Sem sustos, Moreilândia!

Moreilândia, volante do Salgueiro

Moreilândia. Já ouviu falar? Muita gente ainda não conhece o pequeno município de 10 mil moradores, próximo à divisa com o Ceará e que foi emancipado apenas em 1963. Até 1991, chamava-se Sítio dos Moreiras, quando foi feito um plebiscito para mudar para o nome atual. O visual é o de um povoado, com a igreja matriz e a praça principal.

De lá, um menino de 16 anos começou a tentar a sorte no mundo da bola em 2005, quando representou o município nos Jogos Escolares do Sertão. Na decisão, no estádio Cornélio de Barros, em Salgueiro, a 76 quilômetros de distância, o estudante Jeferson Cordeiro marcou dois golaços. Chamou a atenção de todos os diretores do Salgueiro. Foi chamado na hora para integrar o time júnior. Chegando terra do Carcará, o garoto logo ganhou um apelido: Moreilândia.

No começo, o nome foi um apelo pelo exótico. Com o tempo, virou um orgulho o fato de carregar uma cidade inteira nas costas, como acontecerá no Pernambucano de 2010. Hoje, aos 20 anos, o volante é titular absoluto do Salgueiro. Desde a Série C do ano passado, diga-se. Com tamanha simplicidade, o jogador é um “xodó” do grupo.

Esses últimos anos no Carcará proporcionaram uma reviravolta na vida do “ex-Jeferson”, que até 2006 nunca tinha visto um edifício na vida. Para ele, o Recife parecia ficar do outro lado do mundo, como Tóquio. A primeira vez na capital foi no jogo contra o Sport, pelo Estadual Sub-20. Na Ilha do Retiro, um susto que é tema de piada até hoje nos treinos do Salgueiro, como lembra bem o presidente José Guilherme.

“Ele chegou todo acanhado na Ilha, que é muito maior que tudo o que ele já tinha visto na vida. Quando a Jovem (torcida organizada do Sport) foi chegando e começou a gritar, ele se escondeu no banco de reservas”, disse o mandatário, deixando o volante completamente vermelho de vergonha, principalmente por ser verdade.

“Não foi exatamente um susto não… Fiquei surpreso. É porque eu achei bonito mesmo. Era aquela arquibancada todinha gritando ali, pertinho. Só ali já tinha mais gente que em Moreilândia”, disse o jogador, que tem razão sobre a comparação.

Até o fim do ano passado, a sua cidade não contava sequer com uma antena de TV de uma rede do estado. Agora, pela primeira vez, o município de Moreilândia irá assistir ao vivo ao Pernambucano. Fato que já deixa o representante local ansioso.

“Até 2009, eles só sabiam de mim pelo rádio. E no rádio você parece até que joga mais bola do que sabe. Agora, eles vão me ver e vou ter que mostrar que o meu futebol era de verdade”, diz o volante, cujo sonho é tirar a família da roça. O pai, a mãe e as três irmãs vivem de uma pequena plantação de feijão, no entorno da cidade. “Quero subir na vida só pode ajudar a minha família”. Boa sorte, Moreilândia.

Foto: Ricardo Fernandes/DP

Capítulo 96

Torcidas de Santa Cruz, Sport e Náutico

O capítulo 96 do Campeonato Pernambucano vai começar nesta quarta-feira. Com o rebaixamento de Sport e Náutico à Série B e a derrocada do Santa Cruz na famigerada Série D no ano passado, o Estadual de 2010 terá o seu ponto de partida com um entusiasmo menor em relação ao passado (até recente). Trata-se de uma história que se aproxima do seu centenário, repleta de altos e baixos, mas que foi escrita de forma ininterrupta. Algo raríssimo no futebol brasileiro.

Pernambuco conseguiu passar sem arranhões na fase de implantação das primeiras ligas… Depois, na transição do amadorismo para o profissionalismo, em 1937. Nunca um ano acabou com 2 campeões. O único lado negativo nesta história é a ausência de um campeão do interior em quase 100 anos. Quem sabe não sai em 2010…? 😎

Abaixo, alguns arranhões na lista de campeões dos outros estados tradicionais.

Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais viveram anos turbulentos nas décadas de 20 e 30, com federações paralelas. Inicialmente, eram ligas que disputavam o poder para ser a versão “oficial”. Na década de 30 chegou o profissionalismo. Resultado? Ligas amadoras e profissionais. No fim, todos os campeões foram oficilizados.

No Rio Grande do Sul, as edições de 1923 e 1924 não foram disputadas por causa da Revolução Libertadora ocorrida no estado (saiba mais AQUI).

No Paraná, Colorado e Cascavel decidiram o Estadual de 1980. Na decisão, o Colorado, que jogava em casa, precisava vencer por 5 gols de diferença. Abriu logo 2 x 0, enquanto o rival teve 2 jogadores expulsos. No intervalo, o médico do Cascavel vetou 2 atletas, “lesionados”. No início do 2º tempo, o goleiro Zico simulou uma contusão e acabou a partida, pelo número de atletas. Tapetão, julgamento… E dois campeões, após um ato do presidente da federação, Luiz da Motta (veja mais AQUI).

Aqui no Nordeste, a Bahia realizou 2 campeonatos em 1938. O primeiro entre maio e agosto, com 7 times. O Botafogo de Salvador foi o campeão. Em outubro começou um outro torneio, com 5 equipes que haviam participado do primeiro. Em 5 de fevereiro do ano seguinte, o Bahia venceu o Galícia por 5 x 2 e ficou com a taça.

Confira o Gui do Pernambucano-2010 publicado pelo Diario AQUI.