Salvador – Nem as divas do axé baiano escaparam da rivalidade. A tricolor Cláudia Leitte ouviu poucas e boas da torcida do Vitória durante a sua apresentação antes do primeiro jogo oficial da Fonte Nova. Ecoou forte com a acústica da arena. Mas a cantora teve muito mais apoio, com a torcida do Baêa cantando de cor as letras da musa. Em seguida viria Ivete Sangalo, ainda mais popular na Baía de Todos os Santos. Talvez pelas vaias rubro-negras, os tricolores deram o troco, enquanto a turma do Vitória gastava a garganta cantando com a artista. Logo depois, Cláudia Leitte entrou novamente e as duas cantaram juntas. Aí sim, as duas torcidas, com mais de 40 mil presentes, foram em uníssono, ao ritmo de “A arena é nossa!”.
Era o fim da festa da abertura antes do Ba-Vi em seu “velho” palco. Na verdade, era o início da verdadeira festa. Eram 1920 dias desde o último clássico na antiga Fonte Nova, em 2007. Na ocasião, um histórico 6 x 5 para o Leão da Barra, com quatro gols de Índio. Tricolor convicto, o governador Jaques Wagner revelou o desejo à imprensa minutos antes. “Estou ‘invocado’ com eles (Vitória), mas hoje é festa. Quero um empate com muitos gols”.
Por mais que o governador tenha tentado agradar a todos com o empate, é bem provável que ele tenha ficado ainda mais “invocado”, pois o Vitória até atendeu ao pedido de muitos gols, mas só esse. Bem melhor em campo, o Leão abriu a estatística da nova arena com uma belíssima vitória. Deu sequência aos últimos anos nos quais consolidou vantagem nos clássicos no Barradão e em Pituaçu. O Tricolor de Aço foi derretido no domingo, 5 x 1. O interesse no Ba-Vi era enorme, com o jogo sendo transmitido para todo o país pelo SporTV. Sobre a imprensa, nada menos que 400 credenciados, incluindo profissionais da Al Jazeera da rede de tevê chinesa. Tudo para ver cada detalhe do novo estádio. Da infraestrutura, serviços e, obviamente, futebol.
O primeiro tempo era um misto de faltas e discussões até os 41 minutos, com mais uma falta, na área. O primeiro pênalti assinalado, a favor do Vitória. O primeiro convertido? Sim. Na cobrança, o meia Renato Cajá bateu com tranquilidade, esperando a queda do goleiro. Era o primeiro gol da Fonte Nova, histórico, diante de um sem número de câmeras de vídeo nas mãos da torcida leonina e outras dezenas nas tribunas.
Sem atrações no intervalo, os torcedores, com a agenda cheia desde o início da tarde, circularam na arena, com funcionamento bem melhor que a estreia do Castelão – imprevistos à parte -, se refrescaram e voltaram para conferir in loco ao atropelamento. O Vitória passou como quis pela zaga do time de Jorginho, fritando o óleo do acarajé azedo. Mal começou o segundo tempo e Maxi Biancucchi, o primo do Messi, marcou um golaço por cobertura, aos cinco minutos. Obina teve um gol anulado num lampejo de esperança numa tarde destinada ao rival. Michel ampliou logo depois, num ato automático ao levante da torcida do Bahia, que começou a deixar o estádio.
Zé Roberto até diminuiu, só para dar o último fio de esperança. Logo dissipado num contragolpe de Vander, que acabara de entrar. No fim, Escudero escorou um cruzamento rasteiro. Era festa demais. Primeiro jogo na Fonte, triunfo do Vitória. O clube, dono do Barradão, tem contrato assinado para mais quatro jogos. Uma espécie de degustação para tentar firmar um acordo mais longo no futuro. Com a festa desta tarde será difícil convencer a torcida rubro-negra a voltar para o estádio Manoel Barradas.