Cobra fumando no palco dos grandes compositores tricolores

Bloco "Minha Cobra", do Santa Cruz. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press

Em um século de história do frevo, o Santa Cruz teve dois dos maiores compositores do envolvente ritmo pernambucano. Nelson Ferreira (1902 – 1976) e Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba (1904 – 1997).

O primeiro foi um gênio nos frevos-de-rua, extraindo dos metais a animação total do público, arrastando gente pra todo lado nas ladeiras de Olinda e ruelas do Recife Antigo, mas sem perder a linha como compositor. Cresceu com o frevo.

No supercampeonato de 1957, Nelson Ferreira criou um frevo-canção gravado pelo cantor alvirrubro Claudionor Germano. “Vamos cantar com toda emoção / Um, dois, três, quatro, cinco, seis / Saudando a faixa de supercampeão / A que fez jus / O mais querido Santa Cruz / Foram três as vitórias colossais”.

O segundo, com 200 músicas no repertório, foi conselheiro tricolor em 1948, quando compôs a marcha “O Mais Querido”, decorada no Mundão, mas famosa a partir do mesmo título de 1957. “Santa Cruz / Santa Cruz / Junta mais essa vitória / Santa Cruz / Santa Cruz / Ao te passado de glória / És o querido do povo / O terror do Nordeste / No gramado / Tuas vitórias de hoje / Nos lembram vitórias / Do passado / Clube querido da multidão / Tu és o supercampeão”.

Irmão de Capiba, Marambá criou “Cobral Coral” em 1959, na voz de Rubens Cristino. “Quando aparece num gramado / O Santa Cruz dando xaxado / O adversário vai cair / Disso não pode fugir / Deixa a fumaça subir”.

Bem antes disso tudo, Sebastião Rosendo compôs o mais famoso frevo-canção do clube, de 1942, atendendo um pedido de Aristófanes de Andrade, renomado tricolor. Saiu o frevo “Santa Cruz de Corpo e Alma”. Sete décadas de carnaval.

Eu sou Santa Cruz
De corpo e alma
E serei sempre de coração
Pois a cobrinha quando entra no gramado
Eu fico todo arrepiado e torço com satisfação (2x)
Sai,sai Timbu
Deixa de prosa,
O seu Leão
Periquito cuidado com lotação
Que matou pássaro preto
Tricolor é tradição

Entre os blocos tricolores, dois deles agregam multidões e mantêm a tradição. O bloco Minha Cobra sai em Olinda, no Largo do Bonsucesso, nas segundas-feiras. No mesmo dia, no Arruda, carnaval também em três cores, com direito a trio elétrico. A Cobra Fumando desfila no bairro desde 1992.

Santa Cruz de Corpo e Alma (1942, Sebastião Rosendo)

Vulcão Tricolor (2007, Maestro Forró). O último dos frevos-de-rua dos clubes.

Treme a terra do frevo rubro-negro

Orquestra da "Treme-Terra", do Sport. Foto: diassport.blogspot.com.br

Num passado não muito distante, o bloco Leão Coroado arrastava uma multidão de rubro-negros no Recife. O bloco pode ter parado para respirar, mas os frevos rubro-negros seguem em alto e bom som nos metais, nos estádios, e, claro, no carnaval, nas ladeiras de Olinda e até no Galo da Madrugada.

Na Ilha do Retiro, a orquestra da Treme-Terra puxa o frevo-de-rua mais famoso do clube, já com 58 anos, numa composição de Nelson Ferreira, um torcedor tricolor, diga-se. A música Cazá Cazá, ainda tocada nas rádios, foi composta a pedido de Eunitônio Edir Pereira em 1955, ano do cinquentenário do Sport.

O mesmo Eunitônio anos depois escreveria o hino oficial. Mas, seguindo o tom carnavalesco, tem um frevo-canção ainda mais antigo, de 1936, também sob a batuta de Nelson Ferreira, em parceria com Sebastião Lopes, o “Pelo Sport Tudo”, o famoso brado do clube. A música ficou conhecida como Moreninha. Um música com vários elementos do carnaval, retrando bem a época.

Moreninha que estas dominando…
Desacatando agora pelo entrudo (2x)
Chegou a hora de gritares loucamente
Hip, Hip, Hip, Hurra Pelo Sport Tudo!
Vejo no batom dos teus lábios
E no teu cabelo ondulado
As cores que dominam altaneira por morena
Do meu glorioso estado
Moreninha que estas dominando
desacatando agora pelo entrudo (2x)
Chegou a hora de gritares loucamente
Hip, Hip, Hip, Hurra Pelo Sport Tudo!
Ter passado o carnaval
Pra que não te falte a boa sorte
Tira da minha vida e te manter eternamente
Tudo, tudo pelo Sport
Cazá, cazá, cazá, cazá, cazá
A turma é mesmo boa… É mesmo da fuzarca!
Sport! Sport! Sport!

Entre outros frevos do Sport, Haroldo Praça, autor do gol da vitória rubro-negra sobre o Santa Cruz por 6 x 5 na inauguração da Ilha do Retiro, em 1937, é citado no Frevo Nº 1 do Recife, de Antônio Maria, gravado em 1951 pelo Trio de Ouro.

Um concurso da revista Placar sobre torcidas, em 1974, terminou com a vitória do Leão no estado. No embalo, Jovino Falcão emendou: “Está comprovado / já foi conferido / que o mais amado / o mais amado é o que é / É ele o maior do nosso estado / é o consagrado campeão do norte / é o nosso Sport”.

Há espaço até para homenagem a um dirigente após uma conquista emblemática. Com Jarbas Guimarães assumindo a presidência, em 1975 o Sport acabou com o jejum de doze anos. Mereceu um frevo-canção de Rogério de Andrade, “Este ano, nosso time / vai ser mesmo campeão / todo mundo vai cantar e dizer / ninguém segura o Sport não”. 

Pelo Sport Tudo / Moreninha (1936, Nelson Ferreira e Sebastião Lopes)

Cazá Cazá (1955, Nelson Ferreira)

Desde cedinho já está acordado. É o Timbu, é o Timbu Coroado

Bloco "Timbu Coroado", do Náutico. Foto: Ivan Alecrim /Especial para o DP

O domingo de carnaval é do Timbu Coroado desde 1934, quando os atletas de remo do Alvirrubro saíram pela Rua da Aurora, onde fica até hoje a garagem do remo timbu. Uma tradição que se mantém viva na base do frevo. O desfile anual agora acontece nos Aflitos, naquele que é o bloco de carnaval mais tradicional entre os grandes clubes pernambucanos.

Além do Come e Dorme, frevo-de-rua do compositor Nelson Ferreira, torcedor coral, que mesmo sem letra alguma se confunde com o próprio hino alvirrubro, os metais levantam a timbuzada com outra composição de Nelson Ferreira, no frevo-canção Hino do Timbu Coroado (letra abaixo), de autoria de Edvaldo Pessoa, Turco e Jair Barroso.

Músicas que ficaram ainda mais populares no rádio, na execução a cada gol alvirrubro, sobretudo na era de ouro, na década de 1960.

Naquela época, aliás, a segunda-feira de carnaval reservava espaço para o desfile do maracatu do Timbu Coroado. Tempos depois, o Náutico teve até um boneco gigante, o Bonzão da Timbucana, sempre presente nos Aflitos nos anos 80. Agora, a ampliação carnavalesca, com a Casa Alvirrubra no Recife Antigo.

O nosso bloco é mesmo enfezado
É o Timbu, é o Timbu Coroado
Desde cedinho já está acordado
É o Timbu, é o Timbu Coroado
Entre no passo
Que o frevo é de amargar
Pois a turma é muito boa
E no frevo quer entrar
Não queira bancar o tatu
Conheço seu jeito, você é Timbu
Esse negócio de casá, casá, casá
É negócio pra maluco
Pois ninguém quer se amarrar
Timbu sabe isso de cor
Casá pode ser bom, não casá é melhor
N – Á – U – T – I – C – O
Todo mundo vai saber isso de cor

Entre outros vários frevos do Náutico, há o “Papai do Nordeste”, exaltação acompanhada de ironia ao Sport. “A garra do Leão / baixou de cotação / o homem do boné / levou um grande olé”. Letra composta após o 5 x 1 aplicado pelo Timbu na final de 1966, no então inédito tetracampeonato estadual. O “Nordeste” se aplica ao triunfo na Copa Norte, a fase preliminar da Taça Brasil.

E o que dizer da homenageam na base da frevança ao famoso pai de santo Pai Edu, que fazia das suas em Rosa e Silva? Foi no ano seguinte, no penta. “Dei o bi / dei o tri / dei o tetra / e o penta chegou / é gol / é gol”.

Hino do Timbu Coroado (letra de Edvaldo Pessoa, Turco e Jair Barroso e composição de Nelson Ferreira)

Come e Dorme (1953, Nelson Ferreira)

A caminhada do blog no facebook

Página do blog no Facebook

Na maior rede social da web, a página do blog acaba de chegar a 2.000 pessoas, entre alvirrubros, rubro-negros, tricolores e demais torcidas.

Endereço da página: facebook.com/blogdecassiozirpoli.

Além da relação integral das postagens no facebook, como forma de compartilhamento da informação produzida pelo blog, a página conta com imagens exclusivas, do acervo do Diario de Pernambuco, gerando o tradicional debate esportivo.

Aqui, o agradecimento pela colaboração de todos, não só no site como nas redes sociais, sobretudo no twitter e no facebook.

Neste post, pessoas que já curtiram a página. Faça parte também…

Sobre a Arena da Ilha, foi Geraldo que disse

http://blogs.diariodepernambuco.com.br/esportes/wp-content/uploads-old/arena_sport_projeto_560_6.jpg

Uma conversa rápida, sem arrodeios, exclusiva.

Já em clima de carnaval, mas sem deixar a política de lado, o prefeito do Recife, Geraldo Julio, esteve no lançamento do camarote da TV Clube/Record no Recife Antigo.

Ao blog, a passagem do socialista serviu para questionar sobre o andamento do projeto do Sport para erguer uma arena na Ilha do Retiro.

Recentemente, o blog já havia iniciado o debate sobre a articulação, a favor ou não, para a aprovação do novo o complexo do Leão, que além de uma arena teria duas torres empresariais e um shopping (veja aqui).

O tema esquentou devido ao fato de o projeto ainda não ter sido discutido no Conselho de Desenvolvimento Urbano da capital pernambucana (CDU), mesmo com as demais licenças aprovadas. De fato, já está há algum tempo na mesa.

A primeira apresentação do projeto foi em 16 de agosto de 2011, ao então prefeito petista João da Costa. Na ocasião, foi a versão desenvolvida pela DDB/Aedas.

Em 15 de janeiro de 2013, mais uma comitiva rubro-negra na Prefeitura, agora em um encontro com o secretário de mobilidade e controle urbano da capital, João Braga. Na reunião, o modelo criado em 2012 pela Pontual Arquitetura, já com as primeiras exigências da PCR, o que elevou o orçamento a R$ 750 milhões.

Mesmo no meio da muvuca, o prefeito não viu problema em responder ao tema, apesar do tom escorregadio nas respostas. Vamos lá.

Prefeito, torcedores e até diretores rubro-negros acham que a atual gestão está protelando a aprovação da arena do Sport, por causa da Arena da Copa. Qual é a sua opinião?

“Não tem nada disso. Um projeto com esse impacto precisa ser bem estudado, com calma, é normal. Nós ainda estamos esperando o projeto final do Sport para uma análise.”

Mas o Sport já não teria apresentado o projeto com esses ajustes?

“Temos o Novo Recife (projeto com 12 edifícios no Cais José Estelita) que também passou por isso e são pequenos detalhes. E até hoje está aí (sem sair do papel). O Sport nos mostrou o projeto, mas faltam mais dados específicos para uma posição. Iremos observar tudo”.

O senhor já tem um prazo para essa análise, prefeito?

“Ainda não. Agora também temos outros projetos na mesa. Como eu disse, todos serão analisados, com certeza.”

Acha que pode ser ainda nesse ano…?

“A bola está com o Sport.”

Na pressa, tendo outros compromissos e entrevistas no mesmo ambiente, Geraldo acabou deixando no ar uma dúvida sobre a última resposta, cercada de interpretações.