Sport-Santa, um time por um dia

 

Camisas de Santa Cruz e Sport

Sabe aquela impressão de que o “seu time” está vestindo o uniforme rival? Deve ser a sensação de Santa Cruz e Sport nos últimos anos, seis décadas após a “união” de fato.

Nos últimos anos, inúmeros jogadores vestiram as duas camisas, como Carlinhos Bala, Rosembrick, Dutra, Luciano Henrique, Marco Antônio, Osmar, Júnior Maranhão, Andrade etc. Faz parte da dinâmica do futebol, sem dúvida. Em todo o país…

Porém, os dois rivais já vestiram o mesmo uniforme. No passado, vez por outra os clubes se uniam diante des adversários de nível técnico bem superior, para amistosos.

O Combinado Sport-Santa, com esse exato nome, atuou em 1950.

O adversário foi a fortíssima seleção da Iugoslávia, que uma semana antes havia sido eliminada da Copa do Mundo pelo Brasil, no Maracanã. Na ocasião, o empate teria dado a vaga aos europeus. Ademir e Zizinho marcaram os tentos do 2 x 0 da Canarinha.

No dia 9 de julho, na Ilha do Retiro, que havia acabado de receber uma partida daquele Mundial, rubro-negros e tricolores se uniram diante dos sérvios.

A renda foi de 124.850 cruzeiros, excelente, mas, ainda assim, abaixo da expectativa. Afinal, no mesmo horário, o Brasil estreava na fase final da Copa, contra a Suécia, diante de 138 mil pessoas no Rio de Janeiro. No Recife, muitos torcedores optaram pela comodidade de casa para acompanhar pelo rádio à exibição de gala da Seleção, 7 x 1.

Na Ilha, a Iugoslávia também correspondeu à expectativa e goleou por 5 x 2.

Texto do Diario de Pernambuco sobre o confronto:

“Os visitantes apresentaram um futebol de primeira que satisfez ao grande público recifense”

Logo depois, a multidão se dissipou.

Mistério de Jerkovic

Copa do Mundo de 1962Tarde do dia 7 de junho de 1962.

Estádio Carlos Dittborn, na província de Arica.  Extremo Norte do Chile.

Clima agradável, próximo aos 20 graus. Nas tribunas, 7.167 torcedores da pacata cidade. Em campo, Iugoslávia e Colômbia, no jogo que encerraria o grupo 1 da Copa do Mundo.

Para chegar às quartas de final, o time europeu precisava pelo menos empatar com os colombianos, que ainda sonhavam.

Foi um massacre iugoslavo: 5 x 0. Vaga garantida. Com show e aplausos do público!

O terceiro gol da partida, amplamente dominado pelos eslavos, saiu aos 16 minutos do segundo tempo. O árbitro chileno Carlos Robles assinalou o gol para Milan Galic, que numa tarde inspirada já havia aberto o placar.

Sem polemizar, o atacante Drazan Jerkovic disse (ou tentou dizer…) que havia tocado na bola antes dela cruzar a linha.

O camisa 9 estava falando a verdade. Mas ficou nisso. Nem ele mesmo reclamou depois, até porque marcou dois gols naquela partida.

No fim daquele Mundial, a Iugoslávia acabaria na 4ª colocação, na última grande campanha do país, hoje dissolvido em uma colcha de retalhos nos Balcãs e representado pela Sérvia (veja AQUI).

Jerkovic, então com 25 anos e jogador do Dinamo Zagreb, terminou com 4 gols.

Artilheiro da Copa do Mundo de 1962.

Dividiu o status com outros cinco jogadores… Os brasileiros Vavá e Garrincha, o chileno Leonel Sanchez, o húngaro Florian Albert e o soviético Valentin Ivanov. 😯

Nunca a chuteira de ouro do Mundial havia sido dividida por tantos jogadores. E por tão poucos gols…

O tempo passou. Mais precisamente, 31 anos. Em 1993, a Fifa revisou o videotape da partida. O gol foi mesmo de Jerkovic, o verdadeiro goleador da competição, com 5 gols.

O gol foi oficializado. Mas a papelada segue incorreta. Quase duas décadas depois e a Fifa ainda não mudou o resultado (veja AQUI).

Em 2008, Drazan Jerkovic morreu aos 72 anos de idade.

Levou consigo uma dúvida histórica. E deixou a Fifa com uma dívida ainda maior…

Belgrado, a cidade de 5 países na Copa

Belgrado

A cidade de Belgrado é um terra sofrida. Começou a ser ocupada pelos celtas no século III antes de Cristo. Um local marcado por inúmeras guerras desde a Idade Média. O nome “Belgrado” surgiu no ano 878. Uma cidade que já foi conquistada por 40 exércitos… E que já foi reconstruída das ruínas em 38 oportunidades. História não falta.

Desde 1930, Belgrado torceu pela sua seleção em 11 Copas do Mundo.

Bandeira da IugosláviaSob 5 bandeiras diferentes dos Balcãs… 😯

Na primeira, logo na estreia do Mundial, no Uruguai, o time atravessou o Oceano Atlântico como Reino da Iugoslávia, que existiu de 1918 até 1941. E foi uma ótima campanha. Um 3º lugar.

Depois, sete participações já como República Socialista Federativa da Iugoslávia, que durou até 28 de abril 1992, quando o país – uma verdadeira colcha de retalhos de etnias e nações – foi dissolvido, dando origem a outros quatro países reconhecidos pela ONU. Croácia, Eslovênia, Macedônia e Bósnia-Herzegovina.

No período, a seleção escreveu o seu nome na história do futebol como um time habilidoso e técnico. Chegou a ser conhecido como o “Brasil da Europa”. Chegou 3 vezes às quartas de final e acabou em 4º em 1962.

De 23 milhões de habitantes a população caiu para 10 milhões. Essa debandada ganhou novo nome, agora como República Federal da Iugoslávia. Uma transição para a versão seguinte, que aboliria de uma vez por todas o nome “Iugoslávia”. Mesmo assim, o time ainda se classificou para a Copa do Mundo de 1998. Caiu na 2ª fase.

Bandeira do Reino da Iugoslávia, República Federal da Iugoslávia e Sérvia e MontenegroEm 2003, o país  se transformou em Sérvia e Montenegro. Antes, eram 255 mil quilômetros quadrados na velha Iugoslávia. Reduziu para 102 mil km², mesmo território dos anos anteriores. Apesar de ter durado apenas 3 anos, a nação também foi à Copa, em 2006. Campanha pífia, com 3 derrotas em 3 jogos. Foi humilhada pela Argentina, que goleou por 6 x 0.

Em 5 de junho de 2006, nova divisão. Sérvia e Montenegro tornaram-se países distintos. Aos sérvios, menos território, agora com 88 mil km². Já a base da população permaneceu na casa dos 10 milhões de habitantes, pois apenas 684 mil montenegrinos habitam o novo país.

Bandeira da SérviaE com pouco mais de 3 anos, a “1ª participação” na Copa do Mundo, em 2010. Goleada por 5 x 0 sobre a Romênia, no último sábado. O palco da partida? Belgrado, é claro. Nova bandeira, nova glória, mesma paixão. 😎

PS. Dos países dissidentes, Croácia (1998, 2002 e 2006) e Eslovênia (2002) também já participaram da Copa do Mundo.

PS2. A primeira bandeira foi a República Socialista Federativa. A segunda foi usada pelo Reino da Iugoslávia, República Federal e Sérvia e Montenegro. A última é a da Sérvia.