Uma investigação da Polícia Federal apontou um superfaturamento de R$ 42,8 milhões na construção da Arena Pernambuco. Provavelmente, o dado está entre o valor original da construção, de R$ 479 milhões, e o custo final da obra, estipulado pela empresa responsável, a Odebrecht, na casa de R$ 743 milhões. Além do valor da “obra”, há um adendo milionário: o gasto com o projeto executivo (R$ 9,35 mi) e o custo pré-operacional (R$ 44,26 mi) totaliza mais R$ 53,61 milhões. Dinheiro demais, interesse demais e agora na malha fina da PF.
Um dos principais pontos da apuração é o fato de a Odebrecht, vencedora da concorrência, ter elaborado o projeto básico do edital de licitação, de 78 páginas e lançado em fevereiro de 2010, com o aval do comitê gestor de parcerias público-privadas no estado – não por acaso, também alvo da operação. A relação apontaria uma nítida vantagem à empreiteira. Ou, literalmente, fraude, na visão da polícia. O curioso é que na época da entrega dos envelopes na licitação, dois meses depois, já se sabia da colaboração, tratada pelos envolvidos como natural. Menor ainda foi a surpresa com a vitória da Odebrecht.
Observação: na época, o secretário de planejamento do estado era Geraldo Júlio (atual prefeito da capital), enquanto o secretário de administração era Paulo Câmara (atual governador), e ambos integravam o comitê gestor das PPPs.
Saiba mais detalhes sobre a investigação clicando aqui.
Entre 2007 e 2012, projetos grandiosos voltados para o esporte foram lançados na capital de Pernambuco. Os investimentos viriam tanto da esfera pública quanto da iniciativa privada. Na verdade, houve até acerto público-privado. Três novos estádios, no Padrão Fifa, um moderníssimo centro de esportes, incluindo atletismo e natação, dois ginásios poliesportivos de última geração e até um novo bairro na cidade. Somados, esses projetos estão avaliados em R$ 2,96 bilhões. Boa parte deste montante deveria ter sido aplicado até este ano. Porém, todos os prazos de execução das obras expiraram. Sem resultado.
As arenas de Náutico, Santa Cruz e Sport não saíram, o Santos Dumont segue abandonado, o Geraldão está com as obras paradas e a Cidade da Copa é apenas um pedaço de papel na mesa. Na prática, dos modelos projetados em 3D tornaram-se realidade apenas a Arena Pernambuco (ao custo de R$ 532 milhões, fora o imenso aditivo – não revelado – para a sua conclusão), que é apenas uma parte da Cidade da Copa, além de parte da reforma do tradicional ginásio na Imbiribeira (R$ 19,2 milhões).
Casos as ideias e/ou promessas tivessem sido cumpridas, o Recife teria, hoje, capacidade estrutural para organizar, sozinho, uma Copa das Confederações de futebol e, praticamente, uma edição dos Jogos Pan-Americanos. Uma “potência esportiva”, ao menos no campo da fantasia…
Cidade da Copa
Lançamento: 15/01/2009
Custo: R$ 1,59 bilhão (4 módulos)
Prazo original de conclusão (1º módulo): 2014
A Cidade da Copa foi apresentada pelo governador do estado, Eduardo Campos, no início de 2009. Um projeto bilionário a 19 quilômetros do Marco Zero, às margens da BR-408. Além da Arena Pernambuco, que eventualmente saiu do papel, um novo bairro, com até 40 mil habitantes, estava planejado. O projeto recebeu inúmeros elogios da Fifa, como um verdadeiro “legado”. Essa nova centralidade urbana, com centro comercial, hotéis, escolas e órgãos públicos seria construída em quatro etapas: 2014, 2015-2019, 2020-2024 e 2025. O primeiro módulo (abaixo) teria uma Arena Indoor (15 mil lugares), um centro de convenções (9.500 m²), um hotel com 300 quartos, campus educacional e o Centro de Comando e Controle Integrado. Basta passar na área para saber que apenas o estádio corta o horizonte verde. O interesse do empresariado esfriou e hoje não há prazo prático para que a Cidade da Copa realmente saia do papel.
Ginásio Geraldão
Lançamento: setembro de 2012
Custo: R$ 45,7 milhões (no lançamento seriam R$ 40 milhões)
Prazo original de conclusão: julho de 2014
Ainda na gestão de João da Costa, a Prefeitura do Recife anunciou “a primeira reforma estrutural no ginásio, após 40 anos de sua fundação”. Fundado em 1970, o Ginásio Geraldo Magalhães passaria por uma reforma completa, com recuperação estrutural, climatização do espaço para 10 mil espectadores, adequação da quadra poliesportiva aos padrões internacionais e novo placar eletrônico, além de um novo alojamento para 160 pessoas e sala de imprensa, possibilitando ao empreendimento torneios de grande porte, como ocorreu em 2002, na Liga Mundial de Vôlei. O prazo original para finalizar a reforma – publicado na licitação oficial – expirou há sete meses, mas apenas 42% dos trabalhos previstos foram executados (gasto de R$ 19,2 mi). Após uma viagem a Brasília, o atual prefeito da capital, Geraldo Júlio, recebeu uma sinalização positiva do Ministério do Esporte para mais recursos. Faltam R$ 26,5 milhões.
Centro Esportivo Santos Dumont
Lançamento: agosto de 2012
Custo: R$ 84,9 milhões
Prazo original de conclusão: primeiro semestre de 2014
O guia oficial de treinamento Pré-Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, enumera 176 pontos no país para a preparação das delegações internacionais. Apenas um em Pernambuco. Inaugurado em 1975, o Centro de Esportes e Lazer Alberto Santos Dumont reúne inúmeras modalidades. No papel, é o representante local na Olimpíada. Contudo, o estado de abandono é inacreditável, com equipamentos quebrados, sujos, sem manutenção. Utilizado por 2.500 pessoas, o empreendimento em Boa Viagem – com pista de atletismo, piscina olímpica e quadras – sobrevive com reformas paliativas. A grande promessa veio há três anos, com um orçamento de R$ 84.994.736 para a requalificação física e estrutural, através do decreto 38.395 no Diário Oficial do Estado. Na divisão, 65,32% do governo do estado e 34,68% do Ministério do Esporte. Pois bem, a obra visando os Jogos sequer começou.
Arena Coral
Lançamento: 28/06/2007
Custo: R$ 190 milhões
Prazo original de conclusão: 2014
Era o grande projeto do Santa Cruz. Emplacar uma reforma completa no Arruda para colocar o estádio na Copa do Mundo de 2014. O tamanho (60 mil lugares) já era suficiente, mas a ideia contemplava uma ampliação, para receber até 68,5 mil pessoas, podendo se candidatar a palco de uma semifinal do Mundial. A “Arena Coral”, apresentada pelo mandatário do clube em 2007, Edson Nogueira, foi uma alternativa à Arena Recife-Olinda, apresentada numa parceria entre governo do estado e prefeitura de Olinda. O custo de R$ 190 milhões – ou R$ 145 milhões a menos que o concorrente, que sairia do zero – seria dividido entre reforma (R$ 150 mi) e construção de prédio de serviço, sede e estacionamento (R$ 40 mi). “O melhor é que o clube não vai precisar gastar nada. Todo o dinheiro virá da iniciativa privada. Hoje já temos contatos com quatro investidores interessados no projeto”, garantiu David Fratel, diretor da Engipar, a empresa paulista que firmou a parceria com o Tricolor, responsável pela captação de recursos. Os recursos não foram captados. Nem mesmo no relançamento, já com o presidente Antônio Luiz Neto, em março de 2012.
Arena Timbu
Lançamento: 18/11/2009
Custo: R$ 300 milhões
Prazo original de conclusão: 2014
A direção do Náutico anunciou a ideia de construir um novo estádio em 2007. Na época, outros dois projetos já tinham sido lançados. A Arena Coral, do Santa, e a Arena Recife-Olinda, em Salgadinho, o primeiro projeto pernambucano para o Mundial de 2014. Dois anos depois, o Timbu remodelou sua ideia e a apresentou ao então prefeito, João da Costa. Com capacidade para 30 mil pessoas, o projeto seguia os traços modernos dos novos estádios, já contendo um capítulo explicando detalhes de uma ampliação até 42 mil lugares. Localizado entre a rodovia BR-101 e a Avenida Recife, no Engenho Uchôa, o estádio seria operado durante 30 anos pelo consórcio envolvendo Camargo Corrêa, Conic Souza e Patrimonial Investimentos. O estádio, que não chegou a conseguir a autorização da PCR, foi deixado de lado quando o clube começou a negociar a assinatura de contrato para mandar seus jogos na Arena Pernambuco, o que acabou se concretizando em 17 de outubro de 2011. Arena Timbu abortada.
Arena Sport
Lançamento: 17/03/2011
Custo: R$ 750 milhões (no lançamento seriam R$ 400 milhões)
Prazo original de conclusão: 2015
À parte do estádio erguido em São Lourenço da Mata, o Sport sempre articulou a sua própria arena, no lugar da Ilha do Retiro. O plano era demolir o clube inteiro para erguer um estádio multiuso, um shopping center, dois empresariais e um hotel era a ideia. No entanto, a direção leonina não esperava tantas barreiras burocráticas junto à Prefeitura do Recife. A principal autorização, dada pelo Conselho de Desenvolvimento Urbano (CDU), só viria em dezembro de 2013 – essa demora resultou numa mudança completa na arena, saindo da DDB/Aedas e para o escritório Pontual Arquitetos, cujo projeto foi revelado em março de 2012. Ainda assim, era preciso regularizar outros documentos. Quando tudo para iniciar a obra ficou ok, o investidor anunciado, a Engevix, acabou não entrando mais em contato com o clube. À procura de outro megainvestidor, o clube acredita que pode começar a construção já em agosto. Considerando este prazo, mesmo sem garantia, a arena ficaria pronta no mínimo em 2019.
O projeto da Cidade da Copa foi desenvolvido durante oito meses em 2008.
Concebido pelo Núcleo Técnico de Operações Urbanas do governo do estado (NTOU), a nova centralidade urbana, que começaria a partir de um novo estádio de futebol, foi apresentada oficialmente em 15 de janeiro de 2009.
Desde então, já sob contrato com a Odebrecht, através de uma parceria público-privada, o megaempreendimento em São Lourenço da Mata tornou-se mais elaborado, sofrendo algumas modificações.
Cinco anos depois, à parte da Arena Pernambuco, o restante do projeto de R$ 1,59 bilhão ainda não saiu do papel, por mais que o primeiro módulo estivesse previsto para 2014.
No entanto, é possível notar a diferença entre o esboço da ideia original e a versão mais recente da Cidade da Copa. Sempre no 3D, claro.
O cronograma de obras aponta a maturidade do futuro bairro em 2025.
A Cidade da Copa foi apresentada pelo governador do estado, Eduardo Campos, em 15 de janeiro de 2009. Um projeto faraônico, orçado em R$ 1,59 bilhão.
A construção de uma nova centralidade urbana na zona oeste da região metropolitana da capital pernambucana, a dezenove quilômetros do Marco Zero, teria um bairro de 40 mil habitantes, estádio de futebol, centro de convenções, hotéis, escolas, faculdade, centro de comando da polícia…
Tudo agregado em 270 hectares num rincão em São Lourenço da Mata.
O gasto, que na prática passaria dos dois bilhões de reais, entre recursos públicos e privados, seria aplicado em quatro fases distintas do projeto: 2014 (imagem acima), 2015-2019, 2020-2024 e 2025 (imagem abaixo).
Naturalmente, já estamos no limite do primeiro módulo. Confira as oito diretrizes e as respectivas subdivisões da primeira etapa, com prazo vencido.
1 – Arena Pernambuco e Arena Indoor
2 – Praça de Celebração e zonas de comércio, entretenimento e alimentação (72.000 m²)
3 – Centro de Convenções (9.500 m²) e hotel com 300 quartos
4 – Melhorias na área norte do Rio Capibaribe
5 – Campus Educacional
6 – Instalação de Segurança (Centro de Comando e Controle Integrado)
7 – Radial da Copa finalizada
8 – Grande loja de varejo ao longo da BR-408
Apenas a Arena Pernambuco e a Radial da Copa foram construídas.
Até o momento, a Cidade da Copa, na prática, não existe.
Lançado em 15 de janeiro de 2009, o ousado projeto da Cidade da Copa começa a sair do papel em São Lourenço da Mata. Para facilitar o acompanhamento desta evolução, o consórcio acaba de criar um site oficial.
O complexo de quase R$ 2 bilhões vai englobar não só a Arena Pernambuco como a smart city de até 40 mil moradores, com crescimento gradativo até 2025.
Confira o portal da Cidade da Copa aqui. Veja também o facebook e o twitter.
O novo site traz uma série de serviços, como localização, fotos e processo de compra, incluindo pacotes do estádio da Copa para camarotes e assentos premium.
Entre as ferramentas disponíveis no site, ainda há a TV Arena. Eis o primeiro episódio.
Vídeo estendido com o projeto da Arena Pernambuco, com imagens em 3D dos seis pavimentos, mostrando detalhes internos, presentes até então só em gráficos.
Os dois polos da Copa do Mundo de 2014 no estado serão separados por 19 quilômetros.
Em São Lourenço, a Cidade da Copa, um complexo com a arena multiuso, praça da celebração, centro de entretenimento etc.
No Recife Antigo, a Ilha da Copa.
O ponto da Fan Fest foi indicado à Fifa juntamente à praia do Pina.
O anúncio oficial ainda será feito, mas as declarações dos gestores pernambucanos não deixam margem alguma para outra interpretação a não ser a da instalação da empreitada no Marco Zero, plenamente testado nos carnavais.
“Não queremos só o Marco Zero da Copa. Queremos a Ilha da Copa”.
De um gestor local no Seminário Fifa Fan Fest, no Recife.
A capacidade de público para shows no Marco Zero é de 50 mil pessoas, com espaço suficiente para agregar até 250 mil em toda a ilha. Haja festa no Mundial…
A estrutura de entretenimento deverá ficar montada durante 35 dias no bairro. Obviamente, o trânsito nas pontes será alterado no período…
A Fifa aposta na evolução das fan fests no Brasil, tanto que a expectativa de público nos palcos do país é de 35 mil pessoas por dia. Número bem acima das últimas duas edições da Copa, com 20 mil em 2006 e 23 mil em 2010.
Uma verdadeira Sim City pernambucana, ainda em uma maquete, com cara de “2014”.
Maior evento do mundo em negócios de futebol, a Soccerex Convenção Global está acontecendo em Copacabana, no Rio, com novidades sobre o próximo Mundial.
Clubes, entidades e empresas estão com estandes para a exposição, visando negócios. Do Recife, nada de Sport, Náutico e Santa, ao contrário do Bahia, fincado no local.
O representante da terrinha foi o Consórcio Arena Pernambuco, com a Cidade da Copa, o novo bairro de 240 hectares, com previsão de crescimento até 2025.
A maquete, criada em 60 dias pela SDK Maquetes, tem 20 metros quadrados. No espaço, a mensagem: “O maior legado da Copa do Mundo para o Brasil”.
O estande teria custado quase R$ 100 mil. Nada que se compare ao custo da Cidade da Copa de tamanho natural, de R$ 2 bilhões. Haja negócios.
A alguns quilômetros de distância do Sítio Histórico olindense, outro lampejo de criatividade pernambucana.
Enquanto não sai do chão, a Cidade da Copa ganha versões em 3D, maquetes etc.
E até arte em seu conceito mais tradicional, a pintura… Literalmente.
Acima, uma dessas versões, produzida pela Aecom, ligada ao consórcio que irá operar a arena do Mundial de futebol. Veja a imagem em uma resolução maior clicando aqui.
Abaixo, um gráfico liberado pela Odebrecht com o novo masterplan da Cidade da Copa, que só deverá ficar completamente pronta por volta de 2025.
O orçamento geral do projeto, dividido em quatro fases, é de R$ 2 bilhões.
Confira a imagem abaixo também em alta resolução aqui.
Demorou, mas saiu do campo virtual a estrada principal para o futuro do futebol local.
Apontado como o acesso mais importante à Arena Pernambuco, o Ramal Cidade da Copa vinha nadando nos mares da burocracia, mesmo com o estádio saindo do papel.
Mais de um ano depois do início das obras da Odebrecht em São Lourenço da Mata, o corredor que ligará Camaragibe à BR-408, passando pelo estádio, finalmente teve a ordem de serviço assinada, como preza a matriz de responsabilidades junto à Fifa.
Ao custo de R$ 132 milhões, o projeto será desenvolvido pelo consórcio formado pelas empresas Mendes Júnior e Servix (saiba mais aqui).
Durante a assinatura, neste sábado, o governador do estado, Eduardo Campos, não escondeu de ninguém a confiança em emplacar Pernambuco na Copa das Confederações de 2013, levando em conta a conclusão do novo ramal, dentro de 18 meses.
Independentemente da decisão sobre o Recife no torneio-teste da Fifa, pelo menos a arena não está mais ilhada. É preciso acabar logo com o mito da distância…