A gestão empresarial e a gestão da massa

Ilha do Retiro na década de 1940

Aumentou a receita de forma considerável em dois anos de gestão.

Firmando um contrato milionário com a televisão e angariando novos patrocinadores.

Também aumentou o quadro de sócios, reforçando a categoria sócio-torcedor. Por sinal, modernizou o sistema de cadastro e pagamento.

Estendeu a gama de produtos licenciados, da imagem do time em jogos de videogame à lata de cerveja. Abriu uma filial da loja oficial do clube.

Deu sinal positivo para elogiados projetos sociais, dando crédito à imagem do clube.

Enfim, investiu pesado na infraestrutura do centro de treinamento, com novos campos e alojamentos. Trocou todo o gramado do estádio, depois de décadas de espera.

Desenvolveu o projeto de uma nova arena e articulou a participação de investidores.

Renegociou dívidas antigas e gigantescas e equacionou o passivo da agremiação. Trabalhou nos bastidores pela isenção do IPTU do clube.

Não atrasou salários. Nem do setor administrativo e nem do futebol. Trabalhou com uma folha de pagamento acima da média.

Chegou a pagar o maior salário de um jogador na cidade. Atletas renomados.

Essa descrição deixa transparecer uma boa gestão?

Pois tudo isso aconteceu no Sport sob o comando de Gustavo Dubeux, em 2011/2012.

Um empresário de sucesso no estado no ramo imobiliário. Um gestor acostumado às grandes cifras, metas de trabalho, execução e perfeccionismo.

Mas que viu no futebol um entrave para todo esse empreendedorismo.

Em seus primeiros dias como mandatário na Ilha do Retiro, Dubeux afirmou o seguinte.

“Não estou no Sport para colocar o meu dinheiro. Estou aqui para emprestar o meu tempo, que é muito mais valioso.”

De fato, ele estava certo.

Não havia necessidade de tirar dinheiro do bolso, repetindo um costume dos cartolas nos grandes clubes até a década de 1970.

Havia, sim, a necessidade de obter resultados práticos com a bola rolando.

Ao gerir um clube do porte do Leão, deve-se ter em conta a missão de controlar uma massa. Que apoia e que cobra na mesma intensidade.

O revés no jogo faz parte, naturalmente.

A sucessão disso, por outro lado, atrapalha qualquer avanço externo.

Ao entrar nas dependências do clube, Gustavo Dubeux era visto como um homem bem sucedido. Não por acaso, teve 98% de aprovação nas urnas.

Por mais que tenha emprestado o seu tempo e tenha dado o aval para uma série de atos importantes para a estrutura, a sua imagem diante de milhares ficou comprometida.

A perda de dois títulos estaduais emblemáticos, eliminações precoces na Copa do Brasil e o rebaixamento. Tudo pontuado por um planejamento discutível nas quatro linhas.

Sempre com o mesmo perfil no plantel e, sobretudo, na diretoria de futebol.

Sim, existem coisas que o dinheiro não compra. Como a opinião de uma imensa torcida.

Projeto da Arena da Ilha do Retiro. Crédito: Sport/divulgação (Youtube)

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