Por Lucas Fitipaldi*
Uma pitada de sorte e a ajuda determinante do modelo organizacional europeu me permitiu presenciar in loco uma conquista histórica. Sem mais nem menos, como quem não quer nada, a história caiu no meu colo. Por acaso, na noite do último sábado.
O 2 x 2 entre PSG e Lille foi muito mais que um jogo para a pequena parcela da torcida visitante que se espremeu no pequeno espaço reservado no Parque dos Príncipes.
57 anos depois, o Lille voltou a ser campeão francês. Feito comemorado da forma mais calorosa possível. Uma festa digna do tamanho da conquista.
Dadas as circunstâncias que me levaram ao estádio, foi meio inacreditável estar ali naquele momento. Primeiro porque até as 20h (horário francês) eu sequer tinha conhecimento da partida. Detalhe: a bola rolou às 21h.
Voltava despretensiosamente de um passeio pelo centro de Paris, quando percebi alguns torcedores com a camisa do PSG. Sentado num dos vagões do metrô, pensei comigo: “Vai rolar algum jogo mais tarde. Devo estar exatamente no caminho do estádio.”
A cada estação, mais torcedores subiam. Resolvi me informar. Confirmei que realmente haveria jogo, tomei nota do horário e decidi me aventurar atrás de um ingresso.
Tentei puxar na memória qual a situação do campeonato francês. A primeira coisa que veio na mente foi que o Lille estava a caminho do título.
Imaginei então que o campeonato já pudesse ter sido definido, mas a essa altura ainda não sabia que o Lille seria o adversário do PSG naquela noite, muito menos que o jogo poderia valer o título.
Pensei novamente: “Ou é jogo pra cumprir tabela, ou quem sabe o PSG pelo menos ainda briga por vaga em alguma competição europeia”. Tentava me motivar na esperança de que a empreitada de última hora realmente valesse à pena.
Mais do que uma simples visita. Rápida consulta no jornal (L’Équipe) escanteado dentro da bolsa revelou a surpresa: era dia de decisão!
Com seis pontos de vantagem sobre o Olympique de Marselha, a duas rodadas do fim, bastava ao Lille o empate. Já o PSG mantinha-se na briga direta com o Lyon por uma vaga na Champions League. Pra quem é fã de futebol, o cardápio servia banquete!
Olhei para o relógio e calculei que chegaria ao estádio cerca de 20 minutos antes. O desafio de conseguir ingresso parecia cada vez mais inacessível, mas a suposição estava totalmente equivocada.
Acostumado com a bagunça do futebol brasileiro, já havia projetado até quanto valeria pagar a um cambista. Pura ingenuidade.
É bem verdade que os cambistas vieram pra cima como urubu na carniça, mas bastou me informar para achar rapidamente o caminho das pedras.
A bilheteria estava ao alcance de qualquer mortal como eu. Apesar de ser dia de casa cheia, adquirir o bilhete foi mais fácil do que comprar lanche em praça de alimentação vazia. Fila zero. Vários atendentes disponíveis em seus respectivos computadores.
Todos simpáticos e solícitos. Bate-papo descontraído, cartão visa, débito automático, ingresso no bolso. 10 minutos, no máximo. Golaço da organização. Não deve ser tão difícil assim, meu Brasil. Só não deu pra ficar no meio da torcida do Lile… que pena!
* Lucas Fitipaldi é repórter do Diario, colaborador do blog e está de férias em Paris…