Por Lucas Fitipaldi*
Viajei no tempo na noite de terça-feira. Encontrei-me com Sócrates, Falcão, Éder, Júnior, Leandro e todos aqueles cracaços da mágica Seleção Brasileira comandada pelo mestre Telê Santana na Copa de 1982. Encontrei-me principalmente com Zico. Dei de cara com Paolo Rossi.
Foram pouco mais de 90 minutos diante do banquete servido pela ESPN. Tentei entender e refletir sobre aquela derrota do Brasil para a Itália na Copa da Espanha. Pela primeira vez, assisti na íntegra a propalada tragédia de Sarriá.
Tenho 25 anos, nasci em 1984, portanto, dois anos e alguns meses depois daquele memorável jogo de futebol. Até então, guardava na mente apenas fragmentos do senso comum: os 5 gols (3 da Itália e 2 do Brasil), o pênalti escandaloso não marcado sobre Zico, a defesa, ou seria o milagre de Zoff na cabeçada de Oscar? No mais, relatos. Passei a vida a escutar versões não só sobre a partida em si, senão sobre aquele trágico dia. Ontem, pude desmistificar algumas “verdades” incutidas na minha cabeça. Citarei apenas duas, as quais considero fundamentais. Não pretendo ser repetitivo.
A primeira diz respeito ao desenrolar do jogo. Cansei de ouvir por aí que o Brasil tomou um nó tático da Itália. Que naquela tarde, surpreendentemente, os italianos acharam um jeito de superar a nossa Seleção – superar no sentido de ser superior mesmo. Definitivamente, isso não aconteceu. O Brasil foi melhor desde o início.
O toque de desprezo na bola denunciava o nível de excelência daquele time. Ao conduzi-la, aqueles amarelinhos pareciam embriagados pela mais pura das arrogâncias; algo espontâneo, mais ou menos como faz o Barcelona de Messi ou fazia a Laranja Mecânica de Cruyff. Era visível o abismo técnico entre as duas equipes.
A outra verdade desmistificada diz respeito a Zico. Como jogava o Galinho! Com todo respeito a Sócrates e Falcão, só agora tudo faz sentido. O nosso camisa 10 era de fato o craque daquele time. Logicamente, rodeado por outras feras; como Pelé em 70.
Me espantei com a velocidade de Zico. Guardava a imagem de um jogador bem mais cadenciado, até certo ponto, lento. Por isso digo que em relação ao Galo, os melhores momentos dos DVDs e dos programas de TV tiveram efeito contrário para mim. Só terça o vi em ação durante um jogo inteiro. Só terça pude entender a total reverência dos flamenguistas. Da geração anos 80. Dos privilegiados que presenciaram tardes de domingo inesquecíveis no Maracanã. Só terça.
Perdão, Zico.
*Lucas Fitipaldi é repórter do Diario e colaborador do blog. Fotos: Fifa
Cássio, já viste na íntegra a final de 82 ? Itália e Alemanha.
Vi este jogo antes da exibição da ESPN e nele constata-se que a Itália não era o time fraco que muitos diziam. O que acho que foi um dos maiores espetáculos de todas as copas proporcionado por duas seleções brilhantes. O resto é discurso de perdedor!
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Lucas,
O Brasil jogava bonito, sim. Mas, não se pode negar como a Itália envolveu o Brasil naquele jogo. Não sei se foi porque saiu na frente, acho que não, porque aqueles jogadores, já em 82 tinham bagagem suficiente para reverter qualquer placar adverso.
Prefiro acreditar no que vi, que a Itália sabia marcar como ninguém, e que tirando as defesaças de Zoff nas cabeçadas de Sócrates no 1º tempo e na de Oscar no 2º o Brasil não teve mais chances clara de gol. A não ser aquele lance em que Serginho atrapalhou Zico e perdeu um gol cara a cara ainda no 1º tempo.
Mas vale lembrar que a Itália chegou a marcar o 4º gol, erroneamente anulado pelo juiz da partida, e também perdeu um gol cara a cara com Valdir Peres.
Não vejo nenhuma tragédia de Sarriá, mas tenho certeza que aquele jogo mudou o modo do mundo jogar futebol.