Paulista apenas para o trabalho nas categorias de base.
O meia Hernanes, hoje na Lazio, surgiu no Unibol, em 1999. Com o investimento escasso no CT, o clube ainda não conseguiu firmar uma grande negociação. O outro exemplo na região metropolitana surgiu em 26 de dezembro de 1999 através do empresário Walberto Dias. Ele fundou o Interncontinental, com escritório no Derby, centro de treinamento com cinco campos em Paratibe e mando de campo em Nossa Senhora do Ó, comprovando a tese de que identidade não era prioridade. Rebaixado da primeira divisão pernambucana em 2003, acabou abandonando o projeto por falta de verba. Licenciou-se da FPF em 2006. Dois anos depois, o empresário vendeu o CT ao Sport por R$ 2 milhões.
A partir de agora, mais um exemplo, aprendendo com o passado. O tradicional América Futebol Clube, que completa 99 anos nesta sexta, será gerido pela recém-criada empresa “AFC Participações e Projetos S/A”. Não por acaso a gestão será em um formato derivado, com prazo de execução de cinco anos. À frente, dez empresários. Não necessariamente torcedores do Mequinha, mas sim interessados em investir na base do Alviverde.
Para não repetir o erro do Unibol, que não investiu na sua infraestrutura e abandonou a disputa profissional, o Mequinha já busca parcerias para a base e está inscrito na Série A2. Por sinal, alugou o CT do Unibol e irá bancar uma necessária reforma. Para não vacilar como o Intercontinental, com poder concentrado, a AFC Participações terá mais vetores de investimento, reduzindo os riscos de crise, algo comum em times menores neste conceito. Além disso, deve propor projetos ao Ministério do Esporte via Lei de Incentivo ao Esporte.
A profissionalização do América é um bom exemplo para os demais. A conferir.