Cerveja, futebol, medicina e política

Sócrates defende a profissionalização dos dirigentesSócrates nunca negou que gosta de uma boa cerveja gelada. Aos 54 anos, ele admite que gostaria de parar de fumar, mas ainda não conseguiu largar o vício. Carismático, o ex-craque do Corinthians e da Seleção Brasileira roubou a cena ontem à noite, durante o evento Toque de Classe, que aconteceu nos Aflitos, e que também contou com a participação dos ex-craques Paulo Cezar Caju, Nelinho e Raul Plassmann. Zé do Carmo e Lúcio Surubim foram os convidados especiais.

Bastava um dos amigos começar a falar na palestra para “Magrão”, como o doutor também era conhecido nos gramados, começar a provocar, com muito bom humor.

Paulo Cezar Caju, organizador do evento, abriu a palestra, após um vídeo com grandes momentos de sua carreira, no futebol carioca.

“Essa idéia surgiu quando eu estava no Rio de Janeiro, lançando a minha biografia”, dizia PC, até que…

“Mas você está gordo, hein?!”, gritou Sócrates, que ainda não havia sequer sentado à mesa de debate. O ex-meia aproveitava os últimos instantes para pedir mais uma cerveja no balcão.

Paulo Cezar tentou conter o riso e seguiu falando. Passou a apresentar os demais integrantes do Toque de Classe.

"Eles são meus amigos!? Mais ou menos...", brincou SócratesTranquilão, Sócrates finalmente subiu no palco armado no bar Spirit Hall.

Olhou para a platéia (mesas lotadas), e comentou de leve:

“Mas só tem homem aqui… Não tem jeito. As mulheres gostam mesmo é do Raí”, numa clara referência ao irmão mais novo, ídolo do São Paulo nos anos 90.

Quando Zé do Carmo brincou com a fama de boêmio de Paulo Cezar Caju (“Ele era o negão das louras”), Sócrates completou: “Eu adoro uma loura também. Gelada”.

Entre um chope e outro, Sócrates relembrou alguns ‘causos’ que marcaram a sua carreira. Em um deles, contou sobre a excursão do Timão ao México, na década de 1980, com a companhia de Paulo Cezar Caju, já veterano na época.

Ídolo diz que o futebol evoluiu apenas fisicamente “Numa folga lá, fomos para um bar e começamos a beber cerveja. Paulo chegou falando francês e pediu champanhe. Olhei desconfiado, mas a diversão do grupo seguiu. Depois, ele pediu mais uma taça. Minutos depois, Paulo foi para o banheiro. E nunca mais voltou. Estava sem dinheiro. Os outros jogadores tiveram que pagar a conta dele. E ali nascia a ‘Democracia Corintiana’”, disse Sócrates, contextualizando o episódio com o movimento que entrou para a história do clube paulista, no qual todas as ações eram decididas no voto, entre todos os funcionários.

Apesar das brincadeiras, também houve espaço para seriedade, como no momento em que falou sobre o jogador brasileiro.

“O jogador brasileiro é uma criança, e é fácil de ser manipulado. Um jogador só deveria se profissionalizar se tivesse pelo menos o ensino fundamental. Mas não… O cara nasce na favela e quer sair do buraco jogando bola, como o ídolo dele, que nunca estudou também. Ele precisa estudar, porque se não der certo no futebol, já teria um caminho para conseguir outra formação”.

Depois, criticou o modelo de gestão da maioria dos clubes brasileiros (após ser questionado sobre a situação do Santa Cruz).

“Não existe um modelo padrão para comandar um clube. O que existe é uma boa gestão. Não tem mais espaço para aquele dirigente cego pelo time, que faz tudo pelo seu clube do coração, mas que não é preparado para a função. O dirigente precisa ser profissional e responsável. A legislação precisa passar a punir de vez os responsáveis pelas grandes crises nos times”.

Finalizou comentando sobre o gol mais bonito. A resposta foi curiosa…

“Não lembro de um gol mais bonito. O que eu tinha mais prazer mesmo era dar o passe para o gol. E aí, todos foram bonitos”.

Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de OliveiraHISTÓRIA – Revelado pelo Botafogo de Ribeirão Preto, em 1973, Sócrates teve um início de carreira bem incomum no futebol. Craque, logo chamou a atenção de grandes clubes. No entanto, Sócrates só deixou o Botafogo após concluir o curso de medicina, em 78.

Consciente de que a carreira no futebol é curta, o então jovem estudante queria garantir um emprego após pendurar as chuteiras. Como não poderia deixar de ser, ganhou o apelido de “Doutor Sócrates” no mundo da bola. Quando começou a se destacar no Paulistão de 1976 (no qual foi o artilheiro, com 15 gols), Sócrates estava no 3º ano da faculdade. Mal tinha tempo para treinar.

Estudava a semana inteira e se “dedicava” ao futebol nos finais de semana. Mesmo assim, conseguiu mostrar o seu potencial, com toques refinados, gols de falta… E também de calcanhar.

"Cerveja boa é cerveja gelada"Líder nato onde jogou, Sócrates sempre foi ligado aos temas políticos. Com a ajuda dos companheiros no Corinthians, ele idealizou a Democracia Corintiana, movimento de “autogestão” nos 80. “Vivemos num país melhor do que há 20 anos, mas muito longe do ideal. Sou apaixonado por essa nação, e não aceito uma estrutura social tão falha”.

Depois, participou das “Diretas Já”, em 1984, quando foi garoto-propaganda da campanha que pedia a volta das eleições diretas para presidente no país. Ele discursou em comícios.

O irmão Raí foi campeão do mundo com a Seleção em 1994. Sócrates não teve o mesmo prazer. No entanto, integrou a grande Seleção de 1982, que brilhou no Mundial da Espanha. O meia marcou dois belos gols na competição, um contra a União Soviética e outro contra a Itália, no fatídico jogo em que Paolo Rossi fez todos os gols da Azzurra na vitória por 3 x 2, que acabou mandando o Brasil para casa. Mais cedo do que devia… Hoje em dia, além da medicina, Sócrates também é articulista da revista Carta Capital.

Ficha técnia

Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira
Naturalidade: Belém/PA
Nascimento: 19 de fevereiro de 1954
Atuou como meia

Sócrates brilhou na Seleção Brasileira de 1982Carreira
1973/1978 – Botafogo (SP)
1978/1984 – Corinthians
1984/1985 – Fiorentina (Itália)
1986/1987 – Flamengo
1988 – Santos
1988 – Botafogo (SP)

Títulos
Campeonato Paulista – 1979, 1982 e 1983
Campeonato Carioca – 1986
Na Seleção Brasileira: 60 jogos (23 gols)
Participou das Copas do Mundo de 1982 e 1986

Fotos: Alexandre Gondim/DP

6 Replies to “Cerveja, futebol, medicina e política”

  1. Pingback: Leitura de fim de semana: uma cerva e um papo com Sócrates, Nelinho e cia. « Chico Maia

  2. Pingback: O futebol silenciado por Sócrates, o Brasileiro | Blog de Esportes

  3. Grande Sócrates!!!!!que deus te ilumina força vc. vai sair desta,sou gaucha estou torcendo.grande abraço.

  4. Gostaria muito de rever os golaços do Dr., e dentre os muitos que já vi e gostaria muito de  revê-los está o gol contra o Inter do R.S., se não me engano em 1982 ,logo quando o CORINTHIANS  voltou da taça de prata e caiu no grupo que tinha o Flamengo ,Atlético MG,  e  Inter do RS.
    Respondam-me , pois já tentei ver em vários lugares e não obtive exito.      O  Corinthians ganhou por 2×0,gol do Dr (aliás, gol não, golaaaaaço) e o Casão fez o segundo gol.       OBRIGADO.
     

  5. VLW AMIGO PRO ESSA REPORTAGEM EU SOU FÃ DE SOCRATES ELE É MEU IDOLO VEJO NO YOUTUBE OS VIDEOS DE SEUS GOLS MEU SONHO ERA CONHECE ELE UM DIA.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.

*